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CAPÍTULO 4 – QUANTO AO LUGAR DO JOVEM NOS CÍRCULOS

3. O Personagem “homossexual”

Em dois dos círculos restaurativos que acompanhamos, pode-se perceber que são atravessados por aspectos vinculados a sexualidade dos jovens participantes. Ambos referem-se a conflitos entre colegas de sala de aula e são marcados pela exclusão desde aluno, ao qual é atribuído o Personagem “homossexual” e pelo qual os jovens são identificados por seus colegas.

No Círculo 1, apesar de não ficar explícito nas falas dos participantes, percebe- se que este aspecto fica como não-dito, nos olhares trocados entre os participantes. Percebem no adolescente alguns “trejeitos”, como gestos e maneira de se expressar atribuídos ao Personagem “homossexual”. Não podemos afirmar até que ponto este Personagem é conservado e transferido, pelo efeito Cacho de Papéis, para outros Papéis sociais deste adolescente. Entretanto, fica evidente que no contexto escolar, em seu Papel social de aluno, este Personagem se destaca e é um dos motivos de sua exclusão pelos demais adolescentes da sala.

Ao final deste círculo, as facilitadoras acreditam que seria necessário encaminhar o adolescente para atendimento psicológico. Apesar de não explicitarem claramente o motivo do encaminhamento, parece que o mesmo está vinculado ao Personagem “homossexual”, atribuído ao adolescente.

No Círculo 3, as falas referentes a este Personagem “homossexual” ficam mais evidentes:

F1 – Ele alguma vez já demonstrou algum tipo de interesse por você? Que você tenha percebido?

Ad – Teve uma vez que ele falou que eu era linda e que minha pele era bonita. Só isso. (longo silêncio) (tosse)

F1 – Tem namorada esse menino? Ad – Ele? Não.

F1 – Nunca se insinuou pra você? Ad – Só essa vez.

F2 – Por que você acha que ele fez essa agressão em palavras pra você?

Ad – Então, ele disse que eu ofendi a sexualidade dele. Só que quem falou foi a minha colega e foi ai que ele começou a me xingar, porque ele pensou que eu que tinha falado, só que eu não tenho porque falar porque eu tenho homossexuais na minha família, então eu não sou desse tipo de pessoa, porque minha mãe me deu educação. (silêncio)

F1 – Ele é... ele tem algum... (trejeito)

Ad – Boatos que correm na escola... que ele é homossexual. (Círculo 3)

Novamente a atribuição deste Personagem é dada pelos “trejeitos”, ou seja, formas de se comportar, gestos, aspectos cênicos deste Personagem. Inicialmente, questionam o interesse do rapaz pela adolescente, para depois ela esclarecer que o Personagem “homossexual” é atribuído ao rapaz pelos colegas, através de boatos que circulam na escola.

Outro aspecto referente à sexualidade é destacado no círculo desta mesma adolescente:

Ad – Eu acho assim, ele pode ter raiva de mim por algum motivo, eu não fiz nada, sou na minha, sou quieta. Só que ele começou a me xingar do nada. Dele ter me tratado mal assim, meu, machuca, claro, mas o pior é ser ofendida com palavras que você não é. E a escola inteira olhar pra sua cara e: olha a vagabunda, rasgadeira. (Círculo 3)

Os ataques a sua reputação são percebidos pela adolescente como violências mais graves que a própria agressão física que sofreu, pois é atribuído a ela um Personagem com o qual não se identifica e que não aceita.

II - De quando o jovem tem voz e de como ele se apresenta:

Apresentamos, inicialmente, o ocorrido no Círculo 1, visto que, se comparado aos outros círculos que acompanhamos, este se diferencia por uma maior participação dos adolescentes. É importante destacar que, num primeiro olhar, já que este foi o primeiro círculo restaurativo que acompanhamos, impressionou-nos positivamente perceber que, na prática, o método da Justiça Restaurativa estava sendo aplicado. Isto porque, neste círculo, o foco foi potencializar e dar voz aos adolescentes, como participantes ativos na explicitação e na resolução do conflito, buscando melhorar o relacionamento inter-pessoal e cessar o conflito. No entanto, já naquele momento, questionamo-nos acerca do porquê da não participação das mães no estabelecimento do acordo.

Um dos argumentos utilizados pelas facilitadoras é o de que, pelo que percebem na prática, entre os adolescentes o conflito é muito mais rapidamente resolvido do que com a presença das mães.

Quando os dois ficaram sozinhos na sala, apenas com as facilitadoras, eles se olharam e sorriram de maneira aparentemente afetuosa. A adolescente caminhou para se sentar ao lado do adolescente, mas a facilitadora interrompeu e pediu que ela se sentasse de frente para o mesmo. Esta colocação visou um afastamento físico dos dois, evitando possíveis agressões, mas principalmente, fazer com que eles se olhassem nos olhos enquanto conversavam.

Problematizando como a participação dos jovens se dá nos círculos restaurativos, foco desta pesquisa Veremos que em outros círculos que acompanhamos esse foco no diálogo entre as partes não apareceu tão fortemente como aqui. Além disso, fica evidente que a participação dos jovens é atravessada, tanto no contexto escolar como do próprio círculo, pelos Personagens atribuídos a

eles ou por eles desempenhados. Na cena a seguir, descrita por um jovem no círculo restaurativo, ele é convidado a uma conversa reservada com a professora no dia seguinte ao conflito:

Ad – “Eu falei que eu não ia, que eu ia acabar me revoltando de novo e acabar me prejudicando, piorando minha situação. De tanto ela (inspetora) insistir acabei indo. Só que eu não sabia que ía tá só eu e ela. Sentei, abaixei minha cabeça e ela começou a falar, falar... que não queria ter tido aquela atitude, que nunca me viu daquele jeito. Aí eu expliquei pra ela porque eu reagi daquele jeito, que eu tava tentando mostrar pra ela o máximo de mim, que eu mudei, não é porque eu sou repetente que vocês vão ter que ficar me zoando, me dando esporro na sala. Ela me pediu desculpas, disse que a intenção não foi essa, o que eu precisar ela esta ali pra me ajudar. Veio querer me abraçar, essas coisas... Não sei porque ela teve essa reação, porque ninguém muda de opinião assim de um dia pro outro, tão rápido assim. Disse que ía fazer o máximo pra retirar esse Boletim de Ocorrência”. (Círculo 2)

Fica evidente neste relato que o jovem foi convocado a um conversa com a professora e ele assume, imediatamente, a postura do Personagem que lhe cabe nesta complementaridade de Papéis (professor-aluno), o de aluno “silenciado”: abaixar a cabeça e ouvir. Este é o Personagem que é convocado para esta conversa com o Personagem da professora “autoritária”, que impõe o respeito pela submissão e silêncio do aluno.

Mas algo acontece no contexto privado:

Ad – A atitude dela mudou 100%.

F1 – Talvez também ela fez uma atitude impensada né?

Pesq – Porque você acha que ela mudou? (busco problematizar a mudança)

Ad – Não sei, até hoje não sei o que aconteceu com ela, não sei se ela viu que ela foi um pouco prejudicada... não sei! Não sei!

F1 – Talvez ela fez isso numa atitude impensada mesmo, e depois percebeu... porque na realidade ela também se prejudicou. Então... vai saber... às vezes...

Ad – É, eu não sei, eu não vou julgar porque eu não sei... F1 – Então você tem que conversar com ela pra ver o porquê...

Ad – Se ela tá fazendo isso de propósito eu não sei, só sei que o meu ambiente na sala dela tá melhorando muito, é isso que eu quero. Se ela gosta de mim... ela não é obrigada a gostar de mim e nem eu dela. Ela tá trabalhando e minha obrigação é estudar. Então... eu entendendo o que ela tá me passando e ela entendendo que eu tô me esforçando é o que importa! Dificuldade na matéria dela eu tinha... a explicação dela é boa, é boa. Só que... eu não sei te explicar... aquele... entre eu e ela... ela... não dá! (Círculo 2)

Chama atenção a clareza do jovem em relação aos Papéis sociais que estão em jogo na relação, assim como os afetos que a perpassam. Fatos que até então interferiam prejudicando a relação.

Com a conversa, os dois conseguem rever a complementaridade de papéis da relação aluno-professor e transformá-la, reconstruí-la mais espontaneamente, sem o peso nem a interferência dos Personagens desempenhados até então. Para o jovem não fica claro, ele não entende o que aconteceu, mas percebe a mudança na postura da professora, e só consegue atribuí-la à possibilidade de ela ter se prejudicado de alguma forma por sua atitude. A professora, retirando a máscara do

Personagem professor “autoritário”, possibilita que o aluno, no contra-papel, possa mudar e não desempenhar o Personagem do aluno “silenciado”. Assim, pode expressar-se e dizer a ela – que agora está ouvindo – que não desempenha mais o Personagem aluno “problema”, máscara pela qual era olhado pela professora e que impedia olharem-se para além das máscaras.

Interessante que esta mudança inter-relacional só possa ocorrer numa conversa reservada. Parece que os demais alunos não podem ver a professora fora deste Personagem “autoritário”, pois é o meio que ela encontrou de garantir e não perder o respeito deles.

O jovem estende, durante algum tempo, elementos do Personagem “silenciado”, para as relações familiares:

Ad – A professora tava me tirando do sério e eu não tava com cabeça de ir pra aula dela. I – Ele dizia: “Me tira da escola, não quero estudar lá”. Eu não entendia o porquê.

Ad – Porque eu nunca quis levar o conflito, lidar com ela.

I – Eu não entendia que era porque ele tava se sentindo agredido pela professora.

Ad – É que eu não levava o problema pra casa porque eu sabia que ela (irmã) ia querer conversar, e eu conheço, ia acabar me prejudicando. (Círculo 2)

A partir daí, no círculo, começa a se evidenciar que, para deixar de desempenhar este Personagem aluno “silenciado”, a única solução é a intervenção de alguém com mais autoridade que ele, com voz perante a professora, pois ele, sem voz, não pode colocar-se contra um professor:

F1 – Talvez se você tivesse descido na hora que ela mandou, talvez não tivesse... (ela pensa e recoloca a questão) você acha que talvez não tivesse chegado nesse ponto?

Ad – Ah, eu acho que não. Porque se tivesse descido acho que a coordenadora ia chamar ela e ver o que tava acontecendo. Mas também eu acho que depois de um tempo ela ia continuar igualzinho. Ela não ia ter... porque é um aluno contra um professor. Acho que a coordenadora ia conversar com ela e só. (Círculo 2)

Ele percebe que, mesmo assim, ele continuaria sendo visto pela máscara do aluno “problema” que precisa ser “silenciado”. Como ele afirma: “Ela não ia ter...” Poderíamos acrescentar à sua fala: “me olhado verdadeiramente”.

A – E outra, ela nunca relatou (pra diretora). Então era tipo na sala, entre eu e ela. O engraçado é que quando ela entrava na sala todo mundo sentava, não de respeito, de medo. Mas sempre 3 ou 4 alunos desciam, por implicância dela, achava coisa onde não tinha. O engraçado que a sala inteira quieta, tipo aquela autoridade, mas sempre saia alguém, sempre. (Círculo 2)

Percebemos aqui o mecanismo de imposição de respeito muito utilizado por adultos para o controle de crianças e jovens, o medo:

I – Nem a escola sabia porque ele não descia pra falar com a coordenadora, ele tomava tudo pra si e acabou. Ele tentava resolver ele mesmo, entendeu? Uma coisa que é errada. E ele falava que com todos os alunos ela descia, ele não, simplesmente mandava sair da sala...

Ad – Como se eu fosse... Eu ficava enrolando, conversava, fingia que ía na biblioteca, disfarçava.

I – Ela nem fazia ocorrência nem nada, ele tinha que se retirar da sala de aula, ficar pra fora, e às vezes ele tomava advertência por estar fora da aula.

F1 – E agora o que você percebe, quando acontecer alguma coisa? Você tem que fazer o quê? Procurar alguém. Não tem?

Ad – Procurar alguém... mais... superior a...

F1 – Então, no caso sempre tem que descer e falar com o coordenador, direção, alguém. Porque talvez se tivesse falado desde o começo como você se sentia, o que acontecia, a maneira que ela te tratava, talvez não tivesse chegado aqui onde chegou. Às vezes a gente por achar que pode resolver tudo sozinho... às vezes complica, né?

Ad – Eu tinha medo! Porque ela fala na sala de aula que não adianta chamar ninguém, que a gente é uma peste na sala de aula, que quem mandava ali era ela, que podia chamar qualquer um que ninguém ia passar por cima dela. (Círculo 2)

O medo reforça e mantém o silêncio do jovem, silenciando inclusive qualquer movimento seu de resistência em relação ao conflito e às agressões sofridas. Além disso, fica evidente que o sair de sala acaba por reforçar o Personagem aluno “problema” para os demais professores e profissionais.

O jovem busca evitar o confronto com a professara, silenciando-se por medo, mas também acreditando que isso apaziguaria o conflito. O que podemos ver é que, antes da conversa reservada com a professora, ele não encontrou mecanismos para a resolução deste conflito, pois a evitação do conflito, seja pelo silenciamento, seja pelo apaziguamento ou distanciamento, não é capaz de cessar um conflito numa inter-relação.

A prática restaurativa propõe um espaço onde o diálogo sem julgamentos deve ser privilegiado, onde o jovem tenha voz, assim como todos os participantes, possibilitando uma mudança relacional e a resolução do conflito.

Vejamos, entretanto, como foi conduzida a escuta inicial269 de um jovem no círculo restaurativo, contrapondo-se aos círculos que problematizamos anteriormente neste tópico:

F1 – Vamos lá. O que aconteceu? Você levou um Boletim de Ocorrência né? Você sabe que é complicado né. O primeiro não é pra assustar, é pra alertar. Primeiro o Juiz deu a oportunidade pra vir pra cá. Se você arruma outra confusão, ou seja, na escola ou com alguma outra coisa que tenha um outro Boletim de Ocorrência, então a situação pode complicar pra você, tá bom? Então fala pra mim, o que aconteceu pra você ter que vir aqui?

Ad – Então, foi assim, tinha uma lâmpada lá no banheiro, os meninos tiraram e colocaram de lado, aí eu fui no banheiro. Aí os meninos, ah vamo quebrar, aí eu falei: não quebra. Peguei a lâmpada, fui entregar pra diretora, aí ele, eu nem sabia que ele era professor, só sabia que ele ficava regando as plantas. Aí ele não sei o que, começou a xingar minha mãe, começou me xingar, aí eu não agüentei e comecei a xingar ele. Nisso, eu xinguei ele tão rápido, mas tão rápido que ele pensou que eu tinha ameaçado ele, só que eu não tinha ameaçado ele, aí os meninos me pegou, as meninas me puxaram de lado, aí eu fui lá e conversei com a diretora, aí a diretora mandou pedir desculpa pra ele, tudo, aí depois eu não vi mais ele. Aí depois foi o dia que ele abriu o negócio contra mim.

F1 – Como é que você como aluno é na escola?

269 Esta foi uma cena que ocorreu no início do círculo restaurativo, onde estava presente apenas o jovem e sua

avó. Os professores já haviam sido escutados e estavam do lado de fora da sala. Este é o momento em que o jovem pode expor, por seu olhar, o que aconteceu, o conflito e seus desdobramentos, inclusive afetivos e de prejuízo da relação em questão.

Ad – Regular.

F1 – Vai sempre nas aulas, não falta muito? Ad – Não.

F1 – Tem problema de disciplina, da mãe ser chamada de vez em quando? Ad – Não.

(perguntas sobre a lista de alunos e sobre a família não ter sido chamada na escola) F1 – Já teve algum incidente com outro professor na escola?

Ad – Não.

F1 – Você costuma responder, trata com educação, como é que é o seu comportamento? Ad – É regular como eu disse pra senhora. Só que assim, quando eu tô quieto, eu faço tudo direitinho, aí quando os outros me provocam, aí, se os professores me xingar, xingar minha mãe, eu vou responder, não pra xingar assim, só vou discutir, mas não xingar mãe e pai.

F1 – Em momento nenhum você ameaçou o professor? Ad – Não, em momento nenhum, não ameacei ninguém. Av – Ele (professor) falou que ameaçou.

Ad – Tava lá no papelzinho do Fórum, ameaça, mas sendo que nem eu ameacei, os meninos sabem que nem eu ameacei.

F1 – Nunca aconteceu de pegar você pichando? Porque você não precisa ter medo, aqui é informal, tudo aquilo que acontece é bom você falar, e sempre procura falar a verdade porque vai te ajudar e vai esclarecer a situação.

Ad – Claro.

F1 – Então não teve nenhum incidente, nenhum episódio? Depois que aconteceu isso, não teve outro incidente com esse professor que tá aí fora?

Ad – Não, se teve eu falo.

Av – Não, não teve, pelo que ele falou não teve mesmo. Ele não sabia nem porque tinha sido chamado, ele não sabia.

F1 – E como é que você se porta na aula de Educação Física? Ad – Normal, jogo bola, tudo.

F1 – Não tem problema com o professor? Nunca teve problema de disciplina? Ad – Não, de disciplina não.

F1 – Nunca teve problema com os menores da quinta, sexta série, assim. Ad – Não, também não.

F1 – Então fora o incidente da lâmpada dentro do banheiro, depois disso não aconteceu mais nada?

Ad – Mais nada.

F1 – Então fora isso não aconteceu nada? Ad – Nada, nem piche, nem nada.

Av – Olha, ele apronta só se for dentro da escola, só se for lá dentro que eu não tô vendo. (Círculo 4)

Ao entrar na sala do círculo, o jovem já é percebido pelo Personagem, o aluno “problema” e “violento” e, como ele não assume os atos que lhe são atribuídos, nega todos, o interrogatório segue para ver se em algum momento cai em contradição e este Personagem e a verdade aparecem.

O que percebemos é que a facilitadora, por ter escutado primeiro os professores que detalharam o Personagem, busca confirmar os fatos relatos pelos professores, por uma escuta pouco imparcial, que dificulta olhar para o jovem sem ser por este Personagem. Nesse momento, assim como a facilitadora, sinto minha escuta e olhar também contaminados pelo Personagem apresentado, apesar de permanecer em silêncio.270

270 Importante destacar que é neste círculo que sou convidada a atuar como facilitadora. Inicialmente me

O que se evidencia é que o jovem esconde-se na máscara de “bom moço” que veste para negar as afirmações do professor, no intuito de camuflar ou mesmo negar e resistir ao Personagem que lhe é atribuído.

Até esse momento, a avó não conhece o Personagem aluno “problema”, pois não é jogado no contexto familiar. Mas, após o relato dos professores, no transcorrer do círculo, é surpreendida pelo Personagem que é atribuído ao jovem.

O “interrogatório” do jovem continua, até o fim do círculo, agora com a presença de todos participantes:

Prof – Então A (jovem), acho que você precisa assumir, eu não estou aqui para, até falei pra ela, o compromisso que eu quero aqui é de não depredar a escola e mudar de comportamento, ou seja você vai pra escola pra estudar, pra se promover na vida, porque você este ano já está fazendo a oitava pela segunda vez. Então você vai pra escola pra estudar, eu acredito que seus pais te coloquem na escola pra estudar, esse é objetivo. O objetivo não é pra você ficar fora da sala de aula, não é pra ficar no pátio, no banheiro, é estudar. É isso que a gente quer de você. Se você não assume isso A (jovem), você que se prejudica A (jovem). Porque olha a escola pra você é passageiro, nós vamos continuar na escola, você vai ficar um tempo, depois seus pais é que vão tomar conta de você. Então na escola você vai ficar um tempo e a vida? Na escola você não é xingado, todo mundo tenta conversar. Professor tem que ser profissional, eu não xinguei você. Eu simplesmente pedi a lâmpada, eu levei lá, e quando você me chamou pras porradas, primeiro eu conversei com os professores, se fosse só aquilo ali, ficaria por ali, mas você vem fazendo isso desde o começo do ano, então precisa abrir um Boletim de Ocorrência porque não pode ficar assim. A (jovem) não mente, você não tava no muro?

Ad – Não.

Av – Você não tava? Então prova pra ele que você não tava. Quem é sua prova? Ad – Os meninos.

Prof – Ele estava em cima do muro.

F1 – A (jovem), lembra que a gente falou, quanto melhor falar a verdade, melhor é pra todo mundo aqui. Que nem você falou, aula vaga. Aula vaga não conta. Então ele tá dizendo que você tava em cima do muro, você diz que não tava, você disse que chamou as meninas pra vir aqui, não compareceram. Então, mesmo que fosse aula vaga, tem 191 faltas, então é sinal que de algumas aulas você não participa. O prejudicado nessa escola é você mesmo. Que nem, a sua mãe trabalha pra sustentar você tudo. Você tá se prejudicando e você tá dando prejuízo pra sua mãe, na sua mãe.

Av – E muito, teve o dia do Fórum, ela teve arritmia por causa dessa história, ela tá mal pra caramba.

Prof – Porque você faz isso A (jovem), porque que você não melhora. Você faz a sua parte olha...

Av – Eu tô perguntando que tem escola que xinga, tem professores que xinga sim, eu to só perguntando, o senhor não xingou ele?

Prof – Não, se a senhora quiser uma prova, a senhora pode conversar com os alunos... Av – Eu tô só perguntando pro senhor. O senhor não xingou?

Prof – Não, de modo algum.