• Nenhum resultado encontrado

3 POLÍTICA E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LULA COM OS DEMAIS PAÍSES MEMBROS DOS BRICS

4 POLÍTICAS E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO DILMA COM OS DEMAIS PAÍSES MEMBROS DOS BRICS

4.1 POLÍTICA E AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO BRASIL COM A RÚSSIA DURANTE O GOVERNO DILMA

Atualmente, a Rússia é o maior parceiro comercial do Brasil no Leste Europeu, sendo que a corrente de comércio entre os dois países cresceu 58% entre 2009 e 2014, atingindo cerca de 6,8 bilhões de dólares. Os dois países estão engajados na meta de atingir 10 bilhões de dólares em trocas comerciais. De forma mais específica, na área comercial a cooperação em matéria sanitária e fitossanitária tem avançado, beneficiando o comércio de carnes, pois a Rússia é um dos maiores importadores de carnes bovina e suína produzidas no Brasil (BRASIL, 2017f).

Assim como o presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff também realizou visitas oficiais à Rússia, onde foi acordada uma sequência no relacionamento já estabelecido entre os dois países, conforme pode ser observado no Plano de Ação da Parceria Estratégica entre a República Federativa do Brasil e a Federação da Rússia: Próximos Passos (BRASIL, 2012f).

O número mais frequente de visitas oficiais entre os dois países deveu-se ao aumento do diálogo e da participação em organizações internacionais (ONU, G-20, BRICS), além do aumento do intercâmbio comercial e dos fluxos de investimentos e do aprofundamento da

cooperação, especialmente em matéria aeroespacial e técnico-militar (BRASIL, 2017f). A cronologia de visitas oficiais pode ser observada no Quadro 10.

Quadro 10 – Relações bilaterais (visitas e reuniões ) Brasil e Rússia – Governo Dilma (2011-2016)

Ano Título

2011

Reunião de Líderes dos BRICS – Sanya, China

Visita à Rússia do vice-presidente, Michel Temer, por ocasião da V Reunião da CAN Visita à Rússia do ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota

2012 Reunião dos ministros das Relações Exteriores dos BRICS na Assembleia da ONU Visita à Rússia da presidente Dilma Rousseff

2013 Visita do presidente do Governo da Federação da Rússia, Dmitry A. Medvedev, a Brasília para copresidir a Sexta Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação (CAN)

Visita ao Brasil do ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov

Visita da presidente Dilma Rousseff à Rússia, para participar da Cúpula do G-20 em São Petersburgo

Reunião informal dos líderes dos BRICS à margem da Cúpula do G-20 em São Petersburgo

Visita ao Brasil do ministro da Defesa, Serguei Shoigu

Visita à Rússia do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado

2014 Visita ao Brasil do presidente Vladimir Putin, para participar da VI Cúpula dos BRICS 2015 Viagem da presidente Dilma Rousseff a Ufá, Rússia, por ocasião da VII Cúpula dos BRICS

Viagem do vice-presidente Temer a Moscou, para a VII Reunião Brasil-Rússia para Cooperação

Reunião dos ministros das Relações Exteriores dos BRICS, Nova York, na 70ª Assembleia ONU

Reunião dos mandatários dos BRICS em Antália, Turquia, na Cúpula do G20 Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2017g).

Os dois países mantiveram, regularmente, encontros de alto nível. Nos primeiros meses de governo, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se com o presidente Dmitri Medvedev, à margem da terceira cúpula dos BRICS, em abril, na China. O vice-presidente da República reuniu-se com o primeiro-ministro Vladimir Putin durante a quinta reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação, em maio, em Moscou. De acordo com documento sobre a visita do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, a Moscou, as “áreas de grande potencial para futuras parcerias são, entre outras, os setores energético, espacial e educacional. O rasil tem interesse em aumentar o intercâmbio acadêmico” (BRASIL, 2011, p. 121).

Em discurso do então vice-presidente Michel Temer por ocasião da abertura da VII Reunião da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação (CAN), em Moscou, em setembro de 2015, foi mencionado o potencial da cooperação bilateral na área espacial e entre centros de tecnologia. Como exemplo, foi citada a bem-sucedida utilização brasileira do sistema russo de navegação por satélite GLONASS e o acordo assinado para a instalação de nova estação do GLONASS na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Além disso, foi celebrado, no mesmo ano, um acordo entre a Agência Espacial Brasileira e a Agência Espacial Russa ROSCOSMOS para detecção de detritos espaciais. Temer mencionou também a abertura do escritório da ROSATOM no Brasil, o que impulsionaria a cooperação bilateral nos usos pacíficos da energia nuclear (TEMER, 2015).

De forma resumida, houve, ao longo do governo Dilma, a assinatura de dois protocolos de intenções ou memorandos de entendimento do Brasil com a Rússia, um acordo de cooperação e um plano de ação estabelecido, todos firmados em 14 de dezembro de 2012, conforme pode ser observado no Quadro 11.

Quadro 11 – Acordos bilaterais Brasil e Rússia – Governo Dilma (2012)

Data Título Área

14/12/2012 Plano de Ação da Parceria Estratégica entre a República Federativa do Brasil e a Federação da Rússia: Próximos Passos (ANEXO S)

Geral

Memorando de Entendimento entre os Ministérios das Relações Exteriores, da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior da República Federativa do Brasil e o Ministério do Desenvolvimento Econômico da Federação da Rússia para Cooperação na Área de Modernização da Economia

Cooperação Científica e Tecnológica

Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia sobre Cooperação em Matéria de Governança e Legados Relativos à Organização de Jogos Olímpicos e Paralímpicos e Copas do Mundo FIFA

Esportes

Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia sobre Cooperação em Defesa

Segurança Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2003-2016).

Percebe-se que a temática segurança continuou sendo mencionada nas relações entre Brasil e Rússia, no Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia sobre Cooperação em Defesa, mas também houve destaque para a área esportiva, uma vez que ambos os países sediariam Copas do Mundo FIFA e Jogos Olímpicos, o que pode observado no Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia sobre Cooperação em Matéria de Governança e Legados Relativos à Organização de Jogos Olímpicos e Paralímpicos e Copas do Mundo FIFA.

Como assinalado no Capítulo 3, é interessante observar que, passados 22 anos, a afirmação de Hirst e Pinheiro (1995) ainda procedia, isto é, as relações com a Rússia indicavam possibilidades de ganhos em termos tecnologias de ponta em energia nuclear, indústria aeroespacial, combustíveis, mecânica de precisão, química fina etc. Em contrapartida, o Brasil poderia oferecer expertise em modernização bancária, agricultura capitalista moderna, entre outros itens. Desses itens, pode-se destacar o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia sobre Cooperação em Defesa, de 14 de dezembro de 2012; o Memorando de Entendimento Cooperação em Matéria de Governança e Legados Relativos à Organização de Jogos Olímpicos e Paralímpicos e Copas do Mundo FIFA, de 14 de dezembro de 2012; o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Federação da Rússia para

Cooperação no Campo da Segurança Internacional da Informação e da Comunicação, de 14 de maio de 2010. Em comunicado conjunto da presidente Dilma e do presidente Putin, estava definido que um dos objetivos da relação entre ambos os países seria o crescimento do comércio na cifra de 10 bilhões de dólares anuais (BRASIL, 2012d).

Em relação à cooperação acadêmica, científica e tecnológica, em 2012, os dois presidentes determinaram às agências competentes elaborar o Programa de Cooperação Científica e Tecnológica para o triênio 2013-2015. O programa deveria conter plano de ações conjuntas para a cooperação em áreas como a nanotecnologia, a biotecnologia, a medicina e as tecnologias da informação e das comunicações. Deveria, igualmente, conter diretrizes para a intensificação da cooperação entre parques tecnológicos, centros e institutos de inovação, tendo como referência o Centro de Inovação de Skolkovo, na Rússia, e os parques tecnológicos brasileiros, com atuação prioritária nas áreas de energia, nanotecnologia, setor aeroespacial, biomedicina e saúde (BRASIL, 2012f).

O interesse do Brasil em estabelecer maior aproximação com universidades russas apareceu em discursos oficiais do governo brasileiro em reuniões entre os dois países. O então vice-presidente, Michel Temer, explicitou a satisfação brasileira em receber a Rússia no Programa Ciência sem Fronteiras:

Contar com a participação das universidades russas no esforço de capacitação dos estudantes brasileiros fortalecerá, em bases tangíveis e contínuas, a parceria estratégica, além de permitir maior conhecimento mútuo e troca de experiências. Renovo, portanto, o interesse do Brasil em estabelecer maior aproximação com a Fundação Skolkovo, promissor polo russo de ciência, tecnologia e inovação (TEMER, 2015).

Provavelmente, o discurso só poderia ser positivo, dado que se tratava de uma reunião de cooperação entre os dois países. Fica claro, assim, o desejo brasileiro de manter relações de cooperação acadêmica internacional com a Rússia, sendo que a inclusão deste país no Programa Ciência sem Fronteiras foi uma das formas encontradas de operacionalizar esta vontade política nacional. A cooperação foi estabelecida em fevereiro de 2013, com ato assinado em declaração conjunta na VI Reunião da Missão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação (CAN), sendo que as oportunidades de bolsas no exterior subsidiadas pelo governo brasileiro eram destinadas às seguintes modalidades no nível de pós-graduação: doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado. Entretanto, de acordo sistema de controle estatístico do Programa Ciência sem Fronteiras, somente oito alunos bolsistas escolheram a Rússia como destino (BRASIL, 2017b).

A Rússia também apresentou iniciativas que indicavam o interesse em atrair estudantes para o país. Cabe mencionar aqui a existência de uma sede da Aliança Russa em São Paulo, com a missão de difundir e promover no Brasil o idioma russo e as universidades russas para desenvolver a troca de conhecimento científico entre os dois países, além de estimular pesquisas conjuntas nas áreas de ciência e tecnologia (ALIANÇA RUSSA, 2017).

Ao analisarem-se as ações de internacionalização universitária propostas pelo governo brasileiro para cooperação com a Rússia, percebe-se um incentivo mais forte ao intercâmbio acadêmico em dois momentos: inclusão da Rússia como país de destino do programa de bolsas brasileiro Ciência sem Fronteiras e, após o encontro dos ministros de Educação dos BRICS, para formação da Rede de Universidades.

As instituições russas que receberam os alunos bolsistas brasileiros pelo Programa Ciência sem Fronteiras foram as seguintes: Joint Institute for High Temperatures of Russian Academy of Sciences, Moscow Art Theatre, Moscow Power Engineering Institute, Novosibirsk State University, Russian Academy of Sciences, Russian State University for the Humanities e Saint Petersburg State University.

No âmbito institucional, ao analisarem-se as universidades brasileiras mais bem pontuadas em rankings internacionais, foi possível observar que as universidades públicas mantinham convênios de intercâmbio com os demais países dos BRICS, o que não aconteceu na totalidade das universidades privadas. A lista de universidades conveniadas dos países membros dos BRICS com as IES brasileiras pode ser observada no Quadro 12.

Quadro 12 – Convênios das IES brasileiras com IES russas IES Brasileiras Nº Convênios com

IES Russas

Universidade Russa

UNICAMP 2 1)Russian State University for the Humanities

2)Peoples' Friendship University of Russia

UFRJ 1 Novosibirsk State University

UFRGS 1 1)Universidade Federal do Sul

2)Universidade Russa da Amizade dos Povos

UNB 3 1)Moscow State Technical University of

Radioengineering, Eletronics and Automation 2)Glonass II

3)Universidade Russa da Amizade dos Povos

PUC-RIO 4 1)Lomonosov Moscow State University

2)National Research University Higher School of Economics

3)Tomsk Polytechnic University 4)Ural Federal University

PUC-SP 2 Institute of Private Law

Ao analisarem-se as universidades russas conveniadas com as IES brasileiras, verificou-se a forte presença da Universidade Russa da Amizade dos Povos (Peoples’ Friendship University of Russia). Ademais, essa instituição é participante do programa nacional de excelência acadêmica, com fomentação às melhores universidades do país (Project 5-100).

Entre as cinco melhores universidades russas, percebeu-se que somente duas haviam estabelecido convênios com IES brasileiras: a Novosibirsk State University mantém convênio com a USP e a UFRGS; e a Tomsk State University, com a UFRJ e a UFMG. Percebe-se assim que, no nível institucional, a relação de cooperação se mantém entre as melhores universidades de ambos os países.

Além disso, sobre as ações de internacionalização universitária propostas pelo governo russo, no âmbito setorial há o Programa de Educação Global (Global Education Program – GEP), que financia alunos de pós-graduação para estudo no exterior e que tem em sua lista duas universidades brasileiras participantes: a Universidade de São Paulo – USP e a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Supõe-se que a escolha das instituições teve como base a lista de universidades ranqueadas internacionalmente e também os relacionamentos mantidos entre as universidades russas e brasileiras, conforme foi observado em entrevista com diretores responsáveis pela cooperação acadêmica internacional da USP e da UNICAMP, prof. dr. Raul Machado Neto (2017, informação verbal) e prof. dr. Mariano Francisco Laplane (2017, informação verbal).

Conclui-se assim que, em relação à Rússia, o Brasil, durante o governo Dilma, manteve relações de cooperação acadêmica, científica e tecnológica, ou seja, uma política de internacionalização universitária que previa reciprocidade, principalmente no âmbito das instituições de ensino públicas. Justifica-se essa política pelo fato de a grande maioria das IES russas terem caráter público e o país ter dado incentivos financeiros e desenvolvido programas específicos para aprimorar a pesquisa e manter relações com universidades de ponta no cenário mundial. Somado a isso, as universidades brasileiras que são bem ranqueadas no contexto mundial são as universidades públicas, como a USP e a UNICAMP.

4.2 AÇÕES DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO BRASIL COM A

Documentos relacionados