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PARTE II – Metodologia e atores na investigação

Capítulo 1 – Princípios teóricos, metodológicos e éticos

1.8. O percurso investigativo

Estar em investigação significa um contínuo de avanços e recuos. Como tal, desde o momento em que o pré-projeto8 foi entregue, algumas mudanças foram necessárias para que o estudo aqui apresentado se desenvolvesse. Neste sentido, como forma de facilitar a compreensão da análise dos dados obtidos, apresentaremos uma breve incursão sobre o percurso investigativo realizado.

Depois de um período de reflexão, optámos por reformular o projeto, pelo que o objetivo passou a ser o de caracterizar a infância de jovens – adultos que tenham experienciado a medida de acolhimento familiar na infância, procurando explorar aspetos como recordações do dia em que conheceram a família de acolhimento; as pessoas que mais os marcaram desta família; quais eram as expectativas em relação à família de acolhimento; quais as maiores dificuldades no período de adaptação; qual pensam que seriam a melhor opção para crianças que não podem

8 Inicialmente, o objetivo geral era o de compreender o grau de satisfação de crianças com idades compreendidas entres o 8 e os 18 anos que estivessem em acolhimento familiar. Para o efeito, contactámos o ISS, responsável pelo enquadramento legal da medida (nomeadamente com o Setor de Adoção, Apadrinhamento e Acolhimento Familiar, da Unidade de Infância e Juventude, do Departamento de Desenvolvimento Social e Programas), para fazer um mapeamento a nível nacional que permitisse contactar com crianças que vivessem em famílias de acolhimento e tivessem mais de 8 anos de idade. Este contacto não invalidaria outros, particularmente com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Mundos de Vida. Depois de reunida a população em estudo, a investigação desenvolver-se-ia em dois momentos: no primeiro momento, com a colaboração do Setor de Adoção, Apadrinhamento e Acolhimento Familiar, da Unidade de Infância e Juventude, do Departamento de Desenvolvimento Social e Programas, seriam recolhidos dados a nível nacional, bem como identificados contextos e possibilidades de aplicação do questionário de Avaliação do Grau de Satisfação dos Clientes em Acolhimento Familiar (elaborado pela Segurança Social) a crianças acolhidas em famílias de acolhimento; no segundo momento seriam escolhidas um número mais reduzido de crianças, de modo a realizar entrevistas semiestruturadas, com o objetivo de compreender com maior profundidade a nossa questão de investigação. Porém, com o decorrer do tempo e, principalmente, devido a algumas questões éticas que se levantaram, percebemos que este poderia ser um caminho difícil para todos os envolvidos enquanto investigadores e também para as possíveis crianças que viessem a integrar o estudo, a quem a investigação nunca poderia provocar danos, causar desconforto e instabilidade. Além das dificuldades já elencadas surgiu uma outra, pelo facto de a Mundos de Vida não se mostrar disponível para colaborar com esta investigação, uma vez que tem aberto, frequentemente, as suas portas a diversas investigações neste âmbito e se sente sobrecarregada.

viver com a sua família de origem, entre outras. Para o efeito, recorreu-se às histórias de vida, através de entrevistas semiestruturadas.

Neste sentido, realizaram-se alguns contactos, enviando um e-mail para a responsável pelo setor de Adoção, Apadrinhamento e Acolhimento Familiar, da Unidade de Infância e Juventude, do Departamento de Desenvolvimento Social e Programas do Instituo de Segurança Social e para o Diretor do Núcleo da Infância e Juventude do Centro Distrital da Segurança Social do Porto, pedindo-lhes ajuda para a constituição da amostra. Dada a falta de respostas, tentámos, através de algumas reportagens existentes sobre o acolhimento familiar, estabelecer contactos com os envolvidos. Após um desses contactos, uma pessoa mostrou-se disponível em participar, pedindo que lhe fosse enviado, previamente, o guião. Tal como fora combinado, o guião foi enviado, não se tendo obtido, posteriormente, qualquer resposta. Voltou-se a tentar este contacto, pedindo que esclarecesse a sua vontade ou não em participar e agradecendo a sua disponibilidade, mas, novamente, sem sucesso.

Face aos constrangimentos verificados até então, optámos por rentabilizar a nossa rede de conhecimentos informais, através da qual se conseguiram, inicialmente, duas pessoas disponíveis para participar na investigação. Numa lógica de “bola de neve” e, tal como já foi referido noutro ponto do trabalho, as mesmas proporcionaram o encontro de outras pessoas que correspondiam aos critérios definidos para a constituição da amostra que, desejavelmente, deveria ter, no mínimo, 8 pessoas. Apesar de no presente estudo se apresentarem 5 histórias de vida, foram realizadas 6 entrevistas. Todavia, no decorrer de umas delas, a jovem entrevistada referiu que, aos 12 anos, foi adotada pela suposta família de acolhimento. Procurou-se esclarecer qual era, de facto, a sua situação perante o acolhimento, tendo-se percebido que a jovem, como foi adotada pela mesma família com quem estava desde o seu primeiro mês de vida, deveria estar a usufruir de uma outra medida de promoção e proteção, uma vez que não é permitido às famílias de acolhimento a adoção. Ainda assim, deu-se continuidade à entrevista por respeito ao participante, mas, seguidamente, clarificou-se que, para os efeitos da investigação, só poderiam ser validadas entrevistas de jovens – adultos que tivessem experienciado a medida de acolhimento familiar e que, apesar de na interpretação da jovem a sua situação ser entendida como acolhimento familiar, legalmente não o era.

Quando os 5 participantes estavam definidos, deu-se início à fase das entrevistas. Antes de as iniciar, explicou-se, a cada sujeito, o objetivo do trabalho e o que se pretendia ao realizar a entrevista, referindo-se que teriam liberdade para falarem sobre a sua experiência de vida

abordando, somente, os assuntos em relação aos quais se sentiam à vontade, respeitando-se a sua vontade quando isso não acontecesse.

Todas as entrevistas foram realizadas nos locais escolhidos pelos participantes, tendo uma delas implicado uma deslocação a Lisboa, onde reside um dos participantes e, uma outra, foi realizada via Skype. As entrevistas foram gravadas com recurso a um gravador para registo áudio. Após a realização de cada entrevista, foram anotadas todas as informações consideradas relevantes acerca de cada participante e outras informações pertinentes resultantes de conversas informais. Numa fase posterior, foi feita a transcrição integral das entrevistas.

Como forma de efetivar o compromisso estabelecido com os participantes, tal como constava no consentimento informado, devolveu-se os dados obtidos aos mesmos. Para o efeito, enviou-se as histórias de vida construídas sobre cada um e que já apresentámos neste trabalho (cf. caracterização dos participantes), pedindo que, caso verificassem alguma informação incorreta, não concordassem com a forma como determinado evento era descrito ou se não quisessem que determinadas informações relativamente à sua história fossem partilhadas, informassem a investigadora para que a mesma pudesse corrigir estes aspetos.

PARTE III – Análise e discussão dos dados do estudo empírico