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R EFLEXÕES DE UM PROFESSOR APRENDIZ ( A PESQUISA DE CAMPO )

6.2. R EFLEXÕES SOBRE AS REFLEXÕES DE UM PROFESSOR APRENDIZ : ANÁLISE DO QUE VI , VIVI E SENTI NO DIA A DIA ESCOLA

6.4.6. Preparação para um ensino interdisciplinar

As percepções dos docentes sobre sua preparação para a prática da interdisciplinaridade estão apresentadas no Gráfico 8.

Não

Três docentes afirmaram não estar preparados para trabalhar a interdisciplinaridade na escola.

Jacinto foi categórico na sua resposta, confessando as inseguranças que tem para integrar conteúdos de outras disciplinas à sua disciplina de formação (Matemática). Rosa, apesar de que achar que pode contribuir, reconheceu que falta mais preparo, pesquisa e tempo para estudo, para poder enfrentar os desafios propostos pela interdisciplinaridade:

Eu acho que não. Eu, assim: eu sou uma parcela dessa proposta. Eu acho que eu posso “contribuir”. Mas eu, Rosa, preparada para um trabalho como esse, sozinha, de jeito nenhum! Agora, que falta muito de mim, falta. Porque (como é que se diz) eu tenho que pesquisar mais, eu tenho que ser uma pessoa... dedicar mais tempo pra uma proposta dessa. E eu, também como a maioria dos professores, não disponho de tempo (né) necessário para isso, e eu acho que eu ainda preciso me preparar muito, pra pôr em prática essa proposta. Porque ela é uma proposta desafiadora, que requer muito... É por isso que eu digo: eu acho muito ser professor hoje em dia! (Rosa). Margarida também atribuiu sua maior dificuldade à falta de melhor embasamento teórico, pois, em sua opinião, os treinamentos que teve sobre a interdisciplinaridade foram insuficientes e superficiais:

Não, falta muito ainda! Eu “procuro” acertar. Eu procuro observar a atividades dos meus colegas, eu peço ajuda. Eu cobro de mim essa consciência...

Falta preparo teórico. Precisamos, nós todos os educadores, precisamos de encontros pedagógicos para estudo, com pessoas que nos facilitem essa compreensão. Porque geralmente os treinamentos que nós temos recebido (balança a cabeça): nós somos expectadores de nós mesmos! Nós precisamos de embasamento teórico. (Margarida).

Em parte

Violeta considera-se preparada no aspecto da vivência, da sua prática pedagógica, mas reconhece que precisa de mais estudo, de mais conhecimentos sobre o tema:

Eu acho... Eu me considero preparada apenas no aspecto de... de vivência, mesmo. De vivência dos anos de magistério. Mas... eu acho que deveria ser trabalhado em cursos. Eu acho que nós professores teríamos que ter mais tempo pra estudar, porque você sabe que dessa forma, com a interdisciplinaridade, requer você ter maior conhecimento em áreas que você tem que estudar. (Pausa) Então se faz necessário cursos de capacitação e acho que também se faz necessário ter tempo. (Violeta). A questão da atitude, da vontade de mudar, para Gardênia, já é “meio caminho andado”:

Eu me sinto... Já tenho meio caminho andado: já estou com vontade de mudar. Eu não sei se eu estou preparada total mas a vontade já está em primeiro lugar, de inovar. Não é? E com a sua colaboração. Está trabalhando com isso, né, também?

Vamos pegar a ideia de outros profissionais. Porque se eu tiver a vontade de trabalhar assim, e você, e mais quatro e cinco, já é alguma coisa. (Gardênia).

Apesar de ter uma boa relação com alunos e demais membros da comunidade escolar, Magnólia reconheceu que carece de mais leitura (teoria), recursos didáticos e metodologia para trabalhar a interdisciplinaridade:

Não, preparada a gente nunca tá, não é Wagner? A gente vai aprender... Eu acho que, em se tratando da minha pessoa, eu já tenho uma... é... uma porcentagem muito boa...é...de... De quê? De boa relação. Porque pra mim, pra eu desenvolver um trabalho desses, é preciso que haja, como eu falei, uma... a relação aluno-professor. E eu sempre tive isso. Sempre me dei muito bem com meus diretores, com meus alunos, com meus colegas professores. Sempre respeitei a minha... a comunidade que trabalhei, os pais dos meus alunos. Sempre, sempre trabalhei muito bem com isso. Então, o resto é questão de uma... de leitura, de recursos pra enriquecer aquilo ali, pra você saber trabalhar dentro daquilo que você pode desenvolver. Se eu desenvolver uma Arte Culinária, eu tenho que trabalhar culinária e, e cada dia crescendo e aprendendo uma metodologia, uma forma diferente de trazer o aluno. Pintura, se é teatro, isso aí é questão que a gente nunca ta pronto pra nada: a gente ta sempre aprendendo. Mas, eu não sinto... eu acredito que eu não vá... eu não sinta muita dificuldade em trabalhar a interdisciplinaridade, não. (Magnólia).

Acha que está, mas...

Hortência aplica a interdisciplinaridade “da maneira que ela acha”, com o conhecimento que tem, o qual, porém, na sua opinião, ainda é pouco. Sente necessidade de mais conhecimentos, pra poder trabalhar com mais segurança:

Eu vou ser franca: eu acho que eu estou, mas eu precisaria de um conhecimento maior, de ler mais, sabe? De ajuda de colegas, de ler livros. De uma reciclagem, treinamento. Pra poder eu agir, eu ter a participação... Eu repassar para o aluno, melhor. Eu precisaria assim de uma pessoa que tivesse conhecimento maior pra repassar pra mim, né? Pra mim crescer mais, no meu conhecimento, né? Ampliar meu conhecimento. Eu precisaria... Eu aplico da maneira que eu acho, né? Com o pouco conhecimento que eu tenho. Mas, pra que dê certo mesmo, e que o aluno aprenda, eu de precisaria ler mais né), de conversar com uma pessoa que tivesse uma experiência maior, pra poder eu repassar melhor, né? Porque a gente aprende junto (né) e também você só ensina bem o que você sabe bem. Você passa aquele conhecimento com segurança, né? Eu não passo com muita segurança, viu? Eu tenho segurança numas coisas, mas em outras eu preciso estudar pra poder passar. Eu estudo muito pra dar aula, eu. Passo quinze, vinte minutos, pra poder eu ter a segurança. Você vê que às vezes eu lhe pergunto, não é? Onde eu tenho dúvida eu pergunto. (Hortência).

Tenta se preparar.

Acácia afirmou que tenta, mas acha que falta mais estudo e, principalmente, mais prática sobre a interdisciplinaridade na escola:

A gente tenta, né? A gente tenta!

É como eu já disse antes, eu acho que falta um pouco mais de... de... de... reuniões pra levantar projetos em cima disso, né? Que a gente fica muito na palavra só

(interdisciplinaridade), mas na realidade, todo mundo só faz fazer um “comentariozinho” e depois, esquece, e todo mundo dá aquela sua aula “batida” como sempre. (Acácia).

Sim.

Dália foi a única entrevistada que afirmou estar preparada para as práticas interdisciplinares na escola. Ela aponta uma série de argumentos, dentre eles:

Porque é uma exigência incontornável dos tempos em que estamos vivendo: Sim, na... na medi... me considero porque, como eu te falei, eu não posso me sentir fora do contexto. Primeiro porque o mundo, ele... ele cobra isso de você. A sociedade, o tempo que a gente vive, não é? É como eu te falei, eu não gosto de futebol, mas eu tenho que me sentar ali, Wagner, e assistir um pouco. Pra mim saber quem é Ronaldinho, pra mim saber o que é que ta acontecendo.

Quem foi que ganhou ontem...

Isso, mesmo que eu não goste. Eu não gosto, eu não nego: eu não gosto. Mas eu posso dizer que não sei que existe esse time chamado Fortaleza? Eu tenho que... e tem pessoas que dizem: “Mulher, não me fale de futebol não que eu não sei quem é não. Quem é?”. Aí é alienação pura. Eu não posso estar fora do contexto, Porque se eu me sentir –eu não sei se você já teve essa sensação – se você perceber que você “O que é, que eu na to sabendo daquilo!” Todo mundo sabe, é como se faltasse um pedaço. (Dália).

Ela ensina e já ensinou várias matérias:

Então eu me considero uma professora interdisciplinar até porque eu ensino História, eu ensino Geografia, eu ensino religião, eu ensino Arte-Educação, não é? Eu já fui... Já tive que dar aula de Português, já tive que ensinar Matemática. Acho que você se lembra, né? Já...eu gosto muito de Química. Sou formada em História, mas eu amo Química. Já tive que dar aula de Introdução à Química, Física. Quer dizer, eu não poderia ficar de fora, poderia? (Dália).

Tem uma base de conhecimentos gerais construída durante a sua formação escolar:

Eu tive que absorver esse gama de conhecimentos, então, pra isso, eu precisei o que, não de aprender de última hora, porque eu passei pelo 1º grau, eu fiz o 2º grau, eu fui aluna... eu fiz... eu estudei um ano de Cursinho no Colégio Farias Brito. Quer dizer, eu fiz Científico, eu não tinha porque desconhecer totalmente. Posso não ser uma profissional com o seu gabarito na Matemática, mas na quer dizer que eu não saiba resolver um problema de fração. (Dália).

Porque procura estudar sempre:

Eu leio, estudo, e, de noite, vou fazer o trivial. Não vou dizer que vou fazer um problema dos mais difíceis, cheio de incógnitas, mas eu sei aquilo que é assim... Como é que se chama? O básico que um aluno vai precisar. Pra isso o que é que eu tenho que fazer? Estudar pra ter mais segurança do que o aluno. Então, o que foi que eu fiz nesse período? Estudei. Estudei muita função com a professora Jaíza. Não sei se você na época auxiliava muito a gente também. (Dália).

Notamos, nas opiniões da maioria dos entrevistados, uma conscientização sobre sua falta de embasamento teórico para trabalhar de forma interdisciplinar. Mesmo aquelas que afirmaram aplicar a interdisciplinaridade no dia a dia, "à sua maneira", reconhecem que carecem de mais estudos, de mais conhecimentos sobre o tema. A "atitude", como afirmou Gardênia, já é "meio caminho andado", mas, sem um processo de capacitação, de estudos e trabalhos práticos em grupo, a ideia tende a perder sua força.