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Considerações iniciais

2.1 Design da pesquisa base filosófica

2.1.3 Paradigmas científicos

Apresentado por Kuhn em 1962, o conceito de Paradigma (tradições para Kneller, 1980, 11-35), tornou-se popular e chegou a ser utilizado para designar diversos - vinte e um - aspectos diferentes. Porém, para Morgan (1980, p.606), um dos enfoques mais importantes dados por Kuhn origina-se da identificação de paradigmas como realidades alternativas.

Assim, para Triviños (1992, p.30), as principais correntes paradigmáticas que caracterizam o pensamento contemporâneo são: Positivismo, Marxismo e Fenomenologia. Na seqüência, abordar-se-á cada uma delas.

Positivismo

Representando as idéias de Bacon, Hobe e Hume, o Positivismo foi fundado por Comte (1789-1854). Seus defensores negam a física transcendente e afirmam que a Divindade e o Homem são um só. Acreditam que os princípios científicos são capazes de explicar todos os fenômenos.

Considerando que a realidade é constituída de fatos isolados e observáveis, os positivistas não se preocupam com as causas e nem com as conseqüências dos fenômenos, apenas com o estabelecimento das relações entre os fatos da forma mais neutra possível. Seu papel é exprimir a realidade não julgá-la.

Neste sentido, Triviños (1987, p.123-133) alerta que o foco central da pesquisa que adota o paradigma positivista consiste em obter e analisar os resultados sem se preocupar com o processo de obtenção e nem com a contextualização, a complexidade e particularidade de cada fenômeno estudado.

O perigo desta postura reside no fato de querer generalizar e validar os resultados obtidos, apesar de todas as simplificações realizadas. Com isto, o pesquisador isola, denuncia, assinala, mede e quantifica os fenômenos. Porém, esquece-se dos seus significados e de suas bases históricas. Assim, ao negar a metafísica - ou por ser falsa - empirismo lógico - ou por carecer de significado - neopositivismo - e aceitar como científico somente o passível de comprovação pela

experiência - atividade muitas vezes mecânica, alheia às necessidades das pessoas -

o Positivismo foi perdendo espaço na metade da década de 70, atacado, principalmente, pela Escola de Frankfurt, abrindo espaço para escolas como a Marxista.

Marxismo

Ao fundar a doutrina marxista na década de 1840, Karl Marx (1818-1883), seguido de Engels (1820-1895), e Lenin (1870-1924), provocaram uma verdadeira revolução no pensamento filosófico, principalmente pelas conotações políticas presentes em suas idéias. Enquadrado no Materialismo Filosófico e tendo como fontes de inspiração as idéias de Hegel, do idealismo clássico alemão, do socialismo utópico e da economia política inglesa, o Marxismo compreende os materialismos dialético, histórico e a economia política. O primeiro, ao buscar explicações históricas, coerentes, lógicas, causais e racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento, constitui-se na sua base filosófica. Seus principais princípios são a matéria, a dialética e a prática social. Já o materialismo histórico estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida em sociedade, definindo o que é ser social, consciência social, meios de produção, forças produtivas, entre outros.

Para Triviños (1992, p.52-53), o marxismo apresenta três características importantes: a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria à consciência; e, a cogniscibilidade do mundo. Características estas, automaticamente incorporadas ao processo de pesquisa atual, dado que se constituem em pressupostos elementares porém, fundamentais para toda pesquisa de cunho social.

Ao referir-se à prática, Van Manen (1990, p.15), ensina que para os materialistas dialéticos a prática – matéria - precedeu à teoria – espírito -, logo, as teorias são fruto de ações percebidas pela sensação, representadas pelos conceitos, juízos de valores e leis, resultando em novas teorias.

Por fim, Triviños (1992, p.65-72) lembra que no marxismo o desenvolvimento não ocorre nem de forma retilínea nem circular, e sim em espiral, onde o novo se utiliza do antigo só que de uma maneira bem mais profunda e ampla.

Fenomenologia

Outra linha paradigmática do pensamento científico que está ganhando espaço é a fenomenológica. Após ser fundada pelo alemão Edmund Husserl (1859- 1938), diversas foram as correntes do pensamento fenomenológico ao redor do mundo. Mas foi a defendida por seu criador a que mais contribuiu para a filosofia moderna. Nela, nega-se a existência tanto do sujeito quanto do mundo, como puros e independentes um do outro. Ou seja, o homem é um ser consciente e intencional e este não existe independentemente do objeto.

Seu objetivo maior reside em apreender a essência absoluta das coisas e fundamentar o conhecimento através da experiência pura, sem pressupostos. Para tanto, o pesquisador deve se despir de seus “pré-conceitos”. Nesta linha, Van Manen (1990, p.35-51) ensina que o problema da investigação fenomenológica, na maioria das vezes, não reside na ausência de conhecimento sobre o fenômeno e sim, na nossa tendência em realizar pré-julgamentos acerca da significância do fenômeno a ser investigado. Porém para Triviños (1987, p.44-48), apesar da conotação de enfoque único na particularidade da experiência vivida, este deve estar enquadrado num contexto maior e ter como pano de fundo o paradigma fenomenológico.

Resgatando o objeto da pesquisa, Van Manen (1990, p.36) aduz que a experiência vivida constitui-se no seu início e fim, logo não pode ser resumida uma vez que se preocupa com a essência da experiência vivida. O autor alerta porém, que o objetivo deste tipo de pesquisa não consiste na experiência propriamente dita e sim, no significado da experiência vivida para a pessoa.

Para captar este significado, a fenomenologia utiliza-se de paradigmas interpretativos, metáforas e métodos hermenêuticos, apreendendo, desta forma, por meio de uma análise temática a experiência vivida num texto inicial (tema) que, submetido a uma síntese criativa resultará num texto fenomenológico. Texto este, reducionista porém, representativo da realidade vivida. Van Manen (1990, p.15) coloca ainda, que a prática sempre precede a teoria a qual, por meio de um ato reflexivo, lhe empresta significado, esclarecendo-a, sistematizando-a e justificando-a.

Objetivando enfatizar a pesquisa fenomenológica, Van Manen (1990, p.21-24) lembra o que ela não é, ou seja: a) ela não se propõe a descrever ambientes organizacionais, ou contextos mais amplos, e nem realizar generalizações. Neste

sentido, o autor cita que a única generalização possível dentro da fenomenologia é: Nunca Generalize; b) não é uma técnica mística de meditação oriental; c) não está somente preocupada com uma particularidade totalmente desconexa com o meio; e,

d) ela também não busca soluções para problemas, apenas compreensão e

descrição do fenômeno. Neste sentido, Bogdan (1982, p.27-30) ensina que neste paradigma existe preocupação com o processo de pesquisa e não somente com os resultados e seu produto.

Assim, pode-se sustentar a idéia de que uma pesquisa fenomenológica é multidimensional, ou seja, cada envolvido no processo possui as suas ‘verdades’ e interpretações dos fenômenos. Mudando as pessoas ou o momento em que são elaboradas, mudam as interpretações e os resultados obtidos.

Preocupado como esta “flexibilidade”, Barret (1978, p.35-70), chama atenção para o fato de que a ausência de procedimentos objetivos dentro da ciência social não se constitui em argumento suficiente para concluir que é fácil trabalhar dentro desta linha de pesquisa. Muito pelo contrário. O pesquisador precisa policiar-se constantemente contra as ilusões sedutoras desta técnica. Por isto, Van Manen (1990, p.17), alerta para o perigo desta “ausência de regras”. Para ele, dado às características pessoais, ambíguas e algumas vezes imprecisas deste paradigma, o pesquisador pode tentar camuflar sua inexperiência ou até incompetência.

Esta afirmativa realmente encontra solo fértil para as críticas dos defensores das linhas de pesquisa positivista. Portanto, todo trabalho desenvolvido dentro desta área, além de preocupar-se com o estudo propriamente dito, deve também, ter cuidados redobrados com relação à fundamentação de sua pesquisa e dos procedimentos metodológicos adotados para desenvolvê-la, ou seja, com o processo de pesquisa.

Por fim, ao fazer uma abordagem sucinta sobre as correntes paradigmáticas que caracterizam o pensamento humano, Easterby-Smith et al (1991, p.21-43), e Triviños (1987, p.96), colocam que se a orientação teórica do pesquisador tiver enfoque positivista, possivelmente serão priorizadas as relações entre os fenômenos, sem grandes preocupações com as causas. Se predominar a abordagem marxista dialética, certamente os aspectos históricos, as contradições e as causas dos fenômenos receberão maior atenção. Por fim, caso sua orientação teórica for fenomenológica, seguramente o significado e a intencionalidade serão mais explorados.

Portanto, por buscar captar a essência da experiência vivida e utilizá-la para gerar compreensão e conhecimento ao invés de apontar a melhor solução, e por estar preocupado não somente com o resultado e sim com o processo, é que no campo das correntes do pensamento filosófico, nesta pesquisa será adotado um paradigma fenomenológico construtivista.

Com isto conclui-se o arcabouço teórico filosófico do design da pesquisa. Resta porém, lançar um olhar sobre os procedimentos necessários à operacionalização da pesquisa, ou seja, os procedimentos à adotar para a coleta e análise dos dados. Este será o objeto das seções seguintes.