• Nenhum resultado encontrado

O nosso estudo: questionando o caminho na busca das direções

Em face dos desafios de uma verdadeira escola inclusiva, parece- nos necessário repensar a formação de professores no sentido de adequá-la às novas realidades existentes nas escolas do ensino regular. A inclusão de alunos com problemáticas diversificadas nas ERs exige, por parte da escola, de modo geral, e dos profes- sores, de uma forma mais particular, mudanças significativas na organização, funcionamento e desenvolvimento das atividades e das aprendizagens individuais e coletivas.

A cultura de inclusão cria a necessidade do desenvolvimento de novas competências por parte dos professores de ensino regular e de Educação Especial, bem como alterações das suas funções. Além de se beneficiarem dos apoios especializados nas unidades de ensino estruturado, nomeadamente por parte dos docentes de Educação Especial, os alunos com PEA integrados nas escolas de ensino regular estão incluídos nas turmas. Os professores de ER são responsáveis pela Coordenação dos Programas Educati- vos Individuais desses alunos e pelo desenvolvimento de parte das suas aprendizagens. Desse modo, tais professores devem ser detentores de competências que permitam a verdadeira inclu- são desses alunos nas escolas e mais concretamente nas salas de aula, potenciando o desenvolvimento de aprendizagens signifi- cativas e integradoras. Também os docentes de Educação Espe- cial devem ser detentores de competências que permitam apoiar

a inclusão de alunos com PEA nas salas de aula do ensino regu- lar, bem como prestar apoio especializado e personalizado. Pareceu-nos, então, importante questionar a realidade de duas dimensões que concorrem para o eficaz atendimento aos alunos com PEA nas escolas de ensino regular: inclusão educativa e for- mação de professores.

Quadro 1 – Inclusão escolar e formação de professores na escola regular

Inclusão Educativa Aluno s c om p er turb aç õe s do e sp ec tr o a uti st a Formação de Professores Quais as concepções dos diferen-

tes atores (professores, diretores, encarregados de educação) acerca da inclusão de alunos com PEA nas escolas de ensino regular? Que problemas e dificuldades encontram? Que vantagens e des- vantagens apontam?

Será que os professores conside- ram que a formação que tiveram os preparou para as funções que têm de desempenhar, como docentes de todos os alunos e de alunos com PEA, em particular?

Será que as concepções que os professores têm acerca da inclu- são influenciam o desenvolvimen- to das suas práticas pedagógicas?

Será que os professores consideram que, com sua formação, podem desenvolver competências facili- tadoras da inclusão desses alunos nas turmas? E competências que permitam dar respostas específicas a esses alunos? Qual o papel das di- reções das escolas nesse nível? Será que as práticas desenvolvidas

pelos professores vão ao encontro das concepções que revelam com referência à inclusão?

Que concepções têm os professo- res relativamente à formação ne- cessária para a inclusão dos alunos com PEA nas turmas e nas escolas de ensino regular? E para trabalhar especificamente com esses alunos? Quais as concepções dos docen-

tes acerca das funções que têm de desempenhar como professores desses alunos?

Será que há diferenças e/ou seme- lhanças entre as concepções dos professores de ensino regular e as dos professores de Educação Espe- cial relativamente à formação rece- bida e à formação desejada? Quais?

O foco principal do nosso estudo são os professores de ensino regular e de Educação Especial que, no exercício da sua ativi- dade, atendem diretamente aos alunos com PEA integrados nas turmas de ER, beneficiando-se dos apoios das unidades de ensi- no estruturado. De modo a obter respostas para as questões que deram origem ao problema de investigação, observamos as prá- ticas desses docentes (salas de aula do ER e UEE) e ouvimos os vários agentes educativos que podem contribuir para a inclusão efetiva de alunos com perturbações do espectro autista, nome- adamente os diretores dos agrupamentos de escolas com UEE, os professores de Educação Especial que apoiam esses alunos, os professores de ensino regular e os encarregados de educação. Paralelamente, analisamos os vários documentos de suporte ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de alu- nos com PEA.

A recolha de dados foi efetuada em três agrupamentos de escolas que integram unidades de ensino estruturado do 1º ciclo do ensi- no básico e envolveu, em cada agrupamento, os seguintes sujei- tos: três docentes de ensino regular, dois docentes de Educação Especial, três alunos com PEA (integrados nas turmas de ER e com apoio nas UEE); três encarregados de educação (dos alunos com PEA) e o diretor de cada agrupamento.

Parte do objetivo principal do nosso estudo foi identificar neces- sidades de formação dos docentes de Educação Especial e dos docentes de ensino regular para a inclusão de alunos com PEA. Para cumpri-lo, definimos algumas metas operacionais, concer- nentes tanto aos docentes de ER quanto aos de EE, que passamos a listar: a) identificar práticas pedagógicas inclusivas; b) compre- ender as representações sobre a formação profissional que tive- ram no âmbito da inclusão de alunos com NEE; c) compreender sua representação sobre a formação desejada para trabalhar com a inclusão; d) identificar dificuldades da prática pedagógica no âmbito do trabalho/inclusão de alunos com PEA.

A partir dos resultados obtidos, pretendemos dar pistas para a construção de um programa de formação de professores (ensino regular e Educação Especial) que vá ao encontro das necessida- des dos educadores, tendo em conta a inclusão dos alunos com PEA nas escolas de ensino regular.

Uma vez que o estudo enunciado se encontra em desenvolvi- mento, ainda não nos é possível apresentar conclusões, no en- tanto o trabalho desenvolvido até o momento permite enume- rar quatro aspectos que ressaltamos dos dados recolhidos e que confirmam a relevância da pesquisa:

1. A inclusão de alunos com NEE é, em sua essência concep- tual, aceita por todos. Contudo, parece haver um distancia- mento entre o que é dito (acerca da inclusão) e o que é feito (em nível das práticas pedagógicas).

2. A formação para a prática educativa com alunos com NEE/ PEA é apontada como insuficiente, inadequada e mesmo inexistente.

3. A formação é vista como um recurso imprescindível para o desenvolvimento de competências profissionais e pessoais a favor da inclusão.

4. A formação desejada é expressa de acordo com as experiên- cias de cada um. As dificuldades sentidas são conscientizadas. Os aspectos referidos carecem de aprofundamento e contex- tualização, mas, nesta fase preliminar da discussão dos dados, permitem-nos já dar resposta a alguns questionamentos iniciais que confirmam a necessidade de uma formação que responda às necessidades dos professores e que lhes permita responder às necessidades dos alunos, de TODOS os alunos!

Terminamos este capítulo convictas de que muito há ainda para caminhar, mas… o caminho só se faz caminhando!

Referências

AINSCOW, M. Necessidades especiais na sala da aula: um guia para a for- mação de professores. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1998. ALLAN, J.; SLEE, R. Doing inclusive education research. Rotterdam: Sens Publishers, 2008.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatís-

tico de transtornos mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BATTEN, A.; DALY, J. Autism and education in Scotland: the reality for fa- milies today. London: The National Autistic Society, 2006.

BLACK, P.; WILIAM, D. Inside the black box: raising standards through clas- sroom assessment. London: GL Assessment, 1998.

BRONFENBRENNER, U. The ecology of human development: experiments by nature and design. Cambridge: Havard University Press, 1979.

CANDEIAS, A. M. et al. Avaliação dinâmica do potencial cognitivo dos alunos com baixo desempenho escolar. Psicologia e Educação, v. 6, p. 7-18, 2007. CANDEIAS, A. M. et al. Inclusive assessment: from theory to practice in some European countries. In: INTERNATIONAL CONFERENCE “CHANGING PRACTICES IN INCLUSIVE SCHOOLS”, 2009, Évora. Proceedings of Iris

Conference. 2009. 1 CD-ROM.

CAVACO, N. O profissional e a educação especial: uma abordagem sobre o autismo. Santo Tirso: Editorial Novembro, 2009.

CÉSAR, M. A escola inclusiva enquanto espaço-tempo de diálogo de todos e para todos. In: RODRIGUES, D. (Org.). Perspectivas sobre a inclusão: da educação à sociedade. Porto: Porto Editora, 2003. p. 117-149.

COCHRAN-SMITH, M.; ZEICHNER, K. (Ed.). Studying teacher education: the report of the AERA panel on research and teacher education. Washington: American Educational Research Association, 2005.

CORREIA, L. M. Inclusão e necessidades educativas especiais: um guia para educadores e professores. Porto: Porto Editora, 2005.

COSTA, A. A escola inclusiva: do conceito à prática. Inovação, Lisboa, v. 9, n. 1-2, p. 151-163, 1996.

DANIELS, H.; PORTER, J. Learning needs and difficulties among children of

primary school age: definition, identification, provision and issues. Cambridge:

University of Cambridge Faculty of Education, 2007. (Primary Review Research Survey 5/2).

DGEEC. Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Disponível em: <www.dgeec.mec.pt/np4/43/>. Acesso em: 8 jul. 2016.

FLORIAN, L.; BLACK-HAWKINS, K. Exploring inclusive pedagogy. British

Educational Research Journal, v. 37, n. 5, p. 813-828, 2011.

FREDERICKSON, N.; JONES, A. P.; LANG, J. Inclusive provision options for students on the autistic spectrum? Journal of Research in Special Educatio-

nal Needs, v. 10, n. 2, p. 63-73, 2010.

HEWITT, S. Compreender o autismo: estratégias para alunos com autismo nas escolas regulares. Porto: Porto Editora, 2006.

HUMPHREY, N.; LEWIS, S. What does “inclusion” mean for pupils on the autistic spectrum in mainstream secondary schools? Journal of Research in

Special Educational Needs, v. 8, n. 3, p. 132-140, 2008.

LIMA, C. Perturbações do espectro do autismo: manual de intervenção. Lis- boa: Lidel, 2012.

MADUREIRA, I.; LEITE, T. Educação inclusiva e formação de professores: uma visão integrada. Revista Diversidades, ano 5, n. 17, p. 12-16, 2007. MARQUES, C. E. Perturbações do espectro do autismo: ensaio de uma in- tervenção construtivista, desenvolvimentalista com mães. Coimbra: Quarteto, 2000. (Coleção Saúde e Sociedade).

NIZA, S. Necessidades especiais de educação: da exclusão à inclusão na escola comum. Inovação, v. 9, p. 139-149, 1996.

NÓVOA, A. O regresso dos professores. In: CONFERENCE ON TEACHER PROFESSIONAL DEVELOPMENT FOR THE QUALITY AND EQUITY OF LIFELONG LEARNING, 2007, Lisboa. Comunicações… Lisboa: Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, 2007. p. 21-28.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊN- CIA E A CULTURA. Declaração de Salamanca e enquadramento da acção

na área das necessidades educativas especiais. Conferência mundial sobre

necessidades educativas especiais: acesso e qualidade. Salamanca: Unesco, 1994.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação Estatística Interna-

cional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10. Genebra,

1991.

PARSONS, S.; LEWIS, A. The home-education of children with special needs or disabilities in the UK: views of parents from an online survey. International

Journal of Inclusive Education, v. 14, n. 1, p. 67-86, 2010.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro de 2008. Diário da Repú-

blica. 7 jan. 2008a. 1º série, n. 4.

______. Ministério da Educação. Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvi- mento Curricular. Direcção de Serviços da Educação Especial e do Apoio Sócio- -Educativo (Ed.). Educação especial: manual de apoio à prática. Lisboa, 2008b.

______. Ministério da Educação. Direcção-Geral de Inovação e de Desenvol- vimento Curricular. Direcção de Serviços da Educação Especial e do Apoio Sócio-Educativo (Ed.). Unidades de ensino estruturado para alunos com

perturbações do espetro autista: normas orientadoras. Lisboa, 2008c.

______. Ministério da Educação e Ciência. Ministério da Solidariedade, Em- prego e Segurança Social. Relatório final do grupo de trabalho sobre educa-

ção especial: criado pelo Despacho n.º 706-C/2014. [S.l.], 6 maio 2014.

RAVET, J. Delving deeper into the black box: formative assessment, inclusion and learners on the autism spectrum. International Journal of Inclusive Edu-

cation, v. 17, n. 9, p. 1-17, 2012.

______. Inclusive/exclusive? Contradictory perspectives on autism and inclu- sion: the case for an integrative position. International Journal of Inclusive

Education, v. 15, n. 6, p. 667-682, 2011.

RIVIÈRE, A. Autismo: orientaciones para la intervención educativa. Madrid: Trotta, 2001.

RODRIGUES, D.; LIMA-RODRIGUES, L. Formação de professores e inclusão: como se reformam os reformadores? In: RODRIGUES, D. (Org.) Educação

inclusiva: dos conceitos às práticas. Almada: Instituto Piaget, 2011.

RUTTER, M.; SCHOPLER, E. Autism and pervasive developmental disorders: concepts and diagnostic issues. Journal of Autism and Developmental Di-

sorders, n. 17, p. 159-186, 1987.

SCOTLAND. HMIE. Education for pupils with autism spectrum disorders. Livingston, 2006.

SIEGEL, B. O mundo da criança com autismo: compreender e tratar pertur- bações do espectro do autismo. Porto: Porto Editora, 2008. (Coleção Referên- cia).

STERNBERG, R. J.; GRIGORENKO, E. L. Evaluación dinámica: natura- leza y mediación del potencial de aprendizaje. Barcelona: Paidós, 2003.

VOLTZ, D. L., BRAZIL, N.; FORD, A. What matters most in inclusive educa- tion. A practical guide for moving forward. Intervention in School and Cli-

nic, v. 37, n. 1, p. 23-30, 2001.

WERTSCH, J. V. Voices of the mind: a sociocultural approach to mediated action. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

WING, L.; GOULD, J. Severe impairments of social interaction and associated abnormalities in children: epidemiology and classification. Journal of Autism

A CONSTITUIÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO BILÍNGUE E A