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2.3 Critérios práticos de sustentabilidade nas CPS

2.3.3 A exigência de critérios sustentáveis em cada etapa do processo

2.3.3.2. Requisitos de Habilitação

Durante a etapa de Habilitação, ocorre a avaliação da capacidade técnica e a idoneidade dos fornecedores interessados em contratar com o serviço público. A Lei n° 8.666/1993 prevê nos artigos 27 a 33, uma relação de documentos necessários que devem estar especificados no edital e serem exigidos durante o certame, logo após a aceitação da proposta do fornecedor, com a finalidade de avaliar a habilitação jurídica, técnica, econômico- financeira, fiscal e trabalhista do fornecedor detentor da melhor proposta para a

114 BRASIL. Portal de Compras do Governo Federal. Novos itens de Tecnologia da Informação e

Comunicação - TIC gerados no CATMAT. Disponível em:

https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/noticias/1031-novos-itens-de-tecnologia-da-informacao- e-comunicacao-tic-gerados-no-catmat. Acesso em: 29 de maio 2019.

Administração Pública. Porém, essa norma não trata, especificamente, da possibilidade de inserção de critérios sustentáveis como requisitos de habilitação, inclusive a IN n° 01/2010 do MPOG também não relata sobre a possibilidade de inclusão desses critérios durante essa etapa.

Em razão dessa omissão legislativa, muitos defendem que a previsão de critérios e práticas de sustentabilidade deve estar restrita na especificação técnica do objeto ou como obrigações da contratada. Reforçando essa ideia equivocada, o Acórdão nº 1.375/2015 do TCU ressalta que os critérios sustentáveis não podem ser exigidos na etapa de habilitação, pois durante esta, não pode haver escolha de fornecedor para não frustrar a competitividade do certame, inclusive recomendam manter o “menor preço” como critério de julgamento e garantir a qualidade prevista no edital115.

Em antinomia a esse entendimento, o Guia Nacional de Licitações Sustentáveis, elaborado pela Advocacia Geral da União, reúne alguns exemplos de requisitos de habilitação com o viés sustentável, que devem ser postos nos editais dos processos licitatórios, em virtude de exigência de norma específica, sob pena da caracterização da omissão do agente público responsável pela elaboração do edital e condução da sessão pública, conforme quadro exemplificativo abaixo:

Quadro 3 - Critérios de Sustentabilidade nos Requisitos de Habilitação

OBJETO RECOMENDAÇÃO

Aquisição ou Execução de Serviço de aplicação de

Agrotóxicos

 Para o exercício de atividade que envolva produção, comercialização ou aplicação de agrotóxicos e afins, incluir como critério de habilitação jurídica, o ato de registro ou autorização para funcionamento expedido pelo órgão competente do Estado, do Distrito Federal ou do Município, em conformidade com o artigo 4° da Lei n° 7.802, de 1989, e artigos 1°, inciso XLI, e 37 a 42, do Decreto n° 4.074, de 2002, e legislação correlata.

 Para executar a aplicação de agrotóxicos e afins, exigir na fase de habilitação técnica da empresa, a assistência de um responsável técnico legalmente habilitado para a execução do serviço, em conformidade com o art. 37 do

115 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão TCU 1375/2015. Representação com pedido de medida

cautelar. Irregularidades no pregão eletrônico para registro de preços. Desclassificação indevida de propostas de menor valor. Comprometimento da competitividade e da economicidade do certame. Cancelamento da ata. Perda do objeto da cautelar. Audiência do responsável. Razões de justificativa parcialmente rejeitada. Procedência parcial da representação. Multa. Ciência. 2018. p.19. Disponível em: https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao-completo. Acesso em: 27 maio 2019.

Decreto n° 4.074/2002. Execução de Serviços caracterizados como

Potencialmente Poluidores ou Utilizadores de Recursos Naturais. Exemplos:

- Construtor de obras civis;

- Transportador de produtos florestais; - Transportador de cargas perigosas;

- Consumidor de madeira, lenha ou carvão vegetal;

- Prestadores de serviços de assistência técnica em aparelhos de refrigeração;

 Quando o licitante desempenha diretamente as atividades poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais, deverá obrigatoriamente estar registrado no Cadastro Técnico Federal – CTF do IBAMA, devendo ser exigido como requisito de habilitação jurídica do licitante.

Aquisição de Mercúrio Metálico

 Para o exercício de atividade que envolva a importação, produção ou comercialização de mercúrio metálico, incluir como critério de habilitação jurídica: Certificado de Registro que comprove o cadastramento válido junto ao IBAMA, acompanhado da Autorização de Importação, Produção ou Comercialização correspondente, nos termos dos artigos 1° e 3° do Decreto n° 97.634, de 1989, e da Portaria IBAMA n° 32, de 12/05/95, e legislação correlata.

Aquisição ou Execução de Serviços que Envolvam a Utilização de Produtos Preservativos de Madeira

Exemplos: Conserto de móveis; Obras e serviços de engenharia; Manutenção de imóveis, etc.

 Para o exercício de atividade que envolva produção industrial, importação, comercialização ou utilização de produtos preservativos de madeira, incluir como critério de habilitação jurídica: ato de registro ou cadastramento expedido pelo IBAMA.

Serviço de Lavanderia Hospitalar

 Inserir como requisito de habilitação à apresentação de alvará sanitário/licença de funcionamento de lavanderia hospitalar, emitido pelo órgão de vigilância sanitária estadual ou municipal competente, conforme exigido pelas Leis 9.782/99 e 6.437/77.

Instrumentos de Defesa Ambiental: Exemplos: Contratação de consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais; Contratação de aquisição, instalação ou manutenção de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.

 Para o exercício de atividade classificada como instrumento de defesa ambiental, incluir como critério de habilitação jurídica, comprovante de registro no Cadastro Técnico Federal de Instrumentos de Defesa Ambiental, acompanhado do respectivo Certificado de Regularidade válido, nos termos do artigo 17, inciso I, da Lei n° 6.938, de 1981, e da Instrução Normativa IBAMA n° 10, de 27/05/2013, e legislação correlata.

Fonte: Elaborado pela autora com base no Guia Nacional de Licitações Sustentáveis (2019)116.

116 ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO (AGU). Consultoria-Geral da União. Guia Nacional de Licitações

Sustentáveis. Elaboração de: Flávia Gualtieri de Carvalho; Maria Augusta Soares de Oliveira Ferreira; Teresa

Villac. Brasília: AGU, 2016. p. 43, 59-60, 82, 93, 110. Disponível em: http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/400787. Acesso em: 04 nov. 2018.

Nas Licitações denominadas Sustentáveis deve ser requerido apenas o cumprimento dos requisitos necessários à habilitação, tendo em vista a importância de garantir a viabilidade da competição, isto é, que haja licitantes suficientes que detenham a qualificação solicitada, a fim de assegurar além da proteção socioambiental a plena execução contratual. Todavia, é dever dos licitantes, atender a todos os requisitos previstos em leis especiais, que digam respeito ao objeto licitado, no intuito de satisfazerem aos requisitos de habilitação no certame, conforme nos termos do art. 30, IV, da Lei n. 8.666/93117.Dessa maneira, se houver qualquer norma específica referente a determinado bem ou serviço, é dever do licitante demonstrar o seu cumprimento já nas fases de aceitação da proposta ou de habilitação.

Portanto, em regra, a inserção de critérios sustentáveis como requisito de habilitação deve ser vista com certa cautela, considerando o grande número de decisões do TCU contrárias a esse procedimento, assim como o entendimento majoritário da doutrina administrativa corroborando com os controladores. Apesar disso, é fundamental reforçar que a Administração Pública deve exigir, também na habilitação, o cumprimento de requisitos socioambientais que estejam previstos em legislação especial.