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Os portais de notícia on-line: constituição e funcionamento

2.5 O impresso e o on-line

2.5.4 Os portais de notícia on-line: constituição e funcionamento

“E o que é um portal de notícias?”

Esta questão39 nos levou a desenvolver a (breve) incursão aqui posta. Queremos, nesta seção, operar sobre as evidências do que é um portal na/da internet e, para além disso, pensar o que configura um portal de notícias, para recobrar a sua historicidade e compreender o seu funcionamento. Não iremos traçar uma linha de reflexão calcada no que pensam as ciências informáticas; iremos, sim, investir sobre sentidos mais ou menos estabilizados do discurso jornalístico sobre o conceito de portal de notícias.

Segundo Ferrari (2014), um portal, de modo geral, é um site na internet que, para ser considerado como portal, deve reunir ao menos algumas das características que seguem: i) conter ‘conteúdos’ sobre diversos temas, de diversas áreas e origens também variadas, que podem ser apresentadas em segmentos, tais como canais de esporte, de entretenimento, etc.; ii) apresentar uma ferramenta de busca; iii) apresentar notícias, que podem ser segmentadas em editorias; iv) oferecer opções de comércio on-line; v) oferecer e-mail gratuito; vi) oferecer jogos on-line; vii) apresentar canais de ‘conteúdo’ terceirizado.

Nem todos os portais são constituídos por todos os elementos acima listados. Conforme a mesma autora, “O conteúdo jornalístico tem sido o principal chamariz dos portais.” (ibidem, p. 30). De nossa posição, entendemos que isso marque uma diferença entre os portais que reúnem notícias e os que não lançam mão delas. Os

55 portais de notícias, isto é, aqueles que produzem sentidos jornalísticos (ou os compram de terceiros), diferem de portais especializados em outras áreas (tais como de jogos ou de tecnologia, por exemplo), de modo que um portal de notícias assume um funcionamento que é da ordem do discurso jornalístico (cf. seção anterior), de uma prática jornalística.

Posto isto, vale percorrermos de que modo os portais despontam no Brasil, a fim de compreendermos a organização do discurso jornalístico on-line no que concerne aos portais de notícias. Em relação ao surgimento dos portais no Brasil, Ferrari (2014, p. 25, negritos nossos) diz que:

Diferentemente dos Estados Unidos, onde o surgimento dos portais decorreu da evolução dos sites de busca – que recorreram ao conteúdo como estratégia de retenção do leitor –, no Brasil os sites de conteúdo nasceram

dentro das empresas jornalísticas. Alguns deles nem tinham a concepção

de portal e evoluíram posteriormente para [este] modelo.

No Brasil, de acordo com Ferrari (ibidem), a história dos portais de internet está vinculada à história da imprensa no país, e não à emergência dos mecanismos de busca (como nos EUA):

Com a chegada da família real portuguesa e a abertura dos portos em 1808, rompeu-se não só o monopólio econômico, mas também o da informação. O rei trouxe a era Gutemberg – com mais de três séculos de atraso – ao Brasil. Enquanto surgiam os primeiros jornais, quase todos de vida efêmera, o país passava por importantes inovações tecnológicas, como a utilização de estradas de ferro (a partir de 1854); do telégrafo (1857); do cabo submarino (1872); e do telefone (1876), além da instalação da primeira agência de notícias em 1875, a Reuter-Havas. (FERRARI, 2014, p. 26).

Nessa conjuntura estabeleceram-se os primeiros jornais brasileiros, impulsionados pela força dos folhetins. E, no fim do século XIX, nasceram os “primeiros empreendimentos de fato capitalistas” (ibidem, p. 27) na imprensa brasileira, derivados de empresas familiares. A partir daí, as grandes corporações de mídia foram se estabelecendo e ganhando força:

Após a Segunda Guerra Mundial e todos os altos e baixos da Era Vargas, começaram a surgir conglomerados na imprensa brasileira. A mesma empresa controlava jornais, revistas, rádios e, a partir dos anos 50, também emissoras de televisão. (ibidem, p. 27).

56 Já nos 1990, época em que os portais efetivamente surgem mundo afora, comparecem no Brasil os primeiros sites jornalísticos40, quais sejam: o do Jornal do Brasil (maio de 1995), a versão digital do jornal O Globo41, e a página da Agência Estado. Ainda segundo Ferrari (2014), os portais brasileiros surgem como desdobramentos das empresas (familiares) jornalísticas – isto é, nascem dos jornais – e esses mesmos grupos detêm hoje a liderança de acessos:

Empresas tradicionais como as Organizações Globo, o Grupo Estado (detentor do jornal O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde), o Grupo Folha (do jornal Folha de S. Paulo) e a Editora Abril se mantêm como os maiores conglomerados de mídia do país, tanto em audiência quanto em receita com publicidade. (ibidem, p. 27).

Para além destes grupos corporativos de mídia, outros portais brasileiros foram adquiridos por investidores estrangeiros, tais como o ZAZ, que foi comprado pelo grupo Terra Networks Brasil S.A., hoje pertencente à empresa Telefónica de España.

Finalizamos dizendo que a conjuntura do surgimento dos portais brasileiros estabelece o cenário atual, no qual os portais se caracterizam por oferecer conteúdo nos formatos expostos acima a partir de Ferrari (2014). Observamos, no que diz respeito especificamente aos portais de notícias on-line com os quais trabalhamos, que eles dizem sobre temas variados, ‘especializados’, apresentam um mecanismo de busca, e produzem e publicam notícias, por vezes segmentadas em editorias. Deste modo, entendemos como portal de notícias um site na internet que produz e circula notícias on-line.

A partir do que expusemos, com o desejo de atravessar as evidências que perpassam os dizeres sobre os discursos jornalísticos (impresso, on-line, em portais de notícias), podemos, na próxima seção, nos debruçar mais propriamente sobre a construção do corpus, constituído a partir de notícias publicadas em portais de notícias on-line brasileiros.

40 Uma distinção que se coloca na atualidade, no âmbito do jornalismo, se refere a site jornalístico e

portal (de notícias). Este, para ser assim considerado, concentra alguns componentes, conforme enumeramos na página anterior. Além disso, enquanto um portal pode ser também considerado um

site, o oposto não é verdadeiro.

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