Observações e/ou questões anteriores ao processo de planejamento

Uma primeira questão que antecede a discussão de uma AAE é o fato se o plano ou o programa em analise deve ser ou não submetido a avaliação da AAE. Com relação à necessidade ou não de uma AAE no contexto dos planos de manejo das áreas protegidas da categoria V, cabe ressaltar um aspecto importante: os planos de manejo da categoria V (no caso do Brasil, as Áreas de Proteção Ambiental) podem influenciar níveis mais baixos de tomada de decisão, como a formulação de programas ou até requerimentos para projetos com ações direcionadas para o ordenamento do território (PHILLIPS, 2002). Em concordância com a Diretiva Europeia (2001/42/CE) e com o Protocolo da UNECE, a AAE deve ser aplicada para as ações estratégicas relacionadas ao ordenamento do território, que é uma característica dos planos de manejo desta categoria, e para ações estratégicas com influência em outros planos e programas, incluindo os inseridos em uma mesma hierarquia. Portanto, se no Brasil a AAE fosse regulamentada, esta deveria ser aplicada na elaboração dos planos de manejo de áreas protegidas da categoria V, ou seja, para os planos de manejo das Áreas de Proteção Ambiental.

Definido a necessidade da AAE como instrumento de avaliação dos planos de manejo das áreas protegidas da categoria V, um ponto central para dar início a processo da AAE é verificar o momento em que a AAE vai ser desenvolvida e quem vai

desenvolver a AAE e os planos de manejo. Portanto, o primeiro critério de avaliação é: Em que momento a AAE foi desenvolvida (antes, durante ou depois da elaboração do plano de manejo)? Quem desenvolveu a AAE e o Plano de manejo?

No Quadro 5 é apresentada uma comparação da avaliação dos casos analisados sobre este critério de avaliação.

Quadro 5. Comparação das avaliações dos casos sobre o critério de avaliação: Em que momento a AAE foi desenvolvida (antes, durante ou depois da elaboração do plano de manejo)?Quem desenvolveu a AAE e o Plano de maneio?

Planos referentes ao Parque Nacional Cairngorms Planos referentes ao Parque Nacional _{Loch Lomond & The Trossachs}

1. CNPP 2007- 2012 2. CNPP 2012- 2017 3. CNPLP 2008 4. PNCLDP 2013 5. WRSGP 2010 6. LLTNPP 2007-2012 7. LLTNPLP 2010-2015 8. LLTNPPP 2012-2017 A A A A A C A A Legenda: 1. Cairngorms National Park Plan (2007 – 2012); 2. Cairngorms National Park Plan (2012- 2017); 3. Cairngorms National Park Local Plan; 4. Cairngorms National Park Local Development Plan; 5. Water resources Supplementary Planning Guidance; 6. Loch Lomond & The Trossachs National Park Plan – (2007-2012); 7. Loch Lomond & The Trossachs National Park Local Plan (2010 - 2015); 8. Loch Lomond & The Trossachs Park Partnership Plan (2012 - 2017).

Sobre as escalas de avaliação: A - Muito bem realizado sem omissões importantes; B - Realizado de maneira satisfatória e completa com apenas algumas omissões ou inadequações; C - É considerado apenas satisfatório apesar de algumas omissões e inadequações; D - Indica que partes estão bem realizadas, mas como um todo está insatisfatório por conta de omissões e inadequações; E - Não é satisfatório, revelando omissões ou inadequações significantes; F - É muito insatisfatório com tarefas importantes realizadas de maneira pobre; G - Nenhuma tarefa realizada.

Ao analisar as informações apresentadas no Quadro 5 é constatado que este critério de avaliação apresentou um resultado uniforme entre os casos internacionais avaliados. A maioria dos casos analisados responde de maneira satisfatória aos critérios avaliados, com a exceção do caso 6.

Nos casos avaliados, a AAE e a ação estratégica são desenvolvidas pela mesma equipe, sendo uma prática importante para que as recomendações da AAE sejam incorporadas na ação estratégica (THERIVEL, 2004; ODPM, 2005; PARTIDÁRIO, 2007b). Para Therivel (2004), ODPM (2005) e Fischer (2010) quando o processo da AAE é desenvolvido pelos próprios tomadores de decisão, existem maiores chances dos resultados obtidos pela AAE serem incorporados no desenho final da ação estratégica.

Com relação ao momento em que a AAE foi integrada ao processo de elaboração das ações estratégicas, sete dos oito casos iniciaram os processos de elaboração da AAE e da ação estratégica concomitantemente, a exceção refere-se ao

Plano do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs de 2007 a 2012 (caso 6 no Quadro 5). Neste caso, a AAE foi desenvolvida depois da elaboração do Plano do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs (2007-2012), porém antes deste ser aprovado (LLTNPA, 2006). O fato de ter iniciado a AAE antes da aprovação do plano possibilitou algumas alterações no Plano do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs (2007-2012). Contudo, aspectos como ponderação de alternativas não foi possível discutir porque as opções de desenvolvimento do Plano já estavam definidas (LLTNPA, 2006). A justificativa do relatório ambiental para o retardo na elaboração da AAE foi devido à AAE ter sido regulamentada na Escócia depois do início da elaboração do Plano do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs (2007-2012). Assim, a avaliação do plano pela AAE foi voluntária (LLTNPA, 2006).

A definição de como será a articulação da AAE com a ação estratégica é crucial para ampliar o potencial de contribuição da AAE para os planos de manejo. Neste contexto, a Therivel (2004), ODPM (2005), Fischer (2007), Fischer (2010) ressaltam aspectos importantes para a boa prática da AAE. Por exemplo, a necessidade de integração do processo de planejamento da ação estratégica com o processo de avaliação, uma vez que muitos benefícios da AAE são perdidos quando os processos são desenvolvidos por fluxo de trabalho diferente ou por órgãos independentes. Outro aspecto importante é quando a AAE é desenvolvida depois da aprovação da ação estratégica. Neste caso, poucas alterações na ação podem ser efetivamente realizadas, como identificado por Fischer (2010).

A Figura 12 apresenta um exemplo de como acorreu à articulação da AAE com Plano Local do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs (2010 - 2015), o caso 7. O processo de elaboração do Plano Local iniciou em 2008 com um relatório sobre as questões principais do Plano Local, que foi enviado para consulta às autoridades e ao público junto com o primeiro relatório ambiental da AAE. Os resultados da consulta foram considerados e uma nova versão revisada do Plano Local e do Relatório ambiental foi disponibilizada para consulta pública em 2010. Após o segundo momento de consulta, poucas alterações foram sugeridas. Em 2011, o relatório ambiental e o Plano Local são novamente publicados com as alterações propostas (LLTNPA, 2011).

Figura 12. Diagrama do processo da AAE com o do Plano Local do Parque Nacional Loch Lomond & The Trossachs (2010 - 2015). Fonte: LLTNPA, 2011.