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2 A PESQUISA SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS:

2.3 POSSÍVEIS APROXIMAÇÕES ENTRE A ABORDAGEM

A partir dos princípios da escola institucionalista, assim como das abordagens que se convencionou chamar de neoinstitucionalismo na economia e nos estudos das organizações é possível perceber significativas aproximações entre estas correntes e as perspectivas que orientam as várias teorias da regulação. Para Reginaldo Santos (2003, p. 111) ―a Escola de Regulação é uma derivação da Escola Institucionalista, pois tem a mesma origem, a não aceitação dos postulados da teoria da economia neoclássica‖. Neste sentido, Conceição (2002, p. 133) destaca:

[...] conforme salientam autores como Boyer, Dosi, Samuels e Hodgson, há proximidade teórica entre os antigos e os novos institucionalistas, bem como certa afinidade com abordagens que não se denominam propriamente institucionalistas. É o caso da Escola Francesa de Regulação [...] que têm notáveis pontos em comum com os institucionalistas, principalmente no sentido de constituírem uma teoria alternativa ao mainstream neoclássico.

Partindo da ênfase à análise da dinâmica do capitalismo, pode-se inferir que existe um diálogo mais próximo entre a Teoria da Regulação e as abordagens denominadas institucionalistas, como o Antigo Institucionalismo e os Neoinstitucionalistas. Ainda, em se tratando das proximidades com o enfoque regulacionista, não são poucos os estudos baseados no ―paradigma institucionalista‖ que, centram-se na crítica à organização e performance das economias de mercado, por se constituírem em mera abstração.

Na perspectiva neoinstitucionalista, as instituições são permeadas por decisões e mudanças que envolvem processos influenciados por ações passadas e arranjos institucionais existentes que podem tanto ser restritivos quanto propiciar oportunidades para o surgimento de novos padrões decisórios e institucionais. Este conceito se situa no campo do institucionalismo histórico, conforme Hall e Taylor (2003), por enfatizar o papel de arranjos ou escolhas anteriores como influência fundamental sobre as ações e políticas futuras. Por sua vez, o enfoque regulacionista, neste cenário, tem grande interesse pela análise da incorporação do processo de mudança, que afeta irreversivelmente as formas institucionais vigentes no período pós-fordismo8.

O enfoque regulacionista tem inspiração em modelos de equilíbrio de forças e entende que as instituições são caracterizadas por longos períodos com mudanças somente ocorrendo em resposta a crises ou conjunturas críticas. Além disso, tal abordagem defende uma causalidade social dependente da trajetória percorrida ao rejeitar o postulado tradicional de que as mesmas forças ativas produzem em todo lugar os mesmos resultados, em favor de uma concepção segundo a qual essas forças são modificadas pelas propriedades de cada contexto, em consonância com os aspectos históricos. (HALL; TAYLOR, 2003)

Para Komatsu (2004) a análise institucional é extremamente relevante quando aplicada a organizações formais e em especial as do setor público, pois possibilita apontar a existência de influências externas não relacionadas exclusivamente ao processo produtivo o que indica que ―[...] a permanência e sobrevivência das organizações não depende apenas da existência de processos eficientes de coordenação e controle das atividades produtivas‖. (KOMATSU, 2004, p. 76)

Nessa perspectiva, a possibilidade de consequências inesperadas decorrentes de mudanças institucionais relaciona-se com o contexto institucional mais amplo no qual se insere. Mesmo considerando os atores envolvidos como agentes de mudanças, é razoável

8 O regime de acumulação fordista se resumiu em um modo de acumulação intensivo, baseado no consumo de

massas proporcional aos ganhos de produtividade na determinação dos salários e dos lucros nominais. No final dos anos 60, esse regime fordista entrou em crise, gerando uma crise nos ganhos de produtividade, gerando então um problema de superprodução. (LIPIETZ, 1989)

considerar que o contexto institucional define os parâmetros dos próprios esforços de transformação, ou seja, o contexto influi na capacidade e na percepção dos agentes envolvidos na reforma, afetando objetivos iniciais definidos na construção/mudança institucional.

Boyer (1990, p. 37 apud CONCEIÇÃO, 2002, p. 134) defende que ―[...] as análises em termos de regulação também dedicam uma atenção especial às formas assumidas pelas relações sociais fundamentais num dado momento histórico ou numa dada sociedade‖, cuja importância é dada pelo conceito de forma estrutural ou institucional.

Desta forma, é inegável a relevância destes conceitos do campo da perspectiva institucionalista para a introdução dos estudos sobre regulação. Além disso, uma maneira adequada de analisar o desenvolvimento das instituições é focar em momentos nos quais são realizados esforços para mudá-las. De fato, é possível considerar que nestes momentos os motivos e metas estabelecidas pelas mudanças são mais facilmente identificados; Para Komatsu (2004, p. 77) ―[...] isto ocorreu, por exemplo, nos processos recentes de reforma da administração pública empreendidos no Brasil e em diversos outros países, em seus esforços para redefinir as estruturas políticas e organizacionais‖.

A agenda de reformas estruturais em diversos países a partir da década de 1990 enfatizou, entre outros aspectos, a revisão do papel do Estado. É neste contexto que as questões regulatórias assumiram grande importância, especialmente a regulação econômica e dos serviços de utilidade pública.

No intuito de ratificar a pertinência das relações entre as abordagens apresentadas, Boyer (1990 apud CONCEIÇÃO, 2002, p. 94) apresenta as formas institucionais como um dos níveis de estudo para compreensão do processo de regulação. Neste contexto, o Estado não é tido como um sujeito exterior à economia, nem necessariamente, como um conjunto de instrumentos à disposição de uma classe social, mas como ―produto‖ dos conflitos inerentes às separações sociais, cuja regulação é aberta, parcial e inacabada. Portanto, as instituições se constituem em ―inovações sociais‖ que regulam e normatizam a novidade, dando sustentação ao sistema.

As instituições constituem ―formas de mediação entre conflitos e antagonismos‖ e sua normalização, em termos de normas e regras, é dotada de certa soberania que lhes permite ―promulgar normas e elaborar referências convencionais que transformam os antagonismos em diferenciações sociais dotadas de uma estabilidade mais ou menos sólida‖. É esse papel que assegura a ―reprodução do sistema de maneira relativamente duradoura ou regulada‖. (CONCEIÇÃO, 2002, p. 133)

A literatura consultada mostra que a intervenção no domínio econômico não é a única forma de regulação que os governos podem adotar. Existem, não só diferentes instrumentos regulatórios, mas também diferentes estilos de regulação.

A dimensão econômica na regulação é importante, mas não suficiente para que se possa compreender os diferentes modelos de regulação. Para Wright (1993 apud KOMATSU, 2004, p. 78), apesar de parecer uma constatação evidente, na realidade brasileira estas questões não são tratadas com a relevância que deveriam, pois o que se observa

[...] é um fluxo ininterrupto de importação de modelos ‗bem sucedidos‘ de experiências que aparentemente deram certo em diversos países. Esta variedade está intrinsecamente relacionada ao contexto histórico e institucional de cada país. Por exemplo, o termo regulação nos países europeus, carrega um vasto sentido que engloba questões locais, de governança e controle social; já nos Estados Unidos, seu sentido é mais focado e refere-se ao controle que uma agência pública exerce sobre determinadas atividades consideradas relevantes para a sociedade.

Sobre a denominação de regulação encontram-se diversos instrumentos do campo do institucionalismo, mediante os quais o poder público define e aplica regras, o que inclui leis, normas legais, formais e informais, regras e orientações que atingem setores governamentais e não governamentais, para os quais o papel ou o poder do Estado tenha sido delegado. Diante da forma como emergem as convenções entre as perspectivas, torna-se procedente o desenvolvimento de estudos por meio de reflexões conjuntas propiciadas pelas referidas abordagens. Desse modo, se faz necessário um aprofundamento teórico nesta linha de pesquisa, donde ―[...] análise de tempo real da crise atual pleiteia uma contribuição mais firme à teoria da dinâmica das instituições econômicas‖. (CONCEIÇÃ0, 2002, p. 136) Portanto, é relevante e pertinente o diálogo entre as abordagens neoinstitucionalista e o enfoque regulacionista tendo em vista a análise de políticas públicas, especialmente as educacionais.