em sete grupos, correspondentes a diretrizes para o planejamento do fechamento. Para atendimento e aplicação de cada diretriz, são indicadas algumas práticas. As fontes utilizadas foram (1) guias internacionais de planejamento de fechamento de mina; (2) práticas coletadas junto às empresas de mineração atuantes no Brasil; (3) as neces- sidades de planejamento de fechamento identificadas durante as oficinas e entrevistas e (4) aquelas mencionadas em outras fontes bibliográficas. Como resultado, foram selecionadas 37 práticas mais relevantes cuja apli- cação é possível e viável no contexto brasileiro. Essas práticas são descritas neste capítulo, acompanhadas de uma breve explanação e da indicação de fontes adicionais de informação. Sempre que possível são mostrados exemplos reais brasileiros - coletados durante a elaboração deste Guia - ou situações hipotéticas que ilustram a aplicação dessas práticas.
Espera-se que estas diretrizes e práticas possam auxiliar as empresas de mineração e os demais agentes a melhor planejar o fechamento de mi- nas em operação e a incluir o fechamento entre as questões considera- das quando da tomada de decisão acerca da abertura de novas minas. Contudo, um guia não pode fornecer as orientações particulares para cada mina, que somente podem resultar de estudos desenvolvidos caso a caso. A Figura 4 ilustra a concepção do Guia e de sua aplicação.
As diretrizes proveem orientações gerais para planejar o fechamento, ao passo que as boas práticas recomendadas descrevem maneiras como as diretrizes podem ser aplicadas, ou seja, orientação para transformar as diretrizes em ações e iniciativas que podem ser adotadas no âmbito de cada empresa. Note-se que, embora o Guia tenha, como público, dife- rentes interessados e profissionais da mineração, os principais agentes
do planejamento de fechamento de mina são as empresas de mineração, motivo pelo qual as boas práticas são apresentadas como recomendações às empresas, a quem caberá aplicá-las de maneira particular à(s) sua(s) mina(s) ou projeto(s) de nova(s) mina(s), adaptando-as, se necessário, às singularidades de cada mina em seu contexto ambiental e social. Assim, o Guia aborda as orientações de ordem geral (diretrizes) e específicas (boas práticas). Para sua aplicação, cabe uma interpretação das recomendações apresentadas no Guia, avaliando a melhor maneira de aplicá-las, ou seja, diretamente (quando pertinente e sujeitas a detalhamento) ou mediante adaptação à cultura e aos processos internos da empresa, transformando, assim, estas diretrizes e boas práticas em orientações particulares. Grande parte das diretrizes e boas práticas se aplica a qualquer tipo de mina e a empresas de qualquer porte. Entretanto, as situações de planeja- mento de mina são muito diversas, envolvendo desde pedreiras em áreas urbanas onde o mercado imobiliário é dinâmico, até grandes minas de minerais metálicos que dominam a economia de pequenos municípios, passando por minas situadas em áreas de grande importância para con- servação da biodiversidade. Desta forma, a aplicação das práticas aqui recomendadas somente pode ser seletiva e não pode prescindir de uma cuidadosa avaliação caso a caso.
conjunto de diretrizes (orientações gerais)
apLiCação (orientações particulares
para o planejamento do fechamento de cada mina) conjunto de 37 práticas
(orientações específicas para) atendimento a cada diretriz
Finalmente, como poderá ser notado, o Guia trata do planejamento do fechamento e não da elaboração de planos de fechamento. É preciso ter clara esta importante diferença conceitual ao se procurar aplicar as dire- trizes e práticas preconizadas neste Guia.
As sete diretrizes adotadas são:
1. O planejamento do fechamento deve começar desde a concepção do projeto de uma nova mina.
2. A empresa deve planejar o fechamento de minas em atividade. 3. O planejamento do fechamento deve envolver as partes interessa-
das externas e internas.
4. Os resultados do planejamento devem ser registrados em planos de fechamento e outros documentos correlatos.
5. A empresa deve estimar todos os custos associados ao fechamento de uma mina.
6. A empresa deve acompanhar o desenvolvimento socioeconômico local.
7. O plano de fechamento deve ser atualizado sempre que houver modificações substanciais no projeto da mina ou nas condições do entorno.
O Quadro 2 mostra a relação de todas as práticas, que serão descritas nas seções seguintes.
Quadro 2: diretrizes e Boas práticas de planejamento de Fechamento de mina
diretrizes Boas práticas
1. O planejamento do fechamento deve começar desde a concepção do projeto de uma nova mina
Boa Prática 1.1 Considerar o planejamento do fechamento no planejamento estratégico da empresa
Boa Prática 1.2 Definir objetivos de fechamento, incluindo uso futuro da área, juntamente com a análise das alternativas de projeto
Boa Prática 1.3 Considerar os objetivos de fechamento na elaboração do projeto da mina
Boa Prática 1.4 Identificar e avaliar os impactos socioambientais do fechamento quando da elaboração do Estudo de Impacto Ambiental do projeto
Boa Prática 1.5 Elaborar estudo e plano de prevenção de drenagem ácida, quando necessário
Boa Prática 1.6 Considerar diferentes cenários de fechamento
2. A empresa deve planejar o fechamento de minas em atividade
Boa Prática 2.1 Reunir documentação técnica sobre a mina
Boa Prática 2.2 Elaborar histórico da mina
Boa Prática 2.3 Considerar o patrimônio histórico mineiro e industrial na definição dos objetivos de fechamento
Boa Prática 2.4 Realizar ou atualizar diagnóstico socioambiental acurado
Boa Prática 2.5 Avaliar os riscos das estruturas existentes
Boa Prática 2.6 Definir os objetivos de fechamento, incluindo uso futuro da área
Boa Prática 2.7 Promover a recuperação progressiva de áreas degradadas
3. 3. O planejamento do fechamento deve envolver as partes interessadas externas e internas
Boa Prática 3.1 Identificar as partes interessadas externas e internas
Boa Prática 3.2 Comunicar informações sobre o processo de fechamento
Boa Prática 3.3 Consultar as partes interessadas externas e internas
Boa Prática 3.4 Implantar um mecanismo de recebimento e registro de reclamações e de gestão de conflitos
Boa Prática 3.5 Envolver as partes interessadas no monitoramento pós-fechamento
diretrizes Boas práticas
4. Os resultados do planejamento devem ser registrados em planos de fechamento e outros documentos correlatos
Boa Prática 4.1 Registrar os resultados do planejamento em um Plano de Fechamento
Boa Prática 4.2 Preparar programas de desativação e de recuperação ambiental
Boa Prática 4.3 Preparar Plano de Contingência
Boa Prática 4.4 Preparar programas sociais
Boa Prática 4.5 Avaliar e gerenciar os riscos das medidas e programas de fechamento
5. A empresa deve estimar todos os custos associados ao fechamento de uma mina
Boa Prática 5.1 Estimar os custos dos programas relacionados ao fechamento
Boa Prática 5.2 Atualizar periodicamente a estimativa de custos dos programas relacionados ao fechamento
Boa Prática 5.3 Fazer provisão financeira para o fechamento
6. A empresa deve acompanhar o desenvolvimento socioeconômico local
Boa Prática 6.1 Analisar o contexto socioeconômico local e regional
Boa Prática 6.2 Acompanhar os indicadores de desenvolvimento e de qualidade de vida
Boa Prática 6.3 Desenvolver programas que fomentem a diversificação da base produtiva local
Boa Prática 6.4 Implantar programas visando o desenvolvimento comunitário
7. O plano de fechamento deve ser atualizado sempre que houver modificações substanciais no projeto da mina ou nas condições do entorno
Boa Prática 7.1 Atualizar a avaliação de impactos ambientais e sociais
Boa Prática 7.2 Acompanhar as mudanças regulatórias que possam influenciar os objetivos de fechamento
Boa Prática 7.3 Manter atualizado o mapeamento de partes interessadas
Boa Prática 7.4 Considerar os objetivos de fechamento nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e na gestão da inovação
Boa Prática 7.5 Considerar o fechamento no sistema de gestão da informação
Boa Prática 7.6 Dar um tratamento sistemático às incertezas inerentes ao planejamento de fechamento de mina
Boa Prática 7.7 Atualizar o Plano de Fechamento periodicamente ou quando necessário
DIRETRIz 1
o pLanejamento Do FeChamento Deve Começar
DeSDe a ConCepção Do projeto De uma nova mina
E
sta é, na atualidade, a orientação básica adotada em vários tipos dedocumentos sobre fechamento de mina, desde leis e regulamentos até manuais e guias internacionais ou de jurisdições determinadas. O planejamento de fechamento tem início juntamente com o estu- do de viabilidade da mina, de modo que as opções de uso pós-mineração sejam consideradas ao mesmo tempo em que as alternativas de desen- volvimento do projeto. Termos como “projetar para o fechamento” ou mesmo “projetar para o pós-fechamento” têm sido empregados para des- crever a incorporação desta diretriz pelas equipes envolvidas no estudo de viabilidade e no desenvolvimento de projetos de mina.
O pleno emprego desta diretriz se justifica pela constatação de que a mineração é uma forma temporária de uso do solo, que dará lugar a outras formas de utilização no futuro. Não há dúvida que o horizonte de planejamento é incerto e pode ser longo. Incerto porque é muito comum que a vida útil de uma mina se prolongue por vários anos após a duração que foi considerada para preparar o projeto de abertura, haja vista que as empresas de mineração costumam investir em atividades de pesquisa mi- neral que frequentemente resultam na ampliação das reservas minerais, assim como investem no desenvolvimento de tecnologia que possibilite o aproveitamento de minérios de mais baixo teor ou mesmo de rejeitos. No passado argumentos similares eram usados para justificar a transferência para as gerações futuras do ônus de fechar minas, recuperar áreas degra- dadas ou desenvolver projetos de diversificação econômica.
Tais argumentos já não são válidos e não atendem às expectativas sociais sobre a responsabilidade e o papel das empresas. As empresas de mineração têm, na atualidade, capacidade de planejar o futuro e orientar suas ações para atingir objetivos predeterminados. Está se tornando comum, nos princi-
pais países mineradores, a apresentação de um conceito de fechamento como parte dos estudos necessários para a aprovação de novos empreendimentos. A plena adoção desta diretriz pode ter profundas implicações na análise de viabilidade de novos projetos. Decisões de investimento deveriam le- var em conta e ser influenciadas pelos custos e pela exequibilidade técnica das ações necessárias para o fechamento.
A implementação desta diretriz é facilitada pela adoção das seguintes seis práticas: