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CAPÍTULO 5 POLÍTICAS BÁSICAS DE AQUISIÇÃO DO BANCO

5.5 Planejamento das Aquisições

De maneira análoga aos demais Organismos Internacionais de Cooperação, o BID considera que o planejamento e a coordenação das aquisições são indispensáveis para a boa execução de um projeto. Para tanto, atribui ao mutuário a incumbência de preparar o plano geral de aquisições, a ser estabelecido com o Banco durante o estudo da operação.

Destarte, o BID estipula que o plano deve incluir, no mínimo, informações inerentes aos limites da licitação pública internacional aplicados ao projeto, a todos os bens, obras e serviços necessários à implementação do projeto, às características e aos valores estimados dos diferentes contratos em que serão agrupadas as aquisições, à fonte de financiamento e ao sistema de aquisições previsto para cada contrato, em função das regras estabelecidas para cada sistema de aquisições, às qualificações prévias e às licitações a serem convocadas para adjudicar os contratos, e às datas previstas para as principais etapas do processo de aquisições, inclusive para a entrega das obras, bens e serviços142

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Ainda no campo do planejamento das aquisições, o BID tem por norma estabelecer pacotes de licitação, no sentido de que, sejam agrupados os bens de modo a possibilitar o seu fornecimento por uma só fonte, desde que as características do mercado assim o permitam.

O Banco estabelece, outrossim, como praxe, incluir, no mesmo pacote de licitações, diferentes contratos de prestação de serviços de natureza similar. Entre

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outros fatores que podem ser considerados no agrupamento de aquisições encontram-se a necessidade de datas diferentes de entrega ou o escalonamento das entregas e as exigências de homogeneidade nas características de certos serviços. Em geral, o Banco prefere contratar separadamente, de um lado, o fornecimento de bens e equipamento e, do outro, a execução de obras143.

Ora, a diretriz de agrupar bens para possibilitar o fornecimento por uma só fonte tem por escopo buscar a chamada economia de escala que, nada mais é do que, a regra de mercado que estabelece que quanto maior for a quantidade de bens a adquirir, maior a possibilidade de obtenção de um preço mais baixo.

Ora, a previsão de agrupar bens e obras, objetivando a economia de escala, está em perfeita consonância com o art. 23, § 1º, da Lei 8.666/93, in verbis:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação:

[...]

§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela administração serão divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à amplicação da competitiivdade, sem perda da economia de escala.144

Assim, a busca da economia de escala também é objetivo previsto na legislação nacional, e está em harmonia com o Princípio da Economicidade.

No campo das compras governamentais, entretanto, especial cuidado deve ser tomado, no sentido de que, o agrupamento de bens para fins de aquisição pode,

143 Banco Interamericano de Desenvolvimento, Políticas Básicas de Aquisição, item 2.4 (a). 144 BRASIL. Lei no 8.666/93, com a redação dada pela Lei nº 8.883/94: Op. cit.

também, ter como conseqüência, um direcionamento indesejável, com reflexos no campo da moralidade, da ética e, em conseqüência representar uma afronta ao Princípio da Economicidade.

As Guidelines do Banco aventam a possibilidade de contratação de objeto determinado pelo agrupamento de projeto e construção para a execução de projetos altamente complexos, quando forem evidentes as vantagens de consolidar num só empreiteiro os serviços de engenharia, fornecimento de equipamento e construção. Não obstante, o Banco lembra que cumpre ponderar essas vantagens em função do custo geralmente maior dos contratos desse tipo145

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De bom alvitre esclarecer que esse tipo de agrupamento deve ocorrer somente em situações especiais, devidamente justificadas, sendo certo que, o Banco atribui a esse tipo de contratação, a denominação de contratos chave na mão.

Ao se tentar estabelecer um paralelo com o Estatuto Nacional das Licitações, chegar-se-á, infelizmente, à conclusão de que há conflito de normas, eis que, a lei brasileira, de maneira diversa, estabelece que:

Art. 9o Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: I - o autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física ou jurídica;

II - empresa, isoladamente ou em consórcio, responsável pela elaboração do projeto básico ou executivo ou da qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% (cinco por cento) do capital com direito a voto ou controlador, responsável técnico ou subcontratado146

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Banco Interamericano de Desenvolvimento, Políticas Básicas de Aquisição, item 2.4 (c).

Pode-se inferir que, enquanto a lei nacional veda que a pessoa física ou jurídica que elaborou o projeto básico ou executivo participe da licitação que visa selecionar o executor da obra, a norma do BID admite essa possibilidade, em situações especiais devidamente justificadas quando forem evidentes as vantagens da consolidação.

Trata-se de situação de difícil deslinde para o agente público nacional, já que o comando estatuído na Lei 8.666/93 tem por espeque evitar que o autor do projeto o elabore direcionando a execução do objeto para si.

Embora a norma brasileira destina-se a evitar a participação sucessiva de uma mesma empresa em licitações seqüenciadas e a norma do BID refira-se a uma mesma licitação em que uma mesma empresa possa sagrar-se vencedora de um objeto determinado pelo agrupamento de projeto e construção, tal alternativa permitida pelo Banco pode limitar a competição, e afastar do certame empresas que militem somente no campo da construção (empreiteiras).

Adotar tal procedimento pode representar uma afronta aos princípios da moralidade, da imparcialidade e do estímulo à competição.

Ocorre que o texto da norma do Banco é da mais vetusta clareza, eis que preconiza que o Banco poderá aceitar essa espécie de contratação, denominada chave na mão, somente em situações especiais devidamente justificadas.

Assim, o Banco não obriga, aliás, estabelece que pode aceitar contratações de tal naipe, o que nos faz inferir que tal hipótese somente ocorrerá, se a Administração do mutuário propuser tal alternativa, o que no caso do Brasil deve ser

evitado, tal o conflito não só com a norma, mas, principalmente, com os princípios nacionais.