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MARCOS TEÓRICOS SOBRE ATIVOS INTANGÍVEIS – AI´s

MÉDIA DA RELAÇÃO VALOR DE MERCADO/VALOR CONTÁBIL DAS 500 MAIORES EMPRESAS AMERICANAS

3.2 O que diferencia os ativos intangíveis dos tangíveis

Antes de buscar entender as razões que fazem com que, apesar da reconhecida importância dos AI’s na nova economia, pouco tenha se evoluído na sua identificação e gerenciamento, faz-se necessário registrar que isto não chega a ser incompreensível ou irracional. Isto porque, conforme já destacado no texto supra, lidar com AI’s constitui-se num desafio novo para a grande maioria das pessoas acostumadas a gerenciar de maneira brilhante os ativos tangíveis de suas empresas. Para aprender a lidar adequadamente com o novo, é preciso quebrar paradigmas e até promover mudanças culturais. Nestes casos, é inerente ao ser humano, apresentar resistências a qualquer situação nova, sobre a qual ainda não tenha suficiente conhecimento e controle. Isto é corroborado por diversos pesquisadores como Capra (1982; 1996); Piaget e Vigotsky pesquisados por Taille, Oliveira e Dantas (1992), e até mesmo por Senge et al (1990; 2000). De acordo com estes autores, este tipo de comportamento é totalmente natural e à medida que as pessoas afetadas forem aprendendo mais sobre esta situação, tenderão a baixar a guarda da resistência pela resistência e passarão a se envolver na busca do domínio e desenvolvimento destas novas idéias.

Feitas estas considerações introdutórias, pode-se agora evoluir para tentar contribuir para que este processo transcorra de uma maneira mais natural. Assim, inicia-se com a investigação daquelas que são apontadas como sendo as principais características diferenciadoras dos Ativos Tangíveis e Intangíveis.

Ao investigar na literatura que trata do assunto, constata-se que a maior parte destaca seu potencial para criar valor, promover efeitos de rede e da capacidade que os AI’s tem de alavancam o retorno dos investimentos. Por sua vez, Lev (2001, p.21), acrescenta a estas potencialidades dos AI’s, a sua não- rivalidade. Ou seja, a capacidade de não limitarem seu uso a uma pessoa por vez. Além disto, ele aponta também, a excludabilidade parcial, o risco de insucesso ou fraude inerente, e suas peculiaridades ou seja, a dificuldade de generalizar o uso de tratamento destes ativos, como sendo os três maiores direcionadores de custos.

Para o autor, em qualquer uma destas situações, a análise da relação custo- benefício além de estar sempre presente, deve se mostrar favorável.

Por seu turno, Sveiby (2003, p.1-3) e Sveiby et al (2004, p.2), defendem que os lucros das empresas que possuem altos índices de imobilização, provêm dos ativos tangíveis. Por outro lado, nas empresas com produtos/serviços de alto valor agregado, o principal fator de seu sucesso é o conjunto de ativos intangíveis. Eles ilustram a situação dizendo que se a meta da organização for obter lucros no curto prazo, corta-se custos indiscriminadamente e ela é alcançada. Porém, os efeitos no médio e longo prazos podem ser desastrosos.

Além destas, Lev (2001, p.22-26), Stewart (1998) e Sveiby (1998, 2003), apontam outras diferenças-chave entre ativos tangíveis e intangíveis. Diferenças estas, destacadas na seqüência:

A primeira delas refere-se à limitação quanto ao seu uso. Os ativos tangíveis são de uso exclusivo e limitado ao passo que os intangíveis podem ser utilizados por um grande número de pessoas simultaneamente. Firer e Williams (2003), e Stewart (1998, p.152-154), compartilham esta visão ao colocarem que os intangíveis existem independentemente do espaço, diferentemente dos tangíveis. Ou seja, os ativos intangíveis podem ser possuídos, simultaneamente, por um número infinito de pessoas, sem diminuir seu valor; muito pelo contrário. Já os tangíveis tem seu uso restrito a uma pessoa por vez. Esta característica atribui aos AI’s uma perspectiva de crescimento e geração de retorno exponencial para a organização.

Outra diferença que pode ser apontada é a exaustão dos bens, ou seja, enquanto os ativos tangíveis se desgastam pelo uso, os intangíveis aumentam seu valor. Esta opinião é comungada por Stewart (1998, p.152-154), ao dizer que os bens econômicos convencionais aumentam seu valor à medida que ficam mais raros. Por sua vez, a maioria dos AI’s, em especial, o conhecimento, percorrem o caminho inverso. Este incremento decorre do efeito multiplicador de sucessivos processos de pensar-falar-ouvir-reelaborar, ou seja, da construção e desconstrução do conhecimento, característico destes ativos.

Outra destoação em relação aos ativos tradicionais reside nos gastos incrementais para produção de uma unidade adicional. Enquanto nos ativos tangíveis o gasto é similar ao da primeira unidade produzida, na maioria dos intangíveis o gasto para produção de uma unidade adicional é mínimo. Esta

também é a opinião de Stewart (1998, p.152-154), ao reportar-se à estrutura de custo radicalmente diferente da tradicional. Ou seja, o custo dos AI’s está concentrado na criação e desenvolvimento e não na multiplicação. Com isto os investimentos nestes ativos caracterizam-se da seguinte forma: os investimentos iniciais são elevados com expectativa de retorno pequena. À medida que se aproximam da conclusão e aprovação, os custos incrementais decrescem e as expectativas de retorno aumentam exponencialmente. Isto confirma o que Lev (2001, p.39-42), coloca ao afirmar que as chances de um determinado produto/serviço alcançar o estrelato ou de tornar-se um estrondoso fracasso, são muito maiores nos Ativos Intangíveis. Porém, ele ensina também, que nem todo risco é ruim e que mesmo não sendo coroado de pleno êxito, um investimento no desenvolvimento de AI’s, não está totalmente perdido. Ele constituirá o pano de fundo para outras pesquisas, ou seja, terá gerado aprendizado, conhecimento e valor, tanto para as pessoas envolvidas no processo quanto para a organização que elas representam, alavancando novas oportunidades.

Uma quarta diferença está relacionada ao mercado potencial. Neste sentido, os ativos tangíveis estão limitados à existência de matéria-prima, capacidade produtiva, de distribuição e disponibilidade de recursos para sua produção e aquisição, enquanto que os intangíveis, devido às características de custos incrementais mínimos e dos efeitos de rede, tem como limite o tamanho do mercado. Por esta razão Lev (2001, p.42), afirma que num mercado de rede, “maior é melhor”.

Por fim, a controlabilidade também constitui-se numa diferença-chave entre os ativos tangíveis e intangíveis. Ou seja, enquanto nos primeiros é relativamente fácil controlar o acesso e o uso, nos ativos intangíveis isto não se verifica. Para ilustrar esta assertiva o Dr. Leonard Nakamura, economista sênior do Federal

Reserve Bank of Philadelphia, afirma que as perdas anuais das empresas

americanas decorrentes de apropriações indébitas de AI’s - roubo de segredos, infração de patentes, engenharia reversa,... - atingem U$250 bilhões (STEWART, 2002, p.35).

Além destas, pode-se ainda, adotar um enfoque sob a perspectiva de criação de valor. Neste ponto, Kaplan e Norton (2004, p.31-32), apontam mais quatro diferenças: 1a - a criação de valor é indireta; 2a - o valor é contextual – seu

de seu desenvolvimento ou criação, não são apropriados para identificar seu valor. Se os AI’s forem alavancados com uma estrutura que permita seu desenvolvimento alinhado com a estratégia, seu valor será enorme, do contrário, poderá ser praticamente zero; 4a - eles atuam em conjunto – seu valor emerge de uma combinação eficaz entre outros ativos, tangíveis e intangíveis.

Ao analisar as diferenças supra destacadas, percebe-se que não se constituem apenas de diferenças semânticas. Representam sim, uma nova filosofia e que para gerenciá-las, faz-se necessária uma mudança profunda nos procedimentos tradicionais dispensados aos ativos tangíveis. Requerem uma mudança cultural na organização. Além disto, há inúmeras outras barreiras a superar na busca da melhor maneira de explorar o potencial contributivo destes ativos para garantir as vantagens competitivas de uma organização. Estes aspectos serão objeto de análise na seção a seguir.