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3.2 O ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E SUA ATUAÇÃO PLANETÁRIA

3.2.1 O Poder Executivo como promotor dos Direitos Humanos

A redemocratização do país e a redefinição das atribuições do Estado exigem um novo meio de se pensar a Administração Pública e, consequentemente, um novo perfil de administrador público (SANTINELLI; LOURENÇO, 2012, p. 95-109). Ou seja, dentre as atribuições estatais que devem ser preponderadas, estará a obrigação de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos da sociedade brasileira.

Com efeito, quando se fala em direitos humanos, a primeira ideia que se tem é de direitos de proteção, ou seja, contra o Estado. Com isso, como se poderia falar, então, em direitos humanos justamente para aqueles que se colocam como os defensores do que, tradicionalmente, é apontado como o grande opositor dos direitos humanos? (CAMARGO, 1995)

Segundo Mazzuoli (2011, p. 567),

o Poder Executivo ainda é o grande vilão e maior responsável pelo cometimento de ilícitos e pela violação de normas internacionais. Os atos ilícitos praticados pelo Executivo ou pelos seus agentes, tanto no âmbito interno como no âmbito internacional, são geradores de responsabilidade.

Partindo-se da hipótese exposta neste trabalho, de que a atuação internacional do ente subnacional contribui para o fortalecimento econômico, político e cultural da população regional e local, dando uma maior efetividade às políticas sociais e à valorização dos direitos humanos defendidos em âmbito mundial, necessária é a conclusão de que o aprimoramento da estrutura estatal com o escopo de facilitar a atuação internacional dos entes infranacionais é de suma importância para a proteção dos direitos humanos.

Portanto, em face do cenário atual de interpenetração de assuntos globais, nacionais e locais, bem como pela constatação de que muitas Federações não possuem uma estrutura modernizada e ágil para lidar com todos os problemas locais

de alcance global, ou globais de impacto local, é fundamental reestruturar o diálogo interno entre os governos central e local para que atuem de forma harmoniosa quando do contato com outros atores no palco internacional. E isso deverá ocorrer seja atuando o ente central em benefício do ente local, seja atuando de forma separada, haja vista a existência de uma grande zona de contato entre os tópicos objeto de acordo nacional e local.

Para que se possam evitar possíveis futuros conflitos entre as diversas esferas de governo, para que se tenha uma atividade paradiplomática profícua e promissora, necessária é a presença de um alto grau de concentração, coordenação e cooperação efetivas entre tais instâncias de poder, compreendendo o aprimoramento dos canais atuais de cooperação e de coordenação de ações, com o escopo de alcançar-se um Federalismo Cooperativo e Participativo. (RIBEIRO, 2009, p. 84)

A atuação paradiplomática não serve para gerar concorrência entre os entes ou competição na política internacional; ao contrário, a paradiplomacia desenvolveu- se mais rapidamente quando as lacunas deixadas pelas políticas públicas e pela crise de regulação do Estado no campo da educação, da saúde pública e do planejamento urbano acentuaram-se, exigindo a atuação mais enérgica e criativa dos entes federados. Da melhoria na prestação dos serviços públicos por cada entes decorre logicamente uma maior harmonia nacional. Do conserto das partes constroi-se um todo mais sólido e estável.

Ribeiro (2009, p. 86) também aponta a promulgação da Constituição Federal de 1998 como fonte de fortalecimento da paradiplomacia no Brasil, uma vez que a Carta Política brasileira, ao elevar os Municípios à categoria de entes federativos, aponta uma tendência de cooperação entre as três esferas de governo por meio do exercício conjunto de competências:

Esta característica naturalmente mostra-se propícia a um engajamento cooperativo dos entes subnacionais nos processos de internacionalização, buscando alternativas de promoção do desenvolvimento em um contexto onde se evidencia a existência de espaço para a ação internacional da União, estados-federados e municípios, de forma proveitosa, transparente e democrática para a sociedade e o mais harmoniosa possível para o conjunto do Estado-Nação.

Após esse primeiro passo constitucional, outras iniciativas internas vieram na tentativa de mudança do ordenamento jurídico brasileiro com vistas a uma maior cooperação entre os entes federados e a sua atuação em âmbito externo.

A Proposta de Emenda Constitucional - PEC 475/2005, a denominada “PEC da Paradiplomacia”, proposta pelo ex-Deputado e Diplomata André Costa (PDT-RJ), que acresceria ao artigo 23 da Constituição da República parágrafo permitindo aos estados federados, ao Distrito Federal e aos Município a possibilidade de promoverem atos e celebrarem acordos ou convênios com entes subnacionais estrangeiros, foi a primeira tentativa de regulamentar a Paradiplomacia no Brasil (TAVARES, 2014, p. 20).Eis o texto que se pretendia ver acrescido na Carta Política:

§2º Os Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito de suas respectivas competências, poderão promover atos e celebrar acordos ou convênios com entes de subnacionais estrangeiros, mediante prévia autorização da União, observado o artigo 49, e na formada lei. (BRASIL, 2005)

Veja-se que a tentativa de constitucionalizar as relações internacionais federativas no Brasil para o fim de manter o equilíbrio do princípio federativo demonstra a importância e a urgência do tema em questão. (RIBEIRO, 2009, p. 86)

A sobredita PEC 475/2005 recebeu parecer contrário do Relator da Comissão de Constituição e Justiça, Deputado Ney Lopes (PFL-RN), por considerar o parágrafo a ser acrescido inconstitucional.

Posteriormente, sobreveio o Projeto de Lei do Senado - PLS n. 98/2006, proposto pelo Senador Antero Paes de Barros (PSDB--MT), sugerindo a anuência da participação dos entes subnacionais em convênios internacionais. Embora com manifestação favorável da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional pela aprovação do projeto, na forma de um substitutivo que fazia menção expressa à possibilidade de os governos subnacionais brasileiros formarem acordos internacionais, ele acabou rejeitado em 2010. (TAVARES, 2014, p. 20)

Nenhuma das tentativas sobreditas obteve sucesso, mas todas contribuíram para o despertar para uma reflexão oficial sobre o tema.

Como se pode perceber, a Administração Pública brasileira vem dando sinais de uma participação mais efetiva de todos os entes federados nas lutas globais em prol da proteção e da promoção dos direitos humanos é medida fundamental para o

bom funcionamento da sociedade brasileira, embora a sua atuação nesse sentido seja, ainda, insuficiente.

Ora, se é correta a afirmação de que tanto o Estado como o Direito devem estar a serviço de uma concepção de proteção integral de tudo o que diz respeito à vida planetária, forçoso é assumir a importância da junção de esforços dos órgãos e instituições nacionais e internacionais rumo a uma plena realização dos direitos humanos.