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O papel das organizações internacionais europeias

Capítulo 4 Áreas protegidas na Europa

4.2. O papel das organizações internacionais europeias

Com o título oficial de “Federação dos Parques Nacionais e da Natureza da Europa”, a Federação EUROPARC (EUROPARC Federation) foi criada em 1973. Desde então, a organização cresceu, e é hoje reconhecida como uma organização profissional para as áreas protegidas da Europa. Trata-se de uma ONG independente, cujos membros representam organizações responsáveis pela gestão da maioria das áreas protegidas de trinta e seis países europeus. Os objetivos chave da Federação são: promover boas práticas na gestão de áreas protegidas; facilitar a criação de novas áreas protegidas; amplificar o perfil das áreas protegidas como meio vital para a proteção dos recursos naturais mais valiosos do património natural do Continente e, assim, aumentar o apoio para a sua proteção futura; influenciar o desenvolvimento de futuras políticas públicas e programas, especialmente da UE, para benefício das áreas protegidas.

A Federação é responsável pela promoção do dia 24 de Maio como o Dia Europeu dos Parques (o primeiro foi celebrado em 1999), e pelo projeto Transboundary Parks (Parques Transfronteiriços), iniciado em 2003, que visa a cooperação pan-europeia na gestão de áreas protegidas. Atualmente, a Federação é composta pelas seguintes oito secções, nacionais ou regionais, com coordenação e programa de trabalho próprios, que refletem os objetivos chave da Federação: Europa Central e de Leste (Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Polónia, República Checa e Roménia); Ilhas Atlânticas (Irlanda, Islândia e Reino Unido); Norte-Báltico (Dinamarca, Estónia, Finlândia, Islândia, Lituânia, Letónia, Noruega e Suécia); Países-Baixos (Bélgica e Holanda); Alemanha; Espanha; França; e Itália.

O Secretariado Europeu do Ambiente (EEB - European Environmental Bureau) foi constituído, em Bruxelas, em 1974, com o objetivo principal de monitorizar e responder à então emergente política ambiental da UE. Constitui a maior federação de ONGs e movimentos de base ambiental da Europa, sendo, atualmente, constituído por cento e cinquenta organizações de trinta e um países do Continente. O EEB é composto por vários grupos de trabalho que produzem documentos (tomadas de posição) sobre temas que fazem, ou que o EEB considera deveriam fazer, parte da agenda da UE. O EEB representa igualmente os seus membros em reuniões com várias instituições da UE (como a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu, o Conselho e outras) e constitui um órgão consultivo do Conselho da

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Europa e da ONU. O objetivo principal do EEB é o de contribuir para a melhoria e proteção das leis ambientais da Europa, pelo que justificadamente defende: uma política económica da UE mais verde; o desenvolvimento sustentável; a justiça ambiental; e o empowerment dos cidadãos europeus.

Criada em 1989, e atualmente com sede em Tilburg, nos Países Baixos, a Eurosite constitui uma das maiores organizações pan-europeias. Reúne organizações governamentais e não-governamentais, bem como entidades privadas, em colaboração ativa para a prática de gestão da natureza da Europa. A missão da Eurosite é valorizar e promover a especialização na gestão de sítios da natureza em toda a Europa, bem como a troca de boas práticas de gestão entre os seus membros. Cinquenta e seis membros, distribuídos por vinte e dois países da Europa, constituem, atualmente, a rede da Eurosite. A Eurosite trabalha em estreita colaboração com a Comissão Europeia no apoio à implementação da rede Natura 2000, e criou um serviço, o European Facilitation Service, com sede em Bruxelas, com o intuito de prestar informação aos seus membros sobre as políticas de conservação da natureza da UE (financiamento, legislação, programas, funcionamento das instituições da UE etc.).

A Agência Europeia do Ambiente (EEA - European Environmental Agency) é uma agência da UE, criada em 1990, com sede em Copenhaga93. As atividades da agência tiveram início em 1994, e a sua missão consiste em fornecer informação consistente e independente sobre o ambiente. Atualmente, a EEA é composta por trinta e três países-membros (os vinte oito da UE, a Islândia, o Liechtenstein, a Noruega, a Suíça e a Turquia) e seis países cooperantes ao abrigo do Instrumento de Assistência de Pré-Adesão (IPA) (Albânia, Antiga República Jugoslava da Macedónia, Bósnia Herzegovina, Montenegro, Sérvia e Kosovo) 94. A agência participa em ações de cooperação internacional fora dos seus países membros, e desenvolve atividades distribuídas por quatro áreas temáticas principais: combate às alterações climáticas; combate à perda de biodiversidade e compreensão das alterações espaciais; proteção da saúde humana e da qualidade de vida; e utilização e gestão de recursos naturais e resíduos. A sua missão consiste em prestar apoio aos países da UE e aos restantes países membros da agência, para que estes possam tomar decisões fundamentadas sobre o ambiente nas suas várias áreas de intervenção, e coordenar a Rede Europeia de Informação e de Observação do Ambiente.

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O regulamento (Regulamento CEE n.º 1210/90 do Conselho de 7 de Maio de 1990) que cria a EEA foi adotado em 1990 e entrou em vigor em finais de 1993. O regulamento estabelece também a EIONET (JO L 120 de 11 de Maio de 1990).

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O Instrumento de Assistência de Pré-Adesão (IPA) é um instrumento financeiro destinado aos países candidatos à UE. Este fundo apoia o desenvolvimento de redes de transportes e a melhoria das infraestruturas ambientais nestes países.

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A Rede Europeia de Informação e de Observação do Ambiente (EIONET – European

Environment Information and Observation Network) foi criada em 1994. Tem como missão

fornecer informação periódica e de qualidade, para avaliar tanto o estado como as pressões exercidas sobre o ambiente na Europa. A EIONET é uma rede de parceria com a EEA, os seus países membros e países cooperantes, pelo que é constituída pela própria EEA, seis Centros Temáticos Europeus (European Topic Centres – ETCs95), e uma rede de cerca de mil e

quinhentos especialistas dos trinta e nove países, que representam quatrocentos organismos nacionais. Estes especialistas são designados como Pontos Focais Nacionais (National Focal

Points – NFPs) e Centros Nacionais de Referência (National Reference Centres – NRCs). Através

da EIONET, a EEA recolhe, compila e disponibiliza informação ambiental dos referidos trinta e nove países. Desde 2009, constitui um objetivo estratégico da EEA o desenvolvimento de um sistema de informação ambiental partilhada (SEIS - Shared Environmental Information System)

Criado em 1993, e com sede em Tilburg, nos Países-Baixos, o Centro Europeu para a Conservação da Natureza (ECNC - European Centre for Nature Conservation) é uma organização independente que trabalha para conservação e uso sustentável da natureza, biodiversidade e paisagens da Europa. O ECNC oferece serviços especializados de consultoria a governos e organizações intergovernamentais, como a ONU, o CoE e a Comissão Europeia, bem como para instituições que financiam atividades na área da conservação da natureza. Os seus projetos estão agrupados em seis áreas temáticas: Natureza e Sociedade; Interação entre Empresas e Biodiversidade; Infraestrutura Verde; Serviços Ecossistémicos e Avaliação da Biodiversidade; Gestão de Espécies e Ecossistemas; Apoio a Medidas Políticas. Apesar de independente, grande parte do financiamento do ECNC provém do Programa LIFE da Comissão Europeia.

A Fundação PAN Parks foi fundada, em 1998, em Gyór, na Hungria, pelo WWF, com a missão de criar uma rede europeia das melhores áreas naturais do Continente. Funcionou até Maio de 2014, altura em que entrou em processo de falência. A sua missão era a de trabalhar com áreas protegidas da Europa, mais especificamente, parques nacionais, atribuindo-lhes uma certificação para a promoção do turismo sustentável. A PAN Parks defendia que a articulação entre a conservação da natureza e o desenvolvimento económico, através da promoção do turismo sustentável, propiciava metodologias de boas práticas na gestão das áreas protegidas. Entre os critérios para a atribuição da certificação a um parque nacional,

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ETCs: Poluição Atmosférica e Mitigação das Alterações Climáticas (Air Pollution and Climate Change Mitigation – ETC/ACM); Diversidade Biológica (Biological Diversity – ETC/BD); Impactos das Alterações Climáticas, Vulnerabilidade e Adaptação (Climate Change Impacts, Vulnerability and Adaptation – ETC/CCA); Resíduos e Materiais da Economia Verde (Waste and Materials in a Green Economy – ETC/WMGE); Águas Interiores, Costeiras e Marinhas (Inland, Coastal and Marine Waters – ETC/ICM); Solos urbanos e sistemas de solos (Urban Land and Soil Systems – ETC/UL S).

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salienta-se os seguintes: possuir uma área não inferior a 20.000 hectares; integrar uma área de natureza selvagem com uma área mínima de 10.000 hectares; desenvolver uma política de gestão dos visitantes; e implementar uma estratégia de turismo sustentável participada. Até Maio de 2014, a fundação tinha atribuído a certificação Pan Parks (certified Pan Parks) a treze parques nacionais da Europa96.

Se a ação destas organizações tem sido de extrema importância, a intervenção do Conselho da Europa (Council of Europe ou Conseil de l’Europe – CoE) e da União Europeia (UE) tem permitido a construção de uma estratégia pan-europeia para a conservação da natureza e para a manutenção da biodiversidade do Continente. Algumas das dimensões da política do CoE representam uma extensão da política da UE aos Estados não-membros. De modo análogo, algumas medidas de política do CoE estão na base das iniciativas mais importantes da UE nesta matéria.