• Nenhum resultado encontrado

5. O TRABALHO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

5.5 As relações entre os trabalhadores da EBSERH e os servidores da UFBA

5.5.1 Principais dificuldades

No quesito principais dificuldades que são enfrentadas para a realizar o trabalho, foram criadas categorias embasadas nas respostas encontradas. A questão, até então em modalidade aberta, foi categorizada em alternativas que facilitassem essa tabulação. Nesse sentido, as principais reclamações foram:

a) Equipamentos e/ou materiais insuficientes, citados por 28% dos entrevistados, que inclui críticas à falta de insumos, ambulâncias precárias, aparelhos obsoletos;

b) Instalações Hospitalares, referidas por 27% dos entrevistados, incluindo problemas com: iluminação, mobilidade, elevadores, estacionamento, ausência e/ou deficiência de salas de descanso e cirúrgicas, acomodações ruins e ausência de serviços de manutenção, deslocamento dentro do HUPES;

c) Relações interpessoais, indicadas por 15% dos entrevistados, incluindo: atrasos, colegas com restrições, comunicação, dependência/interligação entre serviços de diferentes setores;

131 d) Gestão Hospitalar, citadas por 12% dos entrevistados, incluindo: terceirizações, organização e rotina de trabalho, dificuldade em comunicação com a PRODEP, morosidade nos processos, engessamento, etc.;

e) Déficit de trabalhadores, indicados por 10% dos entrevistados, são reclamações a respeito do dimensionamento das equipes de trabalho. Muitos entrevistados relataram que há uma sobrecarga de trabalho;

f) Prestação dos serviços assistenciais, referidos por 5% dos entrevistados, incluindo: dificuldade em realizar exames, alguns serviços não funcionam no período noturno;

g) Segurança, citados por 3% dos entrevistados. Os trabalhadores informaram que a ausência de guardas dentro do hospital e no estacionamento provoca uma sensação de insegurança;

De acordo com as alternativas apresentadas, o quesito instalações hospitalares esteve entre os mais citados pelos entrevistados. Estes enfatizaram a precariedade dos elevadores e equipamentos, bem como a ausência de rampas e corrimãos nas escadas e salas de conforto, o que por sua vez, demonstra um desrespeito às estruturas básicas que deveriam estar acessíveis e em boas condições para todos os trabalhadores, e não apenas às categorias médica e de enfermagem como fora relatado. A pesquisadora não teve acesso a sala de descanso dos médicos, contudo segue algumas imagens das instalações mencionadas, que são utilizadas pelos demais profissionais.

Figura 3- Instalações Hospitalares

precárias

132

Figura 5 – Escadas deterioradas e

sem corrimão

Figura 6 – Trabalhadora dormindo

no chão

Figura 7 – Geladeira da copa Figura 8 – Trabalhadora no

133 Além da precariedade observada nas instalações hospitalares, nota-se o não cumprimento das Normas Regulamentadoras – NR’s de Saúde e Higiene Ocupacional, tais como: NR 8 (Edificações), que abrange a questão da ausência de dimensionamento correto para as áreas de circulação evidenciadas pela improvisação da rampa (figura 4) e a não observância de todas normas técnicas na construção das escadas que estão sem corrimão e sem antiderrapantes (figura 5) e NR 17 (Ergonomia). Também não há o cumprimento da NR 24 (Condições de Higiene e Conforto nos locais de trabalho) pela insalubridade observada no local de trabalho e de refeições.

A fala de Maria, técnica de enfermagem da EBSERH, reafirma os problemas estruturais e a questão do desconforto:

Então assim, eu quando estou do lado do paciente, na neurociência, por exemplo, eu vejo que a sala não tem conforto nenhum, a gente fica sentado horas e horas e é um calor infernal, não tem um ventiladorzinho para ventilar a gente. Quando entra na sala do médico é um cubículo apertadinho, nem para o próprio médico tem esse conforto. O ambulatório da ginecologia aqui em baixo no segundo subsolo ou no primeiro. Não sei o que é aquilo! Você passa, aí tem um corredorzinho, aí tem as salas do pessoal. É dividida com uns tapumes que fizeram, aí depois tem as salas dos médicos.

Durante a pesquisa foi possível perceber que apesar de a segurança ser um dos itens menos citados, os problemas de infraestrutura, mencionados com mais frequência, influenciam diretamente na falta de segurança dentro do hospital.

Na entrevista com a médica RJU, Eduarda, que atua em cargo de chefia, quando questionada a respeito das dificuldades para realização do trabalho, ela sinaliza que:

Há morosidade dos processos. Aí são vários: administrativos e da própria dificuldade nossa de implementar mudanças de culturas também, né. Vou

chamar de resistência de recursos humanos de uma forma geral, de pessoas. Mas tem uma cultura institucional que ainda precisa ser trabalhada

134 Quando questionada a respeito do que é possível ser mudado no alcance do HUPES a entrevistada responde:

A gente precisa ter mais controle sobre nossos recursos humanos, eu acho importantíssimo, é uma coisa que falta. De uma forma geral, tem que ter controle, entenda isso: cobrança e punição para quem não atende a cobrança. Né? Pode dar outro nome, corretivo, seja lá o que for, para não ficar pesado. Está tão difícil falar coisas e ser mal interpretada. Mas tem que ter punição, acho que isso é um ponto, maior cobrança das chefias. [...]Condições de trabalho das pessoas também, embora, isso é crônico. Condição de trabalho

é uma coisa limitada neste hospital, mas existe uma flexibilidade muito

grande também na forma como as pessoas trabalham. Então hoje eu já não sei quem é que precisaria vir primeiro, as duas precisam vir, mas se tivesse que eleger, eu já não sei se eu tenho um grande problema na falta de controle, que tem claramente, ou se isso é alimentado muito pela falta de condições de trabalho, especialmente em algumas áreas, aí eu não tenho como controlar, né? É possível que isso exista e acaba virando prostituídamente uma relação assim: eu não faço porque eu não tenho. Eu não tenho e você não faz. Ficamos quietos, cada um em nossas partes. Entendeu? Infelizmente não é de agora, mas precisamos em muito melhorar.

Quando questionada, em seguida, sobre o que mais gosta no trabalho, respondeu: “Gosto de ver meta cumprida. Eu acho que poder vencer desafios quando implementada uma ação que vai trazer melhorias para o processo. Isso é muito bom. Fazer e acontecer. No caso da assistência, o que mais gosto é o paciente”.

A questão relativa à perspectiva da gestão do hospital traz o gerenciamento dos recursos humanos, ou seja a gestão dos trabalhadores, como o elemento mais complicado. Quanto à cultura do controle dos RH, é importante pontuar que há entre os servidores, críticas à estrutura hospitalar “medico-centrada” que antecede à EBSERH, principalmente quanto a relação de “feudos” médicos, isto é, apropriação por determinados servidores dos espaços públicos. São, por exemplo, médicos que literalmente fecham as portas dos laboratórios, entrando no lugar apenas pessoas que são autorizadas pelos mesmos (MÉDICI, 2001). Essa “cultura organizacional feudal” foi um dos argumentos utilizados por aqueles que defendiam a EBSERH, visto que, a empresa iria romper com esse comportamento dentro do Hospital das Clínicas.

Contudo, essa mudança não se efetivou, pois nas entrevistas é ressaltada como a EBSERH reafirmou, e em algumas medidas ampliou, a centralidade do médico no

135 hospital. Pensamento que se apresenta em consonância com os estudos sobre hospitais universitários apresentados por Médici (2001), antes mesmo da EBSERH:

Vale a pena destacar que os hospitais universitários são fontes de prestígio e poder da classe médica e estão sujeitos ao forte controle dos grêmios de profissionais de saúde, os quais podem manipular sua gestão [...] Isto os transforma em instituições de difícil manejo e controle social, fazendo com que sejam vulneráveis ao velho dilema da apropriação privada do espaço público por grupos de interesse, sem o controle social que muitas vezes poderia ser exercido através da regulação pública ou do mercado (MÉDICI, 2001, p.152).