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5. Política externa independente (“Autonomia pela diversificação”)

3.4. A parceria Estratégica (1993-2003)

Na virada da de oitenta para a década de noventa do século XX, observa-se mudanças estruturais no campo a economia e da politica internacional. A partir do fim da Guerra Fria, movimentos são percebidos na direção da expansão do capitalismo

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MRE, DAI – Divisão de Atos Internacionais. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos- internacionais/bilaterais/1988/b_44

internacional (no sentido da financeirização e da abertura econômica dos países). No Brasil tais ações foram densamente sentidas, modificando o modo em que o país enxergaria sua inserção internacional.

O surgimento de uma nova articulação em política externa acompanha a direção dos países desenvolvidos (“Autonomia pela integração”76

) em detrimento de parcerias com países do “Sul”. Esta mudança de rumo é sentida também na relação com a China. A China por sua vez dava continuidade ao seu plano de inserção e ascensão pacífica no sistema internacional. Dentro de sua estratégia, a América Latina (e consequentemente o Brasil) continuava a ser entendida como parceiros necessários para a estabilidade geopolítica por serem grandes fornecedores de matéria-prima.

Com a entrada no poder do governo Itamar Franco, em 1993, esforços foram feitos para que se rearticulassem as relações com a China (através da continuação de projetos como o Cbers) e na tentativa de se imprimir parcerias em outros campos, como na tentativa de grandes empresas empreiteiras brasileiras em fornecer capacitação,

know-how e pessoal qualificado para grandes empreendimentos como a construção de

hidrelétricas na China.

Tabela 3.1: Exportações e Importações Brasil-China (1990-2010)

Ano Valor das Exportações ( milhares de dólares)

Valor das Importações (milhares de dólares) 1990 $381.799 $203.459 1991 $226.395 $75.101 1992 $460.035 $57.297 1993 $779.384 $156.979 1994 $822.408 $196.813 1995 $1.203.744 $417.931 1996 $1.113.819 $1.255.422 1997 $1.088.204 $1.292.316 1998 $904.863 $1.146.977 76Cf, capitulo2.

1999 $676.123 $943.036 2000 $1.085.207 $1.350.806 2001 $1.902.095 $1.468.655 2002 $2.520.442 $1.697.772 2003 $4.532.542 $2.330.922 2004 $5.440.270 $4.054.274 2005 $6.833.656 $5.836.206 2006 $8.399.512 $8.595.943 2007 $10.743.845 $13.677.181 2008 $16.403.019 $21.738.897 2009 $20.190.842 $16.940.426 2010 $30.804.640 $27.824.414 Fonte: BADECEL/Cepal

Em 1990, o Brasil exportou para China o montante equivalente à US$381.799 e importou US$203.490. Em 1994 o montante de exportações mais que dobra, enquanto as importações continuam oscilando. Esta retomada comercial colaborou de forma importante para que as relações entre o Brasil e a China fossem elevadas e um novo grau. Esta evolução fez com que as autoridades de ambos os países reconsiderassem a parceria entre as nações. Nos três anos seguintes esta cifra ultrapassou a marca do Bilhão.

As relações comerciais nos primeiros anos da parceria estratégica Brasil-China não foram muito expressivas se comparado com o período seguinte. Seja do ponto de vista do volume de intercâmbio, seja do ponto de vista da participação da China no na balança comercial total brasileira. Talvez pelo fato de a que economia brasileira estivesse passando por um momento de reajuste e reforma durante o período, o comércio exterior tenha sido afetado de maneira mais acentuada. Do ponto de vista chinês, deve-se levar em conta que o processo de reforma e influencia sobre o mercado internacional fossem menos sentidos nos fluxos de mercadoria mundiais do que a fase posterior a sua entrada na OMC, em 2002. Podemos perceber esta situação através da Tabela 3.1 e do Gráfico 3.2.

De forma sucinta, o saldo comercial entre Brasil e China na década de 1990 obteve uma média de superávit de US$150 milhões. Fatores como a maior internacionalização da economia brasileira no período, A sobrevalorização do Real entre 1994 e 1999 podem explicar o porquê da manutenção da balança comercial em nível comparativamente baixo em relação à década anterior (US$150 milhões).

Do ponto de vista chinês, a manutenção de parcerias estáveis com os países latino-americanos era importante para a obtenção de matéria-prima e recursos energéticos, assim como para a manutenção de canais de comercio para o desembarque dos seus produtos em potenciais mercados consumidores. Pela parte brasileira o governo FHC (1995-2002) procurou aprofundar as parcerias comerciais e em projetos de ciência e tecnologia com a China, embora o foco de sua política externa estivesse voltado para a integração com os países desenvolvidos e em uma maior participação do Brasil em foros multilaterais.

Neste sentido, foram realizados acordos como o “Acordo de quarentena

vegetal” (1995), que tinha por finalidade:

“evitar a introdução de enfermidades, pragas e ervas daninhas sujeitas a quarentena (daqui em diante referidas como "pragas de quarentena") no território de qualquer das Partes Contratantes, para proteger a produção agrícola, para promover o desenvolvimento do comércio de

plantas e produtos vegetais, e para reforçar a cooperação no domínio da quarentena vegetal entre os dois países”.77

Ainda houve visitas oficiais, como a visita da delegação brasileira em 1999, chefiada pelo Secretário dos Direitos Humanos, Doutor José Gregori, e integrada por representantes da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, do Ministério das Relações Exteriores, do Programa Comunidade Solidária e do Governo do estado de São Paulo. A visita da delegação brasileira deu continuidade à cooperação bilateral em matéria de direitos humanos iniciada com o envio, em fevereiro de 1997, de missão à China, também chefiada pelo Secretário de Estado dos Direitos Humanos, e seguida de visita ao Brasil, em setembro de 1997, delegação chinesa chefiada pelo então Vice- Ministro da Justiça, Senhor Zhang Xiufu.78

Também avançou nesta época o projeto de cooperação científica do Cbers. Esta evolução acontece de forma interessante e devidamente contextualizada com as expectativas de ambos os países em aumentar a autonomia em relação aos países desenvolvidos em matéria de tecnologia. Após difíceis tempos de negociação e falta de verba para a continuação do projeto, foram registrados novos documentos de aprofundamento da parceria espacial permitindo avanços na produção e fabricação dos satélites sino-brasileiros. Em 1999 foi lançado o primeiro satélite, o CBERS-1.

A partir de 2000, observa-se uma evolução paulatina e estável da corrente comercial sino-brasileira. Entre possíveis explicações para tal avanço, podemos citar o fim do Plano Real no Brasil (a quebra da paridade entre o dólar e o real) e o fim da crise asiática. Tais acontecimentos podem ter ajudado a aumentar o fluxo comercial entre as nações.

Assim no começo do século XXI as relações sino-brasileiras passam por um estágio de excelente entendimento político. Este entendimento se deve, em certo grau, a superação de obstruções políticas no sentido de dar mais força à complementaridades das cadeias produtivas entre os países, como veremos na análise da última fase abaixo.

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MRE, DAI – Divisão de Atos Internacionais. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos- internacionais/bilaterais/1995/b_97

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MRE, DAI – Divisão de Atos Internacionais. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos- internacionais/bilaterais/1999/b_26

3.5. As relações bilaterais sino-brasileiras no século XXI: Da parceria estratégica à