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POSLÚDIO: A BUSCA ALÉM DO SIGNIFICADO A concretude dos fatos e das coisas nem sempre permi-

A CORAGEM DE PENSAR, CRIAR E CUIDAR (DA VIDA E DE SUAS RELAÇÕES)

INTRODUÇÃO: VAMOS COMEÇAR A COMPOSIÇÃO DE UM MOSAICO

4. POSLÚDIO: A BUSCA ALÉM DO SIGNIFICADO A concretude dos fatos e das coisas nem sempre permi-

te uma tangibilidade presente que salta aos olhos. O direito e a arte, quando complementares entre si, padecem dessa ausência de tangibilidade, quer porque o direito trabalha principalmente com o conflito, ainda que submeta suas normas à tarefa de tra- tá-las mutuamente, resolvendo os casos que são submetidos ao controle da tutela jurisdicional, quer porque a arte, em seu dom de expor imagens, linguagem, sons, que nem sempre correspon- dem a uma expressão de mundo, e que, nem por isso, deixam de deter uma expressão e significados próprios e profundos, de que tem por objetivo a busca por uma demonstração de sentido e de valoração da temática.

O modo pelo qual ocorre a representação dita artística ou a sua própria expressão, se dá pelo ato criativo, no âmbito da esfera das relações e símbolos que pertencem ao cotidiano, linguagem ou imaginário humano.

Por isso mesmo, esse encontro criador, poderá irromper as paredes, abrir as estruturas internas, e, assim, avançar em sua proposta de numinosidade: do real imaginado para o real concre- to, de presença constante para um dado permanente, do simbó- lico e intuitivo possível pela arte e pelo ato criador, onde habita o logos, crescerá o potencial que, pouco a pouco fará do direi- to, não uma singela ideia-imagem, mas um forte símbolo que, inobstante conter o traço da conflitividade, também ensejará a realidade de co-pertencimento e de força unitiva, agregadora da condição humana: a expressão arquetípica da realidade humana como realidade de vida.

Em breve síntese, o presente estudo teve como escopo examinar o direito, enquanto disciplina ou ciência, a partir da influência da arte. Para tanto, a distribuição dos temas neste ex- postos, assim se deram: na primeira parte, chamada introdução, a

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mesma seguiu delimitada com as principais propostas, incluindo os objetivos específicos, que deram lugar aos demais itens.

Na segunda parte, intitulada Prelúdio: A arte - a linguagem entre e por detrás da linguagem, a temática apresentada cuidou por ex-

por a arte enquanto paradigma facilitador do raciocínio jurídico,

locus por onde pode ser observadas as variadas possibilidades de

compreensão do fazer justiça, de conferir justeza e uma melhor posição da vida à luz da arte, qual seja, de não ser indiferente aos seres humanos de todas e quaisquer épocas, ao contrário, revela- -lhe, o sentido maior da vida, e restitui dignidade às suas relações, o que requer seja repensado.

Na terceira parte, denominada Interlúdio: O direito e a “es- cola do olhar”, o direito foi examinado agregado à arte. Restou

concluído que apesar do direito seguir inacabado, pela dinâmi- ca da “escola do olhar”, ambos, direito e arte, precisam manter um diálogo, uma dimensão tal que quebre barreiras, inclusive do pensamento, com a firme disposição ditada pela inteligência da complexidade, de agregar ao direito a possibilidade de uma nova cultura científica nascente da influência da arte.

Na quarta parte, identificada com Poslúdio: A busca além do significado, em que foram apresentados os principais aspectos

desta análise. Conforme exposto, este irromper-se do direito, atingido pela arte, e conduzida pelo clarão da nova visão, possí- vel pela condução da “escola do olhar” que, em contato com a arte, é esperado que a mesma acrescente ao direito, o que não foi possível assimilar em seu processo histórico: de ser sustentáculo uns aos outros e defensor da vida e de suas relações.

Essa qualidade de “reparo” que a arte proporciona ao direito é, sem dúvida, a demonstração de que o direito precisa aceitar e avançar na esfera da inteligência complexa. Também a arte, poderá crescer pela influência do direito. Trata-se, pois, de estabelecer um recurso legítimo de duas complementaridades, na qual ambas serão reciprocamente auxiliares na tarefa de pensar, criar e cuidar do direito, das relações e todas as suas inimaginá- veis manifestações.

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Direito e ar

te: a corag

em de pensar

, criar e cuidar (da vida e de suas relações)

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DES(CONS)TRUINDO O BODE