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2.2 Contrações públicas sustentáveis

2.2.1 Principais fundamentos jurídicos das CPS

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi a primeira constituição brasileira a garantir categoricamente o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para compreensão inicial do tema, é importante destacar o que apregoa o artigo 225 da CF, onde garante que todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um bem de uso comum do povo e fundamental para uma boa qualidade de vida, sendo dever do Governo e da coletividade defendê-lo e preservá-lo para a atual e próximas gerações60.

Esta norma sagrou o interesse e a obrigação do Estado de envolver o meio ambiente com um manto de proteção permanente. Partindo desse comando central, a legislação

58 BIM, Eduardo Fortunato. Considerações sobre a juridicidade e os limites da Licitação Sustentável. In:

SANTOS, M. G.; BARKI, E. F. (Coord.). Licitações e Contratações Públicas Sustentáveis. 1 ed. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 185.

59 ICLEI. Manual Procura+ Um Guia para Implementação de Compras Públicas Sustentáveis. 3ª ed. São

Paulo, 2015, p. 13. Disponível em: http://www.tjdft.jus.br/acesso-rapido/acoes/viver-direito/manuais/manual- compras-sustentaveis-iclei. Acesso em: 01 abr. 2019.

60 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 05 de

outubro de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em:

ambiental brasileira foi sendo estruturada, surgindo uma diversidade de políticas públicas a fim de assegurar a efetividade desse direito constitucional.

Após isso, os postulados jurídicos avançaram para a inserção de critérios sustentáveis nas especificações dos bens e serviços contratados pela Administração Pública, como também na cobrança de novas exigências aos fornecedores. Em conformidade com os diplomas legais elencados, exemplificativamente, a seguir:

1) A Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, tem por escopo garantir a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental que favoreça a vida, ao mesmo tempo em que busca assegurar, as condições para o desenvolvimento socioeconômico do país, os interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana61.

2) O art. 170, inciso VI da CF, que instituiu como princípio da ordem econômica a defesa do meio ambiente, e após a emenda constitucional nº 42 de 2003, passou inclusive a prever o tratamento diferenciado aos produtos e serviços que gerassem um menor impacto ambiental em seus processos de fabricação e prestação60.

3) O Decreto nº 2.783/1998 que dispõe sobre a proibição de aquisição de produtos ou equipamentos que contenham ou façam uso de substâncias que destroem a Camada de Ozônio - SDO, pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal62;

4) O Decreto nº 5.940/2006, que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis63;

5) A Lei nº 12.187/2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança de Clima (PNMC), que tem como diretrizes o estímulo e apoio à manutenção e à promoção de padrões sustentáveis de produção e consumo, e, como um de seus instrumentos, a adoção de

61 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do meio ambiente.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em: 02 abr. 2019.

62 BRASIL. Decreto nº 2.783, de 17 de setembro de 1998. Dispõe sobre proibição de aquisição de produtos ou

equipamentos que contenham ou façam uso das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio - SDO, pelos órgãos e pelas entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2783.htm. Acesso em: 02

abr. 2019.

63 BRASIL. Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006. Institui a separação dos resíduos recicláveis

descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/decreto/d5940.htm. Acesso em: 02 abr. 2019

critérios de preferência nas licitações e concorrências públicas para as propostas que propiciem maior economia de energia, água e outros recursos naturais e redução da emissão de gases de efeito estufa e de resíduos64;

6) A Lei nº 12.349/2010, que incluiu entre as finalidades da licitação a promoção do desenvolvimento nacional sustentável. Essa norma também instituiu a margem de preferência de até 25% para um grupo de produtos manufaturados e para serviços nacionais que atendam a normas técnicas brasileiras65.

7) A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e estabelece como prioridade, as aquisições e contratações governamentais de produtos reciclados e recicláveis, como também de bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis66.

8) A Instrução Normativa nº 1 de 19 de janeiro de 2010, da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SLTI/MPOG), que dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental que deverão estar inseridos nas aquisições de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, atribuindo valor aos processos de extração, fabricação, utilização e descarte de matérias-primas durante a especificação do produto ou serviço, sem causar prejuízo à competitividade da licitação67;

9) O Decreto nº 7.746/2012, que regulamenta o artigo 3º da Lei nº 8.666/93, estabelece critérios, práticas e diretrizes gerais de sustentabilidade para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela administração pública

64 BRASIL. Lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima -

PNMC e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 02 abr. 2019.

65 Lei nº 12.349, de 15 de dezembro de 2010. Altera as Leis nos 8.666, de 21 de junho de 1993, incluindo o

Desenvolvimento Nacional Sustentável como um das finalidades da licitação, 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2010/lei/l12349.htm. Acesso em 02 abr. 2019.

66 BRASIL. Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 02 abr. 2019.

67 BRASIL. Instrução Normativa 01, de 19 de janeiro de 2010. MPOG. SLTI. Expõe sobre os critérios de

sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em: https://www.governoeletronico.gov.br/documentos-e-

arquivos/INSTRUCAO%20NORMATIVA%20N.%2001%20de%202010%20- %20Compras%20Sustentav.pdf/view. Acesso em: 02 abr. 2019.

federal, além de instituir a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública - CISAP68.

10) A Instrução Normativa nº 10, de 12 de novembro de 2012 da SLTI/MPOG, estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável (PLS) na Administração Pública Federal, e determina que cada órgão designará uma comissão para elaboração do seu PLS. Apesar disso, ela indica quais ações deverão estar previstas no respectivo plano, tais como: logística sustentável, critérios e práticas de sustentabilidade, práticas de racionalização, coleta seletiva, coleta seletiva solidária, resíduos recicláveis descartados, material de consumo e permanente, inventário físico-financeiro e compra compartilhada. Em especial, a IN 10/2012 versa sobre as compras e das contratações sustentáveis com aproximadamente 16 sugestões de boas práticas de sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e serviços69.

11) Instrução Normativa nº 2, de 04 de Junho de 2014 SLTI/MPOG, que dispõe acerca das regras para aquisição ou locação de máquinas e aparelhos consumidores de energia pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, e uso da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) nos projetos e respectivas edificações públicas federais novas ou que recebam retrofit70.

12) A Lei Complementar nº 147/2014 que alterou a Lei Complementar nº 123/2006 e estabeleceu a obrigatoriedade de participação exclusiva de microempresas e empresas de pequeno porte nos processos licitatórios cujos itens de contratação sejam de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais). Incluiu também a faculdade do setor público exigir dos licitantes participantes dos processos licitatórios de obras e serviços, a subcontratação de microempresas e empresas de pequeno porte, e ainda, prevê a possibilidade de, nas aquisições

68 BRASIL. Decreto 7.746, de 05 de junho de 2012. Regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de

1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela Administração Pública Federal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7746.htm. Acesso em: 02 abr. 2019.

69 BRASIL. Instrução Normativa nº 10, de 12 de novembro de 2012. SLTI. MPOG. Estabelece regras para

elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável de que trata o art. 16, do Decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012, e outras providências. Disponível em: https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/legislacao/instrucoes-normativas/394-instrucao-

normativa-n-10-de-12-de-novembro-de-2012. Acesso em: 02 abr. 2019.

70 BRASIL. Instrução Normativa nº 02, de 04 de junho de 2014. SLTI. MPOG. Dispõe sobre regras para a

aquisição ou locação de máquinas e aparelhos consumidores de energia pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, e uso da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) nos projetos e respectivas edificações públicas federais novas ou que recebam retrofit.. Disponível em:

https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/legislacao/instrucoes-normativas/304-instrucao- normativa-n-2-de-04-de-junho-de-2014. Acesso em: 02 abr. 2019.

de bens de natureza divisível, estabelecer uma cota de até 25% do objeto para a contratação de microempresas e empresas de pequeno porte71.

13) A Portaria nº 23, de 12 de fevereiro de 2015 do MPOG, onde estabelece boas práticas de gestão e uso de energia elétrica e de água nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dispõe sobre o monitoramento de consumo desses bens e serviços72.

14) A Instrução Normativa de nº 2, de 29 de março de 2018 do Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão - MPDG, que estabelece o percentual mínimo 30%, para compras Institucionais de gêneros alimentícios fornecidos por agricultores familiares, pelas suas organizações, por empreendedores familiares rurais e demais beneficiários da Lei n.º 11.326/2006. Essa percentagem mínima se estende a todos os órgãos e entidades da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional 73.

15) A Instrução Normativa nº 11, de 29 de novembro de 2018 do Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – MPDG, que dispõe sobre o Reuse.Gov. Trata-se de ferramenta informatizada de disponibilização de bens móveis inservíveis para fins de alienação, de cessão e de transferência no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. Essa ferramenta pode ser usada por quaisquer órgãos e entidades integrantes dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando se tratar de cessão e doação prevista no art. 17, caput, inciso II, alínea "a", da Lei nº 8.666/1993. O Reuse.gov poderá ser acessado no endereço eletrônico www.reuse.gov.br e constitui em importante ferramenta de auxilio e reaproveitamento dos bens móveis74.

71BRASIL. Lei Complementar 147, de 07 de agosto de 2014. Altera a Lei Complementar nº 123, de 14 de

dezembro de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp147.htm. Acesso em:

03 abr. 2019

72 BRASIL. MPOG. Portaria nº 23, de 12 de fevereiro de 2015. Estabelece boas práticas de gestão e uso de

energia elétrica e de água nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal. Disponível em:

http://www.tst.jus.br/documents/10157/12455710/MPOG+-

+PORTARIA+N%C2%BA%2023_2015,%20DE+12_2_2015. Acesso em: 02 abr. 2019.

73 BRASIL. Instrução Normativa nº 02, de 29 de março de 2018. MPDG. Dispõe sobre a Compra Institucional

de alimentos fornecidos por agricultores familiares e pelos demais beneficiários da Lei n.º 11.326, de 24 de julho de 2006. Disponível em: https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/legislacao/instrucoes-

normativas/898-in2-2018. Acesso em: 02 abr. 2019.

74 BRASIL. Instrução Normativa nº 11, de 29 de novembro de 2018. MPDG. Dispõe sobre ferramenta

informatizada de disponibilização de bens móveis inservíveis para fins de alienação, de cessão e de transferência no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional - Reuse.Gov.

Disponível em: https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/legislacao/instrucoes-normativas/1050- in-11-de-2018. Acesso em: 02 abr. 2019.

Contudo, para a correta compreensão das CPS e sua aplicabilidade deverão ser examinados, além dos fundamentos jurídicos exemplificados, outros instrumentos normativos originários de diferentes órgãos públicos, como por exemplo, o IBAMA, CONAMA e INMETRO, em conformidade com o objeto licitado.