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E-Público e Serviço Público Online

ANÁLISE INTERNA S (Strenghs)

2.3 Variações sobre a intervenção e o reconhecimento do público

2.3.2 Povo, massa, multidão, público e self – interpretações do colectivo ao particular

2.3.2.7 E-Público e Serviço Público Online

O E-Público, ou seja, o público que possui a capacidade técnica e instrumental de exercer a sua função no âmbito social através da internet, é aqui entendido na sua dimensão sociológica e no modo como incorpora a tecnologia. O público, em sentido abrangente, encontra-se imerso por todo o conjunto de meios de comunicação, suportes e estratégias, sendo duplamente vítima e vencedor do sistema dos media internacional: vítima pela gigantesca avalancha de suportes e conteúdos disponíveis; vencedor por, na medida do possível, conseguir controlar (ou julgar controlar) e gerir os meios e as informações de que precisa (ou julga precisar). E onde deve colocar-se o produto ou a marca que procura cativar o público? Justamente no centro de todos os meios e ferramentas: na centralidade dos motores de busca, dos vários dispositivos disponíveis, nos sites colaborativos que estimulam as redes sociais, em microsites que têm como alvo nichos específicos de mercado e, cada vez mais, nas redes móveis de comunicação.

Para todos os efeitos, o público emergente, em especial os nado-digitais, têm apropriado os instrumentos, integrado as ferramentas de comunicação e contacto e suportado gigantescas redes internacionais de comunicação. Os restantes, os que nasceram na era pré-internet, têm sido forçados a um autodidactismo permanente, à descoberta de competências e de literacias digitais, com lógicas bem diversas da educação livresca, tradicional e linear, própria de esquemas clássicos e tradicionais de transmissão de conhecimentos. Para todos, é desenvolvido o modelo convergente de televisão que “se orienta cada vez más a pequeños grupos e incluso a una situación personalizada en la que cada usuário pueda elegir el canal o programa y vincularlo a outro médio como internet o enviar mensajes a teléfonos móviles. Es llevar la personalización de internet a la televisión” (Cebrián Herreros, 2004:206).

A ambos é dirigida uma das televisões mais inovadoras do momento: a Current.tv, de Al Gore, corresponde ao modelo de uma tv construída integralmente pelos seus utilizadores. É nesta perspectiva que, tendo por base um quadro sociológico, Cádima observa que o estudo do impacte dos programas num público revela que este

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construção do sentido. Para poder segmentar a análise e reorientar os estudos da teoria da recepção aplicada à audiência de televisão, conviria, desde logo, provocar a análise microsociológica no plano das práticas de ver televisão e da competência do telespectador em integrar uma estética da recepção. Num segundo momento, ver como a recepção organiza o texto e lhe dá uma ordem observável e descritível. Finalmente, pensar a recepção como apropriação, isto é, ver como o ficcional, a novelização do real e a realidade-espectáculo se rebatem no real do espectador. É assim óbvio que algo mais deve ser exigido à televisão e algo mais deve ser conhecido do «ser» (do) público”(Cádima, 2001:164).

Estas questões são igualmente teorizadas por Cebrián Herreros que, numa primeira análise, contrasta duas atitudes antagónicas – “Frente a la actuación fisicamente pasiva, aunque mental y afectivamente muy activa, del espectador de la televisión tradicional, emerge el usuário activista e interactivista” (2004:291). Numa leitura mais profunda, Herreros problematiza o poder semântico do utilizador, reconhecendo-lhe capacidades de intervenção que se encontram concentradas, por exemplo no comando à distância. Tal como o nome indica, “comanda” as operações, escolhas e decisões, a partir de um universo de possibilidades previamente definidas pelo operador audiovisual/multimédia:

“El mando a distancia digital há transformado todo el proceso. Nace el usuário com capacidad de seleccionar canales, de buscar otras informaciones paralelas, y en las últimas aportaciones, de interactuar, de navegar, de enlazar, y en suma, de generar un proceso de recepción transformador y creativo. El usuário dispone de capacidad de seleccionar según sus gustos, ideas, sensibilidad, y, además, puede aportar elementos nuevos. Se convierte en un operador semântico en sentido pleno, ya que es quien da sentido o asume el sentido de cada mensaje. El proceso de recepción se plantea, pues, en dos niveles: en el de la capacidad técnica que ofrece cada terminal y en el de la capacidad del usuário de operar semanticamente mediante la selección, interactividad e introducción de datos para configurar una información que elabora personalmente y que asume y utiliza”. (2004:291)

Embora tenha como referente o universo da publicidade, Jesus Bermejo considera ser nos momentos de crise e fractura que se devem percepcionar

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claramente quais os factores de risco das mudanças, mas, fundamentalmente, as oportunidades que estes processos também contemplam. E no que ao campo da recepção diz respeito, Bermejo apresenta o que entende serem campos de intervenção por excelência:

“1. El receptor pasa de ser audiencia (anónima) a usuario (partícipe). Se le brinda así la oportunidad de adoptar un papel más activo.

2. Pasa de ser target a que se busque la personalización de la comunicación (one to one). Ello puede favorecer un mejor afinamiento, en aquello que se prolonga, para la satisfación de sus necesidades.

3. Pasa de ser consumidor a devenir co-creador y de ahí buscador activo de novedad.

4. Deja de se mero destinatario para ser partícipe en la interactividad como remitente o destinador.

5. Pasa de consumidor individual a la creación de comunidades (y, por tanto, la posibilidad de un redescubrimiento del otro que la posmodernidad borró, construyendo así identidades no ya individualistas sino colectivas que ayuden a paliar las actuales angustias de la era hipermoderna en la que estaríamos)” (2008:66).

O cenário apresentado por Bermejo intensifica o que determina por pensamento horizontal, quer isto dizer, o que se alicerça em conteúdos mediáticos fragmentados; por multi-estímulos processados parcialmente; desatenção; hiperestimulação e fluxo informativo excessivamente rápido; ruptura de um tempo de processamento adequado; pensamento horizontal, efémero, transitório, associativo, sensorial, micronarrativas induzidas por programas produzidos; busca do imediato, máxima flexibilidade; pensamento disperso e volátil, como um tornado, volúvel e inclusivamente deslocado (2008:67).

As tendências referidas, e que traduzem uma assinalável aproximação entre o público e as plataformas de comunicação, levam a considerar que “nosotros somos el médio” (Bowman e Willis, 2005:1). Mais que audiência ou target, o público do Sec. XXI, é um membro da (global) comunidade em rede e sujeito crescentemente individualizado. Como observa Bermejo, “en apenas quarenta años hemos pasado de desconocer a la audiência, como así ocurría en los años 70, a intentar personalizarla e individualizarla, como comienza a intentarse hoy” (2008:73).

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O prosumer, primeiramente sugerido por Alvin Tofler em A Terceira Vaga (1984), antevia um cenário materializado no advento do milénio. Pró-sumer (= produtor + consumidor) é um entre imensos termos compostos que caracterizam o mundo contemporâneo14 e neste caso, em particular, Tofler constatava as implicações

avassaladoras contidas na sedução consentida do consumidor pela produção (1984:275). Ao perspectivar profundas mudanças no papel do mercado nas nossas vidas, Tofler vislumbrava alterações radicais na cadeia de produção, que inevitavelmente abriria caminho a uma nova forma de economia, a economia de terceira vaga. Nas transferências de protagonismo entre as actividades meramente de troca e a intervenção do produ-sumo, o autor visionava “que qualquer mudança singificativa no equilíbrio entre produção para uso e produção para troca fará detonar cargas de profundidade debaixo do nosso sistema económico e também dos nossos valores” (1984:278-279). A antevisão deste cenário não podia estar mais correcta, pois ao esboroar-se a cisão entre consumidor e produtor e ao registar-se o fim deste distanciamento e divórcio, é inaugurada uma nova era de mercado em que todos os papéis são questionados, todas as funções interrogadas e se rasgam cenários de múltiplos diálogos – “a emergência de uma nova economia que não se assemelhará às economias nem da Primeira Vaga nem da Segunda Vaga, mas que ao invés, fundirá as características de ambas numa nova síntese histórica” (1984:276).