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Os meios de comunicação

No documento Psicologia Facil - Ana Merces Bahia Bock (páginas 153-155)

MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

15.4 Os meios de comunicação

Feitas essas considerações sobre a comunicação de massa, fica mais fácil entender esses meios de comunicação e o resultado da produção cultural neles veiculado. O meio de

comunicação é representado por tecnologias e aparatos de suporte dessa tecnologia. A TV é uma forma de transmissão de sinais codificados que estão disponíveis para captação por um aparelho. Os sinais podem ser transmitidos pelo ar (TV aberta) ou por cabo (TV por

assinatura). Um jornal é impresso, e para ter acesso ao seu conteúdo nós o compramos ou recebemos gratuitamente, mas é preciso considerar que, para recebê-lo, muita coisa aconteceu antes, desde o corpo de jornalistas contratados para escrever a matéria jornalística até a

impressão do jornal propriamente dito. O mesmo ocorre com sites de notícias divulgados pela internet: precisa-se de toda a infraestrutura para compor a matéria, de jornalistas,

profissionais de web design, de técnicos que mantenham o site no ar. Todos os meios de comunicação dependem de uma tecnologia e de inúmeros aparatos para o seu funcionamento.

Vemos pela TV um filme, que exigiu uma produção cara e sofisticada, e uma programação que envolve apresentadores, convidados, atores, espaço cênico. Ouvimos pelo rádio uma transmissão sobre o trânsito em que o repórter utiliza um helicóptero para olhar a cidade de cima identificando os melhores caminhos na hora do congestionamento.

Meios de comunicação de massa são importantíssimos para a configuração da opinião pública, já que a divulgação não é neutra. Os programas de TV e rádio, a divulgação de notícias e análises de fatos (políticos, econômicos, esportivos, do cotidiano, artísticos, etc.) seguem uma linha editorial, e poderemos notar a tendência mais ou menos conservadora dessa linha editorial. Evidentemente, há uma dimensão ética que deve ser observada pelos

proprietários dos jornais, emissoras de rádio, canais de TV, sites informativos na internet, que é construída mediante um acordo coletivo. Algumas vezes, dependendo do país, de sua cultura ou do seu quadro político, esse acordo é mais explícito, definido em lei, ou menos explícito e controlado pelos valores coletivos, e, em alguns casos, não há acordo e vale o controle da informação pelo poder político ou pelo poder econômico.

Curiosamente, os próprios meios de comunicação discutem essa dimensão ética do seu funcionamento e de sua capacidade de influenciar e manipular as pessoas. O cinema trabalhou a temática em várias ocasiões – um filme, considerado por muitos críticos um dos dez

melhores de todos os tempos, Cidadão Kane, dirigido pelo americano Orson Welles em 1941, retrata a trajetória de vida de um magnata do jornalismo (principal meio de comunicação de massa dessa época). O fato é que esses meios, quando atingem grande quantidade de pessoas, são mesmo poderosos e capazes de forte influência na formação de opinião.

É muito conhecido o caso da Escola de Base, uma escola infantil que existia num bairro da cidade de São Paulo. Uma criança de 4 anos relata para os pais algo que os levou a suspeitar de um possível abuso sexual e os pais levam o caso à polícia. O delegado, convencido da situação do crime, busca investigar o que estaria ocorrendo na escola, se haveria outras

vítimas entre os demais alunos e quais seriam os responsáveis pelo abuso. Como ele estava de fato convencido de sua investigação, deixou a informação vazar para os meios de

comunicação. A notícia bombástica comoveu a população, culminando com a depredação da escola por populares, e os donos e demais acusados sofreram perseguições e agressões. Logo em seguida, porém, foi descoberto que o relato da criança era, na realidade, uma fantasia

infantil (relativamente comum) e não um fato real. O estrago estava feito! A escola fechada, prejuízo moral e financeiro para os proprietários, para o responsável pelo transporte das crianças, para as crianças, que tiveram de mudar de escola e enfrentar o estigma de terem sido transferidas da Escola de Base, dos pais, que passaram por grande apreensão, e, finalmente, da criança que foi objeto dessa história. O caso foi julgado e jornais e TV foram condenados a pagar indenização pelo que foi divulgado e o delegado foi punido pela sua falta de cuidado.

Esse caso foi muito importante para fomentar a discussão sobre os limites éticos do que pode ou não ser divulgado e tangencia um tema dos mais importantes: a liberdade de

expressão. O fato é que há pessoas ou grupos que têm em suas mãos as condições (os meios) de divulgar o que acontece no bairro, na cidade e no mundo. A maioria absoluta dos cidadãos, que são aqueles que moram nos bairros, nas cidades, no mundo, não tem acesso à notícia a não ser através de um meio sobre o qual eles não têm o mínimo controle, somente a possibilidade de acessá-lo ou não – não comprar o jornal, a revista, mudar o canal na TV, desligar o rádio. Mas se trata mais de uma questão mercadológica que de uma escolha de fato. Precisamos do acesso à informação e temos somente o que nos é oferecido. O que é oferecido depende de um complexo (os meios de comunicação) que tem um custo astronômico e somente pode ser

mantido por poderosos grupos econômicos.

Evidentemente, existem saídas, e algumas são praticadas em várias épocas (a impressa é muito antiga) e de várias formas. As chamadas rádios livres ou comunitárias se transformaram em um importante movimento de questionamento do poder concentrado nas mãos de poucos grupos econômicos. No Brasil, por exemplo, nove famílias controlam 85% dos meios de

comunicação. Uma emissão de rádio, de pequeno alcance, é uma ação relativamente simples, e os integrantes do movimento Rádio Livre incentivaram pessoas a fazerem emissões de curto alcance para o público que ficava num raio de poucos quilômetros do ponto de emissão. Algumas chegaram a fazer sucesso e conquistaram um público fiel. Como essas emissões são consideradas ilegais, elas foram combatidas e impedidas de continuar suas transmissões, mas abriram caminho para a rádio comunitária, que utiliza o mesmo princípio (pequeno raio de ação) e transmite programação para um público específico. É o caso de emissoras situadas em favelas com centros comunitários bem organizados, cujas rádios prestam serviço de

informação aos moradores, ou de rádios comunitárias de igrejas católicas e evangélicas que fazem transmissão do seu interesse para os fiéis que moram no raio de alcance da transmissão.

Mas, desse ponto de vista, o maior sucesso ocorre com as redes sociais na internet: Orkut, Facebook, Twitter e muitas outras. No Brasil, a rede Orkut foi um sucesso imediato e num prazo muito curto atingiu um número formidável de internautas. Isso até a chegada do

Facebook, que passou a ser a rede preferida dos internautas brasileiros e suplantou o Orkut. A rapidez desse movimento é tão grande que, certamente, quando este livro, que consolida

palavras, estiver sendo publicado poderemos ter outras redes no ar e o Facebook poderá ter passado (ou crescido). O importante dessa história não é a rede que estamos utilizando, mas o fato de existirem redes que não passam pelo controle de um grupo econômico forte. Os

próprios componentes da rede, os usuários, são os informantes e os receptores da notícia. O fenômeno da rede social se tornou tão importante que é a ele reputada a organização que no ano de 2011 derrubou o governo do Egito. Hosni Mubarak governou o país com mão de ferro por trinta anos. Insatisfeitos com o governo, jovens passaram a convocar manifestações espontâneas na praça Tahrir (centro do Cairo) por meio das redes sociais. O movimento

prosperou e se transformou em revolta popular que derrubou o governo. Essa mobilização se espalhou por todo o mundo árabe num movimento reivindicativo de reformas e liberdades democráticas.

Ainda não atingimos o ponto de ter redes autônomas, já que as redes atuais têm seus proprietários e estes enriqueceram de maneira impressionante (veja o filme A rede social). Portanto, o interesse econômico continua predominando, mas nessas redes a forma de

comunicação é aberta (não há controle do que o usuário publica) e todos se transformam em emissores e receptores ao mesmo tempo. Isso muda, consideravelmente, o comportamento dos usuários, que deixam de ser passivos e se comprometem com o conteúdo veiculado.

Comentamos, apoiamos, recusamos, difundimos aquilo que achamos importante, interessante, divertido, triste, aconselhável, estimulante, agressivo, enfim, aquilo que nos passar pela

cabeça, e somos controlados pelos demais participantes da rede. Isso muda consideravelmente nossa relação com o meio de comunicação e com a própria comunicação, e essa mudança também nos transforma, porque transforma nossa subjetividade.

No documento Psicologia Facil - Ana Merces Bahia Bock (páginas 153-155)