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2 GOVERNOS LULA E DILMA: A POLÍTICA EXTERNA E AS DIFERENÇAS MARCANTES DA POLÍTICA GERAL DE INTERNACIONALIZAÇÃO

2.3 POLÍTICA E AÇÕES GERAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL NOS GOVERNOS LULA E DILMA

2.3.1 Política e ações de internacionalização universitária no governo lula – programas IBAS, PROÁFRICA e MARCA

Os dois mandatos do governo Lula tiveram como uma de suas principais vertentes de política externa e de política de internacionalização universitária o compromisso de contribuir para a promoção do desenvolvimento das relações entre a América Latina, a África e a Ásia, ou seja, a cooperação sul-sul. Somados a isso, na temática educação, esse governo proporcionou avanço na educação técnica, regulamentou a EaD (educação a distância) com a UAB (Universidade Aberta do Brasil), instituiu o PROUNI (Programa Universidade Para Todos), que é um programa de bolsas de estudo em instituições de ensino privadas. O governo também lançou o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e criou novas universidades públicas federais, interiorizando o acesso à educação pública gratuita (BRASIL, 2010b).

O PROUNI concedia a todas as instituições privadas (com ou sem fins lucrativos) que aderissem a ele isenção de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social e Contribuição para o Programa de Integração Social. Ao final do segundo governo Lula, segundo balanço oficial, foram contabilizados 748 mil estudantes com bolsas do ProUni, sendo 69% com bolsas integrais (BRASIL, 2016c). Ainda de acordo com o relatório da gestão do governo Lula, “Tais iniciativas - Prouni e Reuni - resultaram na implantação de 14 novas universidades federais e 126 novos campus universitários distribuídos nas cinco regiões brasileiras” (BRASIL, 2016c, p. 143).

Durante os dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010), o Ministério da Educação foi ocupado por três ministros: Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad. Autores como Barreyroi e Rothen (2014), Aguiar (2016) e Sguissardi (2006) defendem que essas substituições influenciaram nas políticas de educação superior, cuja marca não foi uniforme durante os dois governos Lula. A rotatividade de dirigentes também apareceu na Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) nos cargos relacionados à educação superior, no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP). Apesar da rotatividade e de uma possível falta de uniformidade de política educacional, nas gestões de Tarso Genro e Haddad o traço característico das políticas de educação superior foi o acesso à educação superior, ampliando

a rede federal de ensino, ofertando bolsas em instituições privadas. Barreyroi e Rothen (2014), ao analisarem os dois governos de Lula, concluem que

[...] embora em 2003, com a proposta da Comissão Especial de Avaliação – o SINAES e seus instrumentos de avaliação institucional e autoavaliação –, ensaiasse-se uma mudança radical nas práticas de avaliação da educação superior, no sentido de não deixar apenas o mercado regular o sistema, exercendo o próprio Ministério ações de supervisão, a partir de 2008 foi se recuperando com mais vigor a lógica do Governo FHC de ter um exame de larga escala como referência para a regulação do sistema.

No governo Lula, foram criadas duas universidades que espelham a ideia de expansão do ensino superior e cooperação sul-sul. Em 2010, foi criada a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), com sede na cidade de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, cujo objetivo principal era formar recursos humanos aptos a contribuir com a integração latino-americana, com o desenvolvimento regional e com o intercâmbio cultural, científico e educacional da América Latina, especialmente no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). A Unila se apresenta como uma instituição que visa manter relações com diferentes espaços regionais e blocos tais como:

a) Parlamento do MERCOSUL (e outros blocos), b) União Europeia e demais regiões (cooperação); c) Agência Brasileira de Cooperação (ABC); d) Academias diplomáticas latino-americanas;

e) Instituto Rio Branco; v- Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI); f) Instituições já existentes, como Mercocidades, Merco universidades e Fomerco. Outra instituição de ensino superior criada por Lula, mas fundada somente em 2011, voltada para as relações externas, foi a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), uma autarquia vinculada ao Ministério da Educação, com sede na cidade de Redenção, Estado do Ceará. A missão institucional da UNILAB era formar recursos humanos para contribuir com a integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente os países africanos Angola, Cabo Verde e Moçambique.

As iniciativas do ensino superior do governo Lula indicam a atenção para com a questão da internacionalização universitária na manutenção dos programas já existentes, como CAPES-COFECUB e CAPES-Alemanha. Além disso, a CAPES criou programas significativos, mas pulverizados, pois atendem um pesquisador ou, no máximo, um grupo de pesquisa. Esses programas são o Bragecrim (Brasil-Alemanha), parceria com a Nuffic

(Holanda), os programas de iniciação científica com Angola, Moçambique e Cabo Verde, entre outros.

Em relação a programas de mobilidade estudantil, docente e de pesquisadores, de acordo com o relatório oficial do governo Lula, no seu último mandato, a CAPES, agência responsável pelos acordos internacionais, “revisou, renovou e criou acordos com vários países, privilegiando a cooperação Sul-Sul” (BRASIL, 2016c, p. 172). Nesse sentido, como forma de colocar em prática a política de internacionalização universitária, os principais programas de cooperação acadêmica e científica internacional encontrados ao longo dos seus governos foram os programas IBAS, PROÁFRICA e MARCA.

O Programa de Apoio à Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral, entre Índia, Brasil e África do Sul (Programa IBAS), foi criado por meio da Portaria MCT nº 481, de 14 de julho de 2005, tendo por base a existência de acordos bilaterais entre Brasil e Índia e Brasil e África do Sul e o Fórum de Diálogo IBAS, conforme a Declaração de Brasília apresentada por ocasião da Reunião de Ministros de Relações Exteriores dos países integrantes do IBAS realizada em 6 de junho de 2003. As áreas temáticas inicialmente definidas para promoção da cooperação trilateral científica e tecnológica no âmbito do Programa IBAS foram as seguintes: HIV/AIDS, Tuberculose e Malária; Biotecnologia na Saúde e Agricultura; Nanociências e Nanotecnologia; e Ciências Oceanográficas. O programa teve uma chamada em 2009 para projeto a ser financiado pelo CNPq e respectivos órgãos de apoio à pesquisa da África do Sul e da Índia e obteve quatro propostas selecionadas, de professores das seguintes universidades brasileiras: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) (BRASIL, [2017]a).

O Programa de Cooperação Temática em Matéria de Ciência e Tecnologia (PROÁFRICA) foi objeto de proposta brasileira apresentada na II Reunião Ministerial de Ciência e Tecnologia dos Países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, realizada em 5 de dezembro de 2003, na cidade do Rio de Janeiro, RJ. Criado por intermédio da Portaria MCT nº 363, de 22 de julho de 2004, teve como objetivo contribuir para a elevação da capacidade científica e tecnológica dos países africanos, por meio do financiamento da mobilidade de cientistas e pesquisadores com atuação em projetos nas áreas selecionadas por sua relevância estratégica e interesse prioritário para a cooperação científico-tecnológica. De 2005 a 2010, foram lançados cinco editais, perfazendo um total de R$ 9.550.469,86 (nove milhões quinhentos e cinquenta mil quatrocentos e sessenta e nove reais e oitenta e seis

centavos), com o financiamento de 190 projetos. Desde 2011, não foram lançadas chamadas específicas e, no momento, o programa encontra-se em fase de reestruturação (BRASIL, [2017]a).

O Programa de Mobilidade Acadêmica Regional em Cursos Acreditados (MARCA), lançado em 2006, foi o primeiro programa de mobilidade para estudantes de graduação promovido por governos do setor de educação do MERCOSUL e, como se nota, implementado pelo governo Lula. Os seus antecedentes remontam ao Plano Estratégico 2001- 2005 do Setor de Educação do MERCOSUL, no qual a acreditação, a mobilidade e a cooperação interinstitucional foram definidas como as linhas prioritárias para o Ensino Superior. Nesse contexto, foi desenvolvido o Mecanismo Experimental de Credenciamento de Grau no MERCOSUL (MEXA), que buscou melhorar a qualidade dos cursos com a implantação de um sistema de credenciamento comum, com base em critérios previamente acordados e parâmetros de qualidade. Esse mecanismo implementou a acreditação de carreiras de Agronomia, Engenharia e Medicina. Após uma avaliação com resultados altamente satisfatórios do MEXA, começaram as negociações de um novo acordo, que resultou no Acordo sobre a Criação e Implementação de um Sistema de Acreditação de Carreiras Universitárias para o Reconhecimento Regional da Qualidade Acadêmica de Respectivos Graus no MERCOSUL e Estados Associados. O texto final do acordo foi aprovado pelo MRE em junho de 2008 e submetido ao Conselho do Mercado Comum, onde obteve aprovação por meio da Decisão CMC nº 17, de dezembro de 2008 (MOBILIDADE ACADÊMICA REGIONAL EM CURSOS ACREDITADOS – MARCA, 2017).

Nesse sentido, o ARCU-SUL é um mecanismo de acreditação permanente para os programas de licenciamento do MERCOSUL, gerenciado pela Rede de Agências Nacionais de Credenciamento no Setor Educacional do MERCOSUL. O primeiro ciclo de acreditação envolveu os cursos e as carreiras em Agronomia, Arquitetura, Medicina Veterinária, Enfermagem, Engenharia, Medicina e Odontologia (MARCA, 2017).

Na perspectiva da integração do MERCOSUL, destina-se ao intercâmbio acadêmico e a atender ao objetivo central de integração regional. Entre seus objetivos específicos, encontram-se os seguintes:

a) promover a mobilidade e o intercâmbio acadêmico entre estudantes, professores-pesquisadores e coordenadores acadêmicos e institucionais de carreiras acreditadas pelo Sistema ARCU- SUL;

b) melhorar o ensino, a pesquisa e a gestão acadêmica no âmbito de carreiras credenciadas;

c) aumentar a cooperação acadêmica, institucional e internacional entre carreiras credenciadas;

d) encorajar os gerentes/coordenadores e autoridades das instituições do sistema de ensino superior dos países a aprender sobre diferentes estruturas, mecanismos para formular e implementar políticas e métodos de gestão, bem como aprender sobre diferentes sistemas de avaliação de programas institucionais;

e) promover a criação e a consolidação de mecanismos acadêmicos de gestão cambial no campo das instituições participantes;

f) promover o conhecimento recíproco sobre a formação acadêmica de programas de graduação credenciados, a comparabilidade das estruturas curriculares e o reconhecimento de temas e estudos dos países do MERCOSUL;

g) promover a melhoria do relacionamento ensino-aprendizagem e treinamento acadêmico-profissional, por meio de conhecimento de novas práticas didático- pedagógicas e experiências que refletem a crescente diluição das fronteiras ensino-pesquisa-extensão;

h) promover experiências de formação de profissionais para atuar em um contexto de internacionalização;

i) enriquecer a formação dos jovens, oferecendo-lhes a oportunidade conhecer diferentes culturas e desenvolver valores como a solidariedade, a tolerância e o respeito pela diferença, e promover uma maior participação dos estudantes em questões sociais;

j) promover e desenvolver a proficiência nas línguas oficiais dos países participantes.

Participam do programa cursos de graduação avaliados e aprovados pelo Sistema de Acreditação Regional de Cursos Universitários do MERCOSUL (ARCU-SUL) ligados a instituições dos quatro países membros (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e dos países associados Bolívia e Chile. Desde o ano de 2006 até o ano de análise desta tese, foram realizadas chamadas regulares destinadas a estudantes, docentes e coordenadores dos cursos acreditados pelo sistema ARCU-SUL (BRASIL, 2017c).

Para estimular a recepção de professores e pesquisadores estrangeiros, tendo como objetivo enriquecer os cursos de pós-graduação brasileiros, foi instituído, em 2006, como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o programa Escola de Altos Estudos (EAE). Por meio desse programa é incentivada a vinda ao Brasil de professores e pesquisadores estrangeiros, preferencialmente laureados internacionalmente, a exemplo do Prêmio Nobel, da Medalha Fields na Matemática e premiados equivalentes. Entre 2007 e 2010, o programa contabilizou 77 projetos de EAE e foram R$ 42 milhões investidos, com o envolvimento de alunos de graduação e pós-graduação (BRASIL, 2017a).

A política de programas sul-sul também é percebida pela ação da CAPES e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que iniciaram, em maio de 2007, o primeiro mestrado promovido pelo Brasil no exterior. O mestrado em Saúde Pública, em parceria com o governo de Angola, por meio da Universidade Agostinho Neto, em Luanda (BRASIL, 2014c).

Com base no exposto acima, pode-se destacar que a política de internacionalização universitária, durante o governo Lula, seguiu a política externa desse governo e visou à cooperação acadêmica e científica internacional no eixo sul-sul, ou seja, por meio de programas com países em desenvolvimento.

2.3.2 Política e ações de internacionalização universitária no governo Dilma – Programa

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