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METODOLOGIA DESENVOLVIDA NA PESQUISA

5.5. Fontes e instrumentos para a coleta informações

5.5.6. Orientações para elaboração e realização de Entrevistas

Com relação à entrevista, partimos de alguns aportes teórico-conceituais obtidos com o estudo sobre alguns autores: SZYMANSKI (2002); MINAYO (2000); RICHARDSON (1999); BARDIN (1977); GARRETT (1967); entre outros.

O termo entrevista é constituído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter preocupação de algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas. (RICHARDSON,1999, p.207).

MINAYO (2000) baseia-se na ideia de entrevista como uma conversa entre duas pessoas realizada por interesse e iniciativa do entrevistador com o objetivo de coletar informações relativas a um determinado objeto de pesquisa.

A escolha pela entrevista como instrumento de coleta justificou-se pela importância atribuída ao contato direto com os sujeitos dos quais desejávamos obter as informações, permitindo esclarecer dúvidas no momento em conversamos com os professores.

Também é importante ressaltar que a entrevista tinha uma relação intrínseca com o fenômeno pesquisado, pois entendemos que o discurso incide sobre o que o docente pretende fazer e faz. Logo, esse instrumento detém naturalmente elementos que possibilitaram compreender o trabalho docente a partir de um olhar externo.

Partimos do pressuposto que os discursos dos sujeitos vêm carregados de informações que podem nos ajudar a explicar tanto o quadro prescritivo imposto pelas formas de organização do trabalho escolar como os caminhos/trajetos traçados pelo professor na organização e na efetivação de seu trabalho; condição esta necessária para uma análise ergonômica do trabalho.

Dessa forma, a entrevista assumiu um papel fundamental no desenvolvimento da pesquisa. Deixou de ser apenas um instrumento de coleta para se tornar um dispositivo de aproximação do pesquisador com o contexto de trabalho e com os

professores. A entrevista, em pesquisas dessa natureza tem a função de suplantar duas dificuldades que já antevemos.

• Primeira, a dificuldade de verbalizar e declarar as especificidades do trabalho e das rotinas por parte dos professores. Logo, entendemos que a entrevista pode guiar um processo reflexivo e formulador de enunciados sobre suas ações.

• Segunda, a distância existente entre o dizer e o fazer. Assim como, na primeira, uma vez deflagrado um processo reflexivo sobre suas práticas o sujeito poderá retomar seu fazer após o dizer na entrevista e poderá reformular o enunciado inicial, inserindo novos elementos que ajudem a dar mais visibilidade ao trabalho realizado, ou seja, ele se autoconfronta com suas tarefas, explicando do ponto de vista de sua atividade a completude da mesma.

Há, atualmente, um vasto número de procedimentos e técnicas reconhecidos e aceitos que podem ser adotados no momento da realização da entrevista. A metodologia empregada no ato de entrevistar se constitui em uma arte e quase mesmo uma ciência que pode ser formulada e organizada dentro de um corpo sistematizado de conhecimentos.

Diante de experiências já vivenciadas em outras pesquisas (Santos, 2007; Terrazzan, 2005, 2006, 2007, 2008) com o uso da entrevista, temos buscado estratégias para superar o esquema naturalizado de perguntas e respostas que causa a sensação de que o sujeito está sendo sabatinado. Percebemos que estas situações geram constrangimentos nos entrevistados.

Para isso, realizamos entrevistas piloto com o objetivo de identificar os efeitos no comportamento dos sujeitos quando são utilizados roteiros escritos e gravadores. Percebemos que o entrevistado se sente claramente intimidado com o uso do gravador. Este equipamento tem a capacidade de desconcentrar e desconcertar e, ainda, causar uma visível insegurança no sujeito da pesquisa.

Assim, para minimizamos estes efeitos, estamos procedendo da seguinte maneira:

• Utilizamos um gravador com o menor tamanho possível;

• Deixamos o equipamento pronto para começar a gravação, evitando manusear o aparelho na frente do entrevistado;

• Combinamos todos os passos para a entrevista antes de nos rebuscarmos de papeis com roteiros e do gravador;

• Iniciamos a entrevista e durante a conversa, colocamos o gravador em um canto da mesa de apoio procurando ser o mais discreto possível.

O objetivo maior é levar o entrevistado a perceber que ele é a figura mais importante e que a interação com pesquisador não depende dos equipamentos. Uma vez percebendo que o entrevistado se sente muito desconfortável é recomendável eliminar o gravador e fazer o registro por escrito.

Com relação ao roteiro impresso da entrevista observamos uma situação similar àquela causada pelo uso do gravador, contudo com conseqüências mais comprometedoras para a pesquisa, tendo em vista que, incide diretamente na construção do pensamento do sujeito.

Dizemos isso, porque percebemos que o roteiro quando utilizado de forma impressa e tomado como guia para as perguntas do entrevistador, acaba por assumir uma espécie de freio para o entrevistado. O sujeito ao perceber que terá um conjunto de questões para serem respondidas se detém a elas e passa a se restringir a ele quando elabora suas respostas.

Vivenciamos situações em que no momento da entrevista as respostas foram lacônicas e breves com informações restritivas, contudo ao término da entrevista e em um momento de conversa com o entrevistado, esse foi capaz de discorrer sobre inúmeros aspectos e situações não descritas durante a entrevista.

Para superar essas limitações procuramos na literatura técnicas de realização de entrevista que ampliasse a participação dos sujeitos na construção do objeto de pesquisa, assim como, das análises e dos resultados.

Para isso, nos aproximamos da técnica da Análise de Narrativas, que desde sua criação na década de 1970, do século XX, pelo sociólogo alemão Fritz Schütz, vem sendo cada vez mais difundida nas pesquisas educacionais. Essa técnica de pesquisa tem sua origem nas premissas do interacionismo simbólico, na fenomenologia e na etnometodologia que entendem a sociedade como fruto da interação entre os indivíduos e dos sentidos e significados dados por eles a essas interações.

O sujeito tem papel central na interpretação do mundo e da sociedade. As análises não podem acontecer de forma aleatória ao sujeito é em contato com ele e

na interação entre entrevistado e entrevistador-pesquisador que a interpretação do objeto se dá, ou seja, que começa o processo de interpretação e compreensão.

Para Weller essa técnica

Além de enfatizar a importância de pesquisas voltadas para a reconstrução da perspectiva do indivíduo sobre a realidade social em que ele vive e que também é construída e modificada por ele, Schütze contribuiu significativamente para a retomada e resignificação da pesquisa biográfica nas ciências sociais e na educação, direcionando a análise para as estruturas processuais dos cursos de vida, ou seja, para os elementos centrais que “moldam” as biografias e que são relevantes para a compreensão das posições e papéis ocupados pelos indivíduos na estrutura social (WELLER, 2009, p.4)

Cabe salientar que Schütz (2010) propõe o uso da Entrevista Narrativa como um método de levantamento de dados capaz de apreender as “questões sobre as relações temporais e seqüenciais no curso de vida” dos sujeitos, pois para as análises autobiográficas é imprescindível que os “dados primários” permitam “retornar as relações temporais e à sucessão objetiva do processo da história de vida” (SCHÜTZ, 2010, p.211).

Esse autor, quando propôs o método narrativo buscava aprimorar suas análises sobre a pesquisa biográfica e para ele a estrutura temporal e sequencial da história de vida é uma “sedimentação de estruturas processuais maiores ou menores, que estão ordenadas sequencialmente, e que, por sua vez, estão ordenadas sequencialmente entre si” (SCHÜTZ, 2010, p. 211). Mudanças nessa estrutura implicam em mudanças na interpretação da história de vida. Em função disso a dificuldade de apreender as informações e de construir um método capaz de captar os pormenores das informações sem que o pesquisador altere seu curso normal.

Para isso, a fim de conseguir coletar as narrativas de vida, de forma que garantisse a interpretação das estruturas processuais, Schütz (2010, p. 212) apresenta a técnica da Entrevista Narrativa que se constitui de três partes distintas, são elas:

• A primeira parte: esta etapa da entrevista o entrevistador não faz interferências. Na medida em que o informante consegue fazer sua narrativa sobre o objeto pesquisa e de forma esclarecedora e entendível pelo pesquisador, esse deve se abster de qualquer interferência. “somente após a indicação de uma coda narrativa (por exemplo: “Então, era isso: não muito mas, mesmo assim....)” (SCHÜTZ, 2010, p. 212) o pesquisador começa sua interferência e então a segunda etapa da entrevista.

• A segunda parte é o momento em que o pesquisador se utiliza da estratégia de questionamentos para levar o entrevistado a ampliar sua descrição. Cabe ao entrevistado identificar na narrativa feita até então “fragmentos em que o estilo narrativo foi resumido, supondo não serem de importância” ou “fragmentos pouco plausíveis e de vaguidade abstrata” por se tratarem de situações problemáticas para o narrador. Para cada fragmento identificado e que o entrevistado deseja maiores informações deve-se restaurar na memória do entrevistado de forma detalhada o fragmento em questão. “Sim, e, então, não consegui acompanhar o restante. Será que poderia, a partir desse ponto, contar mais uma vez?” (SCHÜTZ, 2010, p.212)

• A terceira parte consiste “por um lado, no incentivo a descrição abstrata das situações, de percursos e contextos sistemáticos que se repetem” e “por outro, no estímulo ás perguntas teóricas do tipo por quê? E suas respostas argumentativas”. A partir desse momento o pesquisador poderá explorar todo o conhecimento que o entrevistado tem de si mesmo e das situações investigadas.

Já o fizemos em outros momentos, mas consideramos prudente reforçar que, esta técnica foi elaborada com vistas na pesquisa biográficas e o autor desenvolveu- a respeitando as características desse tipo de narrativa.

O que estamos nos propondo é uma derivação dessa técnica, respeitando seus elementos essenciais, mas adaptando o processo à coleta de informações por meio da descrição detalhada dos professores sobre o seu trabalho.

Não temos a pretensão de caracterizar este estudo como uma pesquisa biográfica, mas entendemos que o trabalho de cada professor é parte de sua existência e falar sobre ele pode se aproximar muito do que seria narrar sua própria história de vida.

Utilizaremos, assim, a lógica proposta para a entrevista narrativa em que existem momentos de construção do objeto pelo próprio sujeito por meio da forma como organiza e narra as informações e os fatos. A sequência organizada pelo sujeito, a ênfase dada a um ou outro elemento, o fato de “destacar situações, suprimir episódios, reforçar influências, negar etapas, lembrar e esquecer tem muitos significados e estas aparentes contradições podem ser exploradas” (CUNHA, 1997, P.2) com fins investigativos.