A metodologia Law and Economics, também denominada de Análise Econômica do
Direito, e seus autores referencias tais como Steven Shavell, Cooter e Ulen, Mitchell Polinsky
e Richard Posner, é importante marco teórico para a avaliação de estratégias tributárias à luz da
maximização do agregado econômico. Em Tese de Láurea, introduzo-a como um método
analítico que busca perquirir o efeito que os dispositivos legais têm sobre a conduta dos atores
sociais
172em face ao exercício de custo-benefício que cada um continuamente realiza:
A análise econômica do direito volta-se para o processo decisório individual do qual decorre a escolha de um comportamento em face de um dispositivo legal, considerando que esta escolha guarda similaridade com as escolhas feitas pelos indivíduos ao se defrontarem com a decisão de arcar com um preço para auferir um benefício. A análise realizada por um indivíduo diante da norma jurídica é uma análise de custo-benefício e o objetivo do indivíduo ao fazê-la é maximizar o benefício em face ao custo incorrido.
(GALLINDO, 2011, p.19)
O Estado também é um ator social, sendo, portanto, dotado de racionalidade econômica
que permeia suas decisões, inclusive em matéria tributária. Qual então a postura do Estado
frente ao tributo? Schoueri identifica o tributo como receita derivada, conforme o excerto:
Na medida do agigantamento das tarefas estatais, cabe ao ordenamento prever os meios para o Estado financiar seus gastos. Cogita-se, aqui, da obtenção de receita pública.
[...] na receita derivada, se o Estado recebe os recursos é porque alguém a auferiu, originariamente, e, num segundo momento, a transferiu ao Estado.
172 Indivíduos e empresas são considerados atores sociais. Os autores de Law and Economics têm como
pressuposto que os atores sociais são racionais e que tomam suas decisões com racionalidade. Atores sociais são também denominados de atore econômicos. (GALLINDO, 2011, p.22)
Mackenzie - Dissertação - SPGallindo v155 São Paulo, 2016 197/226 Dentre as receitas derivadas onde se encontram, dentre outras, as multas, ocupa lugar de destaque a receita dos tributos, como sendo hodiernamente, a principal fonte de recursos financeiros do Estado.
(SCHOUERI, 2011, p. 119 e p.128)
Neste sentido, sendo a arrecadação tributária a principal fonte de suas receitas, é natural
que o Estado procure maximizá-la, da mesma forma que quaisquer outros atores sociais buscam
a maximização da utilidade, conforme a quarta premissa de A. Mitchell Polinsky
173. Assim
sendo no exercício da competência tributante norteado pela busca de maximização da receita
derivada, o Estado se vê diante de dois desafios, frequentemente antagônicos: (i) aumentar a
arrecadação pela via do aumento da tributação, ou (ii) induzir o crescimento da arrecadação por
intermédio do aumento de volume de transações, impulsionado por uma tributação mais
comedida.
174Este dilema se reveste de especial relevância em face a um novo modelo de
negócios, que em si representa um novo fenômeno econômico.
Richard Posner, em sua obra Economic Analysis of Law aborda a questão tributária sob
a ótica da eficiência, considerando os diversos efeitos da tributação sobre a alocação econômica
de recursos e a obrigação distributiva implícita a ação do Estado:
Taxing an activity creates an incentive to substitute another activity that is taxed less heavily. Presumably, however, the switchers were more productively employed in the first activity, otherwise the imposition of a tax would not have been necessary to induce them to switch to the second. […]
The revenue-generating, resource-allocation-distorting, and distributive effects of tax are not the only criteria to consider in the design of an efficient tax system. Another is the cost administering the system.
(POSNER, 2011, p. 653 e p.655)175
Os serviços de TIC, dentre os quais os serviços na nuvem destacam-se como a nova
onda, são altamente transversais na economia, sendo potencializadores de eficiência para todas
as demais atividades. Tributação exagerada afeta equilíbrio entre oferta e demanda, inibindo a
segunda. Um possível efeito de uma política tributária onerosa é o retardamento da adoção de
173 (POLINSKY, 2003, p,10-11, op. cit., GALLINDO, 2011, p.21)
174 O impacto econômico da tributação sobre equilíbrio oferta-demanda é discutido com rigor matemático em (SCHOUERI, 2011, p.46 e ss)
175 “A tributação de uma atividade cria um incentivo de transferência para outra atividade que seja menos onerada tributariamente. Entretanto, os que mudam de atividade eram, presumivelmente, mais produtivos na atividade anterior, e, não fosse pelo aumento da onerosidade tributária, não teriam necessariamente deixado a atividade original. [...] Os efeitos de geração de receita, distorção de alocação de recursos e distributividade da tributação não são os únicos critérios a serem considerados na concepção de um sistema tributário eficiente. Um outro critério é o custo de administração do sistema.” (Trad. livre do autor)
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tecnologias voltadas a eficiência, produzindo, como consequência, perda de competividade
relativa.
Assim sendo, uma política tributária bem concebida certamente será um poderoso fator
de indução do setor de TIC em ambiente pátrio. Já uma política tributária pouco informada tem
o condão de comprometer o florescimento do setor já no seu nascedouro.
4.2.2 Ciclo de vida mercadológico de bens e serviços de TI e TIC
Observa-se, empiricamente, que a comercialização de bens e serviços tecnológicos é
marcada por uma pela natureza cíclica composta de quatro fases bem demarcadas: (i)
introdução de um bem ou serviço notadamente inovador, fase caracterizada pelo alto preço de
comercialização e alta taxa de crescimento da demanda; (ii) maturidade mercadológica,
caracterizada pela estabilização do consumo e do preço; (iii) uma fase de senilidade, onde se
observa a redução concomitante do consumo e do preço praticado, ambos possivelmente
afetados pela concorrência com novas inovação introduzidas no mercado ou em função da mera
desnaturalização do aspecto inovador e consequente percepção do produto ou serviço como
commodity; e (iv) uma fase de comercialização residual, devotada a manutenção de base
instalada.
O Gráfico 9 abaixo mostra um modelo teórico exemplificativo, construído com o fito
de mostrar, ainda que conceitualmente, as fases típicas dos ciclos de comercialização de bens e
serviços tecnológicos, doravante denominado genericamente de produtos, relacionando a
variação de preço unitário com a quantidade comercializada ao longo de 10 anos, fracionados
em trimestres. A curva de quantidade comercializada revela as fases supra referias, a saber,
introdução, maturidade, senilidade e residual.
A fase introdutória se inicia no primeiro trimestre do Ano1 e se estende até o segundo
trimestre do Ano3 (10 trimestres). O preço inicial do produto é arbitrado em R$ 1.000,00,
podendo equivaler ao de um produto de consumo, tal como um smartphone popular. A
quantidade comercializada varia de um valor inicial de 241 mil unidades, no primeiro trimestre
após o lançamento, até 986 mil unidades, antes do início da fase de estabilidade. Nesta fase, o
modelo projeta, até o início da fase seguinte, uma redução de preço de 37,9% preço e um
aumento na demanda de 301%, correspondendo a uma redução de preço de 14,7% a.a. e
aumento na quantidade comercializada de 58,9% a.a.
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A maturidade se inicia no segundo trimestre do Ano3 e perdura por 1 ano e meio (6
trimestres). Neste período o preço unitário se mantém estável em R$ 621,00 e a comercialização
em 1 milhão de unidades por trimestre.
A senilidade se começa no primeiro trimestre do Ano5 e dura até o segundo trimestre
do Ano7 (10 trimestres). Neste período o preço unitário se cai 59,3%, atingindo o patamar de
R$ 203,30 no início período residual. A comercialização declina 76,6%, iniciando-se com
redução inicial para 985 mil unidades até chegar a 231 mil unidades por trimestre. A redução
de preço é de 14,7% a.a. e a de na quantidade comercializada é de 76,6% a.a.
Na etapa residual, o preço permanece fixo em R$ 230,00 e a comercialização em 231
mil unidades por um período de que vai deste o terceiro trimestre do Ano7 até o fim da vida
útil do produto, no final do Ano10 (14 trimestres).
Embora o gráfico retrate um ciclo em 10 anos, prologando-se até o completo esvaimento
do potencial de comercialização, e a despeito da brutal redução de preço, chegando a cerca de
77%, é importante ressaltar que, hodiernamente, já se observa uma tendência de encurtamento
dos ciclos e de interrupção prematura da fase residual, em favor de novas ondas de produtos.
Tal tendência de ciclos curtos é mais notória no mercado de consumo, onde inovações
disruptivas são mais comuns, sendo que no mercado corporativo (business-to-business ou B2B)
os ciclos mais longos ainda são prevalentes, em que pese permeados por introdução de
inovações incrementais.
A construção do modelo teórico levou em conta algumas evidências, fruto de pesquisa
em sítios de comercio eletrônico na Internet. Observou-se, por exemplo uma redução de preços
de smartphones Apple iPhone na ordem de 57% (redução de R$ 3.500,00 até R$ 1.500,00) e de
similares Samsung na ordem de 79% (redução de R$ 3.300,00 a R$ 700,00). Considerando que
tais produtos de consumo movimentam uma diversificada cadeia de fornecimento de partes e
peças, incluindo, dispositivos microeletrônicos, tais como, microprocessadores e memória,
discos rígidos, telas e monitores, bem como, componentes mecânicos, é de se esperar que as
fases produtivas dos insumos acompanhem, em termos de perfil temporal de variação de preços
e quantidades, as equivalentes dos produtos finais destinados ao consumo.
Possivelmente com variações menos elásticas, mas com o mesmo perfil, se comportam
os produtos tecnológicos voltados à infraestrutura, tais como, processadores de alta capacidade
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e dispositivos de storage voltados e equipar datacenters e equipamentos de telecomunicações,
tais como, estações rádio-base para redes celulares, ou ainda equipamento de transmissão ótica
ou por radiofrequência e roteamento de pacotes, típicos de redes de dados, notadamente a
Internet.
Gráfico 13 – Variação de Preço Unitário x Quantidade no tempo para TIC