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3 POLÍTICA E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LULA COM OS DEMAIS PAÍSES MEMBROS DOS BRICS

3. POLÍTICA E AÇÕES CONJUNTAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DOS BRICS DURANTE O GOVERNO LULA

Como discutido na Introdução, a globalização está forçando os países a se reagruparem, e um dos elementos importantes é o domínio do conhecimento, sendo esta a vantagem inicial do centro sobre a periferia na questão da sua superioridade técnica e organizacional. A inovação e a capacidade da indústria geram mais eficiência, maior lucro e acumulação de capital, levando a um rápido crescimento do centro. No curto prazo, o efeito de polarização do centro tende a predominar sobre os efeitos de difusão para a periferia (FERNANDES; GARCIA; CRUZ, 2015).

A participação relativa dos BRICS na produção mundial de ciência e tecnologia pode ser medida em termos do indicador tradicional de publicações em revistas científicas internacionais indexadas. Comparando-se a participação relativa dos países dos BRICS na produção científica mundial com os Estados Unidos, a Europa Ocidental e o Japão, nos anos 1990, os países membros dos BRICS, somados, eram responsáveis por aproximadamente 8% do total de publicações em periódicos científicos internacionais indexados, perante 30% da Europa Ocidental como um todo, 29% dos Estados Unidos e 7% do Japão. Em 2013, a produção de conhecimento do conjunto dos países dos BRICS, medida pelo indicador convencional, mais do que dobrou, representando uma parcela na faixa de 25% do total mundial (FERNANDES; GARCIA; CRUZ, 2015).

Como afirma Gerschenkron18 (1962, apud FERNANDES; GARCIA; CRUZ, 2015), a taxa de crescimento do centro tende a desacelerar, e a locação de atividades econômicas tende a ser difundida para novos polos de crescimento na periferia. Nesse processo de difusão de avanços tecnológicos, a periferia, ou melhor dizendo, as elites dos países da periferia gozam de “vantagens do atraso”, isto é, as elites se utilizaram das técnicas mais atuais e eficientes sem passar pelos custos de inversão em conhecimento e ciência para proporcionar avanços produtivos. Dessa forma, esses países, igualmente, se “aproveitariam” das liç es aprendidas

pelas economias avançadas. Consequentemente, novos centros industriais se formam na periferia, podendo chegar a substituir velhos centros por novos polos de crescimento no sistema. Sob este aspecto, seria interessante a realização de novas pesquisas para identificar as intenções do governo Lula no tocante ao avanço da indústria via ciência.

No caso das aproximações do governo Lula com os países membros dos BRICS, parece, no tom dos discursos do presidente, que a intenção, na questão da internacionalização universitária, não era se colocar no cenário mundial como possível potência em termos de conhecimento, mas estabelecer relações de complementariedade no tocante a conhecimentos entre os países. Conforme pode ser observado no discurso do presidente na conferência sobre Política Externa Brasileira no Século XXI e o Papel da Parceria Estratégica Sino-Brasileira, na Universidade de Pequim, em 25 de maio de 2004:

Uma relação bilateral verdadeiramente sólida não pode basear-se apenas na interação entre Governos: ela deve atingir as sociedades e os indivíduos, mobilizar as mentes e despertar emoções. O conhecimento mútuo, o interesse pelas respectivas línguas, histórias e culturas são indissociáveis do esforço de aprofundamento das já excelentes relações de nossos dois países. Espero que jovens chineses venham mais e mais a especializar-se no Brasil, e que mais e mais jovens brasileiros aprendam o mandarim e possam especializar-se na China (SILVA, 2004b, p. 120).

Ainda sobre esse tema, nas reuniões de Cúpula dos BRICS, durante o governo Lula, apareceram preocupações dos países. Na primeira reunião de Cúpula dos BRICS, realizada em Ecaterimburgo, na Rússia, em 2009, apareceu a expectativa de enfrentar a diferença entre países centrais e periferia em termos de vantagens e conhecimentos que poderiam ser aplicados na economia. Em documento firmado pelos presidentes de Brasil, Rússia, Índia e China, foi declarado que “Afirmamos o compromisso de avançar com a cooperação entre nossos países no campo da ciência e da educação com o objetivo de realizar a pesquisa fundamental e de desenvolver tecnologias avançadas” (BRASIL, 2009b)19

. Na segunda reunião de Cúpula, realizada em Brasília, em 2010, foi reafirmado o compromisso de promover a cooperação entre os países dos BRICS na ciência, na cultura e nos esportes (BRASIL, 2010c)20. As demais reuniões de Cúpula são analisadas no subcapítulo 4.5, por terem ocorrido durante o governo de Dilma Rousseff.

Ressalta-se ainda que, durante o governo Lula, a África do Sul não era um país membro do agrupamento dos BRICS, o que ocorreu somente em 2011 por convite dos já membros Brasil, Rússia, Índia e China. A África do Sul já estava no agrupamento sugerido

19 Ver Anexo Q. 20 Ver Anexo R.

pelo presidente Lula, G3 ou IBAS, formado em conjunto com Índia e mencionado no Capítulo 2 desta tese. Além disso, pode-se citar o BASIC, no qual os países membros dos BRICS, com exceção da Rússia, se uniram para discutir questões a respeito da temática clima e meio ambiente.

Como conclusão parcial do capítulo, foi abordado objetivo específico 2 desta tese, com a identificação das principais ações de cooperação acadêmica internacional realizadas pelo Brasil com os demais países membros dos BRICS e os atores envolvidos durante o governo Lula.

Em relação à Rússia, o governo Lula estabeleceu acordos e parcerias, com destaque para a temática de segurança, sendo que foram encontradas ações pontuais de internacionalização universitária por meio de programas celebrados no início do governo Lula (2004). Não foi encontrada uma política de internacionalização universitária que se estendesse durante todo o governo Lula, ou seja, as ações de internacionalização universitária encontradas nos acordos não foram contínuas, tanto no que diz respeito a conteúdo quanto a datas ao longo desse período.

Em relação à Índia, existiram ações de internacionalização universitária deste país com o Brasil durante o governo Lula. Foram realizadas ações de cooperação acadêmica, científica e tecnológica. No entanto, nos documentos consultados não há detalhamento sobre a aplicação de acordos, seja por número de bolsas discentes ou outras formas de cooperação, seja por atores responsáveis pela sua implementação.

Em relação à China, nota-se que a relação estabelecida tem um forte cunho comercial. Embora os acordos citassem explicitamente a mobilização estudantil, com atores responsáveis por sua implementação, confirmou-se com os dados e com entrevistas que a política de internacionalização universitária segue uma motivação comercial, e não acadêmica, científica ou tecnológica.

Em relação à África do Sul, observou-se que as áreas de cooperação acadêmica, científica e tecnológica abrangeram os mais diversos temas ao longo do governo Lula. O processo de internacionalização universitária, por sua vez, também permeou diversas áreas, prevendo uma reciprocidade entre os países.

Percebeu-se que ao longo do governo Lula, de uma forma geral, que a política de internacionalização universitária se traduziu por acordos de cooperação acadêmica, científica e tecnológica pontuais, ou seja, sem uma continuidade ao longo do governo. Em termos de acordos e de discursos do presidente Lula, havia a previsão de reciprocidade, ou seja, as ações

de internacionalização universitária com os países membros dos BRICS seriam realizadas visando à simetria das relações.

A política de internacionalização universitária do agrupamento BRICS ainda estava em um plano de intenção política durante o governo Lula, uma vez que as reuniões de Cúpula dos Líderes começaram a ocorrer somente a partir de 2009. Dessa forma, não foram encontradas ações concretas de internacionalização universitária dos BRICS durante o período, o que pode auxiliar na comprovação da quarta e última hipótese de pesquisa: “no governo Dilma, houve uma iniciativa de criar uma política unificada de internacionalização universitária com os países membros dos R C ”.

Nessa medida, este capítulo trouxe e analisou dados que também serão utilizados no Capítulo 5 para confirmar ou não as hipóteses de que “a política de internacionalização do ensino superior foi distinta para cada país membro dos BRICS tanto no governo Lula quanto no governo Dilma” e “a política de internacionalização do governo Lula previa reciprocidade com países membros dos BRICS, enquanto no Governo Dilma as relações com os países membros dos BRICS foi assimétrica”.

4 POLÍTICAS E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO

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