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Procedimentos: descrição das atividades de intervenção e de pesquisa

5. MÉTODO

5.3 Procedimentos: descrição das atividades de intervenção e de pesquisa

Cabe, aqui, distinguir entre os procedimentos do projeto de intervenção, em cujo âmbito se desenvolveu a presente pesquisa, e os procedimentos desta mesma pesquisa.

5.3.1 Procedimentos do Projeto Participação e Diálogo enquanto pesquisa longitudinal e enquanto processo de intervenção

O projeto de pesquisa intervenção foi instituído com o título de Participação e Diálogo:

a prática dialógica na escola, família e comunidade, e teve como objetivo geral,

enquanto pesquisa, analisar o processo de implantação de práticas educativas e de

gestão escolar segundo uma perspectiva participativa e dialógica em uma escola municipal, um CEI, uma EMEI e um Centro de Educação Complementar comunitários e entre as famílias de alunos dessas instituições.137

Essa pesquisa se constituiu, na realidade, de um grande conjunto de subprojetos de

alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e da própria coordenadora da pesquisa.138

Segundo relatório da coordenação desse projeto, no qual atuaram vários pesquisadores – alunos de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e educadores- pesquisadores, além da própria coordenadora, Heloísa Szymabski – as principais etapas executadas no período, visando ao alcance dos objetivos da pesquisa, foram:

136 Idem, p 12.

137 Segundo relatório de Heloísa Szymanski, entregue em 2010 ao CNPq, que apoiou o projeto, onde foi

protocolado sob No 307288/2006-4.

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1. Elaboração dos Projetos de Pesquisa

2. Contato com as instituições parceiras e participantes

3. Levantamento inicial de dados sobre as instituições e famílias 4. Constituição das equipes de pesquisa e de intervenção

5. Entrevistas coletivas, realizadas pela equipe de coordenação da pesquisa, com os gestores e educadores pesquisadores de todas as instituições, para discussão conjunta dos objetivos da intervenção e das demandas das instituições

6. Acompanhamento das atividades de intervenção e desenvolvimento de projetos, com observação e registros realizados por Alunos Bolsistas em cada instituição 7. Desenvolvimento dos subprojetos individuais de Mestrado, Doutorado e da

Coordenadora da pesquisa

8. Atividades de sistematização, análise dos resultados dos subprojetos e redação dos mesmos.

Essas atividades se realizaram em repetidos ciclos, de modo integrado, por um processo de intervenção que se desenrolou também ao longo do tempo. Durante o desenvolvimento do projeto, foi possível, entre outros ganhos, aprimorar o método de entrevista e encontros reflexivos, os quais, ao mesmo tempo em que eram procedimentos de pesquisa, constituíram-se em práticas psicoeducativas – definindo, assim, o caráter de pesquisa intervenção desse Projeto de intervenção como um todo. O processo de intervenção, em cujo âmbito se desenvolveu essa pesquisa, é detalhado pelas narrativas que apresentamos a seguir, e seu escopo foi trazido de forma resumida no segundo capítulo deste trabalho, “Cenários”, o qual retomo aqui por oportuno:

1. Apresentação e detalhamento do Projeto às equipes de direção da Escola e da Associação do Bairro.

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2. Constituição do Grupo Diálogo que se encarregaria da gestão do processo junto às respectivas instituições.

3. Divulgação do Projeto para os educadores da Escola, da Associação Comunitária e para as famílias, por meio de atividades de comunicação e sensibilização.

4. Realização de um levantamento sobre as instituições educativas (Associação, Escola e Famílias) com a participação de todos os segmentos – alunos, pais, educadores, gestores, funcionários, lideranças da comunidade – para identificar como cada segmento via as próprias instituições e como desejaria que fosse. Ou seja, como descreveriam a realidade, de seu ponto de vista, e quais as suas aspirações para a ação educativa das crianças e jovens.

5. Compartilhamento dos resultados com todos os segmentos, chegando-se a propostas de projetos que pudessem contribuir para as melhorias desejadas, seguindo-se uma eleição de prioridades.

6. Desenvolvimento de uma proposta de integração dos projetos políticos pedagógicos das instituições.

7. Planejamento e realização das propostas eleitas como prioritárias (Alfabetização de todos até a 4ª série; Curso de Apoio Pedagógico; Oficina de Elaboração de Projetos; Construção coletiva do Projeto Político Pedagógico da Associação), sempre que possível de modo integrado entre a Escola, a Associação Comunitária e as Famílias.

8. Acompanhamento de todas essas atividades por projetos de pesquisa- participante da PUC, conferindo ao Projeto vários olhares capazes de analisar o significado de cada etapa, de cada situação, e ainda do processo como um todo. Esses passos, tanto os voltados mais especificamente às atividades de pesquisa quanto os do processo de intervenção, foram realizados ao longo de quatro anos. Na execução dessas etapas, vários métodos e técnicas foram empregados, sempre buscando a forma dialogal e participativa. Destas, destacaram-se:

 observações em sala de aula, com devolutiva ao professor e discussão de resultados;

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 entrevistas individuais e coletivas com docentes e com alunos;  entrevistas reflexivas com educadores e com professores;

 plantão psicoeducativo junto aos professores da escola e educadores da creche;  atenção psicoeducativa às famílias;

 encontros reflexivos com familiares, para discussão de temas eleitos pelos participantes;

 levantamentos da realidade junto à escola e à Associação do bairro, aplicando os procedimentos do LER139 (Levantamento Escolar de Realidade), inspirados nos métodos e técnicas de DRP (Diagnóstico Rápido Participativo);

 apoio à orientação das professoras de 4as e 3as séries e aos familiares das crianças não alfabetizadas dessas turmas, para o desenvolvimento das atividades de alfabetização;

 desenvolvimento do Curso Labor;140

 oficinas participativas de elaboração de projetos, resultando na pelaboração de projetos relativos as prioridades eleitas;

 orientação do processo de construção coletiva do Projeto Político Pedagógico da Associação de Bairro; e,

 apoio à organização de reuniões na escola com famílias dos alunos.

5.3.2 Atividades desta pesquisa intervenção no âmbito do Projeto Participação e Diálogo

Para realizar a presente pesquisa, foram adotados os procedimentos descritos a seguir.

 Identificação das questões mobilizadoras em direção ao alvo da pesquisa.

Essas questões apareceram como uma decorrência da intensa participação nas atividades de intervenção, nas discussões com o grupo de pesquisa, e na curiosidade em conhecer mais sobre como todo esse processo havia afetado as pessoas, para

139 A esse respeito, ver Anexo 3. 140 A esse respeito, ver Anexo 4.

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além dos resultados imediatamente visíveis, e compreender melhor o tipo de experiência com-vivida, para poder compartilhá-la com outras pessoas interessadas noa mesmos temas.

 Escolha de „narrativa‟ como processo descritivo da experiência.

A leitura e discussão de textos, especialmente Magia e técnica, arte e política, de Walter Benjamin proporcionam uma visão em maior profundidade sobre diferentes funções e formas de relato, tornando a escolha pela narrativa bastante desafiadora, levando a reflexões como: o que é narrar, contar uma história? Sob quantos pontos de vista ela pode ser contada? Isso não depende de para quem, para quê ela é narrada, e ainda do papel que teve o narrador nos fatos narrados, do que o mobilizou a agir e a relatar? Isso exigiuque se explicitasse não só a forma de relatar, pela narrativa, mas a forma de apresentar a narrativa ao leitor. Porque ao narrar uma experiência, quem a vivenciou pode transmitir sua experiência a outros, seus ouvintes, desde que partilhem de uma “comunidade de vida e de palavra”141. E, dessa forma, “compartilhar” sua experiência, ampliando a experiência do ouvinte, sem que ele tenha tido que vivenciá- la. Essas características da narrativa exigiriam uma boa escolha dos narradores, que pudessem trazer, em suas narrativas, universos culturais semelhantes mas complementares. Tornariam necessária também a construção de uma narrativa das

narrativas, em que os significados evidenciados em cada uma delas fossem trazidos à

luz e, enquanto conjunto, desvelassem novos significados.  Planejamento da pesquisa.

A pesquisa foi planejada e replanejada na medida em que os procedimentos do processo de intervenção iam avançando e exigiam adaptação com relação ao planejado. De modo que a pesquisa adquiriu, finalmente, o formato atual.

 Estudos e discussões sobre a perspectiva fenomenológica e sobre a natureza da

narrativa

Esses estudos ocorreram ao longo do doutorado e na interação com grupos de projetos de intervenção, tanto no contexto desta pesquisa como em outros. Tendo as questões

141 BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São

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deste trabalho em mente, instalou-se um movimento de procura por um entendimento sobre o que seria essa pesquisa e sobre a forma de conduzi-la, o que resultou, por aproximações sucessivas, na compreensão aqui explicitada.

 Escolha dos sujeitos

Os sujeitos foram escolhidos pelos seguintes critérios: ter participado de todas as atividades do Projeto Participação e Diálogo, desde o início, em todas as fases; ser de cada uma das instituições envolvidas – Escola e Associação; ter conhecimento e responsabilidade na gestão das organizações e na gestão das atividades do Projeto. Com essas características, pensamos inicialmente no presidente da Associação e no Diretor da Escola. Depois, tendo em vista o terceiro critério, decidiu-se incluir também a Coordenadora Pedagógica da Escola, por ela ter participado de algumas das atividades mais importantes do Projeto, das quais o Diretor não pudera participar. Assim, seria possível obter uma narrativa mais completa, por parte da experiência vivida pela escola.

 Coleta das narrativas.

O presidente da Associação Comunitária fez sua narrativa de modo oral, como um depoimento, sem interrupções, a partir da explicação de como se esperava trabalhar nesta pesquisa e de uma solicitação para narrar como havia sido o Projeto Diálogo, desde o início, como ele vira essa experiência para si mesmo e para a sua instituição. Quando deu por terminada a sua fala, foi feita mais uma provocação: se fosse explicar sobre o processo vivido para uma outra pessoa, que não tivesse passado pela experiência mas que gostaria de se inspirar nela para desenvolver um projeto, o que ele recomendaria, o que faria diferente. A narrativa foi gravada, transcrita e levemente editada, somente para deixar claro o texto escrito. Essa transcrição editada foi revista pelo autor dessa narrativa, para conferir e proceder a algum reparo que considerasse necessário. Mas ele confirmou que a manteria sem nenhuma modificação.

Da mesma forma, foi colhida a narrativa dos dois sujeitos da Escola do Bairro. A diferença foi que, nesse caso, tivemos uma narrativa compartilhada entre o Diretor e a Coordenadora Pedagógica, como uma conversa, cada um trazendo seus aportes, suas

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lembranças e seus pontos de vista, mas ambos entrando, vez ou outra, para complementar ou enfatizar a fala do outro. A mesma provocação foi feita quando pareciam ter acabado a fala inicial, ensejando nova etapa na conversa, até considerarem esgotado o assunto. Da mesma forma, ao receberem a narrativa editada, tanto um como a outra confirmaram a validade do texto e autorizaram sua publicação na tese.

A narrativa feita pela autora teve caráter necessariamente diverso. Apesar da diferença entre as circunstâncias da narrativa, por vários motivos – sendo as principais o papel da narradora pesquisadora (fazendo parte da equipe da Universidade) e enquanto técnica que orientara o processo participativo no Projeto de intervenção (fazendo parte da equipe da Labor), aliada ao fato de não ser educadora do bairro e de narrar sua experiência por escrito e não como entrevistada – a autora tentou aproximar seu depoimento das condições dos outros narradores: escreveu sua “fala” antes de colher as demais, para não ser induzida; sem consultar os documentos e anotações feitas durante o processo, para não ter „ajuda à memória‟ como os demais não tiveram; deixando, assim, aflorar de sua memória o que se apresentasse, nessa tarefa de relatar a experiência vivida. Posteriormente, para melhor compreensão do leitor, colocou notas de rodapé e incluiu alguns documentos como anexos.

 Análise das narrativas.

A natureza das narrativas que surgiram foi bem diversa: a da autora consistiu mais de uma descrição do processo desenvolvido junto às instituições, ao passo que as outras duas narrativas tiveram um caráter mais de balanço. Embora tivessem começado a narrar como se dera o início do processo de intervenção, rapidamente a atenção dos narradores se voltou para a explicitação do que havia ficado, do que havia resultado de todo o processo.

A autora se propôs a proceder a uma análise mais detalhada das duas narrativas que não a sua própria, por três motivos: pela dificuldade em proceder a uma releitura e classificação do próprio texto, na forma planejada; e por ser esta demasiado extensa,

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explicativa de todo o processo. De qualquer forma, na hora da análise, esse relato seria relido a partir dos resultados da análise das outras duas narrativas.

Para a análise das duas narrativas, a “da Associação” e a “da Escola”, a autora procedeu da seguinte forma:

a) identificar as várias afirmações feitas em cada fala;

b) identificar as categorias subjacentes a essas afirmações (sobre o que versavam), na forma como estas se impuseram a partir das próprias narrativas analisadas; c) reunir as afirmações feitas em cada categoria para ver, em maior profundidade, as

várias faces, os vários aspectos enfatizados, bem como os sentimentos l relacionados a eles;

d) identificar de que modo cada narrativa trouxe elementos dessa experiência que evidenciam como os sujeitos se sentiram “afetados” por ela, tornando-os significativos para si próprios, e quais testemunham como tendo afetado suas instituições.

 Conclusões.

Para chegar às conclusões, foi proposto o procedimento de releitura das narrativas, à luz das análises feitas, buscando: o que se ressalta em cada uma; o que têm em comum; e o que trazem de diferente - seja como visão complementar, seja de como falas de natureza diversa, seja como elementos significativos em oposição ou contradição. Dessa forma, poderia ser concluída essa “narrativa das narrativas”, a qual pretende levar a um olhar mais profundo, na busca de novos significados. E assim poder contribuir para a reflexão sobre a experiência vivida, tirando algumas conclusões que possam iluminar a compreensão de outras escolas, de outras organizações sociais, especialmente das que queiram trabalhar em interface, ou com famílias, ou com as duas coisas ao mesmo tempo.

Outro aspecto interessante, que se pretendeu ressaltar, é o significado dessa experiência para as instituições intervenientes – o programa PUC-SP à frente do processo e sua equipe de pesquisa intervenção participativa; e a Associação Educacional Labor, enquanto equipe de técnicos envolvidos no processo e enquanto

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instituição. Essa reflexão deveria iluminar, também, o sentido da atuação dessas instituições junto a educadores e familiares de alunos, em escolas e organizações educativas.

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