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No primeiro ano, conforme já colocado anteriormente, a COP determinou que fossem debatidos e decididos pela população apenas os investimentos em saúde e educação, dada a existência de recursos garantidos por lei para essas duas áreas.

Ao ser realizado um exame crítico nos documentos emitidos pela SMS e feita sua confrontação com o Plano de Obras e Serviços, enviado pelo Executivo à Câmara Municipal em 27 de setembro de 2001, foi possível constatar que essa Secretaria não acatou plenamente as demandas prioritárias decididas nas assembléias do OP.

Conforme já explicado anteriormente, as prioridades votadas pela população nas assembléias deliberativas que aconteceram em 2001 na área de saúde foram:

1ª Prioridade

Construção de Postos de Saúde/UBS e Hospitais

2ª Prioridade

Implantação ou Ampliação de Serviços/Especialidades

3ª Prioridade

Programa de Saúde da Família – PSF

4ª Prioridade

Reforma e ampliação das UBSs e Hospitais

A SMS, representada pelo então Secretário Eduardo Jorge, tinha definida como projeto central da sua pasta o Programa Saúde da Família (PSF)68, porém, no quadro de prioridades votadas pela população, esse programa ficou classificado como 3ª opção, gerando um conflito entre a COP, o CONOP e a SMS.

Vitale (2004:51) destaca que o então Secretário de Saúde, apesar de ter participado das reuniões do CONOP e assumido o compromisso de cumprir as prioridades que foram estabelecidas pela população, posteriormente acabou não assumindo o acordo, empregando quase todos os recursos disponíveis no PSF.

Ao questionar Sánchez sobre esse assunto, o mesmo disse que “o

Eduardo Jorge foi um dos que ajudou a desmoralizar o OP” e que ao não

atender a primeira prioridade votada pela população, em 2001, acabou atrasando muito as obras para a construção dos Postos de Saúde/UBS e Hospitais69.

68 O PSF foi implantado no início do governo Marta Suplicy pela SMS , e consiste na realização de visitas e

acompanhamento a famílias de baixa renda em todos os distritos da cidade por equipes compostas de: 1 médico, 1 enfermeiro, 2 auxiliares de enfermagem e 5 agentes comunitários.

Conforme documento elaborado pela SMS e entregue aos conselheiros do OP 70, era nítida a intenção dessa Secretaria em aplicar a maior parte dos recursos disponíveis no PSF.

Inicialmente, o referido documento fazia um balanço das receitas orçamentárias provenientes de transferências do próprio município, referente a 15 % da receita total da prefeitura, e do Governo Federal, realizadas por conta do Sistema único de Saúde (SUS). Também fez referências sobre as despesas da Secretaria englobando, custos com recursos humanos, instalações, equipamentos e materiais hospitalares, como também, diversos programas com convênios junto ao Ministério da Saúde.

Em seguida, no documento citado, foi dada uma ênfase especial para a implantação do PSF prevendo, naquela ocasião, uma alocação de recursos da ordem de R$ 140 milhões, cerca de 10% do Orçamento da SMS, estipulando a meta de conceber cerca de 800 equipes até o final de 2002, sendo: 300 equipes até o final de 2001 e mais 500 equipes em 2002.

Por fim, o documento abordou sobre os recursos de investimentos para a primeira prioridade deliberada pelo OP, construção de novas unidades de saúde, argumentando que as despesas de pessoal e custeio eram rígidas e que acabariam sendo escassos os recursos para atender as essas demandas.

“No Orçamento de 2002, prevê-se investimentos da ordem de R$ 40 milhões. Isto inclui R$ 17 milhões para construção de unidades...É importante perceber que há limites para construir novas unidades não apenas no sentido de que “não há dinheiro para investir”, mas também porque construir unidades implica em equipá-las, colocar recursos humanos para trabalhar nelas e mantê-las do ponto de vista de limpeza e vigilância. Uma unidade básica equipada custa em torno de R$ 1 milhão. Do ponto de vista de pessoal, uma vez que é uma diretriz fundamental da Secretaria implantar o Programa Saúde da Família, podemos supor que todas as novas unidades deverão abrigar equipes de Saúde da Família.”

De acordo com vários documentos entregues pela SMS aos delegados e conselheiros do OP no decorrer de 2001, estava clara a intenção dessa Secretária em implantar o PSF, mesmo que esse programa não fosse uma demanda decidida nas assembléias deliberativas do OP. Essa pasta tinha como meta atingir os distritos mais carentes, situados na região periférica de São Paulo, utilizando como critério o “Mapa de Exclusão Social”.

No Plano de Obras e Serviços do OP foi possível constatar que na área da saúde foram alocados os recursos orçamentários sem atender a ordem das demandas prioritárias deliberadas pela população.

1ª Prioridade

Construção de 21 UBSs em toda a cidade, 1 hospital em Cidade Tiradentes e outro em M’ Boi Mirim

Valor orçado: R$ 20.500.000,00 2ª Prioridade

Implantação ou Ampliação de Serviços/Especialidades

Valor orçado: R$ 57.000.000,00 3ª Prioridade

Programa de Saúde da Família – PSF

Valor orçado: R$ 142.100.000,00 4ª Prioridade

Reforma e ampliação das UBSs e Hospitais

Valor orçado: R$ 22.800.000,00

Embora o PSF tenha sido classificado em terceiro lugar entre as prioridades votadas pela população, a SMS destinou cerca de R$ 142 milhões para esse programa, significando uma quantia muito maior em relação a primeira e segunda demanda priorizadas no OP, destacadas acima.

Em relação à primeira e quarta prioridades escolhidas pela população, a SMS investiu efetivamente apenas 10,9% dos valores orçados, e, em serviços, que está incluído o PSF, foram gastos cerca de 97% dos recursos, conforme a tabela 3.

TABELA 1