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Organização Metodológica por Arranjos Argumentativos e Etapas

2. Os museus do Porto Maravilha como objeto de estudo

2.1. Metodologia da pesquisa empírica

2.1.6. Organização Metodológica por Arranjos Argumentativos e Etapas

A metodologia da pesquisa empírica dessa pesquisa segue os mesmos arranjos argumentativos que utilizei para a construção do ensaio teórico que antecedeu a pesquisa de campo. A diferença é que desta vez os dados são coletados de forma primária, em campo, e que alguns pontos foram acrescidos.

Saliento que no momento de desenhar essa metodologia, já haviam sido feitas várias visitas à região do Porto Maravilha, com a produção de alguns diários de campo, fotos e diversas entrevistas com pessoas consideradas lideranças com certa importância no processo de revitalização ou reestruturação, tomando o cuidado de incluir lideranças comunitárias, oficiais, poder público e privado, diferentes interesses e graus de institucionalização. Essa pesquisa exploratória serviu para oferecer base empírica e suporte teórico para que o caminho e os recortes feitos dialoguem com a realidade. Nesse momento não havia entrevistado nenhuma pessoa que trabalhe dentro desses museus, porque um dos objetivos era compreender se essas organizações eram relevantes no meio e a partir desses resultados preliminares produzir os próximos instrumentos de pesquisa.

o Arranjo Argumentativo 1:

 Nível 1: compreender como se dá a contradição entre: (a) a assertiva dos gestores de que as pessoas não vão aos museus, (b) a presença das pessoas nos museus, (c) o esforço público e privado para construir museus em locais de interesse.

Nível 2: com base na análise das contradições propostas no nível 1, analisar qual a razão de ser da organização museu na

atualidade. Formar uma síntese prévia de qual tipo de racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser. E, ainda, verificar se há pertinência da ideia de “zona de contorno” delineada anteriormente.

 Nível 3: com base nas análises anteriores, pesquisar de que maneira a pedagogia de Paulo Freire é adaptada nos museus (ou nas zonas de contorno). Problematizar acerca da coerência entre a razão de ser da organização, sua racionalidade e essa pedagogia.

o Arranjo Argumentativo 2:

 Nível 1: compreender como se dá a contradição entre: (a) a existência de ações extramuros nos museus, (b) a existência de muros nos museus, (c) o interesse público e privado para revitalizar a cidade.

 Nível 2: com base na análise das contradições propostas no nível 1, analisar qual a razão de ser da organização museu na atualidade. Formar uma síntese prévia de qual tipo de racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser. Pesquisar ainda se há pertinência, face a essas questões, da ideia de “zona de contorno”.

 Nível 3: com base nas análises anteriores, pesquisar de que maneira a pedagogia de Paulo Freire é adaptada nos museus (ou nas zonas de contorno). Problematizar acerca da coerência entre a razão de ser da organização, sua racionalidade e essa pedagogia.

o Analisar a pertinência da tese proposta com base nos resultados parciais obtidos nos arranjos argumentativos 1 e 2.

A coleta dos dados em campo será feita por etapas, bem como a análise de dados. A análise será feita à medida que os dados forem sendo coletados e organizados, possibilitando retornos ao campo e remodelações do trabalho.

Nível 1

•Como se dá a contradição entre:

•a assertiva dos gestores de que as pessoas não vão aos museus •a presença das

pessoas nos museus •o esforço público e privado para construir museus em locais de interesse Nível 2 •Qual é a razão de ser da organização "museu" hoje? •Qual racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser? •Há pertinência da

ideia de zona de contorno?

Nível 3

•De que maneira a pedagogia de P. Freire é adaptada nos museus (ou zonas de contorno)? •De que forma

razão e racionalidade são coerentes com essa pedagogia? Nível 1 •Como se dá a contradição entre: •a existência de ações extra- muros •a existência de muros nos museus •o interesse público e privado para revitalizar a cidade Nível 2 • Qual é a razão de ser da organização "museu" hoje? •Qual racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser? •Há pertinência da

ideia de zona de contorno?

Nível 3

•De que maneira a pedagogia de P. Freire é adaptada nos museus (ou zonas de contorno)? •De que forma

razão e racionalidade são coerentes com essa pedagogia? A rr anj o A rgum e nta tiv o 2

Tese em prova:

As zonas de

contorno dos

museus são lócus

privilegiado para o

processo de

desenvolvimento

emancipatório

contemporâneo.

A rr anj o A rgum e nta tiv o 1

2.1.7. Delimitação dos sujeitos e objetivos de cada etapa, com instrumentos de coleta de dados e métodos de análise dos dados

A pesquisa em campo está organizada em três etapas. Em alguns momentos, os objetivos das etapas se sobrepõem, sendo que a principal diferença será a fonte dos dados, ou os sujeitos pesquisados. As três etapas estão divididas, portanto, de acordo com os principais sujeitos pesquisados.

2.1.7.1. Etapa 1- Entorno dos museus

São sujeitos dessa 1ª etapa pessoas formadoras de opinião e gestores considerados relevantes e atuantes no espaço compreendido pelo projeto Porto Maravilha. A coleta de dados foi feita usando o método de entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas e observação com diário de campo e fotos feitas por mim.

Essa coleta de dados foi inserida em outra maior, que foi planejada primeiramente com intuito de servir ao projeto de pesquisa “A liderança em contextos de diversidade e inovação: contribuições do espaço público”, coordenada pela profa. Fátima Bayma de Oliveira e financiada pela Faperj. Como o campo das pesquisas coincide e eu estava na condição de colaboradora dessa fase do projeto, a coordenadora e minha orientadora consentiu gentilmente que eu inserisse perguntas mais específicas ao meu interesse de pesquisa no roteiro de entrevistas e que otimizássemos as visitas. Isso foi fundamental nesse momento porque muitos dos entrevistados estavam envolvidos com seus projetos e tinham uma agenda política muito ocupada. Devido a essas questões, muitas entrevistas foram difíceis de conseguir e tiveram que ser remarcadas algumas vezes, o que colaborou para o longo período de 8 meses de coleta.

Objetivos dessas primeiras entrevistas e observações:

i. Coletar dados para compreender as últimas duas assertivas do nível 1 dos Arranjos Argumentativos 1 e 2, que são: o esforço público e privado para construir museus em locais de interesse e o interesse público e privado para revitalizar a cidade. Analisar qual a razão de ser da organização museu na atualidade. Formar uma síntese prévia de qual tipo de racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a

organização seja coerente com sua razão de ser. Pesquisar se há pertinência da ideia de “zona de contorno”.

ii. Contextualizar o objeto de estudo.

Nessa primeira etapa, foram feitas 22 entrevistas. Delas, uma foi respondida por um grupo de 4 entrevistados e outras duas foram respondidas em dupla. Essas variações não estavam previstas, porém foram úteis por suscitar novos elementos e por promover maior descontração e fluidez nas respostas. Ao todo, foram entrevistadas 27 pessoas provenientes de diversos bairros contemplados pelo projeto Porto Maravilha, em diversas organizações de setores diferentes e em empreendedores individuais, no período de dezembro de 2013 a agosto de 2014. O roteiro da entrevista obedeceu um padrão, porém, à medida que o trabalho avançava, algumas perguntas foram suprimidas e outras foram adicionadas, e algumas foram modificadas de acordo com os sujeitos entrevistados e seus cargos. Os roteiros das entrevistas da 1ª etapa estão disponíveis no apêndice 1.

2.1.7.2. Etapa 2 - Os trabalhadores dos museus

São sujeitos dessa 2ª etapa pessoas ligadas à gestão e os demais trabalhadores dessas organizações. Os dados foram coletados por meio de visitas, observação (com fotos tiradas por mim servindo de suporte), conversas informais, execução de diários de campo e entrevistas semiestruturadas gravadas. O roteiro das entrevistas (apêndice 2) tem algumas assertivas e poderá ser acrescido de outras perguntas específicas a cada entrevistado ou a temas que sejam levantados pelos próprios envolvidos como relevantes.

Objetivos da 2ª etapa:

i. Responder (ainda que parcialmente) as duas primeiras assertivas do nível 1 dos arranjos argumentativos 1 e 2, que são: compreender como se dá a contradição entre: (a1) a assertiva dos gestores de que as pessoas não vão aos museus, (b1) a presença das pessoas nos museus e (a2) a existência de ações extramuros nos museus, (b2) a existência de muros nos museus.

ii. Responder parcialmente as perguntas referentes à terceira assertiva do nível 1 dos arranjos argumentativos 1 e 2, que são: como se dá a contradição entre

(c1) o esforço público e privado para construir museus em locais de interesse e (c2) o interesse público e privado para revitalizar a cidade.

iii. Responder parcialmente as perguntas referentes ao nível 2 dos arranjos argumentativos 1 e 2, que são: (a) qual a razão de ser da organização museu na atualidade; (b) qual tipo de racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser e (c) se há pertinência da ideia de zona de contorno.

iv. Adicionalmente, observações serão dirigidas para subsidiar (ou excluir) a relevância e pertinência da proposta feita no ensaio de criar a “zona de contorno” como espaço importante para os museus contemporâneos.

v. Responder parcialmente as perguntas do nível 3 dos arranjos 1 e 2, que são: (a) de que maneira a pedagogia de Paulo Freire é adaptada nos museus ou nas zonas de contorno e (b) de que forma razão e racionalidade são coerentes com essa pedagogia.

2.1.7.3. Etapa 3 – Visitantes dos museus

São sujeitos da 3ª etapa os visitantes (público ou usuários) dos museus. Foi utilizado o questionário misto (apêndice 3) como instrumento principal de coleta de dados. Além do questionário, foram usados dados de entrevistas realizadas com alguns dos visitantes, visitas, diários de campo e observação (com fotos tiradas por mim). O questionário foi analisado em primeiro momento com estatística descritiva e depois foi feita uma análise mais aprofundada e qualitativa adicionando os dados coletados qualitativamente via entrevistas e observação.

O questionário foi construído levando em conta, em um primeiro momento, as 15 categorias que resumem a definição de emancipação em Freire (compiladas no início desse trabalho). O refinamento do questionário foi feito priorizando os quatro principais momentos de emancipação sistematizados no esquema 1 (processo de conscientização mediado pelos museus como organizações de cultura, educação e transformação) que está descrito a seguir, na análise dos dados.

Objetivos da 3ª etapa:

i. Responder parcialmente algumas assertivas do nível 1 dos arranjos argumentativos 1 e 2, no tocante à motivação para ir ao museu e o interesse em ações interativas.

ii. Gerar dados acerca do perfil dos visitantes, considerando fatores sociodemográficos e fatores subjetivos concernentes à emancipação humana, bem como à motivação.

iii. Responder parcialmente qual a razão de ser da organização para os visitantes, qual tipo de racionalidade deve embasar as ações administrativas para que a organização seja coerente com sua razão de ser. iv. Investigar com base nas principais categorias de emancipação levantadas nesse trabalho, de que maneira a pedagogia de Paulo Freire é adaptada nos museus ou nas zonas de contorno e de que forma razão e racionalidade são coerentes com essa pedagogia.

v. Adicionalmente, observações serão dirigidas para subsidiar (ou excluir) a relevância e pertinência da proposta feita no ensaio de criar a “zona de contorno” como espaço importante para os museus contemporâneos. Acerca da possível estranheza que possa causar as minhas escolhas metodológicas, gostaria de citar Vieira (2006, p. 15) quando afirma que há uma falsa dicotomia entre pesquisa qualitativa e quantitativa, já que, “informações qualitativas podem ser contadas e informações quantitativas podem ser interpretadas”. Isso não implica negar as dificuldades mais profundas que delimitam o campo das diferentes epistemologias e ontologias. Mas acredito, ainda, que essas questões mais profundas já estão delineadas no trabalho, e que se adoto um método quantitativo de coleta e de sistematização de parte dos dados, isso não quer dizer esposar a ideia positivista de que os fatos sociais são dados e podem ser conhecidos, mas sim que alguns dados são melhor compreendidos por meio de um levantamento estatístico e são úteis (e nesse caso, indispensáveis, penso eu) para embasar complementarmente a análise qualitativa.

Em outras palavras, o que pretendo fazer é a adoção de métodos estatísticos apenas para coleta e primeira sistematização de parte dos dados empíricos necessários às análises.

Haverá, portanto, um descolamento, ou uma suspensão da epistemologia que normalmente, mas não obrigatoriamente, na minha opinião, está atrelada aos métodos quantitativos e uma posterior reavaliação dos dados já organizados por métodos quantitativos como parte de um estudo qualitativo. Essa “suspensão” da teoria já foi experimentada para desenhar um método de análise por Pagès et al (1987), porém no tocante à criação de categorias de análise que, a princípio, eram fortemente embasadas em teorias prévias, e, segundo os autores, esse exercício de suspender as teorias por um determinado momento da análise levou-os a direcionamentos e interpretações mais realistas e também mais novas e elucidativas acerca do tema e objeto estudado.

Fazer um levantamento quantitativo se demonstrou muito importante durante as primeiras visitas ao campo. Foi quando percebi que eu não conseguiria executar entrevistas em profundidade com os visitantes em quantidade significativa a ponto de criar uma ideia razoável de seu comportamento e de suas percepções durante a visita às exposições. Provavelmente as poucas pessoas que aceitassem dedicar uma ou duas horas para responder a uma entrevista em profundidade seriam pessoas mais exóticas ao fluxo normal de museus, que prevê um passeio com tempo determinado. Essas respostas, portanto, não serviram para uma apreciação mais geral do público, e sim para apreciações de experiências muito particulares.