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Porque a Associação Educacional Labor procurou a parceria da universidade

2. CENÁRIOS: CONTEXTO E HISTÓRICO DO PROJETO

2.2 Porque a Associação Educacional Labor procurou a parceria da universidade

Com o aumento da complexidade da sociedade atual, incluindo um crescente nível de sofisticação tecnológica que leva a rápidas mudanças nos processos de produção e

31 Com a finalidade de manter a privacidade da instituição, demos o nome de Escola do Bairro à escola

na qual se desenvolveu a pesquisa-Intervenção narrada na presente tese. Trata-se de uma escola municipal de ensino fundamental (EMEF), de um bairro da Brasilândia, que funcionava em 4 turnos, à época da pesquisa: das 7h às 11h, das 11h às 15h, das 15h às 19h e das 19h às 23h, isto é, ininterruptamente.

32 Sobre a Associação Educacional Labor, ver nota 13 do capítulo anterior (capítulo 1). 33 Programa de Estudos Pós Graduados em Educação / Psicologia da Educação da Pontifícia

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uso de materiais e de informações, exige-se das novas gerações um tempo cada vez maior de escolarização, além de uma capacidade bem desenvolvida de “aprender a conhecer”, dentro e fora do contexto escolar. Essa capacidade é, simultaneamente, “um meio e uma finalidade da vida humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia (...) para desenvolver as suas capacidades profissionais, para comunicar. 34 Assim, em menos de 50 anos, o ensino fundamental, reconhecido como direito de todas as crianças e sua oferta como obrigação do Estado, passa de 4 anos para 8, mais recentemente para 9 anos e, finalmente, para 12 anos ao se incluir o Ensino Médio como obrigatório, completando- se assim a educação básica. Por outro lado, garantir que os filhos frequentem a escola dos 6 aos 14 anos, tornou-se uma obrigação legal da família.

Mais ainda: além de estender a cobertura do ensino desde a pré-escola até o ensino médio, a sociedade busca também melhorar a sua “qualidade”. Uma das formas amplamente colocadas em prática para isso consistiu em se criar muitas alternativas de educação complementar – espaços educativos extraescolares – ou em aumentar o tempo da permanência da criança na escola, oferecendo-lhe educação em tempo integral.

Em 1999, duas técnicas, responsáveis por seleção e orientação de projetos sociais e educativos da Vitae35, incentivaram instituições a investir na criação de uma experiência na interface entre instituições sociais e escolas, que favorecesse a oferta de educação em tempo integral para crianças e adolescentes, por meio da associação e sinergia entre as escolas e os demais equipamentos educativos da localidade.

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“Aprender a conhecer” é um dos Quatro Pilares da Educação para o século XXI, de acordo com relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors. O Relatório está publicado em forma de livro, no Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999).

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Vitae, conhecida também como “Fundação Vitae”, foi uma associação civil sem fins lucrativos que apoiava projetos nas áreas de Cultura, Educação e Promoção Social. Instituição com atuação no Brasil, Chile e Argentina, Vitae foi criada em 1974 e fechada ao final de 2005, devido a ter se esgotado o fundo que a criou, mantido pela colaboração de diversas empresas. A ideia, que deu origem ao Projeto Participação e Diálogo, partiu de Conceição Bongiovanni, responsável pela área educacional da Vitae, e de Rebecca de Castro Filgueiras Raposo, responsável por projetos sociais.

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Partia-se da hipótese que, nos casos em que se amplia a oferta de educação por meio de atividades complementares em horário alternativo ao da escola, se um mesmo jovem é sujeito a processos educativos proporcionados por diferentes instituições, seria importante que os educadores dessas instâncias pudessem atuar de modo integrado, trocando informações sobre o aluno e planejando em conjunto os processos pedagógicos sob sua responsabilidade. Para tanto, seria necessário proporcionar a interação e integração entre esses educadores.

Por outro lado, tanto as escolas quanto quaisquer outros tipos de organização educativa precisam interagir com um outro tipo de instituição considerada fundamental na educação das crianças e jovens: a “família”, de quem as demais instituições esperam uma ação básica de grande responsabilidade e uma colaboração complementar.

Para orientar, tanto as escolas quanto a organização social, a Vitae convidou a Associação Educacional Labor, cujas iniciativas vinha acompanhando havia algum tempo. Projetos da Labor financiados anteriormente pela Vitae, que os acompanhara e avaliara, levaram ao estabelecimento desse patamar de confiança.

Com efeito, a Labor havia desenvolvido competências tanto na área pedagógica quanto na de gestão, trabalhando de forma participativa nas instituições que atendia. Isso levava os educadores, de um lado, a melhorar seu fazer pedagógico, aumentando a eficácia do ensino para todos os alunos, em especial aqueles mais “difíceis”; e, ao mesmo tempo, facilitava a revisão do Projeto Político Pedagógico com o conjunto da comunidade escolar, de modo que ele fosse efetivamente assumido pelo coletivo. A coordenação e o quadro técnico da Associação Educacional Labor são formados quase exclusivamente por professores e gestores de escolas públicas, tanto municipais quanto estaduais. Esses educadores, que desenvolveram e aplicaram os princípios e metodologia propostos pela organização, continuam agindo e discutindo, aperfeiçoando a teoria e a prática que embasam a atuação da Labor junto a escolas públicas e, também, junto a organizações da sociedade civil voltadas à educação de crianças e jovens.

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A forma de atuação da Labor é original e consegue bastante eficácia no alcance de seus objetivos. Isso se deve a vários fatores, dentre os quais ressalta-se o fato de seus quadros serem justamente pessoas que vivem, em seu dia a dia, a realidade do sistema educacional brasileiro. Além disso, “entrar num projeto da Labor” é sempre uma opção – primeiro da escola e, depois, do educador: considera-se fundamental que haja adesão e ninguém participe dele por obrigação. Os projetos são desenhados “sob medida” para as escolas objeto da experiência e seu detalhamento é realizado em parceria com os gestores: desde os técnicos das Secretarias de Educação até a equipe de direção da escola. Os princípios e métodos são discutidos intercalando-se teoria e prática. O trabalho dos professores é acompanhado individualmente por um “orientador” (em geral um professor de escola pública como ele, com experiência na Proposta Labor) e há encontros/oficinas ao longo de todo o processo, nos quais são apresentados os avanços e dificuldades de cada um e propostos/discutidos os novos passos. Não se impõe um projeto único, “enlatado”, ao professor, mas princípios e procedimentos que ajudem cada participante a planejar individualmente seu próprio projeto de ensino, de acordo com a realidade de seus alunos, a formação e habilidades especiais do professor, a escola em que atue, a comunidade do entorno, o momento histórico-político vivido etc. Tudo isso cotejado com os objetivos pedagógicos que lhe competem durante o período no qual se desenvolve o projeto.

Diante do convite feito pela Vitae, no início do ano de 2000, a Labor, em conjunto com a direção das instituições beneficiadas, desenvolveu o Projeto Educação em Tempo Integral, no qual uma organização social, que atendia adolescentes e jovens de um bairro periférico de São Paulo no contra-turno escolar, associou-se a 3 escolas do entorno, das quais provinha a grande maioria de seus educandos, para buscar uma atuação integrada, tanto do ponto de vista dos princípios pedagógicos como de gestão. A proposta era apoiar o intercâmbio de conhecimentos e expertises, as trocas de informações sobre os jovens, o aperfeiçoamento da prática educativa dos educadores e a reconstrução dos projetos políticos pedagógicos de cada instituição, de modo a incorporarem princípios e objetivos comuns, possíveis ações em interface e um processo de reflexão em conjunto. Mas o projeto foi interrompido, não se chegando a

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conclusões sobre a proposta. A Labor procurou outros parceiros para desenvolver essa ideia, de modo a poder chegar a propostas de políticas públicas nesse sentido.

Ao tomar conhecimento da solicitação, feita ao grupo de pesquisa da Dra. Heloisa pela Escola do Bairro e pela Associação Comunitária, a equipe técnica da Labor procurou a PUC-SP, formalizando-se assim a parceria para se desenvolver o Projeto Participação

e Diálogo.

Ele consistiu no apoio a um processo de interação dialógica entre instituições educativas (incluindo-se as famílias) de um mesmo bairro, situado no distrito da Brasilândia, cidade de São Paulo.