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CONCEITOS-CHAVE E METODOLOGIA Existe em cada cidade, para os que a

2.2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CONCEITO

Para dar início à discussão dos conceitos-chave, pode-se dizer que os temas do empreendedorismo e empreendedor, não gozam de consenso, na literatura cientifica que versa sobre o assunto. Filion já disse que “há muita confusão sobre o termo empreendedor‖ (1999). Na verdade, há diversas acepções e enfoques a conceituá-lo e a definí-lo cada qual vinculado a visões e interpretações distintas, tratando-se, portanto, de um termo que encerra uma fluidez polissêmica apreciável.

Apesar de tanta controvérsia, há algumas convergências, tais como aquelas relativas ao caráter etimológico das expressões, quem primeiro as empregou, seu país de origem, a evolução do conceito e os autores que primeiramente a empregaram.

Assim, pode-se afirmar que a paternidade do uso da expressão se deva a Jean Baptiste Say, economista francês que viveu no século XIX e a usou no texto intitulado Tratado de Economia Política. Explica-se, assim, porque a expressão entrepreneur é um galicismo na língua portuguesa.

Ao longo do tempo, no entanto, a idéia logo se propagou e os ingleses se apropriaram do galicismo e inventaram um anglicismo, denominado entrepreneurship, para referirem à ação empreendedora na sociedade. Contemporaneamente, um terceiro conceito, chamado de

intrapreneur é aplicado para referir-se àquela pessoa que, mesmo sendo

empregada de uma organização, assume postura empreendedora.

Retomando a sua trajetória, há ainda outro consenso a respeito de quem a introduziu, definitivamente, na literatura cientifica. Foi o economista austríaco Josef Schumpeter por meio do seu livro, hoje clássico, intitulado Teoria do Desenvolvimento Econômico (1961). Nesta obra, ele analisa a evolução do capitalismo e introduz a idéia de que tal sistema econômico atravessa crises cíclicas e que, nesses momentos de crises há pessoas que, nesse ambiente de dificuldades, enxergam oportunidades para, fundamentalmente, inovar através do lançamento de novos produtos, novos mercados e novos processos de produção. A partir dessa obra, o conceito passou a ser difundido e aplicado nos ambientes acadêmicos, em especial na área da economia.

Na visão da trajetória dos usos das expressões, merece ser destacada ainda outra contribuição relevante. É o caso da abordagem psicológica de David McLelland (1961) que, a partir da sua teoria das necessidades de poder e de realização, (need of power and need of

achievement), ampliou o escopo da matéria para esse âmbito, na medida em

que chamou a atenção para traços comportamentais de poder e de realização encontrados, segundo sua percepção, na psicologia das pessoas empreendedoras.

Posteriormente, nos anos sessenta nos Estados Unidos, Peter Drucker (1986) agregou aos conceitos a dimensão comportamentalista, ao advogar que o empreendedor não seria apenas aquele homem introdutor de paradigmas, defendido por Schumpeter, mas qualquer pessoa que tivesse condições de desenvolver suas aptidões empreendedoras latentes no seu íntimo. Dessa forma, ao conceito econômico de Schumpeter, e aos traços de personalidade de McLelland, Drucker aditou a idéia de que o empreendedorismo é um comportamento e como tal pode ser, inclusive, desenvolvido nas pessoas. Uma vez feita essa breve revisão sobre a contribuição dos grandes nomes relacionados com o assunto, vale a pena ver o estado da arte sobre a questão no Brasil, que, como já referido anteriormente, vem atravessando uma febre de empreendedorismo.

2.2.2. ESTADO DA ARTE NO BRASIL

Em primeiro lugar, no entanto, convém referir que as expressões empreendedor, empreendedorismo e empreendedor interno são palavras incorporadas à língua portuguesa desde aquelas referidas respectivamente entrepreneur, entrepreneurship e intrapreneur.

No ambiente da economia, essas expressões vêm sendo usadas desde a década de 50, mas apenas no final dos anos oitenta e inicio dos noventa, é que elas começaram a se expandir para outros campos das ciências sociais como administração, sociologia e psicologia.

No âmbito acadêmico de administração, pesquisa de Paiva (2002), indica que, no intervalo de 1998 a 2001, um total de 42 (quarenta e dois) papers foram apresentados nos Encontros da ENANPAD - Encontro Nacional de Pós-graduação em Administração, versando sobre os seguintes assuntos: estratégia e crescimento da empresa empreendedora; características comportamentais de empreendedores; sistema de redes; características gerenciais dos empreendedores; empresas familiares; políticas governamentais e criação de novos empreendimentos; fatores influenciando criação e desenvolvimento de novos empreendimentos; mulheres, minorias, grupos étnicos e empreendedorismo; estudos culturais comparativos; oportunidades de negócio; capital de risco e financiamento de pequenos negócios; alianças estratégicas; incubadoras e sistema de apoio ao empreendedorismo; educação empreendedora e firmas de alta tecnologia.

Por outro lado, lá pelo inicio dos anos 90, as Nações Unidas resolveram, através da UNCTAD - United Nations Conference on Trade

and Development., disseminar a idéia junto a países e comunidades

interessadas em vivenciar esse novo comportamento. Logo, muitos países assimilaram a idéia inclusive o Brasil que a adotou através do SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas, daí nascendo o programa Empretec - sigla em inglês - destinado a fomentar o desabrochar do comportamento empreendedor nas pessoas.

Ao mesmo tempo, houve ainda uma popularização desses conceitos, como resultado de um esforço do governo, e dos patrões e das universidades para prepararem a população em relação a dois fenômenos que, àquela altura, se percebiam como importantes, a saber, a reestruturação produtiva das empresas, atrelada à terceira revolução tecnológica e o chamado fim do emprego. Assim é que Mendonça19 em artigo na imprensa comentava:

Já é de domínio publico que estamos vivendo hoje uma grande transformação na área da economia com sérios e profundos impactos sobre o mundo do trabalho e do emprego. Dizem os estudiosos e observadores que o emprego tal como concebido desde décadas - fruto de uma relação formal de trabalho, com horário fixo, local fixo e patrão único, associado a um vínculo salarial - tenderá crescentemente a ter menor expressão na geração pessoal de atividades produtivas. Em compensação haverá uma expansão cada vez maior de atividades com geração de renda proveniente do que se chama de auto-emprego. (MENDONÇA, 1999).

E, com o propósito de indicar a saída do empreendedorismo como alternativa, Mendonça avançou:

Como conseqüência da reestruturação produtiva que as empresas estão fazendo, as pessoas deverão ser demandadas para oferecer serviços sem necessariamente manterem vínculos empregatícios nos termos acima. Além desses serviços, diversas oportunidades de negócios próprios emergirão também como resultado dessa profunda, intensa e extensa transformação nos paradigmas da economia e do trabalho no mundo de hoje. Espaços novos de atividades produtivas nos campos do lazer, do turismo, da informação e da cultura, bem como nas áreas de saúde, comunicação e gastronomia da mesma forma deverão surgir. Finalmente, a

19 Em julho do ano de 1999, o autor participou do programa nacional denominado

REUNE, - Rede Universitária de Ensino do Empreendedorismo, conduzido por Fernando Dolabela, professor da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, patrocinado pelo IEL - Instituto Euvaldo Lodi da Confederação Nacional das Indústrias. Nesta oportunidade, assistiu diversas palestras de autoridades internacionais sobre o assunto, cabendo destacar o nome do professor Jacques Fillion da Universidade de Quebec- Canadá. De lá para cá, além de envolver-se na coordenação local do programa junto ao IEL-PE, concebeu, implantou em primeira mão e ministra na Universidade Católica de Pernambuco, com outros professores inclusive o professor doutor Emanuel Leite, autor do livro O fenômeno do Empreendedorismo e pós-doutor na Universidade de Aveiro, a disciplina Empreendedorismo, matéria eletiva para todos os cursos.

sociedade deverá requerer novas formas de organização de atividades coletivas organizadas não necessariamente lucrativas, às quais por sua vez exigirão das pessoas novo perfil de formação. Este último seria o que se convencionou chamar de terceiro setor. Para atender a esta realidade é que surge o

que estamos chamando de empreendedorismo.

(MENDONÇA, 1999, grifo nosso).

Já na órbita teórica, as revisões visitadas (LONGEN, 1997; FILLION, 1999; DOLABELA, 1999; SIQUEIRA E GUIMARÃES, 2002; e DINIS e USSMAN, 2006) indicam diversidade de definições e acepções sobre o assunto, conforme o QUADRO 01 aponta. Da mesma forma, na esfera das linhas de pesquisa, informa Fillion (1999), há em torno de 26 (vinte e seis) sub-temas, cobrindo desde o assunto do empreendedorismo e pequenos negócios em países em desenvolvimento, características gerenciais dos empreendedores, passando por temas do auto-emprego, educação empreendedora, até a questões relacionadas com minorias e grupos étnicos e empreendedorismo. Por sinal, é a essa última linha de pesquisa que o presente estudo se vincula.

QUADRO 01

VISÕES MAIS IMPORTANTES SOBRE EMPREENDEDORES E RESPECTIVAS