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4.4. Um olhar sobre a dinâmica das reuniões do Conapam

4.4.3. O plano de ação do Conapam: a Educação Ambiental e a Comunicação

programas ou simplesmente articulações em prol de temas relacionados aos objetivos da APA e do próprio conselho parece ser a que mais motiva o engajamento dos conselheiros com relação à gestão.

Com todas as dificuldades que vão desde a falta de recursos, de tempo, autonomia e também de entendimentos comuns sobre o que é proposto nas ações, é fato que a formação de Grupos de Trabalho (que tentam se reunir virtual e presencialmente no

116 Parques nacionais criados na região entre a Serra da Mantiqueira (o de Itatiaia) e a Serra do Mar (o da

Serra da Bocaina), dentro e no entorno do território que corresponde à APA, têm um histórico negativo por terem sido criados há anos. Isto porque, ainda existem problemas não resolvidos com moradores que vivem dentro dos parques. Eles não foram indenizados para que saíssem dessas áreas e ainda estão em conflito com o Poder Público que administra estes parques.

período entre reuniões do conselho) dinamiza o Conapam e traz uma perspectiva de que é possível realizar algo, e não somente debater temas em plenária.

Fato é, também, que muitas das ações propostas em um plano de ação elaborado em grupos, na última reunião de 2014 do Conapam, vêm dos anseios não apenas dos conselheiros, mas do diagnóstico participativo realizado em 2013 para o plano de manejo, cujo processo de construção e realização será descrito no capítulo V deste trabalho.

A dinâmica proposta para a elaboração de um plano de ação do Conapam foi conduzida pelos analistas ambientais do ICMBio. Em grupos, os conselheiros pensaram propostas de ações nos temas Educação Ambiental e Implementação do Conselho,

Produção e Capacitação das Comunidades, Conservação/Preservação. Destes grandes

guarda-chuvas temáticos, algumas ações foram reorganizadas em GTs com temas diversos, como resíduos sólidos, certificação de boas práticas na produção de produtores rurais e mineração. Outro dos GTs formados foi exatamente o de Educação Ambiental e Comunicação. Entretanto, embora praticamente todas as ações propostas no plano apontaram estratégias envolvendo estes temas, seja diretamente (como a indicação de palestras para as comunidades rurais sobre a APA) ou indiretamente (como a sugestão de divulgação de experiências exitosas de gestão de resíduos sólidos).

Algumas das ações sugeridas em GTs foram realizadas, como a proposta de uma reunião extraordinária sobre mineração, em 2014; outras, como algumas das sugestões do GT produção e capacitação das comunidades, foram realizadas em parte, como a proposição de placas de sinalização informativas em duas localidades da APA

Não houve durante o período de realização da pesquisa (2013-2014), um momento de avaliação dos GTs para localizar o que foi ou não implementado, e os desafios do percurso. Por isso, a análise aqui proposta se volta para como as questões de Comunicação e Educação Ambiental foram inseridas no planejamento pelos conselheiros. Como se trata de um planejamento focado em ações, partindo do pressuposto de um conhecimento anterior dos próprios conselheiros sobre cada tema, sem uma formação ou debate anterior sobre eles, as sugestões agrupadas no GT de Educação Ambiental e de Comunicação são muito parecidas com as percepções que os conselheiros

trouxeram nas entrevistas realizadas para essa pesquisa sobre o que é possível realizar envolvendo estes campos. No plano foram sugeridas palestras sobre a APA, divulgação do Dia da APA nas escolas, elaboração de materiais audiovisuais sobre a APA e também estratégias como a potencialização do uso das redes sociais virtuais para divulgar as reuniões do conselho, bem como fazer contatos com a mídia local.

Com relação às das atividades de Educação Ambiental sugeridas pelo GT, muitas são voltadas para o universo escolar. O órgão gestor da APA desenvolve algumas ações com escolas do entorno da sede, em Itamonte (MG), como já foi citado, utilizando uma área verde e um espaço com sala e biblioteca para atividades com crianças, abordando a importância da APA, a utilização adequada da água, a biodiversidade da Serra da Mantiqueira e a problemática do lixo, e ainda a inserção em palestras e em eventos de datas comemorativas, como o Dia do Meio Ambiente, com a realização de palestras – principalmente em Itamonte.

Nas falas da maioria dos conselheiros entrevistados, há uma leitura de um discurso comum à Educação Ambiental mais voltada para o foco em se preparar cidadãos para preservar o meio ambiente, menos para a mobilização em torno de pontos em comum entre a gestão participativa da APA e o público influenciado e que influencia essa gestão. Como demonstram alguns trechos de depoimentos colhidos nas entrevistas, a seguir:

- Olhe, a ideia que eu faço é você preparar o cidadão desde criança para respeitar o meio ambiente. Sei que tem a ver com escolas. (Representante de associação de moradores 1)

- (...) um dos pontos de educação ambiental é divulgar a APA, fazer panfletos, e procurar prefeituras para fazer palestras nas escolas. Capacitar o pessoal para atuar como multiplicador na área rural. (...) fazer com que as escolas, as Prefeituras, entendam melhor o que é a APA, colocar outras questões como a de resíduos sólidos117. (Representante de Comitê de Bacia Hidrográfica) - Primeiro, conscientização dos moradores da APA sobre o lugar, a sensibilização para o local onde eles estão morando e produzindo. Depois, conscientizar e informar a população da cidade. Porque mesmo que a pessoa não seja morador da APA, ela vai passear, tem parentes que moram lá; então ela precisa ter o feeling pra que seja preservado. Por exemplo, quando tem uma corrida de jipe, ou moto, que causa impactos, que as empresas avaliem

seus impactos das atividades e promovam uma compensação desses impactos. (Representante do Poder Municipal 3)

Esse olhar sobre a Educação Ambiental com escolas, e a sugestão de atividades mais pontuais como as apontadas tanto no planejamento sugerido pelos conselheiros, quanto as realizadas pela APA, são recorrentes em Unidades de Conservação, seja no que diz respeito a Educação Ambiental, seja no tocante a Comunicação. Ainda é distante, tanto na maioria das falas quanto nas ações propostas do plano de ação, sugestões de estratégias de longo prazo para fortalecer o diálogo entre comunidades sobre os temas relacionados à gestão participativa. A fala recorrente é a de que o ICMBio não teria pernas para promover tais ações, e seria necessário maior envolvimento dos conselheiros na articulação de programas e projetos.

Por que não se avança, ou se avança com dificuldade em relação a Educação Ambiental no âmbito do Conapam? Um dos conselheiros entrevistados, o representante de ONG ambientalista 4 afirmou que “não existe interesse pessoal sendo ameaçado por

estes assuntos (Educação Ambiental e Comunicação) (...) muitas ações que foram propostas estão sendo reativas a defesas de interesses, mais do que propositivas para se resolver interesses em comum”. A fala é defensiva e, ao mesmo tempo, contradiz os

objetivos do próprio Conselho, entre eles os de promoção do diálogo, negociação e até mesmo capacitação continuada de todos os conselheiros – sendo o exercício das reuniões, da construção em grupos, parte dessa capacitação, ainda que informal.

Sem a construção coletiva de temas que interessem a maioria, e sem a exposição dos mesmos, como se avançar? Talvez falte um compromisso maior, ou até mesmo preparo dos conselheiros, para inserir em todos os temas de interesse trabalhados no Conapam junto aos públicos que são influenciados pela gestão, mas dela não participam diretamente. Poucos dos GTs tiveram, por exemplo, a preocupação de comunicarem ao público em geral sobre o que estão fazendo; o GT de resíduos sólidos foi um destes, foi um dos poucos a tomar a iniciativa de publicizar as ações realizadas em um site na internet118. E embora funcione como um repositório de informações com a memória do processo, não poussui nenhum espaço de interatividade com o leitor.

118 O site do Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos informa que as ações começararam com uma carta

Este site, hospedado dentro de uma ONG parceira do Conapam chamada Amigos de Mauá, de Visconde de Mauá, informa que o objetivo do GT Resíduos Sólidos é o de “colaborar com as prefeituras dos municípios que compõem a APA Federal da Serra da Mantiqueira a desenvolverem soluções apropriadas para reduzir significativamente o volume de resíduos sólidos que hoje encaminham para aterros e lixões”.

O site explica ainda que as prefeituras parceiras podem acompanhar as experiências-piloto realizadas pelos componentes do GT por meio do site, que agrupa as informações em sessões cuja compreensão é mais fácil a quem está participando do processo. De todo modo, e mesmo sem atualização regular das informações, trata-se de uma iniciativa que configura os conselheiros participantes e parceiros em reeditores sociais, iniciativa essa que poderia ter sido feita por todos os GTs para que compartilhem informações das ações (que interessam não só aos conselheiros). Na figura 6, abaixo, foi reproduzida a capa do site que traz informações do GT Resíduos Sólidos:

desenvolvendo um piloto em Resende (RJ) e Virgínia (MG). iniciativa de divulgação de informações do andamento do GT. Informações disponíveis em: <http://amigosdemaua.net/projetos/GT-CONAPAM/>. Acesso em 30 mar 2015.

Figura 6: reprodução da capa do site criado pelo GT de Resíduos Sólidos do Conapam. Fonte: disponível em: http://amigosdemaua.net/projetos/GT-CONAPAM. Acesso em 2 jun 2015.

Para a analista ambiental do ICMBio 1, no entanto, levar informação sobre o que é feito no âmbito do Conselho ainda é pouco do que é necessário fazer, assim como também seriam poucas as iniciativas de Educação Ambiental da APA e a proposição de palestras. Segundo ela, é preciso muito mais:

- (...) É fácil falar que vai fazer EA na escola... pra mim é uma coisa continuada, com lideranças, com multiplicadores... a gente tem tentado fazer algumas coisas com nossa estagiária, mas é pouco. Pensamos em multiplicadores, como aquelas pessoas podem fazer diferença na região onde estão, uma construção conjunta de um paradigma diferente de conservação. (...) É uma coisa a longo prazo, não é só um projetinho. Nossa UC é muito diversa, grande, nunca vamos conseguir fazer sozinhos. Uma coisa é fazer uma palestra sobre o Código Florestal, mas isso não é Educação Ambiental. Você levou informação, mas mudou alguma coisa? Mudar mesmo não mudou. Você tem que fazer com que as pessoas se apropriem das informações e vejam como elas podem interferir no processo todo a partir de determinado ponto; e isso não conseguimos fazer até hoje.

Essa visão é um desafio para o ICMBio e para as instituições preocupadas com a inserção do social em relação à conservação, avançaria para além dos discursos de se punir ou convencer quem causa impactos ambientais de que preservar não é empecilho. O sentido da Educação Ambiental embutido nesse desafio – e também o da Comunicação - seria o de troca, de intercâmbio, de se trabalhar as relações sociais e, a partir de tudo isso, ampliar a aproximação dos públicos que são influenciados pela existência da APA (e de legislação restritiva, entre outros) da gestão participativa.