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CAPÍTULO 4 OS ADOLESCENTES E A PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

4.2 UTILIZANDO TIPOLOGIAS PARA PENSAR A PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: OS

4.2.1 Os resistentes

De início, importa ressaltar que os adolescentes classificados como resistentes foram encontrados em três das quatro casas visitadas. Não se constituem, ainda, em absolutos em relação aos adolescentes pesquisados, mas aparecem principalmente quando estamos falando de como suas ações dentro da casa mudarão seu tempo/sua vida naquele local. Além disso, ressalta-se que, para além de suas ações e dos ganhos práticos e possíveis que podem alcançar com elas, que vemos de forma clara, nos trechos abaixo colacionados, que os adolescentes que foram classificados como resistentes apresentam visivelmente irresignação com aquela situação. Ou seja, não aparece, em nenhum momento das entrevistas realizadas, conformidade com a privação de liberdade, mas eles nos demonstram como, de fato, suas ações são direcionadas para a mudança daquele episódio que abrevia, de certa forma, suas vidas.

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Criar uma categoria de análise como essa foi importante para apresentar, finalmente, em que momento as resistências são apresentadas e como isso pode servir para amenizar, em suas visões, a própria situação de privação de liberdade.

Dividimos a resistência em relação à privação de liberdade em três possíveis variantes, que, ao final, se relacionam com o próprio confinamento: (i) a escola, (ii) o local de confinamento, e (iii) a relação interpessoal com técnicos e agentes socioeducativos. E pudemos, a partir disso, encontrar oito adolescentes que se encaixaram na tipologia resistente: Amin, Faruk, Afif, Émelie, Omar, Cid, Milton e Antônio.

É importante voltar ao conceito de resistência, sobre o qual expusemos no Capítulo 2 deste trabalho, uma vez que é nele que nos ancoramos para classificar esses adolescentes enquanto tais. Isso significa dizer que a resistência, para além do fato de o adolescente não estar disposto a ficar privado de liberdade, tem um significado em si, qual seja, uma constante luta para alterar a situação de confinamento, mesmo que isso faça com que o adolescente vá de encontro às normas de forma quase imperceptível.

De forma sutil ou mesmo com uma “falsa” submissão às normas, os adolescentes relacionados a seguir nos mostram como conseguem sobreviver àquele episódio de privação de liberdade que abrevia suas vidas, mesmo que façam isso de forma a recusar os padrões impostos, porém não diretamente.

Se a escola é importante e realizar as atividades é fundamental para que eles possam ser vistos pelo sistema de Justiça como passíveis de mudança, então eles “compactuam” e “aceitam” tais imposições, de modo que se encaixem nas “caixas” de interpretação do Judiciário, mesmo que seja apenas para provar seu próprio ponto, que é a “possibilidade de mudança” demandada pela Justiça (tanto a brasileira como a francesa).

Um dos exemplos em que isso fica bastante claro é o trecho da entrevista de Amin, por exemplo, já que se referiu à escola como obrigação para poder sair do confinamento e, ao mesmo tempo, deixou claro o seu desinteresse em relação ao ensino formal:

Sim, eu não tô nem aí. Eu sei que isso não é importante para o meu futuro. Mas preciso ir. Preciso mostrar que estou disposto a mudar.

Não vou me arrepender de fazer isso depois.115

115 “Ouais mais pff je m’en fou j’ai, c’est pas important tout ça. Mais il faut que j’aille. On montre que on

a changé.

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Nesse segmento, Omar expôs questões também trazidas por Amin: Só tem isso para fazer aqui, de todo jeito.

Se aqui a gente não vai à escola, a gente fica dentro do quarto e pronto. Sim, a gente sai, a gente cruza com outras pessoas de outros lugares do complexo.

Importante é, quando eu vejo neste momento que tem gente que tem Bac +8, Bac +10, mas eles não têm trabalho, que estão desempregados, o que você quer que eu diga? A escola serve para quê? A França, ah, quando eu vejo aqui na França, as pessoas estudaram cinco anos e estarem desempregadas, ganham 500 euros por mês, o que você quer que eu diga sobre a escola? Será que ela serve para qualquer coisa?

Não, a juíza ela, ela ficará contente se ela sabe que eu faço tudo, que eu vou para a escola, que eu sou tranquilo, é normal isso.116

Faruk nos trouxe uma justificativa maior em relação a não se importar com a escola e saber que era preciso frequentar as atividades para ter chances de melhorar sua situação perante a Justiça:

A escola aqui? É normal, francês, matemática, inglês. Eu não gosto, enfim, não sei.

Aqui eu estou fazendo uma formação normal. Você estava aqui da outra vez que eu me inscrevi. Mas eu espero que tenha uma formação profissional, porque a escola, ela me cansa.

Não é que eu não goste, é que, heu, é cansativo. É isso, pfff, é cansativo. Não, para mim, não é verdade. Eu, seriamente, se eu pudesse voltar atrás, lá quando eu tava na 6ª série, eu voltaria, eu esqueceria do meu bairro, eu faria só escola e esporte.

Agora eu vejo que eu tenho que dizer que aquilo não serviu para nada. Eu preciso dizer que aquilo não serviu para nada e que eu gosto da escola. Por que aquilo não serviu pra nada? Porque, ah, é, olha onde eu estou por favor. Faz oito meses que eu estou na prisão. Eu deveria estar no Marrocos de férias, e eu não fui, estou aqui como um idiota.

Eles não me fizeram assinar nada. Ah, me acostumei com o sistema. Você viu o sistema prisional? Sistema de prisão, então é um pouco tudo, é um pouco... não há regras, existem regras, mas não há muito o que se deve respeitar.

Por enquanto, como eu lhe disse que estou bloqueado, não sei o que pensar, não sei o que esperar, não sei o que considerar, ainda estou aqui, não sei quando vou sair, pff.117

116 “Y a que ça de bien ici de toute façon.

Ici, si on va pas à l’école, on reste dans notre cellule et c’est tout. Bah oui, on croise d’autres personnes qui sont dans d’autres bâtiments.

Important heu, quand je vois en ce moment y en a ils ont des Bac+ 8, des bac + 10 mais ils ont pas de travail, ils sont au chômage, qu’est ce que vous voulez que je vous dise, l’école ça sert à quoi? La France heu, quand je vois en France les gens ils ont fait des 5 ans d’études mais ils sont au chômage, ils touchent 500 euros par mois, qu’est ce que vous voulez que je vous dise sur l’école? Est-ce que ça sert à quelque chose?

Non la juge elle, elle sera que contente si elle sait que j’ai tout, je vais à l’école, je suis tranquille, c’est normal.”

117 “L’école ici ? C’est normal, français, maths, anglais. Moi j’aime pas, enfin je sais pas.

Là je vais faire une formation normalement. T’étais là l’autre fois quand j’ai écrit. Bah j’espère y aura la formation parce que l’école ça saoulé, ça m’a saoulé.

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Além disso, teve Afif, que nos demonstrou, através de uma falsa submissão à escola, que poderia ganhar alguns benefícios em relação à sua pena.

Sim, francamente. Ah, a escola eu não posso abandonar, porque preciso desses diplomas.

Com esses diplomas eu posso ir longe. Além do mais, como estou aqui ainda, a escola não me interessa de verdade.

Bah, sim, com os diplomas eu poderei ter um bom trabalho, e é isso, a juíza vai ver que eu mudei, essas coisas, que eu tenho um bom trabalho, que eu estou mais calmo. Caso ocorra de eu ser pego novamente, eles vão ver que eu não sou mais o mesmo.118

No mesmo sentido, Émile indagou-se sobre isso:

Aqui? Eu, na prisão, não gosto da escola. Eu preferia ir na rua, mas não aqui. Mas de toda forma, eu não tenho escolha, eu vou, senão jamais sairei daqui.119

Cid, ao mesmo tempo, quando perguntado o que ele achava da escola nos disse que:

Bah é, bah, é bom porque a gente sai do quarto e faz com que o tempo passe. Não é importante, mas nos faz sair do quarto e da prisão.120

Milton referiu que fazer a escola estava sendo legal e informou que:

Non, pour moi, non pour de vrai. Moi sérieusement si je pouvais retourner en arrière, là où quand j’étais en sixième, je retournerai, j’oublierai toute la cité, je me mettrais que dans l’école et le sport.

Parce que je sais maintenant que ça sert à rien et je dois dire ça. Je dois dire que ça sert a rien e dire aussi que j’aime l’école.

Pourquoi ça servait à rien ? Parce que heu c’est, regarde je suis où s’il te plait. Ça fait 8 mois que je suis en prison, je devais aller au Maroc en vacances bien, je suis même pas allé en vacances, je suis là comme un con.

Ils m’ont rien fait signer. Heu pff, j’ai pris l’habitude t’as vu du système carcéral. Du système de la prison donc heu c’est un peu toutes les, c’est un peu…y a pas vraiment de règles, y a des règles mais y a pas vraiment grand-chose à respecter.

Pour l’instant comme je t’ai dit je suis bloqué, je sais pas quoi penser, je sais pas quoi attendre, je sais pas quoi envisager, je suis encore là, je sais pas quand je vais sortir, pff.”

118 “Ouais franchement. Ha l’école je peux pas abandonner parce que ce qui faut c’est les diplômes.

Ha mais j’ai mes diplômes, je peux arriver loin. En plus comme là je me suis, là encore c’est, l’école ça m’intéressait plus trop […]

Bah ouais comme ça je pourrais avoir un, un vrai travail, et c’est ça de par la juge verrons que là j’ai changé des trucs comme ça, que j’ai un vrai travail tout ça, que je me suis calmée. Au cas où si ils me recontrôlent ou un truc comme ça, ils vont me voir ha je suis plus le meme.”

119 “Ici là? Moi en prison j’aime pas l’école. Moi je préfère aller dehors mais pas ici. Mais quand même

j’ai, j’ai pas le choix, je viens, sinon je sorterais jamais.”

120 “Bah c’est, bah c’est bien déjà que l’école ici ça nous fait passer le temps en même temps. non pas

important mais c’est, ça nous fait quitter la cellule et la prision.”

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Estou aprendendo separar as palavras das sílabas, as vogais, consoantes. Estou aprendendo umas contas, não é de vezes, é umas contas que o cara tem que ver quantos cinco têm no 50, quantos dez têm no 30.

Entretanto, quando perguntado se achava a escola importante, disse-nos:

No caso, eu acho aqui não adianta muito não, né, dona, por causa que na real o cara vem pra cá, como eu posso falar pra senhora, o cara não tem como sair daqui mais educado, porque o cara vive no meio de um ambiente que é um monte de gente e quase ninguém se respeita, né, dona. Não tem como o cara sair mais educado daqui, porque os seus não educam nós. Eles são assim, qualquer coisa que acontece, eles querem trancar nós nos dormitórios. Isso aumenta mais a nossa raiva, né, dona. Ao invés de chamar nós para conversar, eles trancam nós, eu acho que todos que entram aqui vão sair mais revoltados ainda. Tipo de 20 ou 30 que entrar aqui, um vai sair bom, vai adiantar pra um, mas para os outros 29 não vai adiantar nada.

Porque eles não educam nós, que era pra educar. Na real, aqui a gente só joga bola, vai para o pátio jogar pingue-pongue, e não faz mais nada além disso, né, dona. Não tem como sair daqui mais educado, querendo ou não querendo. Mas o juiz não se importa, se tá no relatório, é bom pra nós. Porque eles não educam nós, que era pra educar.

No mesmo sentido, Antônio salientou a importância que a escola tem para o relatório:

É bom. Igual, tem que ter colégio pra tu trabalhar. No caso, são vários... tem uns que não querem sair dessa vida. Mas eu sou um que, no caso, fui por causa do meu pai, né, mas eu nem precisava ter feito nada disso. No caso, eu fui por causa dele.

É, tu tem o que fazer, ir pra escola.

Porque tudo vai pro relatório. É, cai nas mãos do juiz e o juiz decide o que vai fazer. Se vai mandar embora, se vai ficar.

Em relação às casas de privação de liberdade, esses adolescentes têm bastante resistência ao que são aqueles locais, seja pela falta de estrutura, seja pela ausência completa de condições para acolhimento. Exemplos foram claros a respeito da falta de estrutura e do que deve ser feito para que possa existir, de fato, condições para efetivar uma socioeducação em respeito às leis em vigor nos dois países.

Amin, por exemplo, informou que sempre está doente em razão da sujeira que assola o Quartier Mineur M*.

Eu não me sinto bem. Vai, olha aqui como eu estou, meu irmão, olha. Cheio de bolinhas, 24 aqui atrás, nas minhas costas, eu estou cheio disso meu irmão, olha, a gente não pode viver assim, não pode.121

121 “C’est pas je me sens pas bien mais vas y regardez comment il est mon frère, regardez, des boutons.

24 heu, derrière dans mon dos, je suis rempli mon frère vas y, on peut pas vivre comme ça, voilà on peut pas.”

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Faruk informou que o principal motivo que fazia com que quisesse sair do Quartier Mineur M* era a impossibilidade de tomar banho todos os dias.

É por isso que eu quero ir para Nanterre. Lá você pode tomar banho todos os dias. É assim, não dá para você dizer nada, mesmo se revoltar não adianta, você não tem escolha.122

Quando perguntamos a ele por que ele não solicitava que fosse revisto os dias de banho, Faruk foi claro ao informar que não eram todas as batalhas que deviam ser travadas com os agentes penitenciários e com os responsáveis pela sua internação.

Desculpa falar isso, mas tu só pode calar a boca. Cale a boca e olhe. E pronto.

É nojento, é só punição. Para mim, é punição que me dão aqui. Eu não penso em nada. Eu vou pensar em quê? Você não pode pensar em nada, é... não é bom colocar pessoas em prisões. Nojento, não é bom.123

Ainda sobre o Quartier Mineur M*, Afif nos falou sobre a total falta de estrutura e o estado em que os adolescentes eram obrigados a ficar, considerando o tempo de existência da estrutura.

Aqui, ao contrário das outras prisões, francamente, é aqui a mais velha das prisões, porque só tem água fria na pia, não temos geladeira, nada. Disseram que vão reformar logo isso aqui e a gente vai para outra parte do complexo, mas para quê? Lá você precisa alugar uma geladeira, é uma locação. Mas se tu está em Villepinte, lá você tem uma geladeira integrada no teu quarto, você tem também o chuveiro. E aqui o quê? Aqui a gente tem direito a tomar banho três vezes por semana, e não no final de semana, isso significa dizer que sábado, domingo e segunda a gente não toma banho. A gente precisa esperar terça-feira. É uma merda. Quando a gente vai para outras prisões, no teu quarto, tu tem diretamente uma geladeira e um chuveiro.

Teve uma vez que, uma vez que uma pessoa fez cocô no banho. Eu disse que não tinha sido eu, e disse que eu não ia limpar aquilo. Aí os agentes mesmo limparam. Precisa falar direito com eles, aí funciona. Como eu disse, se a gente respeitar, eles vão nos respeitar.124

122 “C’est pour ça que je veux aller à Nanterre. Nanterre c’est tous les jours.

C’est comme ça, tu peux rien dire, t’as vu tu peux même pas te révolter, t’as pas le choix.”

123 “Excuse-moi de dire ça, tu peux que fermer ta gueule. Tu peux que fermer ta gueule et regarder.

[rire]. Et voilà.

Ici c’est dégueulasse, c’est la punition. Pour moi ils m’ont donné la punition ici.

Je pense rien. Tu veux penser quoi? Tu peux rien penser, c’est…c’est pas bien de mettre des gens en prison quand même. (rire). Dégueulasse. C’est pas bon.”

124 “Ici contrairement à toutes les prisons, franchement c’est ici la, la plus vieille de prison parce que y a

l’eau froide au robinet, on a pas de frigo pour les cantines qu’on fait tout ça, après on m’a dit bientôt on va partir au grand quartier mais ce qu’est nul aussi là-bas c’est que le frigo du coup maintenant tu dois payer ça devient une location, alors que si tu vas à Villepinte, Villepinte t’as le frigo déjà intégré, t’as la douche aussi, je pense ouais t’as la douche aussi, et ici c’est déjà, du coup ici on doit, déjà on a quoi, on a trois douches par semaine, trois douche par semaine et là sachant que le week end chez nous, le week end est même compté, ça veut dire samedi dimanche, lundi on se lave pas, lundi on doit attendre mardi,

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Cid, ao falar do EPM G*, disse ter sido informado que aquele local era melhor do que outros, mas insistiu:

É uma prisão. De educativo aqui não tem nada.125

Antônio, ao se referir ao Centro B*, apenas comentou que era pequeno, o que fazia com que não houvesse estrutura para educar ninguém, visto que há falta de espaço para realizar outras atividades.

Ela é pequena. A quadra é muito pequena, tem muita pouca coisa para fazer também. Tem só futebol e olhar TV, e agora que tem um curso de almofada, patchwork. Patch é retalho, work é trabalho. Nós trabalhamos com retalho e costuramos, daí tem só isso e o futebol e TV. Acho que isso daí não educa ninguém. Porque tu vai ficar olhando tevê e vai jogar bola e uma vez por semana que tem o curso.

Em relação à convivência com os técnicos responsáveis pela execução das medidas e com os agentes socioeducativos que se relacionam cotidianamente com os adolescentes, existem tensões que estão colocadas no discurso desses adolescentes, muitas vezes de formas tangenciais.

Amin, por exemplo, foi bastante direto em relação a como se sentia nesse episódio de sua vida.

Nós somos cachorros? Nós não somos cachorros, a gente não é como todo mundo? Eles não nos dizem nada. Nós somos detentos. São eles que têm tudo, se acontece alguma coisa, eles vão e nos tiram de lá e pronto.126

Faruk, na mesma linha de Amin, expôs as sensações de sua relação com os educadores.

Mas, para mim, eles não servem para nada. Tipo, aqui vou te dar um exemplo, normalmente o educador deveria achar uma alternativa à detenção, achar outra coisa que pudesse substituir a prisão, para mim não acharam nada. Faz oito, quase oito meses que eu estou preso, na semana que vem completam oito meses, e eu ainda estou aqui, e daqui a dois meses, talvez c’est la merde. Quand on va à d’autres prisons, dans ta cellule t’as direct t’as le frigo, t’as même la douche.

Y a une fois, y a une fois y avait une personne qui avait chier dans la douche je leur ai dit, je fais pas hein, les surveillants ils les ont fait, ils ont fait ça eux-mêmes, ils l’ont fait, ils ont désinfecté. Ouais si, si je, faut juste bien parler avec les surveillants, comme je dis faut se faire respecter.”

125 “Mais c’est un prision. Pour l’éducation, ça sert à rien.”

126 “On est des chiens nous? On est pas des chiens, on est comme tout le monde?

Bah ils nous préviennent pas. On est détenu. C’est eux ils ont tout, dès qu’il y a un truc, ils viennent ils nous sortent et voilà.”

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dois ou três meses vão me julgar. Assim que eu sair eu não vou nem receber uma ligação dos educadores, porque eles não me ajudam, eles não ajudaram nada, tu entende o que eu quero te dizer? Eles realmente não me ajudaram a