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Na realização de uma pesquisa, o pesquisador percorre fases para a sua concretização: executa uma revisão bibliográfica, organiza seus objetivos e questionamentos, opta pela metodologia que seja mais adequada a seu objeto de estudo, escolhe as técnicas de pesquisa, que auxiliarão a coleta de dados; para assim, escolher a melhor técnica de análise para trabalhar com os dados já coletados.

A respeito das técnicas de análise utilizadas nas pesquisas de abordagem qualitativa, uma das técnicas mais usadas pelos pesquisadores é a análise de conteúdo; que diferente do que algumas pessoas pensam, ela não se trata de uma abordagem metodológica, e sim, uma técnica de análise, um procedimento de tratamento dos dados que possibilita a descrição e a interpretação das mensagens declaradas dos sujeitos participantes da pesquisa, ou seja, dos dados coletados pelo pesquisador (BARDIN, 2009).

Para essa autora, como o foco dessa análise é o sentido das mensagens produzidas, o pesquisador necessita compreender o contexto em que elas foram desenvolvidas, verificando, desse modo, as dimensões históricas, sociais, políticas e econômicas que envolvem ou envolveram a produção dessas mensagens. E a escolha dessas dimensões, por parte do pesquisador, vai depender do objeto de sua pesquisa.

Por isso, Minayo (2008b, p. 303) define a análise de conteúdo como sendo, “técnicas de pesquisa que permitem tornar replicáveis e válidas inferências sobre dados de um determinado contexto, por meio de procedimentos especializados e científicos.”. Destacando

também, que a maioria das definições ressalta esse processo de inferência por parte do pesquisador.

Já Bardin (2009), afirma que seria mais adequado falar de “análises de conteúdo” visto que se trata de um conjunto de técnicas de análises que devem ser adequadas ao domínio e ao objetivo pretendido pelo pesquisador, sendo, portanto reinventada a cada momento e adaptável a um campo de aplicação muito vasto, que é o das comunicações.

Para essa autora, atualmente, a análise de conteúdo conta com a influência e auxílio da Informática e da Semiótica no tratamento dos dados, pois vários softwares foram desenvolvidos com a finalidade de auxiliar o pesquisador no levantamento dos dados tanto nas abordagens quantitativas como nas qualitativas. Além disso, tem se desenvolvido também propostas compreensivistas para a análise das falas e dos discursos, mostrando dinamismo nos estudos das significações.

Sobre as modalidades de análise de conteúdo, pode-se citar: a análise lexical, a análise de expressão, a análise de relações, a análise temática e a análise de enunciação. A análise lexical apresenta as seguintes etapas: a) o pesquisador realiza o tratamento dos dados identificando o número de palavras, o total de ocorrência de cada palavra, o número diferente de palavras utilizadas pelo entrevistado, verificando a riqueza do vocabulário utilizado por este; b) depois ele classifica as palavras de acordo com a sua ordem na produção dos significados; c) para assim, reduzir o número de vocábulos significativos, descartando as palavras consideradas de pouca importância para sua pesquisa; d) conseguindo, deste modo, um sentido para o texto, pois a frequência das palavras possibilita à aplicação de um tema, permitindo, portanto, que o pesquisador situe as ideias trazidas pelas palavras dentro de um contexto (BARDIN, 2009).

Já a análise de expressão, de acordo com essa autora, parte do pressuposto de que existe uma correspondência entre o tipo de discurso e as características do seu locutor e de seu meio, por isso, o pesquisador que utiliza essa técnica busca conhecer os traços pessoais de quem fala, sua situação social e o seu contexto. Para isso, além da utilização dos indicadores lexicais (repetição e incidência das palavras), essa técnica utiliza também a análise das falas, do encadeamento das ideias, dos arranjos sequenciais e da estrutura da narrativa.

A análise de relações, segundo Bardin (2009) em vez de utilizar a frequência de palavras em um texto, aborda as relações existentes entre os vários elementos do discurso presentes nele. Por isso, ela apresenta as seguintes modalidades: a análise de coocorrência, que procura extrair as partes de uma mensagem e apresenta a presença simultânea de dois ou mais elementos de uma mesma unidade de contexto; e a análise estrutural, que pretende

buscar o imutável e o permanente, presente em uma mensagem, para isso, essa abordagem trabalha com todas as interações que estruturam os elementos que compõem o texto.

A respeito da análise de enunciação, esta se apoia na concepção de que a comunicação é um processo e de que o discurso é a palavra em ato, ou seja, essa interpretação acredita que a produção de palavras é realizada ao mesmo tempo em que se cria um sentido e se opera as transformações. Por isso, ela parte do pressuposto de que no momento em que o locutor produz sua fala, ele é automaticamente constrangido pela situação de estar sendo entrevistado. As etapas para essa abordagem são: a) estabelecimento do corpus (delimitação do número de entrevistas a serem realizadas); b) preparação do material (transcrição das entrevistas, conservando os silêncios, risos, choros, repetições, vícios de linguagens, etc.; deixando ao lado um espaço para anotações por parte do pesquisador); e c) etapa de análise (análise individual de cada entrevista, para depois realizar o alinhamento ao coletivo e a dinâmica do discurso do indivíduo, percepção do estilo do discurso e dos elementos atípicos, e verificação das figuras de retórica). (BARDIN, 2009).

Por fim, para essa autora, a análise temática — que talvez seja a mais utilizada por parte dos pesquisadores que utilizam uma abordagem qualitativa — permite ao pesquisador, a partir das falas dos sujeitos, categorizar as mensagens emitidas através da utilização de uma palavra, de uma frase ou de um resumo; isto é, ela faz emergir do texto uma unidade de significação à luz da teoria de referência da pesquisa. Para isso, essa abordagem apresenta as seguintes etapas: a) pré-análise, que consiste no momento da escolha dos documentos a serem analisados, a partir da retomada, por parte do pesquisador, das hipóteses e objetivos formulados anteriormente (essa fase se subdivide em três etapas: leitura flutuante do conjunto de mensagens obtidas; constituição do corpus, que diz respeito à totalidade do material estudado; e formulação de hipóteses e objetivos, que se trata do momento em que o pesquisador deve retomar a etapa exploratória, tendo como base os questionamentos iniciais); b) exploração do material, onde o estudioso irá realizar um processo de classificação visando alcançar a compreensão central do texto; e c) tratamento dos resultados, onde se realizará as inferências e as interpretações dos dados obtidos na pesquisa.

A partir do que foi apresentado pode-se inferir que a análise de conteúdo é de grande relevância na área de educação visto que essa abordagem permite aos pesquisadores realizarem uma leitura de mundo a partir de significados, sentidos, expressões, comportamentos, gestos e contextos, ou seja; ela possibilita ao estudioso a vivência das situações que envolvem o ser humano em seu lado mais subjetivo.

Por isso, para o procedimento de análise dos dados, utilizamos a análise de conteúdo (especificamente, a sua modalidade de análise temática), seguindo a orientações de Laurence Bardin (2009) que se aplica a toda comunicação verbal e não verbal (gestos, posturas, comportamentos e expressões culturais), facilitando assim, o trabalho com os dados obtidos a partir dos questionários e das entrevistas.

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS