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2 Revisão da literatura

2.2 Atividade do turismo: visão geral

2.2.1 Pontos positivos e negativos das atividades turísticas

Apesar da evolução dos estudos em torno do turismo, é importante analisar como essa área vem contribuindo de forma positiva e negativa para o desenvolvimento de uma região. Em sua maioria, as investigações em torno das consequências benéficas têm recebido mais destaque do que o seu oposto. Diversas pesquisas já foram desenvolvidas com o intuito de identificar ferramentas que pudessem aumentar esses benefícios resultantes (MARTINS, 2005). Entretanto, com o advento da sustentabilidade, há a necessidade de aprofundar não apenas os impactos positivos, mas também os negativos ocasionados pelo desenvolvimento do turismo e da exploração do local (KOROSSY, 2008).

Tais consequências, positivas e/ou negativas, podem ser observadas de diferentes formas, dependendo do tipo de serviço prestado, do local, da atividade e da dimensão desses resultados (MCMINN, 1997). No geral, a principal consequência positiva citada pelos autores que estudam essa temática, tais como Welford, Ytterhus e Eligh (1999), Le (2005) e Richins (2009), é o desenvolvimento econômico do local. As atividades turísticas permitem a geração de renda na região, mediante a entrada de recursos oriundos dos turistas e pela necessidade de outros serviços que possam suportar as demandas do sistema turístico como um todo.

Para os países em desenvolvimento, Bob, Ghita e Saseanu (2010) destacam especialmente as atividades turísticas de lazer, que promovem uma melhoria na infra-estrutura como um todo para a população local (BOB; GHITA; SASEANU, 2010). Conforme esses autores, o aumento no número de visitantes, além da renda, também atrai investimentos para a elaboração de estratégias de qualificação, como a capacitação da mão-de-obra. Isso é particularmente importante para regiões menos abastadas, porque pode utilizar as atividades turísticas como um fator motivador para o processo de educação no local. Le (2005), por exemplo, observou o fortalecimento do turismo no Vietnã pelo governo para tentar recompor a econômia devastada em virtude da guerra.

Além desses pontos positivos, há o envolvimento do governo local para o desenvolvimento da infra-estrutura. De acordo com Alonso e Ogle (2010), o governo tem um papel fundamental, pois é quem promove a estrutura adequada para a construção de uma boa imagem do destino turístico e para o sistema turístico como um todo, desde a chegada do indivíduo até o retorno para o seu local de origem. Tais investimentos podem ser observados de uma perspectiva mais macro, como a estrutura dos principais mecanismos de logística dos turistas, exemplificados pelos aeroportos, rodovias, estradas, apoio fiscal para a construção de hotéis, pousadas ou resorts, mas também podem ser vistos de uma perspectiva mais micro, como ampliação da energia elétrica, sistema de abastecimento de água, segurança, entre outras questões.

Para que as consequências positivas ocorram, Weiermair, Peters e Frehse (2008) apontam a importância da parceria entre as instituições públicas e privadas no desenvolvimento da região para o turismo. De acordo com esses autores, sem o investimento do governo, não há como receber bem o turista, pois os serviços que dependem de uma estrutura básica não serão oferecidos de forma adequada, ao passo que se a empresa privada não se adequar, ou capacitar os seus funcionários, também não haverá um bom serviço turístico.

No entanto, a indústria do turismo também pode gerar consequencias negativas. Um dos principais impactos está relacionado ao meio ambiente (CANDREA; ISPAS, 2009). Segundo Moscardo (2007) e Quian (2010), os impactos negativos ao meio ambiente são inerentes a atividade turística porque, sendo o turismo dependente dos recursos naturais, e muitos deles não renováveis, e das heranças históricas, os envolvidos tendem a utilizá-los de forma inapropriada.

Mckercher (1993), já tinha apresentado tais informações quando descreveu certas características próprias do turismo, que são:

 O turismo tem necessidades específicas de infra-estrutura;

 Como um consumidor de recursos, tem a habilidade de consumir em excesso tais recursos;

 O turismo, por ser uma indústria dependente de recursos, deve competir por recursos escassos para assegurar a sobrevivência;

 O turismo é uma indústria dominada pelo setor privado, com decisões de investimento sendo predominantemente baseada em maximização do lucro;

 Turismo é uma indústria multifacetada e, como tal, é quase impossível ser controlada. Ismail e Khalil (2010) exemplificaram os impactos quando avaliaram as consequências de um projeto turístico ao longo da costa do Mar Vermelho. Segundo esses autores, as cidades e centros recreativos que foram desenvolvidos para exploração da atividade, muitas vezes foram feitos sem qualquer avaliação adequada dos potenciais impactos ambientais. Os materiais oriundos dos navios e dos barcos sedimentaram, matando a vida marinha e criando um efeito adverso nos ecossistemas vizinhos (mangues, leitos de algas marinhas, recifes de corais) e que acabou gerando um declínio na produtividade do mar. Na atual conjuntura que se desenvolvem as atividades turísticas, o ambiente está o tempo todo a merce de um algum dano, especialmente durante os últimos anos por causa do crescimento no número de turistas e das distâncias por eles percorridas (BOB; GHITA; SASEANU, 2010).

Além desse aspecto, a comunidade local também é impactada com resultados negativos. Não apenas pelos recursos naturais, mas também pela infra-estrutura gerada pela demanda do turismo, tais como o consumo de água, geração de resíduos e uso de energia. Alguns dos diferentes tipos de impactos que o desenvolvimento do turismo e atividades operacionais podem ter incluem, segundo Bob, Ghita e Saseanu (2010, p. 35):

• Ameaças aos ecossistemas e biodiversidade - por exemplo, perda de vida selvagem e espécies raras, perda de habitat e degradação;

• Ruptura das costas - erosão da costa pela poluição, impacto nos recifes de corais e nas áreas de desova de peixes;

• Desmatamento - perda de florestas para lenha e madeira ou desmatamento para construção de resorts e pousadas, erosão e/ou perda da qualidade do solo e da qualidade da água, perda da integridade da bio-diversidade, redução da coleta de produtos florestais pelas comunidades locais;

• Uso excessivo de água - como resultado do turismo/atividades recreativas, por exemplo, piscinas, consumo dos turistas em hotéis e outras atividades recreativas que utilizam a agua como principal base de trabalho;

• Problemas urbanos - O congestionamento e superlotação, o tráfego de veículos e consequencias ambientais, incluindo poluição atmosférica e sonora, e impactos na saúde, queda da qualidade das estradas;

• Exacerbação das mudanças climáticas - a partir do consumo de combustíveis fósseis para estabelecimento da energia em hotéis, viagens e atividades de recreação;

• Uso insustentável e desigual de recursos - energia e água para consumo, produção excessiva de resíduos, aumento no lixo sólido.

Candreas e Ispas (2009) aprofundam o debate com inclusão do papel do visitante nas áreas turísticas. Segundo esses autores, o visitante ajuda a promover a destruição da área no momento em que não considera a conservação da biodiversidade, não respeita áreas protegidas, não respeita os costumes da localidade e tenta impor o seu estilo de vida a região. Gračan, Sander e Rudančić-Lugarić (2010) também comentaram sobre as consequências do papel do visitante nas áreas turísticas, mas focando no âmbito social. Esses autores consideram que, na tentativa de proporcionar um evento inesquecível, as atividades turísticas desenvolvidas podem muitas vezes resultar na perda de autenticidade do destino para agradar ao máximo aos visitantes. Mckercher (1993) já havia comentado que tais ações que acabam por promover prejuízos sócio-ambientais são consideradas inevitáveis e irão ocorrer independente das ações das empresas. Porque, na visão desse autor, os turistas são consumidores, entendem o turismo como entretenimento e, diferente de outras atividades industriais, o turismo importa clientes, o que invariavelmente acabará ocasionando algum tipo de prejuízo ao local, seja ele ambiental ou social.

Outro ponto negativo que merece destaque é a ausência de inclusão das pequenas áreas turísticas em um plano nacional de turismo, de proteção ao meio ambiente e de responsabilidade

social. Por não contemplar tal estrutura, os empresários acabam por explorar, de forma inadequada, pequenas áreas em desenvolvimento (ELIGH; WELFORD; YTTERHUS, 2002). Le (2005) atenta que todo os impactos negativos no local da atividade turística é responsabilidade dos agentes que exploram o entorno, tais as empresas de hospitalidade, agências de viagens, operadores de turismo, companhia de transporte e provedor de serviço, de todo o processo logístico desde a saída do turista até o retorno para o local de origem. (ELIGH; WELFORD; YTTERHUS, 2002).

Nesse sentido, o setor governamental representa um indutor das atividades de preservação concomitantemente com o crescimento da região, pois as políticas públicas são responsáveis pela forma como os investimentos estão sendo aplicados, pelas normas regulatórias e pelo papel de principal orientador na condução dos serviços (COOPER, 2001; SWARBROOKE; HORNER, 2002). Dessa forma, o planejamento do destino turístico é fundamental para garantir a sobrevivência da atividade em longo prazo, manter o meio ambiente e a biodiversidade protegida e valorizar características culturais da comunidade (SCHMITT, 1999).

O próximo tópico abordará a perspectiva do turismo sustentável frente às consequências negativas aqui dispostas e como está o direcionamento do tema no Brasil.