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CAPÍTULO 5 POLÍTICAS BÁSICAS DE AQUISIÇÃO DO BANCO

5.4 Política de aquisições do BID

O Banco Interamericano de Desenvolvimento atribui elevada importância aos processos de aquisição para a execução de projetos financiados com seus recursos, para tanto, elaborou o documento intitulado Políticas Básicas de Aquisição do Banco Interamericano de Desenvolvimento que contém as políticas e procedimentos básicos do Banco em matéria de aquisição de bens, obras e serviços conexos (que incluem transporte de bens, seguro, instalação, montagem e manutenção inicial do equipamento).

O BID considera que a aquisição de bens, obras e serviços é uma das atividades que maior impacto exercem sobre a boa execução de um projeto. Para esse Organismo Internacional de Cooperação, o processo de aquisição de bens e contratação de obras e serviços interfere, em grande parte, na qualidade, no custo e na oportuna conclusão de um projeto. Para o Banco:

a aplicação de políticas e práticas sólidas, caracterizadas por procedimentos eqüitativos e transparentes, é um instrumento indispensável não só para gerar mercados confiáveis e estáveis, capazes de atrair empreiteiros e fornecedores eficientes, como também para salvaguardar o princípio de responsabilidade de gestão e o uso eficiente dos fundos públicos137.

O item 1.4 das Guidelines do Banco definem em rol exemplificativo, que as atividades de suborno, extorsão ou coação, fraude e conluio devem ser consideradas como práticas corruptas, podendo o Banco adotar medidas como:

1.4 [...]

(b) Medidas que o Banco pode tomar [...]

(i) rejeitar qualquer proposta de adjudicação relacionada com o respectivo processo de aquisição ou contratação;

(ii) declarar uma firma e/ou seus funcionários diretamente envolvidos em práticas corruptas inelegíveis, temporária ou permanentemente, para participar em futuras licitações ou contratos financiados com recursos do Banco; e /ou

(iii) cancelar e/ou acelerar o pagamento de parte do empréstimo ou da cooperação técnica referente a um contrato, quando houver evidência que representantes do mutuário ou do beneficiário da cooperação técnica não tomaram as medidas adequadas, dentro de um período que o Banco considere razoável e de acordo com as garantias do devido processo estabelecidas pela legislação do país do mutuário138.

O dispositivo revela que o BID adota medidas repressivas a possíveis distorções e práticas criminosas em certames realizados com recursos financiados por ele. Nesse ponto, a norma do Banco guarda certa semelhança com a Lei 8.666/93, mormente no que tange a suspensão temporária ou definitiva de empresas ou funcionários diretamente envolvidos em práticas corruptas. De fato, o art. 87, III e IV, cominado com o art. 88, II e III, do Estatuto das Licitações Publicas brasileiro, estabelecem:

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:

[...]

III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;

IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso anterior.

Art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo anterior poderão também ser aplicadas às empresas ou aos profissionais que, em razão dos contratos regidos por esta Lei:

[...]

II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os objetivos da licitação;

138

III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar com a Administração em virtude de atos ilícitos praticados139.

Assim, tanto quanto a norma nacional, a norma do Banco possibilita o afastamento de empresas e pessoas que, por intermédio de atos de corrupção, venham a frustrar o caráter competitivo de um certame licitatório, assim como, ocasionar direcionamentos indesejáveis e danosos aos recursos oriundos da atividade de cooperação.

Na mesma esteira, a norma do Banco prevê a possibilidade de não adjudicação do objeto de um certame eivado de ato de corrupção, da mesma forma que a lei nacional.

Por outro lado, as diretrizes de aquisição do BID prevêem sanção aos países mutuários, quando houver evidência de que seus representantes ou o beneficiário da cooperação técnica não tomaram as medidas adequadas, dentro de um período que o Banco considere razoável e de acordo com as garantias do devido processo estabelecidas pela legislação do país do mutuário.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento se reserva, também, ao direito de promover auditorias, inspeções e averiguações em processos licitatórios realizados com recursos oriundos da atividade de cooperação, podendo protagonizar, ele próprio, as ações de auditoria, ou fazê-lo por intermédio de terceiros, pelo Banco designados, eis que assim estabelecem as Guidelines Banco:

1.4 [...]

(c) Inspeção de registros contábeis e balanços financeiros

Nos contratos financiados com recursos do Banco, este tem o direito de requerer que os documentos de licitação incluam cláusulas que permitam ao Banco, ou a quem ele designe, realizar inspeções ou auditorias nos

registros contábeis e nos balanços financeiros dos

fornecedores/empreiteiros relacionados com a execução do contrato140.

A norma imposta pelo Banco não representa uma afronta à soberania nacional, eis que, a auditoria do Banco é prevista no contrato de empréstimo firmado com o mutuário, cuja adesão é livre arbítrio desse último. Ao contrário de representar uma afronta à soberania nacional, como poderiam aventar alguns, representa uma medida de salutar cabimento, eis que, submete essas peculiares formas de aquisição à auditoria do BID, além das auditorias normalmente conduzidas pelos Controle Interno e Externo nacionais.

O BID estabelece em suas Guidelines, normas comuns a todas as modalidades de aquisição, assim é que pugna pelo uso eficiente dos recursos fruto do acordo de cooperação, impondo aos mutuários a responsabilidade pela execução e administração dos projetos, inclusive pelo processo de aquisição, desde a preparação dos documentos de licitação até a adjudicação e administração dos contratos. O Banco reserva-se o direito de supervisionar o processo de aquisição, seja qual for a modalidade, para verificar se as regras e procedimentos estão sendo cumpridos141

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140 Banco Interamericano de Desenvolvimento, Políticas Básicas de Aquisição, item 1.4(c). 141 Banco Interamericano de Desenvolvimento, Políticas Básicas de Aquisição, item 2.3.