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3 SLOGAN: DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS

3.2 AS GERAÇÕES DO SLOGAN

3.2.1 Primeira geração

A primeira geração do slogan acontece na passagem do processo de comunicação, que até então era “olhos nos olhos”, segundo Figueiredo (2006), para o uso das mídias. A partir dessa transição, houve uma mudança na relação entre o emissor e o receptor, que agora se comunicam através de um veículo e não mais conseguem identificar com clareza as intenções comunicativas através dos gestos, olhares, entonação, entre outras peculiaridades. A própria mensagem também ganha um processo diferente, podendo tomar outro sentido, pois a partir daí ela surge por um intermediário, não mais de forma direta.

Os efeitos e técnicas de comunicação a partir do uso das mídias ainda eram limitantes, se fazendo necessário o aprimoramento destes recursos, com o intuito de provocar sensações similares às das relações comunicativas presenciais. Por isso, os profissionais da comunicação precisaram se adaptar às limitações dos veículos, seja o fato do impresso ser estático, a qualidade das imagens, tipos de impressão, limitação das cores, entre outros aspectos que foram sendo constatados com as necessidades que foram surgindo.

O emissor, agora não mais presente de forma física e intermediado pelos meios de comunicação de massa, transformou a relação comunicativa para um vínculo comunicativo. Além disso, trouxe novas demandas que até então não existiam para os profissionais, como o domínio técnico destes meios e o uso deles como extensões do próprio emissor.

Com a chegada dos ​posters​, panfletos, jornais, rádios e revistas a comunicação publicitária foi ficando cada vez mais complexa, sendo necessário criar métodos diferentes para a construção da mensagem em cada um dos veículos. Mesmo assim, o slogan nessa primeira geração “tentou de alguma maneira reproduzir em seu pôster o clima, a ambiência de um discurso político, de um grito do povo.” (FIGUEIREDO, 2006, p. 04). Ou seja, os slogans possuíam uma linguagem imperativa23​, usando palavras assertivas como tentativa de se aproximar do consumidor.

A comunicação dos slogans dos anos 30, 40 e 50 foi centrada a partir deste tipo de linguagem, de forma direta e característica para expor os atributos do

23 A abordagem imperativa costuma utilizar-se de verbos de caráter objetivo como “compre”, “aproveite”, “experimente”, entre outros, que até hoje são utilizados em alguns segmentos da publicidade focados em vendas, como o varejo.

produto a ser comercializado. Além disso, o slogan costumava se posicionar em destaque no topo da página, lugar que posteriormente foi atribuído para os títulos. Um exemplo disto são os anúncios da marca Nestlé feita para o produto Leite Moça em 193224​. Nesta época, acontecia a Revolução Constitucionalista 25 iniciada em 9 de julho de 1932. A marca pretendeu incentivar o envio do seu produto para os soldados que estavam em guerra, como forma de agradar e trazer a energia necessária que eles precisavam.

Figura 11​ - Propaganda da Nestlé na época da Revolução Constitucionalista de 1932.

Fonte: Propagandas Históricas.26

24 Leite Moça (Revolução Constitucionalista) - 1932. disponível em

<https://www.propagandashistoricas.com.br/2013/07/leite-moca-revolucao-constitucionalista.html> Acesso em: 12 set. 2020.

25 A Revolução Constitucionalista foi um movimento armado ocorrido em 1932 que discordava do autoritarismo do governo Getúlio Vargas e defendia uma nova constituição para o Brasil. O embate foi liderado pelo estado de São Paulo, que foi derrotado pelas tropas do presidente Vargas. Dois anos depois, em 1934, foi promulgada uma nova constituição para o país.

26 Disponível em

<https://www.propagandashistoricas.com.br/2013/07/leite-moca-revolucao-constitucionalista.html> Acesso em: 12 set. 2020.

Como falado anteriormente, os slogans neste período eram utilizados como títulos em destaque na mensagem. Neste caso, a frase “Nas Trincheiras ou no Lar!” exemplifica bem a questão política que a publicidade recorria para convencer o público e, ao mesmo tempo, contextualizar e fazer parte da situação em que estavam.

Outro exemplo de slogan durante a primeira geração é a frase ​“Keep Calm

and Carry On​”. Traduzido como "Tenha calma e siga em frente", essa frase voltou a ser usada desde o começo da década de 2000 como estampa de camisas, quadros e outros produtos, além de mensagens propagadas em redes sociais, porém a sua origem foi na década de 30 com outra motivação.

O slogan “​Keep Calm and Carry On​”​27 fazia parte de uma série de cartazes enviados pelo governo britânico durante a Segunda Guerra Mundial em 1939 para advertir a população sobre uma suposta invasão alemã, algo que acabou não ocorrendo. Foram impressos cerca de 2,5 milhões de cópias deste cartaz na época.

Figura 12​ - Cartaz enviado pelo governo britânico em 1939.

Fonte: The Guardian.​28

27 Slogan 'Keep Calm and Carry On' surgiu na década de 30. disponível em

<https://tnonline.uol.com.br/noticias/especial/,209447,20,08,slogan-keep-calm-and-carry-on-surgiu-na -decada-de-30> Acesso em: 13 set. 2020.

28 Disponível em

<https://www.theguardian.com/artanddesign/2016/jun/25/wartime-poster-secret-auction> Acesso em: 13 out. 2020.

Este também é um exemplo de como um slogan pode tornar-se elemento de tendência em uma determinada cultura ou contexto social. Nos anos 2000, foi encontrado uma cópia deste cartaz em uma pequena cidade da Inglaterra exposto em uma livraria chamada “​Barter Books​”​29​, levando o interesse das pessoas que ali frequentavam. Em poucos anos, os donos da livraria venderam cem mil réplicas do cartaz original, além de ser divulgado na lista de objetos desejados do jornal britânico “​The Guardian​” em 2005.

Com efeito, a tendência da diversificação da comunicação com o avanço cada vez maior dos meios de comunicação de massa, provocou mudanças nas funções dos artifícios técnicos e efeitos da linguagem publicitária, como o slogan. Neste contexto, o slogan adquiriu novas abordagens, chegando ao que Figueiredo (2006) nomeou de “Segunda Geração do Slogan”.