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A Lei Federal no 9.985, de 18 de julho de 2000, estabelece normas e critérios para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação (UCs) brasileiras, sendo que conservação da natureza é definida como “o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural (...)” (BRASIL, 2000, art. 2º).

Entre os objetivos do SNUC listados no artigo 4º, que têm a ver com os objetivos das UCs, estão o de “contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos”; proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional”; “proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notal beleza cênica”; “promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais” e ainda “favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato” (BRASIL, 2000, artigo 4º), entre outros. A proteção de recursos hídricos também

se destaca entre esses objetivos e é uma das justificativas para a criação de diversas UCs, como a própria APA da Serra da Mantiqueira, objeto desta pesquisa.

As diretrizes do SNUC também prevêem que sejam assegurados “mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação” e ainda que “assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação (BRASIL, 2000, artigo 5º).

As categorias de Unidades de Conservação são divididas de acordo com a permissão para o uso direto (proteção integral) ou indireto (uso sustentável) de seus atributos naturais. O SNUC é um instrumento vigente em todo o território nacional, sendo que o Estado e os municípios devem adequar as UCs ao enfoque dessa legislação. Por terem entre seus objetivos a preservação integral de atributos naturais, as UCs de proteção integral são de posse e domínio públicos, e prevêem desapropriação de terras particulares em seu interior. A exceção das UCs de proteção integral é categoria Monumento Natural, que permite áreas particulares desde que se preserve sítios naturais indicados nos objetivos dessa UC.

As UCs de Proteção Integral são: estação ecológica, reserva biológica, parques, refúgios de vida silvestre e monumento natural. As atividades permitidas são pesquisas científicas e visitação com objetivos educacionais, e visitação pública, no caso de parques.

As UCs de uso sustentável são constituídas por terras públicas e privadas. São elas: a Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta, Reserva Extrativista e Reserva do Desenvolvimento Sustentável (cujas áreas são cedidas às populações tradicionais extrativistas e se prevê que as áreas particulares sejam desapropriadas) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN, área privada em que o proprietário pode solicitar a titulação ao ICMBio ou aos Estados. Embora figure na lista de UCs de uso sustentável, a área designada como RPPN segue o regramento das UCs de uso integral, deve ser preservada e gravada com perpetuidade (não pode ser alterada mesmo com mudança de proprietário).

Há hoje no Brasil 1.940 UCs, segundo o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) mantido pelo MMA21. Essas unidades de conservação ocupam

uma área de1.513.828 quilômetros quadrados22 de um total de 8.515.767,049 quilômetros quadrados da superfície brasileira23. Dessas, 320 são administradas pelo Governo Federal,

por meio do órgão ICMBio24. 143 UCs, ao todo, são de uso integral, e correspondem a

praticamente 1/3 da área total das UCs brasileiras (528.007 quilômetros quadrados). Os gráficos representados nas figuras 1 e 2, na página a seguir, apresentam o total de UCs existentes no Brasil, por categoria:

21 A tabela consolidada das UCs brasileiras foi atualizada pelo MMA em 17 fev 2015 e está disponível no

link: < http://bit.ly/1Gmw8PJ>. Acesso em 24 abr 2015.

22 Esse valor considera a sobreposição de UCs, como no caso da própria APA da Serra da Mantiqueira, em

cujo território existem outras UCs, como parques e RPPNs.

23 Dado oficial do IBGE, reconhecido em Diário Oficial. Disponível em: <

http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/default_territ_area.shtm>. Acesso em 24 abr 2015.

24 Esse número não inclui as 634 RPPNs requeridas por meio do órgão federal ICMBio, que são áreas de

Figura 1: UCs de Proteção Integral no Brasil. Fonte: MENEZES (2015), a partir de MMA/ICMBio, 2015.

Figura 2: UCs de Proteção Sustentável no Brasil. Fonte: MENEZES (2015), a partir de MMA/ICMBio, 2015. Floresta nac./est./mun, 104 Reserva Extrativista, 90 Reserva de Desenvolvimento Sustentável, 36 Área de Proteção Ambiental, 294 Área de Relevante Interesse Ecológico, 48 Reserva Particular do Patrimônio Natural, 782

UCs de Uso Sustentável no Brasil

Estação ecológica , 91

Monumento natural , 42

Parque Nacional, Estadual, Municipal, 361

Refúgio de Vida Silvestre , 32

Reserva Biológica , 60

UCs de Proteção Integral no Brasil

As Ucs estão espalhadas pelos sete diferentes biomas25 brasileiros. E embora pouco mais da metade das UCs esteja localizada na Mata Atlântica (1.071 UCs, de um total de 1.940) neste bioma, inclusive RPPNs), os dados do CNUC-MMA26 informam que as 322 UCs da Amazônia respondem por 26,6% do território deste bioma.

Há 294 Áreas de Proteção Ambiental (APAs) no Brasil, como é o caso da APA da Serra da Mantiqueira. São áreas indicadas no SNUC (2000) como extensas e ocupadas por núcleos populacionais em parte de seu território, com atributos estéticos, naturais e culturais que justificam sua criação. Seu objetivo seria o de associar “a proteção da diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais” (BRASIL, 2000). São constituídas por terras públicas e privadas, admitem sobreposição de UCs (como são áreas extensas, podem abrigar parques, RPPNs e outras unidades) e ainda a ocupação do solo disciplinada.

Criadas a partir da Lei Federal no 6.902/1981, as APAs indicam uma proteção a mais em áreas onde existem propriedades privadas e atividades inclusive industriais. Moraes (2011) lembra que nessa categoria de UC o Poder Executivo que responde pela gestão da APA pode implementar normas para diminuir o impacto negativo de determinadas atividades, como indústrias potencialmente poluidoras que afetem mananciais de água, obras de terraplenagem (para a construção e ampliação de estradas, por exemplo), entre outras. Moraes (2011) lembra também que a APA é uma categoria que tem dispositivos para o licenciamento, a autorização legal a que todos os empreendimentos e atividades que utilizam recursos naturais ou que possam causar poluição ou degradação estão sujeitos.

A autora destaca que a APA ainda é uma categoria em construção, cuja gestão, ao admitir a propriedade privada, tem como principal desafio não só o de restringir atividades, mas “fazer uso de todos os recursos adequadamente, otimizando os potenciais existentes e protegendo-os da degradação ou do extermínio”. (MORAES, 2.011, p. 169).

25 Segundo o Dicionário Socioambiental (Tassara, 2.008, p. 30), bioma é “um conjunto de ecossistemas,

em vasta extensão geográfica, que abarca tipos fisionômicos semelhantes de vegetação, definindo, assim, condições ambientais características”.

26 A tabela de UCs foi atualizada pelo MMA em 17 fev 2015 e está disponível em: <

Seria papel de uma APA, entre outros, a articulação de parceiros e de recursos financeiros para alcançar seus objetivos.