1.3 As condições de produção na constituição dos sentidos
1.3.5 O sistema de avaliação empregado na instituição
Na instituição pesquisada, a nota final do aluno pode variar de 0 a 100, sendo que a
média exigida para que o aluno passe de um nível do curso para outro é 70. Com o objetivo
de avaliar constantemente o aluno durante o curso, existem diferentes formas de avaliação e
de atividades propostas para nota, ao longo de cada semestre do ano letivo. A soma das
avaliações semestrais e das atividades complementares propostas para nota deve ser igual a
100. Cada curso oferecido tem duração de um semestre e o número de avaliações varia de
acordo com o nível do curso.
Nos cursos de nível básico e intermediário, cujas aulas têm duração de uma hora e
meia, os alunos são submetidos a duas avaliações bimestrais que valem vinte pontos cada
uma. No final do semestre, há um exame final escrito que soma quarenta pontos na nota
final, ou seja, este exame tem um peso maior do que as duas provas bimestrais,
anteriormente realizadas. Além disso, são aplicados dois exames orais, juntamente com as
semestre, a participação do aluno durante o curso, que pode vir a somar dez pontos na nota
total. Para atribuir a nota de participação aos alunos, os professores devem considerar o
número de tarefas e redações feitas, bem como o número de resumos entregue sobre livros
contendo histórias em inglês.
Nos cursos intensivos e de nível avançado, nos quais as aulas têm duração de duas
horas, há duas avaliações ao longo do semestre que equivalem a oitenta pontos da nota
total, ou seja, as provas aplicadas têm o mesmo peso e valem quarenta pontos cada. Os
alunos também passam por dois exames orais que podem acrescentar dez pontos na nota
total, já que cada um deles vale cinco pontos. Semelhantemente aos outros níveis, os alunos
também recebem uma nota de participação que pode variar de zero a dez.
Embora existam algumas diferenças no sistema de avaliação e de atribuição de notas
em função do nível do curso, de modo geral, os exercícios estruturais e escritos, que
compõem as avaliações formais, se sobrepõem às atividades propostas nos exames orais,
mesmo que, aparentemente, o enfoque dos cursos esteja na produção e compreensão orais.
As avaliações formais ou provas são vistas pelo diretor, supervisor e professores da
instituição como um instrumento ou mecanismo que possibilita a verificação da
aprendizagem, uma vez que atesta e comprova o nível de conhecimento dos alunos. Nessas
provas, os exercícios propostos visam a avaliar algumas das habilidades praticadas em sala
de aula: compreensão oral, compreensão de textos, conhecimento de estruturas gramaticais
e produção escrita (redação). Convém salientar, ainda, que cada exercício da prova possui
uma pontuação máxima predeterminada; no entanto, não há um descritor comum ou um
guia seguido pelos professores, durante a correção das provas, que estabeleça como a
resposta fixa e obrigatória, como na escrita da redação, por exemplo. Nessas atividades, é o
professor quem atribui a pontuação que julgar adequada aos alunos.
As provas dos diferentes níveis e cursos são elaboradas pelo supervisor e por dois
professores da instituição e devem passar pelo crivo do diretor, antes de serem aplicadas
aos alunos. Os outros professores da instituição contribuem para a (re)elaboração das
provas, ao responderem um questionário, geralmente no final do semestre, fornecendo
sugestões e possíveis alterações dos exercícios propostos nas prova.
Vale destacar que os professores diretamente responsáveis pela elaboração das provas
não precisam, necessariamente, ter ministrado aulas nos níveis que terão as provas
elaboradas por eles. Isso contribui para a manutenção da noção de neutralidade na prática
da avaliação formal, pois, dessa maneira, acredita-se que o professor evite elaborar o
conteúdo das provas de acordo com sua prática.
As mesmas provas são mantidas e reaplicadas em turmas variadas de determinados
níveis do curso ao longo dos anos, ou seja, as provas só são (re)elaboradas caso o livro
didático seguido seja substituído ou em função de alguma sugestão fornecida pelos
professores da instituição e acatada pelo diretor acadêmico. Assim sendo, não é permitido
que os alunos fiquem com as provas a que foram submetidos, durante o semestre. Os
professores apenas entregam a prova corrigida, durante uma das aulas seguintes, para que
sejam comentadas e conferidas pelos alunos. Posteriormente, as provas corrigidas são
recolhidas e arquivadas nas pastas dos alunos, passando a funcionar como um documento
comprobatório do aproveitamento e do desempenho destes, durante o curso.
Segundo a supervisora da escola, para elaboração das avaliações formais, são
utilizados alguns modelos de exercícios encontrados nas provas sugeridas no manual do
encontradas no material didático são padronizadas e não levam em conta as diferenças entre
os alunos e as turmas às quais são aplicadas.O livro didático empregado ainda oferece uma
série de atividades extras (resource pack), para serem desenvolvidas durante as aulas.
Algumas dessas atividades também são utilizadas na elaboração das provas. De modo geral,
as provas são formuladas de acordo com os tópicos gramaticais apresentados em sala de
aula. Assim sendo, a maioria dos exercícios propostos acabam exigindo um conhecimento
de estruturas gramaticais, embora o enfoque do curso seja na comunicação oral. Um
exercício muito freqüente nas provas, por exemplo, é o cloze. Nesse tipo de exercício, que
geralmente possui uma pontuação bastante alta em relação aos outros, são apresentadas
frases descontextualizadas com algumas lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos,
utilizando-se de vocábulos variados, tempos verbais e preposições.
Convém esclarecer que, embora nosso estudo não tenha como objetivo específico a
problematização da estrutura e da elaboração das provas da instituição pesquisada, as
condições de sua produção provocam sentidos nos dizeres sobre a avaliação formal que, por
sua vez, contribuem para a produção de verdades sobre o aluno.
No que segue, apresentamos a análise de alguns recortes e acontecimentos discursivos,
para que seja possível realizarmos algumas reflexões e fornecermos alguns apontamentos
CAPÍTULO 2
O PROFESSOR COMO JUSTICEIRO
Neste primeiro capítulo de análise, procuramos rastrear as representações de avaliação
formal (prova) que estão atreladas à imagem de professor como justiceiro, nas formulações
de professores e alunos. A concepção de prova como instrumento integrado ao processo de
ensino e que possibilita a verificação da aprendizagem dá a ilusão de neutralidade ao
avaliador. No entanto, é justamente na prática de avaliar que sua subjetividade irrompe,
uma vez que toda avaliação também é constituída por um julgamento, isto é, a prática da
avaliação pressupõe a atribuição não só de valores numéricos, mas também de julgamentos
de valor atrelados às representações de quem avalia. Sendo assim, podemos dizer que
avaliação e julgamento se confundem, pois se há avaliação, também há julgamento e vice-
versa, embora o resultado numérico e lógico da avaliação formal (prova) mascare as
representações que estão relacionadas ao julgamento do avaliador.
Nos excertos abordados, também observamos que a noção de prova que circula no
contexto escolar, bem como a prática de avaliar, evocam sentidos e conceitos, tais como:
punição, recompensa, veredicto, “ser capaz” ou “incapaz”. Alguns desses conceitos e
oposições, geralmente utilizados para avaliar e caracterizar os alunos, apontam para a
memória discursiva à qual se filiam, além de serem constitutivos da identidade do sujeito-