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4 ANÁLISE DO DEBATE MODERNIDADE/PÓS-MODERNIDADE NO CORPUS

4.3 A Pós-Modernidade: um reencantamento?

Observar as aproximações do campo da pesquisa em Educação Ambiental com as discussões sobre a Pós-Modernidade, no intuito de contribuir com o enfrentamento teórico da crise socioambiental, pode ser interessante uma vez que o campo ambiental está no cerne dos questionamentos acerca das limitações o paradigma moderno.

O pensamento de David Orr, segundo o trabalho T928, valoriza a Pós-Modernidade como possibilidade de completar os “espaços que a Modernidade negligenciou em nome da ênfase na ciência”. Para este autor, “essencialmente no campo ambiental, os pós-modernos acreditam que a modernidade não consegue responder à sustentabilidade planetária, uma vez que os modernos não conseguem pensar sem uma referência, ainda que velada, ao ser humano” (T928, p. 71). A exequibilidade de se encontrar na Pós-Modernidade elementos para apurar o campo ambiental é reafirmado no trabalho T6808, a partir de Michèle Sato (autora do trabalho T928, já referenciado):

A formação ambiental insere-se em tramas tecidas além da Modernidade, e tempera as trajetórias da pesquisa com a suavidade da poesia, do prazer e dos desejos de transformação social com cuidados ecológicos necessários. Fundamenta-se na liberdade do aprendiz para a formação de uma comunidade de aprendizagem, alicerçada em valores cooperativos, apostando na capacidade coletiva de propor um caminho de transgressão aos padrões dominadores estabelecidos para que a construção do conhecimento seja lúdica, prazerosa e desejada. (SATO, 2003, p. 1, apud T6808, p. 24).

A forma de trazer a discussão da Pós-Modernidade para a pesquisa em Educação Ambiental, especificamente nos trabalhos analisados, caminhou ao lado das discussões sobre a Modernidade, assim como era esperado, pois encarar a Pós-Modernidade como algo independente do moderno não faria sentido, visto que são noções interdependentes.

A interdependência de conceitos está exposta na passagem do trabalho T2252: “A Pós- Modernidade é a própria modernidade que se expande até atingir o mundo todo” (T2252, p.120), pois “o pensar pós-moderno também se origina da racionalidade moderna, logo, mantém as relações contraditórias e dualistas” (Idem, p. 118). Portanto, neste trabalho

enxerga-se o período pós-moderno (referente aos Séculos XX e XXI) como a “Terceira fase da Modernidade” – a “Modernização expandida”, na classificação de Marshall Berman.

A conceituação de Pós-Modernidade tida como a primeira desenvolvida na esfera filosófica, isto é, fora da esfera das Artes, é conhecida pelo trabalho de Lyotard, em sua obra “A Condição Pós-Moderna” (1979). Como era esperada por nós, esta acepção foi levada em consideração e discutida pelos trabalhos analisados (T928/ T2577), especialmente em T2577. Veja-se:

De acordo com Lyotard, (1988, p. 15), a ‘Pós-Modernidade’ é ‘o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras do jogo da Ciência, da Literatura e das Artes, a partir do final do século XIX’. Não se trata de uma perspectiva unificada e homogênea, mas de uma condição que rejeita um pensamento totalizante, as metanarrativas iluministas, os referenciais universais, as transcendências e as essências e que, implodindo a Razão moderna, deixa-a nos cacos das racionalidades regionais, das razões particulares (T2577, p. 34).

No trabalho T2577 têm-se o cuidado de explicitar os fundamentos da Pós- Modernidade, e desta forma, clareia um dos elementos mais polêmicos desta forma de olhar o mundo, as metanarrativas. Para contextualizar então a “ desdogmatização da ciência” dialoga com Veiga-Neto (1998), Bauman (1994) e Souza Santos (1989):

Alfredo Veiga-Neto (1998), ao examinar os efeitos da virada linguística e da

“pós-modernidade” sobre a ciência, considera que as rejeições às

metanarrativas iluministas não consistem, propriamente, numa contraposição a

estas, ou seja, a “pós-modernidade” não quer argumentar contra o pensamento

moderno, mas dá as costas a ele, não se socorre dele para pensar o mundo. Para Veiga-Neto (1998, p. 146), na perspectiva “pós-moderna”, não se trata nem mesmo de acusar as metanarrativas de que essas talvez incorram em petição de princípio; a questão é que, se fosse preciso demonstrar alguma coisa, então caberia

ao pensamento moderno o ônus da prova de que “existem” mesmo aquelas

entidades sobre as quais ele se fundamenta. [...] Assim, o que se coloca para o pós-moderno não é propriamente refutar o moderno; o que ele quer é apenas trabalhar sem recorrer à transcendência da razão e do sujeito, à dialética e assim por diante. Esse apenas é tudo, pois o que o pós-moderno subtrai do pensamento moderno são seus próprios fundamentos, na medida em que esses fundamentos vinham sendo aceitos como incondicionais, supra-históricos, últimos, transcendentais. Ao se despedir desses fundamentos,o pós-moderno tira da origem e do centro o Sujeito que ali havia sido colocado pelo iluminismo,

entendido, a partir de agora, como um “resultante” de um pensamento datado

e localizado: eurocêntrico, branco, machista e colonizador. Ao se despedir das transcendências, o pós-moderno opera o que Bauman (1994) denominou dissipação da objetividade, isso é, promovendo uma desterritorialização de todo o pensamento, despede-se da noção segundo a qual a adequação entre o intelecto e o objeto seria resultado de uma relação externa. É no contexto desse amplo debate que ocorre o que Souza Santos (1989) denomina desdogmatização da Ciência. (Idem, p. 35)

Outra forma que os trabalhos analisados enxergaram a Pós-Modernidade, em sua relação com a crise socioambiental, é extremar as contradições tipicamente modernas, contextualizando assim o fenômeno da globalização. No trabalho T2201, ao estabelecer esta

discussão com Otávio Ianni (2000) e Enrique Leff (2001), o principal ponto destacado são as relações do homem e da natureza balizadas pelo valor comercial. Nota-se em:

Esse é mundo da pós-modernidade, articulado em moldes sistêmicos, desenraizado, virtual em uma rede sistêmica onde articulam mercados e mercadorias, capitais e tecnologias, força de trabalho e mais-valia, sendo assim uma lucrativa rede sistêmica, que não está pronta nem consolidada, ainda que muitos procurem defini- la como clímax da história. O fim da geografia, o fim da história, a formação da aldeia global, a primazia do pensamento neoliberal, não só subsistem como também se multiplicam atritos, contradições e conflitos. Paralelamente são multidões os que continuam situados, enraizados, territorializados, geoistóricos (IANNI, 2000).

‘A globalização econômica está gerando uma retotalização do mundo sob o valor

unidimensional do mercado, superexplorando a natureza, homogeneizando culturas, subjugando saberes e degradando a qualidade de vida das maiorias’ (LEFF, 2001, p. 40, apud T2201, p. 39)

Observa-se a preocupação dos trabalhos em dedicar-se sobre as questões teóricas “de fundo” desta vertente epistemológica. No trabalho T2577 são apresentadas, a partir do que considera Souza Santos (1989), as vertentes da Pós-Modernidade que desejam “investigar a prática científica”. São elas:

Souza Santos (1989) considera que são as vertentes teóricas da pós-modernidade. De um lado, segundo o autor, estão os novos conhecimentos acerca da prática da ciência oriundos de estudos científicos e filosóficos desenvolvidos por pensadores como Bourdieu, Durkhem, Kuhn, Bateson, Merton, Monod, Feyerabend, Piaget e Bachelard, entre outros cujas teorias se diferenciam da tradição racionalista de Descartes, do empirismo de Bacon e da maioria dos participantes do Círculo de Viena. De outro lado, estão as contribuições teóricas de Hegel, Heidegger, Dewey, Habermas, Gadamer e Rorty, cujas posições raramente se cruzam, exceto no que diz respeito ao fato de que todos eles deram as costas às discussões que buscam fundamentar racional e logicamente o conhecimento científico. No mais, considera Santos (ibid), todos esses autores dedicaram-se a considerações acerca do conteúdo e Observe-se que estes autores não constituem uma tendência homogênea, exceto pelo interesse de investigar a prática científica. Suas teorias, não raro, diferem entre si e em quase nada mais suas perspectivas podem ser aproximadas. (T2577, p.36, grifo nosso)

Na esteira do segundo grupo, aqueles que “deram as costas às discussões que buscam fundamentar racional e logicamente o conhecimento científico”, o trabalho T77 traz aproximações e distanciamentos entre a Fenomenologia e a Pós-Modernidade, no campo da estética. Para o estudo da estética, alerta que a pós-modernidade tem contribuído para resgatar o mundo da vida silenciado pela arte moderna. Segundo consta neste trabalho “A pós- modernidade estética coloca então a ruptura da forma homogeneizante e propõe a abertura das formas heterogêneas, da diversidade, da biodiversidade” (p. 167).

Em outra direção está o trabalho T3396, no qual é revelada a incredulidade na pós- modernidade, segundo seu aporte teórico crítico. Em Berman (1988) encontra-se justificativa para a opção de não adesão a este tipo de pensamento, pois “a modernidade é ‘perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambiguidade e contradição’. Desse modo, a Modernidade seria interminável, não havendo para ele pós-modernidade, pois é a própria

ausência e incerteza de finitude que faz com que a modernidade se retroalimente e sobreviva nas suas contradições”(T3396, p. 66). Complementa-se com Harvey:

Os sentimentos modernistas podem ter sido solapados, desconstruídos, superados ou ultrapassados, mas há pouca certeza quanto a coerência ou ao significado dos sistemas de pensamento que possam tê-los substituídos. Essa incerteza torna peculiarmente difícil avaliar, interpretar e explicar a mudança que todos concordam ter ocorrido. (Harvey, 2000, pg. 47, apud T3396, p. 66)

Nas análises dos textos, identifica-se que dentre os trabalhos analisados que criticam, positivamente ou negativamente, o paradigma moderno, muitos dos quais propõem a transição para outro paradigma, poucos façam a defesa explícita de que esta transição finalize com a supremacia da visão de mundo pós-moderna sobre a moderna.

a Pós-Modernidade busca em uma nova constelação mundial, um novo consenso fundamental sobre as convicções humanas integradoras [...] o paradigma moderno deve ser superado pelo paradigma pós-moderno (T3362, p. 20)

Ou ainda,

Já nesta época de pós-modernidade, estão presentes novas formas de pensar e inventar a realidade, em uma co-relação com o ambiente, com os outros e com o mundo. O sujeito rompe com a perspectiva mecanicista e passa a ser visto e a ver-se co-relacionado com a realidade, a inventa, e é inventado por ela.: “Já não se trata de

indicar novos lugares no velho ‘mapa da modernidade’, e sim, que os

desenvolvimentos contemporâneos exigem a construção de um novo espaço cognitivo, em que corpo-mente, sujeito-objeto e matéria-energia são pares co-

relacionados e não oposição de termos independentes” (NAJMANOVICH, 2001,

p.8, apud T6808, p. 50).

É possível que esta baixa adesão a Pós-Modernidade se deu porque, nas pesquisas analisadas, a criticidade que permeia os textos parece não se dar de forma apressada ou sem justificativas teóricas. Os trabalhos T2252, T2254, T3396, T3362, T918 e T2024 que se propuseram a estabelecer relações entre a crise socioambiental e o debate da Modernidade/ Pós-Modernidade não pretendem apontar um único caminho como meio de salvação para os problemas que se apresentam com a questão ambiental. O debate da Modernidade/ Pós- Modernidade é trabalhado nestas pesquisas como uma das contribuições para minimizar os problemas ambientais.

O momento atual também foi descrito em T77 como uma nova forma da Modernidade, a Pós-Modernidade: “Agora a crise da racionalidade moderna está vivendo um momento crucial de seu próprio movimento, momento chamado de pós-modernidade”. (T77, p. 165). Assim como no trabalho T3362, no qual o presente também foi situado como a pós- modernidade, conceito que pode também ser compreendido como “modernidade tardia desintegrada” (T3362, p.20).

Nos casos apresentados, destacamos as aproximações estabelecidas da pós- modernidade e “uma volta ao sagrado” ou “uma visão holística” nos trabalhos T3362, T2252 e T2024:

Assim, no contexto da pós-modernidade em que se percebe uma volta ao sagrado, uma visão holística das relações entre todos os integrantes que compõem o planeta Terra (T3362, p. 35)

Em T2252 foca-se no niilismo, característica que se destaca nos debates pós- modernos:

[...] o niilismo da pós-modernidade possibilitou duvidar da razão absoluta da modernidade e abriu caminhos para a compreensão do mundo que a modernidade abafara, como a Teologia, que agora tem novas possibilidades. (T2252, p. 116)

E, a partir do trabalho T2024, a pós-modernidade é significada como um retorno a valores pré-modernos:

Tratava-se de restabelecer a convivência cristã, imbuída agora de uma noção

‘moderna’, ou talvez ‘pós-moderna’, que sugere voltar à natureza e relembrar

valores simples, quase esquecidos, como vivência comunitária na floresta, consciência ecológica posta em prática, implicação mútua humano-vivo, natureza-cultura, num processo harmonioso de bio-antropo-organização e sustentação (T2024, p. 43)

Buscando apontar, simultaneamente, os aspectos positivos e os negativos da Pós- Modernidade, no trabalho T3396, em concordância com o pensamento de David Harvey (2000), afirma-se que:

Para ele [Harvey], ao mesmo tempo em que ela significa a intensificação de alguns processos iniciados na modernidade - como a compressão do tempo-espaço e a ênfase na efemeridade, na fragmentação, no individualismo, na estética e no aspecto quantitativo - ela é também, sob uma ótica otimista, uma reação a esses valores. Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade não nega o passado e a tradição, mas promove um novo olhar sobre ambos, como forma de preservar a identidade individual e coletiva; tenta resgatar a espiritualidade sem deixar de lado a razão; assume a estratégia pluralista de respeito às diferenças e atenção à alteridade no processo de compreensão e apreensão do mundo (T3396, p. 67).

No trabalho T928, o conceito de “pós-modernidade construtiva” e “pós-modernidade destrutiva” são apresentados, demonstrando não haver uma unidade consensual nesta forma de olhar o mundo. Veja-se:

ORR (1992) e LITTLEDYKE (1996) argumentam, entretanto, que a pós- modernidade construtiva não é contra a ciência, mas sim contra a crença do

“cientificismo” em acreditar que as ciências naturais, sozinhas, possam construir um

mundo melhor. A pós-modernidade destrutiva é o criticismo cultural e filosófico, que desafia as metanarrativas do reconhecimento científico, eliminando todos os ingredientes da modernidade. A pós-modernidade construtiva objetiva revisar os conceitos estabelecidos, aceitando algumas abordagens modernas e até pré- modernas, mas sob uma perspectiva emancipatória (LITTLEDYKE, 1996) [...] ORR (1992) explica que a pós-modernidade construtiva visa ultrapassar a modernidade, revisando premissas e conceitos tradicionais da modernidade e unificando novas

unidades da ciência, da ética, da estética e da instituição religiosa. Embora considere que a modernidade tenha conseguido avanços importantes. (T928, p. 25)

Se olharmos para a pós-modernidade como um conjunto de ideias que pretende romper com o extremismo da objetividade moderna no processo de construção do conhecimento, parece ser este um caminho interessante para limitar a ideia do homem dominador da natureza, da exploração ilimitada, pois neste sentido outras formas de conhecimento podem ser valorizadas, inclusive as que privilegiam uma relação menos dicotômica entre sociedade e natureza.

No trabalho T2254 é destacada a importância de se valorizar outras dimensões para a “vivência individual e coletiva” além das dimensões prioritárias para o desenvolvimento do conhecimento moderno. São as dimensões “não prioritárias no paradigma racionalista da ciência moderna”, tais como “a imaginação, o prazer e a intuição”, como se pode observar no trecho destacado:

[...] a devida importância à dimensão emocional deve estar vinculada ao estímulo do florescimento de dimensões não prioritárias no paradigma racionalista da ciência moderna. O desejo, a imaginação, o prazer e a intuição constituem-se dimensões indispensáveis na nova vivência individual e coletiva que precisa ser construída no novo milênio. A vital importância dessas dimensões explicita-se na recusa da separação entre corpo e mente, espírito e matéria, porque o corpo possui sentimentos e só ele pode experimentar o prazer, a alegria e êxtase. Só ele possui beleza e graça, pois, fora dele essas palavras não têm sentido (T2254, p. 39).

Com a finalidade de expor uma tentativa de vivência da relação com o conhecer que valorize de fato as dimensões consideradas subjetivas, no trabalho T2024 descreve-se a experiência de uma comunidade que pretende vivenciar a pós-modernidade, a Vila do Céu de Mapiá, uma comunidade pautada nos princípios daimistas que corrobora as ideias pós- modernas de reestabelecer a relação homem-natureza com valores mais equilibrados, harmônicos, que estabeleça maior diálogo com as dimensões do simbólico, do sagrado, mesmo convivendo e respeitando a ciência moderna como uma das formas válidas de conhecer.

A estas semelhanças dadas entre a pós-modernidade e “seitas” ou novos paradigmas alternativos, “algo como paraísos na Terra” (T6071, p. 57), interroga-se no trabalho T6071: “Depois de atingir a vida in natura o que fazer?” (Idem, p. 89). Ao que consta neste trabalho, não há respostas, pois o discurso é a-histórico, tanto o pós-moderno quanto o pré-moderno. Este cuidado em não romantizar um passado idílico ou a volta ao primitivismo desmedido também é alertado no trabalho T83, o qual propõe o “bom uso da natureza”, na passagem:

Assim entendida, a crise ambiental não demandaria a negação e a recusa da técnica e o retorno a um estado idílico de relação homem/natureza e, tampouco, o uso desmedido dos recursos naturais. Não demandaria viver com os ursos e como os

ursos e pensar como uma árvore, como sugere a orientação biocêntrica, tampouco, demandaria usufruir impunemente do ambiente esperando que a técnica e a ciência deem respostas satisfatórias aos problemas, aos dilemas e aos impasses. A crise

ambiental pressuporia antes um debate sobre o ‘bom uso da natureza’, o que implica admitir que ‘a técnica não é suficiente para corrigir os efeitos perversos da técnica, e

que devemos usá-la sabiamente’, e que se o homem também é natureza, a destruição dela constitui, em revanche, na sua própria destruição (T83, p. 33).

Ademais, entendemos que no texto do trabalho T2024 não ocorre esta ingenuidade teórica, pois a forma que a realidade da comunidade é descrita inclui suas contradições e limitações.

Nos trabalhos T928, T2577 e T2252 levantam-se críticas contundentes a esta forma de pensar, a pós-moderna, e demonstram que a pesquisa em educação ambiental, pelo menos no que diz respeito aos trabalhos analisados, preocupa-se em traçar limites e dificuldades tanto da Modernidade quanto da Pós-Modernidade. Destaca-se que em um contexto mais amplo, como o campo da Educação ou das Ciências Humanas ou Sociais, estes já o foram frequentemente apontados e já discutidos.

Talvez a crítica mais frequentemente direcionada ao pós-moderno pelos campos de conhecimento que tematizam a questão ambiental seja a “imprudência” de “ignorar a esfera política”, pois para a Educação Ambiental, em particular, “trazer o genuíno sentido de participação dentro da sociedade, talvez seja o maior desafio do ambientalismo” (T928, p. 31). Sobre esta “imprudência” problematiza Harvey:

[...] a retórica do pós-modernismo é perigosa, já que evita o enfrentamento das realidades da economia política e das circunstâncias do poder global. Não é possível descartar a metateoria; os pós-modernos apenas empurram para o subterrâneo, onde

ela continua a funcionar como uma “efetividade agora inconsciente [...] Mas se a

única coisa certa sobre a modernidade é a incerteza, devemos dar considerável atenção às forças sociais que produzem tal condição.” (Idem, p. 32-33)

Outra crítica contundente das Ciências Sociais em relação a Pós-Modernidade também está presente nos textos analisados: a desvalorização do trabalho teórico em prol de um “culto excessivo da imagem”, o que pode conduzir à formação de pesquisadores que sofram com a “incapacidade de pensar” (T2577). Como se observa no trecho destacado:

Mantendo-se enredadas no domínio da manipulação prática da realidade, tendências teórico-metodológicas atuais, cada vez mais invadidas por recursos ‘imagéticos’ criados pelo desenvolvimento técnico-científico, ‘descortinam a novas gerações comportamentos cada vez mais apressados, exigindo-lhes atitudes rápidas e respostas imediatas para problemas instantâneos que, assim como surgem, desaparecem e num piscar de olhos’ (DALBOSCO, apud BALBINOT, 2006, p. 11). O culto excessivo da imagem gera uma aversão ainda maior ao trabalho teórico (crítico e interpretativo) e nos conduz, por último, à incapacidade de pensar. (T2577, p. 40)

Neste trabalho, também se alerta sobre o perigo de que a pós-modernidade possa caminhar para um “relativismo extremado”, no qual “a verdade e a realidade nada mais

seriam do que um constructo ou um efeito do sistema particular de linguagem ao qual pertencemos” (T2577, p. 45). Por todas estas críticas a este modelo de pensamento, percebe- se envolto em sua atmosfera “um mal-estar epistemológico que, em seu profundo ceticismo e desencanto, motivou a pensar além de si mesmo, propondo a agenda que abrigou os ‘pós’, os ‘neo’, os ‘anti-”. (Idem, p. 49)

Parece que este “mal-estar epistemológico” influenciou o processo de escrita do trabalho T2252, no qual “entende a Pós-Modernidade como um período depressivo e desesperançoso, por isso o autor não se denomina pós-moderno” (T2252, p. 119).

Destacamos que as considerações tecidas pelos autores nos trabalhos analisados sobre a Pós-Modernidade referenciam-se em autores modernos, e deste modo, não se pode afirmar que estes trabalhos orientam-se pelo vívido debate epistemológico entre autores pós- modernos e pós-estruturalistas estabelecido no campo da pesquisa em Educação.

Ressalva-se que não houve nas pesquisas analisadas nenhuma referência à “Hipermodernidade”, ou à discussão sobre o tema realizada por Lipovetsky (2004), indicando ser este, até o momento, um espaço interessante para futuramente ser abordado.

4.3.1 A contemporaneidade

Os trabalhos analisados apontam para a dificuldade em conceituar e contextualizar o tempo presente, tanto que nos textos T2577, T7643, T6199, e T6808 a generalização terminológica foi preferida e os trabalhos denominaram-no de “a sociedade contemporânea” ou “realidade contemporânea”. Reafirma-se que estas pesquisas constantemente referenciam- se à Modernidade, em seus distintos aspectos, pois mesmo ressaltando diferenças conceituais tem em comum a preocupação em salientar as características modernas (no sentido de revogação, afirmação ou superação das mesmas).

Neste sentido, concordamos com T2252, quando este afirma que: “Ainda hoje, percebemos reflexos pré-modernos na nossa jornada diária, o que nos demonstra o quanto cremos na tradição, convivendo com as esperanças modernas, as decepções pós-modernas, e as novas esperanças da complexidade” (T2252, p. 120).

O tempo presente, nestes trabalhos, é elemento constitutivo da “Modernidade”, caracterizada nestes trabalhos como “Modernização reflexiva”, trabalhado por Giddens (T83) e Beck (T515, T5240) ou “Modernidade Expandida”, em Berman (T2252).

Para exemplificar segue o conceito de “modernização reflexiva” apresentado no