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Políticas Públicas para a Sociedade da Informação

ANÁLISE INTERNA S (Strenghs)

2.2 Políticas Públicas para a Sociedade da Informação

Os sucessivos esforços políticos em implementar renovadas medidas de implementação de bases tecnológicas têm pecado por tardios, face à globalização do fenómeno da Sociedade da Informação, principalmente, no mundo ocidental. Passadas duas décadas sobre a apresentação do Livro Verde da Sociedade da Informação em Portugal, são evidentes as alterações no funcionamento do aparelho do Estado, no sector secundário e nas empresas, na sua generalidade, embora registando-se um assinalável atraso estrutural. As actuais fracturas existentes no plano da inclusão social e no domínio da literacia tecnológica, não serão facilmente superadas no prazo de uma década, como sustentam alguns dos especialistas analisados.

A prática dos restantes países da União Europeia revela que a administração e as instituições culturais devem assumir um protagonismo na difusão da informação, transformando-se em fortes e estimulantes motores na multiplicação de dados e serviços disponíveis, bem como da sua fruição cívica no quotidiano. Apesar dos (muitos) avanços e dos (inúmeros) bloqueios, entende o autor que existem sérios obstáculos ao desenvolvimento e principalmente na democratização dos recursos existentes. As dimensões culturais, sociais e económicas acusam ser algumas das principais situações que emperram o processo de desenvolvimento da integração digital.

Apesar dos atrasos constata-se que, sob o ponto de vista político e jurídico, Portugal tem, através das últimas legislaturas, manifestado um claro apoio traduzido, mais recentemente no “Choque Tecnológico” e em documentos que suportam a clara aposta de sectores de ponta no domínio das tecnologias de informação e comunicação. Ao nível jurídico, a legislação não tem apresentado condicionantes que impeçam o desenvolvimento destas áreas emergentes, traduzindo-se inclusivamente

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como incentivadora de novas abordagens empresariais suportadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e em renovadas plataformas digitais.

Sociedade da Informação e Mass Media

As propostas teóricas e o enquadramento político apresentado cruzam-se, a partir deste momento, com as questões centrais que envolvem a Sociedade da Informação e a esfera dos meios de comunicação de massa. Com efeito, o entendimento sobre o modo como funcionam algumas das estruturas e equipamentos estatais, em concreto os dispositivos rádio e televisão com responsabilidades em cumprir um Serviço Público, constitui o objectivo central do presente momento do trabalho.

Defende Francisco Rui Cádima (2006a) que “A Sociedade da Informação ou se constrói com os mass media ou far-se-á contra os media com atrasos significativos para o desenvolvimento do país”. A íntima e indispensável relação aqui enfatizada, acentua a tónica particular que deve envolver o movimento global de integração, democratização e acesso livre à informação, bem como aos laços que tais fenómenos devem manter com o funcionamento da comunicação social.

Socorrendo-se de José Gil, o autor refere que em Portugal os mass media em geral, e o Serviço Público de Televisão (RTP1) em particular, não integram/inscrevem “Uma ideia de Educação, Uma Ideia de Cultura, Uma Ideia de Conhecimento, e, em consequência, uma Ideia de Desenvolvimento” (2006a). Na lista das carências referenciadas assinala-se ainda a ausência de “Uma Ideia de Portugal (História/Memória), uma ideia para Portugal (Presente/Futuro), uma Ideia de Europa, uma Ideia de ‘Atlântico’ (África/Brasil), uma Ideia de Sociedade da Informação e do Conhecimento” (2006a). Face ao vazio apontado, e tendo por base as exigências do Serviço Público, Cádima refere a falta de “aprofundamento sobre as realidades críticas do país, muito em particular na área da Educação (…), sobre as realidades dinâmicas do país, da Ciência e Cultura à Economia e também nas áreas da Inovação, das TIC e em tudo o que inscreva uma afirmação da Cidadania, da Sociedade Civil e de Portugal no Mundo” (2006a).

Nas suas apreciações críticas, Cádima assinala o “desassombro editorial face às exigências de comunicação e de relações públicas, aos ‘spin doctors’, aos jornalistas

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‘hipotecados’ como porta-vozes oficiais, ao sensacionalismo e ao pseudo- acontecimento, à agenda do futebol, à actualidade trágica e à catástrofe” (2006a).

O Portugal político que, nas últimas duas décadas, tem acentuado interesses manifestos na implementação de novas bases tecnológicas de informação e de conhecimento (computadores e ligações à Internet), tem passado uma ideia de esforço e mobilização nacional que colide com a heterogeneidade de um país a várias velocidades, estando longe de uma uniformização no acesso aos dispositivos tecnológicos. Se assim é no plano dos desejos e das promessas políticas, encontramos sob o ponto de vista mediático e publicitário um discurso legitimador de alguns mitos e ritos da sociedade da informação. Observa-se que tem sido fundamentalmente através do discurso publicitário que tem ocorrido grande parte da discussão e tematização sobre a SI

“A partir da análise da publicidade televisiva em prime-time (2002), 74,2% da publicidade tematizava a Sociedade da Informação” (Gregório citado por Cádima, 2006a).

Constata-se ainda, no entender de Cádima,

“a renovação dos princípios da democracia e as novas responsabilidades do Cidadão estão claramente (tragicamente) menos nos Mass Media do que nos Cyber Media” (2006a).

Para contrariar as tendências descritas, e tendo por base a evolução para um novo sistema de media no país, Cádima defende uma mudança de condições estruturais que possibilitem um melhor exercício de cidadania na Sociedade da Informação, a saber,

“um sistema que ‘inscreva’ a virtude civil, e a experiência social e de cidadania; que ‘inscreva’ as boas práticas culturais, empresariais, tecnológicas, científicas, etc; um sistema que se paute pela ética e pela responsabilidade social; um sistema que discrimine o acontecimento, não em função do ‘telespectador estatístico’ mas em função da integridade da natureza humana, do desenvolvimento sustentado e de um modo social justo e solidário” (Cádima, 2006a).

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Que solicitar ao Estado? Seguindo o raciocínio de Cádima há muito que se torna urgente acentuar o reforço da regulação dos Media, sempre em função do Interesse Público. Daí que, esquematicamente, aponte a necessidade de existir

“Uma regulação, no caso português, com uma atenção muito particular à Televisão, sendo certo que a displicência do audiovisual relativamente aos temas da SI é uma grave negligência no plano da responsabilidade social dos Media;

Uma regulação que contribua para o reforço e emancipação da Opinião Pública em Portugal;

Uma monitorização atenta dos operadores públicos e privados face às suas responsabilidades cívicas e legais, em defesa da Identidade Cultural Portuguesa e do Interesse Público nacional” (2006a).

O atraso estrutural no âmbito da Sociedade da Informação, na sua relação com os meios de comunicação de massa, tem evidenciado alguns aspectos que poderemos sintetizar nos seguintes pontos:

A publicidade tem servido como aposta pontual, por parte dos sucessivos governos, para passar a mensagem de investimento e de cumprimento da Sociedade da Informação;

As principais discussões têm decorrido no âmbito dos organismos e da academia, não configurando uma participação cidadã no debate das ideias;

O discurso mediático, por regra negativista no relato dos acontecimentos, nem sempre tem contribuído da maneira mais pedagógica no esclarecimento público; Têm faltado alianças estruturais entre o Estado e os Grupos de Media, no sentido de mobilizar e envolver activamente o principal parceiro mediador com o grande público;

Por fim, e este é um alerta deixado por Cádima, “Pelos Media passam em grande parte as condições de possibilidade de projecto da SI para Portugal. Quanto mais os Media o esqueçam ou iludam mais difícil será a inscrição da SI e da Cidadania no quotidiano dos portugueses” (2006a)

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