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CAPÍTULO 1: EXPERIÊNCIA SOCIAL, JOVENS E UNIVERSIDADE

1.2. JUVENTUDES, DIÁLOGO E EDUCAÇÃO

1.2.4. Oportunidades de dialogar com os jovens

As preocupações afetas ao diálogo com os jovens percorrem a história do pensamento humano desde os antigos. Na Antiguidade, enquanto os sofistas encantavam os jovens gregos com sua oratória, Sócrates deles se aproximava, valendo-se da maiêutica. Por sua vez, Plutarco já alertava os jovens a respeito do valor do aprender a ouvir (REALE; ANTISERI, 1990; LEVI; SCHMITT, 1996a; PLUTARCO, 2003). Com os romanos, destacam-se pensadores como Lucrécio, Cícero, Sêneca e Quintiliano, defensores das influências da deusa Juventa sobre as mudanças sociais (PENSADORES, 1985).

Mais adiante no tempo, contribuíram Espinosa (1997), com reflexões acerca de aspectos teológicos, e Rousseau (1997), com suas preocupações a respeito da renaturalização do ser humano. Na contemporaneidade, os estudos de Morin (1977), Bourdieu (1983), Ortega y Gasset (1987, 1990), Dubet (1994), Hobsbawm (1995), Sposito (2000, 2009, 2011), Pais (2003, 2005, 2008), Gomes (2005, 2008, 2011) e Caliman (2008), dentre outros autores, preocupam-se fundamentalmente com a questão do diálogo com o conjunto social denominado juventude.

No tempo atual, este conjunto social, heterogêneo e dinâmico, vivencia crises e contradições, mas, a despeito, aprecia e necessita dialogar. Afora outros desafios, ele esquia sobre a camada de gelo fino na qual se transformou a sociedade na modernidade líquida (BAUMAN, 2001). Se parar de correr, naufraga. Ainda assim, em meio à velocidade dos tempos e vivendo o contexto moderno do declínio dos ritos de passagem, bem como situações propícias do período de vida chamado pós-

adolescência (GALLAND, 1997) ou adultez emergente (ARNETT, 2004), os jovens

precisam dialogar porque vivem dilemas, como, por exemplo, os decorrentes da polarização entre a lógica do carpe diem, herdada do mundo romano (CORTELLA; DE LA TAILLE, 2009), e as lógicas de ação (DUBET, 2003), as quais, em oposição àquela, obrigam os jovens a atribuir sentido a suas próprias práticas sociais.

Neste contexto, pesquisas realizadas nos últimos anos descortinaram vivências favoráveis à construção de uma vida dialógica, apesar da provisoriedade dos resultados alcançados em face da volatilidade do atual momento histórico. Tais pesquisas evidenciaram situações que podem se tornar canais propícios ao diálogo com os jovens, os quais, a despeito do olhar ambíguo de desencanto e de fascínio dirigidos a eles pela sociedade, ainda assim denotam uma profunda crença nas próprias capacidades.

Eles têm também expectativas, como evidenciou a pesquisa Juventude

brasileira e democracia: participação, esferas e políticas públicas, concluída em

2005 pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Pólis) (RIBEIRO, 2005).

Com a participação de oito mil jovens de 15 a 24 anos de idade residentes em oito regiões metropolitanas brasileiras, aquela pesquisa evidenciou expectativas dos jovens relativamente à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer, possíveis espaços que abrigam oportunidades de desenvolver diálogos. Na área da educação, os jovens clamam por melhorias nos currículos, nas metodologias e no material didático, bem como por mais atividades extrassala, a exemplo de passeios, visitas, palestras interessantes e laboratórios – solicitam aos professores maior aproximação, cabendo a estes adaptarem-se ao seu modo de ser.

Há expectativas com relação ao trabalho, pois se espera mais abertura ao trabalho por parte do mercado, menos dificuldades para conseguir o primeiro emprego e menos preconceito por ser jovem e inexperiente – cabendo informar a existência de jovens que condenam a estruturação das relações de trabalho norteada pelos relacionamentos pessoais. Finalmente, há expectativa no plano da cultura e do lazer, pois na pesquisa os jovens expressaram a seguinte lógica: se não há escola de qualidade, não há emprego; logo, falta dinheiro para acessar a cultura e o lazer (RIBEIRO; LÂNES; CARRANO, 2005).

Envolvendo o binômio educação/trabalho, destacam-se alguns resultados da pesquisa Perfil da juventude brasileira, já mencionada (ABRAMO; BRANCO, 2011). Como lembra Sposito (2011), ao comentar os resultados daquela pesquisa, torna-se impossível não mais considerar a influência das desigualdades econômicas sobre as ações dos jovens relacionadas à escola e ao trabalho.

Dados da pesquisa acompanham outros estudos que invalidam a imprescindibilidade da relação causa e efeito representada pelo par mais

escolaridade, mais emprego. No Brasil, o percentual de jovens que estudam e

trabalham aumentou de 15,4% para 21,0% no período de 1981 a 2001 (SPOSITO, 2011), mas este nível permaneceu em 19,0% ao longo da primeira década do século atual se considerados os jovens de 15 a 24 anos. Na outra ponta, com relação àqueles jovens sem estudar e sem trabalhar, dos 18 aos 20 anos de idade, o percentual aumentou de 22,5% em 2001 para 24,1% em 2009 (FRAGA, 2010). Se educação e trabalho, respectivamente, constituem-se no primeiro e segundo assuntos de maior interesse pessoal dos jovens participantes daquela pesquisa, constatam-se, diante destas informações, oportunidades de construir diálogos com a juventude.

Quanto às questões no âmbito da dupla cultura/lazer – com frequência, localizadas em espaços onde se manifestam opiniões, aspirações, angústia e dilemas – a pesquisa Juventude, juventudes: o que une e o que separa, realizada em 2004 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) com 10.010 brasileiros com idade entre 15 e 29 anos, constatou que 75,0% dos entrevistados não têm o hábito de ir a teatros ou a museus. Quanto à frequência aos cinemas, às bibliotecas e aos locais de esporte, o percentual cai para menos de 50,0%. Por sua vez, 95,0% declararam assistir a programas de TV como meio de lazer (ABRAMOVAY; CASTRO, 2006).

Estes dados se assemelham aos resultados da pesquisa Perfil da juventude

brasileira (ABRAMO; BRANCO, 2011), já mencionada, para a qual 85,0% dos jovens

não participam de quaisquer atividades de associação ou cultura de lazer – embora tenham manifestado a aspiração de participar de trabalhos vinculados a educação, esporte, cultura, lazer, antirracismo e direitos do consumidor, o que abriria canais de diálogo com os demais grupamentos da sociedade.

Além dessas categorias – educação, trabalho, cultura e lazer –, cabe mencionar as questões relacionadas com as diversas mídias. Pesquisas voltadas para a construção de identidades dos jovens realizadas em cursos brasileiros de pós-graduação, no período de 1999 a 2006 (SPOSITO, 2009), são perpassadas por preocupações com os impactos das mídias sobre os jovens e adolescentes, em especial em virtude de seu estado de vulnerabilidade. Os resultados revelaram um

novo jovem, sendo capaz de conviver com a diversidade de situações no mundo em rede e de exercer autocrítica, bem como de aproximar-se dos outros e de tirar o melhor aproveitamento das novas mídias – a despeito da imagem desfavorável passada pelas velhas mídias (especialmente a TV) quanto à juventude.

Essas situações, portanto, se constituem em oportunidades para construção de um efetivo diálogo com os jovens. Cabe apresentar então quais possíveis contextos relacionados à escola se apresentam como potenciais pontos de partida para a construção de efetivo diálogo com os jovens.