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3 POLÍTICA E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LULA COM OS DEMAIS PAÍSES MEMBROS DOS BRICS

3.3 POLÍTICA E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO BRASIL COM A CHINA DURANTE O GOVERNO LULA

De acordo com o Ministério das Relações Internacionais, relações diplomáticas entre Brasil e China foram estabelecidas em 1974 e têm evoluído de forma intensa, assumindo crescente complexidade (BRASIL, 2017j). A literatura afirma que o primeiro acordo realizado entre Brasil e China foi em 1880, por meio do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Império do Brasil e o Império da China. O relacionamento com a Ásia foi ínfimo e

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Ver Anexo H.

10 Ver Anexo I. 11 Ver Anexo J.

restringiu-se, basicamente, à vinda de mão de obra japonesa e à migração não oficial de chineses (OLIVEIRA, 2004).

Passados mais de cem anos, em 29 de maio de 1984, foi celebrado o Protocolo entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Comissão Estatal de Ciência e Tecnologia no Campo da Cooperação Científica e Tecnológica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China e publicado o Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China do Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China, firmado em 25 de março de 1982. Em 1993, Brasil e China estabeleceram uma “Parceria Estratégica”, na qual já se podiam notar tentativas de estreitar relações.

A China tornou-se parceira comercial do Brasil em 2000 e é, desde 2009, o principal parceiro comercial, constituindo uma das principais fontes de investimento no país. A corrente de comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante entre 2001 e 2015, passando de 3,2 bilhões de dólares para 66,3 bilhões. Esta realidade de a China ter se tornado o primeiro parceiro comercial está expressa em documento oficial:

Dentre os países englobados por essa iniciativa, a China, atualmente o maior parceira comercial do Brasil, ocupou um dos principais papéis. O Governo brasileiro reafirmou junto às autoridades chinesas sua disposição de ampliar a cooperação científica e tecnológica no programa binacional de desenvolvimento de satélites (BRASIL, 2015e).

Para o presidente Lula, ainda que com possíveis ênfases diferenciadas, a perspectiva de diversificação nas relações contemplava a China, como se nota no seguinte discurso:

É assim que, na minha opinião, o Brasil precisa proceder. Nós temos a América do Sul, nós temos a China, nós temos todo o mundo asiático, nós temos o Oriente Médio, nós temos a Índia e temos a África, e é uma obrigação política, moral e histórica nossa estreitar cada vez mais a relação com o continente africano, não podemos esquecer isso. [...] Tenho repetido que a América do Sul será prioridade em meu governo, pois estou convencido de que o desenvolvimento pleno do Brasil só será possível como parte da integração do continente como um todo. [...] E se temos uma vocação regional, somos, também um país global. Da mesma forma que a integração nacional passa pela integração regional, estou convencido de que a aproximação com a Ásia e, em particular com a China, será decisiva para o Brasil realizar esse destino maior (SILVA, 2003).

A ideia de parceria estratégica e comercial permaneceu forte ao longo do governo Lula e se desenvolveu por meio de visitas e reuniões governamentais, bem como com a celebração

de atos e acordos internacionais, como se nota no Quadro 5, de relações bilaterais, e no Quadro 6, de acordos entre Brasil e China.

Quadro 5 – Relações Bilaterais (visitas/reuniões) Brasil X China – Governo Lula (continua)

Ano Título

2003 Lançamento do satélite CBERS-2 (outubro)

2004 Visita do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, à China (fevereiro)

Visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China (maio) Criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação(COSBAN) (maio)

Visita do presidente Hu Jintao ao Brasil (novembro)

Assinatura de Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Matéria de Comércio e Investimento, no qual o Brasil reconhece o status de economia de mercado para a China (novembro)

2006 I Reunião da COSBAN, em Pequim, presidida, do lado brasileiro, pelo vice-presidente José Alencar e, do lado chinês, pela vice-primeira-ministra Wu Yi (março)

Visita do presidente da Assembleia Nacional da China, Wu Bangguo (agosto)

2007

Criação do Diálogo Estratégico entre as Chancelarias (abril) Lançamento do satélite CBERS-2B (setembro)

I Reunião do Diálogo Estratégico Brasil-China, Pequim (novembro)

2008 Visita do membro do Comitê Permanente do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China He Guoqiang (julho)

Visita do presidente Lula da Silva à China, para a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim (agosto)

2009 Visita do ministro dos Negócios Estrangeiros Yang Jiechi ao Brasil (janeiro) Visita do vice-presidente Xi Jinping ao Brasil (fevereiro)

(conclusão)

Ano Título

2009 Visita do vice-ministro do Supremo Tribunal Popular, Hao Chiyong, ao Brasil (maio) Visita do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, à China (setembro)

2009 Visita do presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) (novembro)

China torna-se o principal parceiro comercial do Brasil

2010 Visita de Estado do presidente Hu Jintao ao Brasil, participação na II Cúpula dos BRICS, em Brasília, e assinatura do Plano de Ação Conjunto Brasil-China 2010-2014 (abril) Visita do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, à China (abril)

Visita do ministro da Defesa, general Liang Guanglie, ao Brasil (setembro) Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2017e).

Na primeira visita realizada pelo presidente Lula à China, em maio de 2004, além da presença de sete ministros, seis governadores, um senador e dez deputados, destacou-se o grande número de empresários (mais de 420) que o acompanharam. Tratava-se de uma visita com um forte viés comercial na relação entre os dois países, que também é observado no pronunciamento presidente brasileiro:

Desde o ano passado, o nosso Governo tomou a decisão estratégica de se aproximar cada vez mais da China e, já em 2003, vendemos 4 bilhões e meio de dólares para eles. Isso nunca aconteceu antes, um verdadeiro recorde. Mas vejam, temos ainda muito espaço para crescer. Hoje, o nosso maior volume de exportação para a China concentra-se em soja, minérios e produtos siderúrgicos. Ora, temos qualidade e preços competitivos para crescer muito em outras áreas, onde a China compra muito, como aparelhos elétricos e eletrônicos, artigos esportivos, frango, carne, café, celulose, aviões, carros, tratores. Isso sem falar do etanol, o álcool extraído da nossa cana de açúcar, que a China pode precisar, e muito, pois tem 171 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, e com milhões de carros. E o nosso álcool é, comprovadamente, um dos combustíveis menos poluentes do mundo. Esta oportunidade o Brasil não pode e não vai perder, porque aumentar as exportações para países que são grandes compradores, como a China, é uma das formas mais seguras e sólidas de acelerar o nosso próprio crescimento interno, dinamizando e fortalecendo a nossa economia e, com isso, ajudando a gerar os empregos de que tanto precisamos. Viagens como esta consolidam o grande avanço que o Brasil está conseguindo no comércio exterior (SILVA, 2004c, p. 114).

Na mesma visita à China, foi inaugurado um escritório da PETROBRAS, em Pequim, como parte da celebração dos 30 anos das relações Brasil-China. Em 2004, foi criada a

Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), conforme pode ser observado no Memorando de Entendimento entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o Estabelecimento da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação12.

Para maior adensamento da parceria, ficou acordado que a relação entre os dois países deve seguir quatro princípios:

a) fortalecimento da confiança política mútua, com base em um diálogo em pé de igualdade;

b) aumento do intercâmbio econômico-comercial com vistas ao benefício recíproco;

c) promoção da cooperação internacional, com ênfase na coordenação das negociações;

d) promoção do intercâmbio entre as respectivas sociedades civis, de modo a aprofundar o conhecimento mútuo (BRASIL, 2004a).

A visita de retribuição por parte do presidente chinês, Hu Jintao, realizada no mesmo ano de 2004, contou com a presença de mais de 300 empresários. Nessa ocasião, foi reafirmada pelo presidente Lula a busca pela cooperação em áreas como comércio, indústria, energia, turismo, combate ao crime organizado, ciência e tecnologia. Além dessas áreas, o presidente expressou que tinha a expectativa de inaugurar uma cooperação financeira, pois a

[...] nossa ambição não tem limites. É o que se vê na assinatura dos protocolos que prevêem o lançamento conjunto do satélite CBERS 2-B e a venda e cessão de imagens pelo Programa CBERS para países na América Latina, na Ásia e na África. Esse programa é o principal projeto de cooperação de alta tecnologia entre dois países em desenvolvimento. Ele nos tornou proprietários de um sistema de sensoriamento remoto com aplicações em setores decisivos para o desenvolvimento sustentável de nossas cidades e agricultura (SILVA, 2004d, p. 172).

Em 2010, foi assinado o Plano de Ação Conjunta 2010-2014 (PAC); sua versão atualizada, com vigência de 2015 a 2021, foi firmada pela presidente Dilma Rousseff e pelo primeiro-ministro Li Keqiang em maio de 2015. Em 2012, por ocasião da visita ao Brasil do então primeiro-ministro Wen Jiabao, as relações foram elevadas ao nível de “Parceria Estratégica Global” e firmou-se o Plano Decenal de Cooperação (2012-2021).

As ações de cooperação a serem desenvolvidas em longo prazo se dão nas seguintes áreas-chave: ciência, tecnologia e inovação e cooperação espacial; energia, mineração,

infraestrutura e transporte; investimentos e cooperação industrial e financeira; cooperação econômico-comercial; e cooperação cultural e intercâmbio entre as duas sociedades (BRASIL, 2012c).

Assim, ao longo do governo Lula, foram assinados 27 documentos de cooperação do Brasil com a China, sendo dois tratados, cinco acordos, 15 protocolos de intenções ou memorandos de entendimento, dois programas, dois planos e um aditivo conforme pode ser observado no Quadro 6.

Quadro 6 – Acordos, tratados e memorando de entendimentos Bilaterais Brasil X China – Governo Lula (continua)

Data Título Área

24/09/2003 Memorando de Entendimento entre o Ministério do Meio Ambiente da República Federativa do Brasil e o

Ministério dos Recursos Hídricos da República Popular da China em Cooperação Técnica e Científica no Campo dos Recursos Hídricos

Recursos Naturais

24/05/2004 Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre Assistência Judiciária Mútua em Matéria Penal

Direito Penal

Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China sobre Isenção de Vistos para Portadores de Passaportes Diplomático, Oficial e de Serviços

Vistos e Imigração

12/11/2004 Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China

Extradição

Memorando de Entendimento entre o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio da República Federativa do Brasil e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da República Popular da China em Cooperação Industrial

Cooperação Industrial

Memorando de Entendimento entre a República

Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre Cooperação em Matéria de Comércio e Investimento

Comércio

Protocolo Complementar ao Acordo-Quadro entre o Governo da República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre Cooperação em Aplicações Pacíficas de C & T do Espaço Exterior para o Desenvolvimento Conjunto do Satélite CBERS-2B

(continua)

Data Título Área

12/11/2004 Memorando de Entendimento entre o Ministério do Turismo da República Federativa do Brasil e a Administração Nacional de Turismo da República Popular da China na Facilitação de Viagens de Grupos de Turistas Chineses ao Brasil

Turismo/Vistos

Protocolo entre o Ministério da Agricultura. Pecuária e Abastecimento da República Federativa do Brasil e a

Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da República Popular da China sobre Quarentena e Condições Sanitárias e Veterinárias de Carne de Aves a Ser Exportada do Brasil para a República Popular da China.

Sanitária

17/08/2005 Memorando de Entendimento sobre Cooperação na Área de Proteção Ambiental entre o Ministério do Meio Ambiente da República Federativa do Brasil e a Administração Estatal de Proteção Ambiental da República Popular da China

Meio ambiente – prevê

intercâmbio de pessoas e informações 17/08/2005 Memorando de Entendimento sobre Cooperação na Área de

Proteção Ambiental entre o Ministério do Meio Ambiente da República Federativa do Brasil e a Administração Estatal de Proteção Ambiental da República Popular da China

Meio ambiente – prevê

intercâmbio de pessoas e informações 20/10/2005 Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o

Governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong da República Popular da China sobre Isenção Parcial de Vistos

Vistos

23/03/2006 Programa Executivo do Acordo de Cooperação Cultural e Educacional entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China para os Anos de 2006 a 2008 Cultura: música, dança, teatro, cinema, patrimônio cultural 05/06/2006 Acordo sobre o Fortalecimento da Cooperação na Área de

Implementação de Infraestrutura de Construção entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China

Infraestrutura

Memorando de Entendimento sobre o Estabelecimento da Subcomissão de Energia e Recursos Minerais da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação entre o Ministério de Minas e Energia da República Federativa do Brasil e a Comissão de Desenvolvimento e Reforma do Estado da República Popular da China

(conclusão)

Data Título Área

19/02/2009 Protocolo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China sobre Cooperação em Energia e Mineração

Energia – petróleo e gás

19/05/2009 Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre Auxílio Judicial em Matéria Civil e Comercial

Questões Jurídicas – efeito comercial

Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da China sobre Petróleo, Equipamento e Financiamento

Petróleo – efeito comercial

15/04/2010 Plano de Ação Conjunta entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República

Popular da China, 2010-2014

-

16/04/2010

Programa Executivo de Cooperação Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China para os Anos de 2010-2012

Cultura: cinema, música, bibliotecas

Memorando de Entendimento entre o Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério do Comércio da República Popular da China para o Estabelecimento de Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual no Âmbito da

Subcomissão Econômico-Comercial da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação

COSBAN

14/09/2010 Memorando de Entendimento sobre Cooperação entre o Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e a Universidade de Assuntos Estrangeiros da China

Diplomacia

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Brasil (2003-2016).

Houve uma concentração de ações em 2004, ano em que o presidente realizou a primeira reforma ministerial, em janeiro. Com relação ao Ministério das Relações Exteriores, permaneceu o mesmo ministro, Celso Amorim. Mas, no Ministério da Educação, assumiu o até então secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, um dos principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores. Além disso, na política externa, em se tratando da

China, credita-se esse fato às duas visitas governamentais e 2004, em função da comemoração de 30 de parceria estratégica entre Brasil e China.

Como demonstrado no Quadro 6, a cooperação acadêmica, científica e tecnológica pode ser encontrada em acordos de áreas temáticas específica, como esporte, por meio do Acordo de Cooperação Esportiva entre o Ministério do Esporte da República Federativa do Brasil e a Administração Geral do Esporte do Estado da República Popular da China13.

De forma ainda mais específica, em relação à cooperação científica e tecnológica, no plano de ação conjunta firmado em 2010 (PAC 2010-2014), os países acordaram que as áreas prioritárias de cooperação deveriam ser as de bioenergia e biocombustíveis, nanotecnologia e ciências agrárias, a fim de fortalecer a cooperação bilateral, a transferência de tecnologia, bem como os projetos e as pesquisas conjuntos. Ficou claro que os ministérios de Ciência e Tecnologia de ambos os países promoveriam e estimulariam ativamente a cooperação entre instituições brasileiras e chinesas nessas áreas. Por último, as partes combinaram que deveriam promover cooperação baseada no princípio da igualdade e dos benefícios mútuos, a fim de elevar o nível da cooperação bilateral em ciência e tecnologia e a diversificação das áreas de interesse mútuo. Na teoria, novamente, constata-se uma perspectiva de parceria simétrica na internacionalização universitária.

Em relação à cooperação acadêmica, os países concordaram em realizar intercâmbios baseados no benefício mútuo, por meio da concessão de bolsas governamentais. A parte chinesa oferecia 22 bolsas de estudo governamentais por ano para estudantes brasileiros, ao longo do período de vigência do Plano de Ação (2010--2014) e a parte brasileira forneceria bolsas de estudo para estudantes chineses com base na reciprocidade, observando os limites institucionais e legais respectivos. Os órgãos responsáveis pela implementação das bolsas são o China Scholarship Council (CSC), na China, e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Brasil (BRASIL, 2010e). Nota-se aqui que havia uma preocupação em estabelecer numericamente a mobilidade acadêmica, tanto em número de vagas quanto a qual seria o órgão responsável pela implementação das bolsas. Ressalta-se que esse foi o único acordo analisado em que foram mencionados dados quantitativos para a ação de cooperação acadêmica, ou seja, para o processo de internacionalização universitária entre os países.

No âmbito de cooperação cultural, mas com incentivo do processo de internacionalização universitária, pode-se mencionar o incentivo à criação a centros de cultura

do Brasil na China e vice-versa. Menciona-se aqui como exemplo a inauguração do Núcleo de Cultura Brasileira da Universidade de Pequim, em 25 de maio de 2004, que se destinaria a atender estudantes de língua portuguesa e interessados na cultura brasileira. Para tanto, disporia de bibliotecas, com acervo de livros de autores brasileiros, não apenas em língua portuguesa, mas também em chinês, inglês e espanhol. Contaria, igualmente, com discoteca e videoteca (SILVA, 2004b).

As universidades brasileiras são destacadas pelo presidente Lula na cerimônia de inauguração do Núcleo de Cultura Brasileira da Universidade de Pequim. Para ele,

O Núcleo de Cultura Brasileira vem somar-se ao leitorado brasileiro já existente na Universidade de Pequim. Ele foi inaugurado, recentemente, com o apoio do Governo brasileiro, com o objetivo de fomentar o ensino de língua portuguesa, em sua vertente brasileira, bem como de divulgar a cultura brasileira. Este Núcleo poderá, em colaboração com o leitorado brasileiro e com a Universidade de Pequim, oferecer cursos intensos sobre distintos aspectos da realidade e da cultura brasileiras, a serem ministrados por especialistas para aqueles alunos que forem progredindo no conhecimento da língua portuguesa. Cursos poderão também vir a ser oferecidos, eventualmente, em língua inglesa, sobretudo, na área de relações internacionais e economia (SILVA, 2004b, p. 119).

Cabe lembrar que, já no início do governo Lula, as universidades brasileiras de Brasília (UNB), de São Paulo (USP) e a Cândido Mendes (UCM) já ofereciam cursos de língua e cultura chinesas a alunos cada vez mais interessados em ampliar seus horizontes.

Ao analisarem-se as relações entre Brasil e China durante o governo Lula, percebe-se que elas mantêm um forte viés comercial. Embora os acordos citassem explicitamente a mobilização estudantil, não aparece em tais documentos oficiais indicativos de uma cooperação maior para o desenvolvimento conjunto dos países em temáticas que pressuponham uma cooperação acadêmica, científica e tecnológica. Não houve uma política de internacionalização universitária tão clara e forte como a política comercial, mas o estabelecimento de centros culturais nos dois países já era um bom princípio para cooperação cultural e incentivo à cooperação acadêmica, bem como o desenvolvimento de projetos conjuntos de satélites (ex.: CBERS) representava avanço na cooperação científica e tecnológica.

Essa conclusão é corroborada pela entrevista com o prof. Mariano Laplane (2017, informação verbal14), diretor de Relações Internacionais da UNICAMP. Para Laplane, muitos dos convênios que estão sendo firmados com universidades chinesas se dão por uma demanda

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de alunos que se encontram em empresas chinesas no Brasil e necessitam ir para a China ou alunos chineses que precisam vir a trabalho ao Brasil e já optam por dar continuidade aos estudos na UNICAMP.

3.4 AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO BRASIL COM A

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