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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS NÚCLEOS DE SENTIDO

4.1.2 Organização do trabalho e núcleos de sentido

4.1.2.2 Trabalho exaustivo, pouco remunerado e não reconhecido

Prof. Phil, professor que atua na área de computação no curso de Sistema de Informação em Universidades pública e privada, argumenta:

“[...] na sua organização do trabalho, por exemplo, somos horistas apesar de o MEC exigir um plano de trabalho de 40 ou 20 horas, ou que façam parte de um núcleo de desenvolvimento estruturante, o que a gente acaba recebendo é aquela produção de dentro de sala de aula. Então, pra se compor um salário razoavelmente que eu possa manter uma boa estrutura ou uma boa condição pra mim e pra minha família, eu tenho que pegar bastante hora de sala de aula.”

Profª Katy, que atua nos cursos de Psicologia e Medicina completa:

“[...] então, quando o professor é horista, ele tem que fazer o salário dele em cima do que ele produz em sala de aula. Ele, na verdade, está sendo lesado em horas em função disso, é o que acontece aqui nessa universidade particular.”

Profª May, professora que atua no curso de Direito, enfatiza:

“[...] Se eu quiser receber um salário de 40h, eu tenho que dar 40h em sala de aula, o que já é errado porque acho que eu tenho que ter pelo menos a metade disso em horas fora de sala para poder preparar meu conteúdo e atender as exigências burocráticas administrativas de preencher inúmeros relatórios, inclusive até pra bater o ponto porque se não registrar o conteúdo do dia, não consigo bater aquele ponto que, além disso, só libera 15min. Antes.”

Profª Diva: “[...] sabe, eu sinto que a empresa, na realidade, trata a gente como um cumpridor de horário, vou lá, cumpro meu horário, bato ponto, claro, ganho meu dinheiro e só. Faço a minha parte, cumpro meus horários e vou embora pra casa, sem tentar desenvolver nada além do que me foi cobrado. Isso me angustia muito, me desgasta, me diminui enquanto professora, pois ninguém sabe do meu potencial, ninguém, quer saber, não tão nem aí, os alunos é que perguntam o que você faz além daqui. Somos muito desvalorizados aqui, só produzimos alguma coisa quando está próxima a visita do MEC, aí eles querem tudo pra ontem.”

Profª Alice: “[...] Em algumas situações nos causa não frustração, acho essa palavra muito forte, mas assim, acaba nos entristecendo porque a gente prepara certa dinâmica para determinado assunto e as turmas além de não terem o mesmo nível de aprendizado, acho que dada à forma de ingresso na Instituição, tem também a questão dos recursos audiovisuais que não são suficientes. É cansativa essa questão da

burocracia pra tudo, para usar equipamentos, ministrar aulas externas e, acima de tudo, a Instituição não vê o seu desempenho enquanto professor porque o ponto culminante aqui é a produtividade sob a ótica do ponto eletrônico, que nem sempre condiz com a realidade.”

Profª Lauren: “[...] exatamente, exatamente, eu concordo com o que a

professora falou porque, às vezes, você se pergunta até quando pensa em fazer um curso, uma reciclagem, que incentivo nós temos se os nossos dirigentes inviabilizam o nosso crescimento? Parece que não é viável para a instituição ter um professor com Pós porque se a gente fizer qualquer curso ou quiser participar de um congresso, por exemplo, e tiver que faltar, a gente leva falta, tem que justificar, mas nem sempre a justificativa é aceita, tem que repor. E o dinheiro some, nunca vem, nunca vem, é um descaso para com o professor.”

Profª Mary: “[...] Isso, e a Instituição não ajuda, e se tu tens um pouco de boa vontade, tu não podes fazer nada, porque eu, na época do mestrado, tive que arcar financeiramente com tudo e as faltas “injustificadas” eu tive que repor, antecipar ou mesmo perder os valores.”

Profª May: “[...] E não se pode dizer nada, e quando vem Comissão do MEC ainda temos que mentir.”

Profª Mary: “[...] É não pode, não pode, e assim, tu não tens liberação de nada,

tem que se virar. A viagem que a gente tem que ir, se tem que perder aula, aí não vai justificar. Passagens, tu que tens que comprar... e assim, no doutorado eu tive que comparecer a três seminários pra não perder as duas disciplinas porque depois de dois anos a CAPES não convalida mais, porque já foi. Eles acham que já ultrapassou o tempo, entendeu? Aí já não vale mais, tu já perdes, pelo menos na Instituição onde eu estou inscrita no doutorado é assim. Eu tive que fazer esses três seminários pra garantir, porque eu já ia perder, então é muito chato, muito, muito chato porque também não é fácil você passar num doutorado e assim você ainda perder porque a instituição não te dá licença, diz é na tua cara pra você pedir demissão, não justifica teu ponto... poxa, é demais.”

“[...] ah, e também esse episódio que me aconteceu que por um minuto eu levei falta porque eu tava atendendo um grupo de trabalhadores lá da Bacabeira que, coitados, chegam sempre atrasados, então eles pegaram o horário deles lá, então eu cheguei mais cedo para atendê-los aqui na Instituição, individualmente, na orientação do TCC deles, do projeto, levando textos e alguma coisa... mas nada disso é visto porque se tu vais ao

coordenador, ele diz: faça por escrito porque não é comigo. Então, tu preferes não fazer mais nada. Que valor você tem aqui se só se serve pra bater ponto, ponto, ponto...”

“[...] essa história de ponto é um negócio muito chato, meu contracheque tá cheio de desconto, é 600, 700 reais, todo mês tira de desconto porque, às vezes, você tá na Instituição, não pode bater o ponto quando chega porque gera hora extra e tu és punido, e às vezes você está num atendimento, numa coisa, e não pode bater o ponto naquele teu horário, leva falta. Também corre o risco de bater no horário e levar falta, e ainda ter que ficar colando papelzinho pra não perder ou ser chamado de mentiroso. Eu prefiro ficar com a falta.”

Profª Cindy: “[...] e ainda tem, professora, aquela situação dos dezenove reais. Isso desmotiva muito a gente, o nosso trabalho torna-se exaustivo por conta das atividades administrativas que nós temos e, por causa desse maldito ponto, não é reconhecido porque o que importa é o ponto tá batido e não a qualidade da sua aula ou a sua formação, titulação, produção científica e ainda ter que ficar sobressaltado, tendo que chaleirar coordenador pra ter turma no próximo semestre e ainda ter a possibilidade constante de ser trocado por outro novo professor que se submete a ganhar R$ 19,00 por hora aula, é de enlouquecer qualquer um.”

Profª May: “[...] é realmente desanimador você se sentir como mercadoria, objeto de troca. Essa questão de contratar professores com hora/aula a R$ 19,00 realmente nos deixa atônitos porque você não sabe até quando vai ficar aqui, quando vai ser substituído, não dá nem pra programar nossa vida pessoal.”

Estes relatos demonstram situações de queixas sobre a carga horária excessiva e a remuneração baseada apenas na produtividade. Os professorem reclamam da ausência de um plano de cargos e salários eficiente, como o recomendado pelo MEC, pois se quiserem receber o valor de 40 horas, têm que laborar essa produtividade em sala de aula, ficando de fora planejamento, preparação de conteúdos e exigências burocráticas internas.

Como vivência de sofrimento, é presente neste caso em estudo, a instabilidade para a composição de carga horária por semestre e a promoção para o desfazimento do quadro antigo de professores remunerados a valor de hora/aula superior aos recém- contratados.

Apresenta-se um quadro onde o trabalho docente é limitante com ênfase ao registro do ponto, sem observância à qualidade ou produtividade do professor, além do desnivelamento dos discentes nas turmas face à forma de ingresso na instituição e ainda

da burocracia para ministrar aulas externas e utilizar equipamentos e recursos audiovisuais.

Outra grande angústia do professor está na não valorização e na inviabilização profissional docente, pois além de não propiciarem o crescimento profissional, quando este ocorre é com recurso dos próprios professores ou patrocínio externo, além da burocracia para a justificativa das ausências para esse fim.

Assim, as queixas estabelecidas são no sentido de que o trabalho docente nessa instituição é exaustivo diante das cargas horárias e burocracias excessivas, da instável remuneração, do não reconhecimento profissional e da instabilidade financeira no emprego.