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2.1 OS INFLUXOS DO SÉCULO XX NA NOVA ORDEM GLOBAL

2.1.3 O fenômeno da globalização e o aumento da interdependência global

A Revolução Industrial e o desenvolvimento científico do mundo possibilitaram a aproximação dos Estados, das pessoas e das ideias. O planeta ficou menor e os

laços mais estreitos, ocasionando uma maior troca de informações, culturas, bens e pessoas entre as nações.

A despeito dessas mudanças, foi apenas no final do século XX que o processo de globalização originou-se, facilitando sobremaneira a comunicação e o acesso entre os países e consistindo em um aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política entre os diferentes povos do planeta.12

Inúmeros conceitos de globalização foram formulados, divergindo entre si apenas quanto à ênfase a ser dada a cada um dos aspetos que formam o conceito: aspectos materiais, espaço-temporais e cognitivos. Analisando-se algumas dessas definições, Giddens (2000, p. 38) explica que a Globalização poderia ser a “intensificação de relações sociais em escala mundial que ligam localidades distantes de tal maneira, que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorridos a muitas milhas de distância e vice-versa”.

Para Teixeira e Diz (2005, p. 91), o termo Globalização poderia er conceituado como o “resultado de um processo de internacionalização que passa de uma estratégia multidoméstica diversificada para uma estratégia única para todos os países, os quais são vistos como constituindo um único mercado”.

Ainda, Boaventura de Sousa Santos (2003b, 433-438) entende que a globalização “é o processo pelo qual determinada condição ou entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de considerar como sendo local outra condição social ou entidade rival”. Sustenta, portanto, que aquilo que chamamos de globalização nada mais é do que a globalização bem- sucedida de determinado localismo, ou seja, não existiria condição global sem sua correspondente raiz local. Em última análise, a globalização pressuporia a localização. Por essa razão, a tentativa de universalização dos direitos humanos é deveras complexa, haja vista a diversidade de direitos locais e a força de algumas sociedades em impor os seus direitos às demais, em detrimento de outras sociedades que não possuem poder bastante para globalizar os seus localismos.

12 Importa referir que há autores, a exemplo de Meirelle Delmas-Marty, que diferenciam globalização de mundialização. Aquela teria natureza econômica, enquanto esta, jurídica, desafiando a racionalidade jurídica em relação ao espaço, ao tempo e à ordem. Há, ainda, autores que atribuem o termo planetarização para os aspectos políticos e o termo mundialização para os aspectos culturais (BEDIN, 2001a, p. 292, nota de rodapé n. 989). Preferir-se-á utilizar o termo “globalização” no presente trabalho em razão da impossibilidade espacial de adentrar-se em tal discussão.

Santos entende ser bastante delicada a utilização dos direitos humanos como forma de “localismo globalizado”, ou seja, como forma de globalização hegemônica, principalmente pela cultura ocidental. Explica o autor que o conceito de direitos humanos é baseado em um conjunto de pressupostos tipicamente ocidentais13, cuja tentativa de universalização sociológica sobrepôs-se à universalização filosófica:

[...] enquanto forem concebidos como direitos humanos universais, os direitos humanos tenderão a operar como localismo globalizado e, portanto, como uma forma de globalização hegemônica. Para poderem operar como forma de cosmopolitismo, como globalização contra-hegemônica, os direitos humanos têm de ser reconceitualizados como multiculturais. Concebidos como direitos universais, como tem acontecido, os direitos humanos tenderão sempre a ser um instrumento do “choque de civilizações” como o concebe Samuel Huntington (1993), ou seja, como arma do Ocidente contra o resto do mundo (“the West against the rest”). (SANTOS, B., 2003b, p. 438)

Aprofundando e dissecando os elementos que compõem a globalização, bem como a sua formação e os seus efeitos, Boaventura de Sousa Santos (2003b, p. 435- 437) divide a sua análise em quatro subespécies de globalização: localismo globalizado14 e globalismo localizado15 – que seriam as globalizações “de-cima-para- baixo” – e o cosmopolitismo16 e o patrimônio comum da humanidade17 – que seriam as globalizações “de-baixo-para-cima”.

13 São eles: “existe uma natureza humana universal que pode ser conhecida racionalmente; a natureza humana é essencialmente diferente e superior à restante realidade; o indivíduo possui uma dignidade absoluta e irredutível que tem de ser defendida da sociedade ou do Estado; a autonomiado indivíduo exige que a sociedade esteja organizada de forma não hierárquica, como soma de indivíduos livres. (SANTOS, B., 2003b, p. 439)

14 Consistiria no processo segundo o qual determinado fenômeno local é globalizado com sucesso. Como exemplos, o autor cita a língua inglesa, o fast food americano, a atividade das multinacionais e músicas populares de países hegemônicos. Tal fenômeno seria mais frequente nos países centrais. (SANTOS, B., 2003b, p. 435)

15 Este seria o processo de impacto específico de práticas transnacionais na seara local, a qual acaba sendo desestruturada e reestruturada de modo a responder a esses imperativos transnacionais. Exemplos citados no livro são: desmatamento e destruição do meio-ambiente para pagamento da dívida externa, patrimônios da humanidade postos à disposição da indústria global do turismo, dumping ecológico, conversão da agricultura de subsistência em agricultura para exportação como ajuste estrutural, dentre outros. Tais fenômenos, por outro lado, seriam mais frequentes nos países periféricos, pois somente lhes cabe a escolha entre as várias alternativas de globalismos localizados. (SANTOS, B., 2003b, p. 435)

16 Boaventura de Sousa Santos utiliza o cosmopolitismo em um sentido pouco convencional e diferente de outros autores. Para ele, “cosmopolitismo é a solidariedade transnacional entre grupos explorados, oprimidos ou excluídos pela globalização hegemônica”. Em suma, seria a luta do subalterno contra a sua subalternização. (SANTOS, B., 2003b, p. 436-437)

17 Patrimônio Comum da Humanidade englobaria, para Santos, temas que somente fazem sentido em relação ao globo em sua totalidade, tais como: a sustentabilidade da vida humana no Planeta Terra, temas ambientas como a preservação da biodiversidade, da camada de ozônio, da Antártida, a exploração do universo e seus planetas e astros. Em suma, seriam temas de interesse das gerações presentes e futuras. (SANTOS, B., 2003b, p. 437)

Sem adentrar-se nas minúcias de cada classe sobredita, tem-se que a principal consequência positiva de todo esse processo globalizatório seria o desenvolvimento dos mercados internos, muitos dos quais se encontravam extremamente saturados e estagnados. É, pois, inegável o mérito do chamado processo de globalização nas relações mundiais, que serviu como meio de aprofundamento da integração em diversos âmbitos entre as nações do globo terrestre.

Ocorre que tal aproximação promoveu não só a facilitação das relações sociais, econômicas e culturais, como também os choques entre as culturas, exacerbando a intolerância e o preconceito ao diferente. Se, por um lado, os países tornaram-se destinos das mais diversas experiências culturais, possibilitando a aproximação das pessoas e o desenvolvimento da empatia, também experimentaram o nacionalismo que o medo do desconhecido provocou, em um fenômeno contraditório e nunca antes visto. Nas palavras de Soares sobre a globalização:

[...] as consequências são diversas e opostas: crescem as chances de que fundamentalismos se reforcem, mas também aumentam as possibilidades de que a reflexividade crítica politize e democratize as culturas, aprofundando, inclusive, suas diferenciações internas e seu pluralismo agonístico. (SOARES, L., 1996, p. 379)

Lucas (2009, p. 38-39) afirma que “o mundo parece se abrir e se fechar ao mesmo tempo”, isto é, nada está tão distante que impossibilite o interesse localizado, nem tão perto que prescinda aos interesses globais. Ao mesmo tempo em que a aproximação entre as culturas é facilitada, cria-se uma reação que alimenta respostas identitárias, que reafirma as particularidades culturais e rechaça qualquer efeito homogeneizador das formas de sociabilidade engendradas pelo processo globalizatório. Tudo é afetado pela onda de implicações paradoxais: a Cultura, o Mercado, a Tecnologia e o Direito. Esmiúça o autor:

A massificação da cultura convive ou é respondida com demandas identitárias por reconhecimento cultural tipicamente local; o incremento tecnológico, à medida que melhora os acessos ao mundo como possibilidade de trocas, produz também novos conceitos de exclusão e de isolamento; o mercado se globaliza ao mesmo tempo em que fragiliza e sufoca as economias tradicionais; e o Direito, para se universalizar e se tornar uma referência substancial para tratar das questões internacionais, precisa romper com os conceitos modernos que fecham os Estados nacionais em torno de si mesmos e reduzem a potencialidade de sua atuação na resolução dos problemas globais, problemas que extrapolam a ideia de soberania e atacam a humanidade como um todo. (LUCAS, 2009, p. 39)

Held e McGrew (2001, p. 14) alertam que a globalização “não deve ser entendida como algo que prenuncia o surgimento de uma sociedade mundial harmoniosa, ou de um processo universal de interação global em que haja uma convergência crescente de culturas e civilizações”. Isso porque tal interligação crescente acaba gerando novas animosidades e conflitos, bem como alimenta algumas manifestações xenofóbicas e algumas políticas reacionárias. Trata-se, pois, de um processo altamente desagregador, em que um segmento significativo da população mundial não alcança os seus benefícios, ou seja, não se trata de um processo universal, ao alcance de todo o Planeta. Em suma: a globalização não é para todos.

Morin (s. d.), em seus estudos acerca da ciência da complexidade, afirma que a globalização foi a melhor e a pior coisa que aconteceu com o mundo. E, sendo um problema complexo, apenas estudos de caráter inter-poli-transdisciplinar poderiam apresentar análises satisfatórias do quadro enfrentado pelas sociedades contemporâneas.

Seria, portanto, a pior coisa que ocorreu à humanidade em razão dos processos de degradação da biosfera, da crise do meio-ambiente, da valorização de armas e meios de destruição em massa, do fanatismo, dos múltiplos conflitos. Além disso, o capitalismo financeiro mostrou-se mais poderoso que os Estados, e a economia globalizada não possui qualquer regulação, de forma que crises ocorridas em um canto do planeta repercutem violentamente em outros tantos. (MORIN, s. d.)

Ao mesmo tempo, a globalização é a melhor coisa que poderia acontecer à humanidade, principalmente, porque, pela primeira vez, todos os seres humanos existentes na face da terra encontram-se, sem que percebam, reunidos em uma mesma “comunidade de destino”: sofrem os mesmos riscos, possuem os mesmos problemas ecológicos, econômicos, decorrentes de guerras. E isso acaba – segundo o antropólogo, filósofo e sociólogo francês – criando condições para o nascimento de um novo mundo, mundo este que não seria criado com base nos modelos de Estados nacionais, tampouco de um mega-Estado mundial a partir daqueles modelos:

Uma nova forma de organização política, assim como a democracia ateniense era uma democracia de cidades pequenas, de alguns cidadãos se transformou em democracia das nações. Hoje há sociedade a ser criada na

qual talvez a Internet possa desempenhar um papel nessa democracia. Assim sendo, temos um problema absolutamente vital e

fundamental que a comunidade de destino mundial nos revela a possibilidade, talvez, de criar um mundo novo. (MORIN, s. d.)

No que tange ao setor econômico, Held e McGrew (2001, p. 62-63) sustentam que a economia global continua uma economia capitalista, uma vez que se organiza com base nos princípios do mercado e da produção com vistas ao lucro. Todavia, é cediço que as economias nucleares do sistema global atravessaram uma ampla e profunda reestruturação econômica, passando de economias essencialmente industriais para economias pós-industriais. Chamado de “capitalismo informatizado global”, de “turbo-capitalismo”, de “capitalismo supraterritorial”, dentre outros, o capital libertou-se das restrições nacionais e territoriais. Em outras palavras, os mercados nacionais globalizaram-se a tal ponto que a economia interna é forçada a constantemente adaptar-se às condições competitivas globais: “na dinâmica desse novo capitalismo global está inscrito um imperativo poderoso de desnacionalização das atividades econômicas estratégicas”.

Não obstante, é cediço que as pressões advindas do fenômeno da globalização não se restringem ao âmbito econômico. Aspectos políticos – o que se denomina planetarização –, e aspectos culturais – o que se denomina mundialização –, juntamente com os aspectos econômicos – o que se chama, normalmente, de globalização em sentido estrito – fazem parte do amplo processo ao qual o mundo enfrenta. (BEDIN, 2001a, p. 292)

A antiga divisão internacional do trabalho entre o norte e o sul acaba cedendo lugar a uma nova divisão global do trabalho segundo a qual a governabilidade é profundamente transformada. Isso porque a globalização econômica ultrapassaria o âmbito regulatório dos governos nacionais, ao mesmo tempo em que as instituições multilaterais com atuação econômica global acabam tendo uma autoridade limitada pelos Estados, que defendem a sua soberania nacional e não lhes concede um poder substancial. Nessa senda, o mundo acaba ficando um tanto quanto descontrolado, onde as mencionadas entidades atuam de fato, sem qualquer – ou com pouca - regulamentação, ficando os governos forçados à adaptarem-se às forças da globalização econômica. (HELD; MCGREW, 2001, p. 64-65)

Uma vez que a globalização contribuiu para que o Estado perdesse parte da sua vigência internacional, cedendo espaço para outros atores - públicos, privados, supranacionais e infranacionais – surge a ideia de ‘governança’ como uma nova

possibilidade para a Administração Pública, termo este que vai além do conceito de ‘governo’, porquanto engloba mecanismos do governo, e além da ‘democracia’, pois implica noções de eficiência que servem esta e o desenvolvimento de forma concomitante. (LUZ, 2007, p. 234)

Para que haja uma boa governança, faz-se necessário o correto funcionamento de um sistema político democrático com respeito aos direitos humanos e ao desenvolvimento de uma sociedade civil detentora de amplas liberdades e direito à diversidade. Em outras palavras, a governança que se faz necessária como decorrente do processo globalizatório é a tentativa de realização de um sistema de múltiplos níveis e formas de regulação, englobando micro e macrorregiões, assim como organizações, associações e redes de cidadãos, em que todos possam contribuir para o desenvolvimento da política global que seja mais democrática e menos excludente. (LUZ, 2007, p. 232)

Para dar profundidade ao estudo da questão, Held e McGrew apresentam um debate entre ‘céticos’ e ‘globalistas’ acerca das causas e consequências do processo de globalização.

Assim, os governos nacionais, sustentam os globalistas, já não mais conseguem gerir efetivamente as suas próprias economias nacionais, porquanto a globalização econômica tem sido acompanhada por uma internacionalização significativa da autoridade política. Disso decorre que os governos nacionais são forçados a adotar estratégias econômicas (neoliberais) cada vez mais condizentes e harmoniosas com o cenário global. Com isso, para eles, claramente a autonomia econômica, a soberania e a solidariedade social dos Estados contemporâneos estão sendo drasticamente afetadas e diminuídas pelos processos de globalização econômica. (HELD; MCGREW, 2001, p. 67-68)

Embora não neguem a constatação de que a globalização sirva para fortalecer os interesses das poderosas forças sociais ocidentais, rejeitam ser esta a única função da globalização, reduzindo-a a uma lógica puramente econômica ou tecnológica, uma vez que a realidade social é composta por diversas ordens institucionais e redes de poder distintas: econômica, tecnológica, política, cultural, natural etc. Acreditam que as relações econômicas globais estão-se fortalecendo e que, em que pese a economia global, como entidade isolada, possa não estar ainda completamente integrada e funcionando de forma tão harmoniosa quanto as economias nacionais

mais robustas, as tendências apontam inequivocamente para uma intensificação da integração dentro das regiões e entre elas.18

Assim, o aumento do regionalismo é um sinal de aumento das relações globais, uma vez que o alegado processo de “triadização” (divisão do mundo entre as potencias EUA, Japão e Europa) não enfraqueceu, mas intensificou, as relações globais entre os mais diversos povos, seja dentro de cada região, seja entre elas, em um cenário multifacetado em que quaisquer limites nacionais ou regionais são transpostos frequentemente.19

Para o grupo dos chamados céticos20, o discurso da globalização teria sido construído principalmente para justificar e legitimar o projeto global neoliberal, ou seja, a consolidação do capitalismo e do livre mercado global, funcionando como uma espécie e mito ideológico. Nesse aspecto, os governos disciplinariam os seus cidadãos para satisfazerem os requisitos do mercado planetário, o que fortaleceria o imperialismo ocidental e a dominação do capital financeiro pelas grandes nações capitalistas do mundo. (HELD; MCGREW, 2001, p. 17)

Ainda, para eles, a internacionalização não substitui a organização e a regulação nacionais da atividade econômica e financeira, ou seja, toda a economia é principalmente nacional ou local. A imensa maioria da humanidade continua excluída do denominado mercado global. O que ocorre é a divisão do mundo em três blocos nucleares: Europa, Ásia banhada pelo Pacífico e Américas; sendo que a interdependência ocorre dentro de cada uma dessas zonas, em detrimento da

18 Utilizam uma compreensão weberiana, pós-marxista e pós-estruturalista da realidade global, entendendo esse processo como mutável e não linear, dotado de características próprias e diferentes em cada período da história da civilização mundial: “ela [a globalização] não tem um padrão fixo ou predeterminado de desenvolvimento histórico”. (HELD; MCGREW, 2001, p. 59)

19 Os globalistas neoliberais continuam dispostos a aceitar as desigualdades criadas pelo mercado global, tendo em vista que a intervenção multilateral com vistas a corrigir as consequências desse processo econômico acarreta a perda da liberdade e da eficiência econômica dos países. Até porque, acreditam, a desigualdade extrema e a pobreza de alguns países são encaradas como um estado transicional, que tendem a desaparecer com a modernização global conduzida pelo mercado, o qual caminha para uma ordem mundial mais estável e pacífica, porquanto a interdependência econômica afasta a necessidade irracional de recorrer-se à força militar e à guerra para resolver os problemas entre nações.

Já os globalistas de orientação social-democrata ou radical interpretam a globalização econômica como um fator preponderante para a crescente pobreza que assola boa parte do globo terrestre: “a menos que a globalização econômica seja refreada, diz essa tese, um novo barbarismo irá prevalecer, à medida que a pobreza, a exclusão social e o conflito social envolverem o mundo”. (HELD; MCGREW, 2001, p. 71-73)

20 Held e McGrew dividem a análise dos prós e contras da globalização conforme os olhares e as perspectivas do grupo dos céticos e do grupo dos globalistas, sempre ponderando e contrapondo os argumentos de ambos. (HELD; MCGREW, 2001)

integração entre elas (HELD; MCGREW, 2001, p. 51). Os governos centrais, segundo os céticos, continuam centralizando a gestão da economia mundial, porquanto apenas eles possuem autoridade política formal para regulamentar a atividade econômica. (HELD; MCGREW, 2001, p. 57)

A globalização econômica contemporânea, ao fim e ao cabo, seria uma forma de imperialismo ocidental, uma vez que a internacionalização do capital vem criando um mundo cada vez mais insubordinado e violento, com aumento da pobreza e dos conflitos na maioria dos povos. Os céticos de inclinação marxista tradicional entendem que apenas uma ordem internacional socialista poderia ser capaz de erradicar a pobreza global através da redistribuição absoluta da riqueza e dos privilégios. Já aqueles de inclinação mais realista apontam que a solução somente pode ser alcançada dentro das fronteiras do Estado-nação, embora tais soluções sejam apenas parciais e limitadas, porquanto os governos não conseguem corrigir todas as fontes de desigualdades externas. (HELD; MCGREW, 2001, p. 74-77)

Em apertada síntese, a diferença entre as concepções cética e globalista é que aquela entende que as respostas para os dilemas éticos, políticos, culturais e econômicos da atualidade serão buscadas na comunidade política delimitada – criando-se uma espécie de Comunitariasmo por meio de uma sociedade internacional de Estados –, enquanto esta acredita num mundo de fronteiras rompidas, apostando- se em um movimento com vistas à formação de uma comunidade global ou uma aldeia mundial – aproximando-se do Cosmopolistismo por meio de uma gestão global em camadas múltiplas.

Independentemente da linha a seguir, vê-se, pois, que, efetivamente, a globalização acabou por mudar a face política e social do mundo, deslocando o centro de poder do Estado para a economia, do espaço público para o espaço privado, trazendo desafios à realização dos direitos humanos. (GAMA E SOUZA; OLIVEIRA; COSTA, 2014, p. 1)

Fato é que globalização na economia provoca uma hegemonia das sociedades funcionais sobre as sociedades estamentais. E o Estado de Direito, alerta Sampaio, pode servir para escamotear os esquemas de inclusão/exclusão, uma vez que, não sendo possível ignorar os diferentes níveis de participação na riqueza, na cultura e no acesso social, tanto nacional, como internacionalmente, a importância conferida ao

Estado de Direito pode ser um meio de camuflar ou produzir exclusões. (FERRAZ JUNIOR, 2003, p. 284)

Há uma desarmonia entre os âmbitos interno e externo dos países emergentes e subdesenvolvidos, tendo em vista que a globalização exige uma participação igualitária e uma relação equitativa entre países extremamente desiguais.

Tudo isso parece ser mais do que uma época de mudanças; trata-se de uma mudança de época, ou seja, são transformações das estruturas, dos paradigmas técnico-científicos, da dinâmica econômica global. Enfim, mudanças que ocorrem dentro das estruturas e que transformam a própria estrutura. (CINTRA, 2016).

Nesse quadro, propõe Boaventura de Sousa Santos (2003b, p. 438-443) sejam os direitos humanos concebidos como forma de cosmopolitismo, ou seja, como globalização contra-hegemônica, e não como localismo globalizado, ou seja, globalização hegemônica. Mais especificamente, sugere como condição para uma