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4. CAMINHOS PERCORRIDOS

4.5 Desenvolvimento da pesquisa

4.5.1 A pesquisa de campo

4.5.1.1 Procedimentos adotados para a construção dos dados

Para construção dos dados, utilizamos os procedimentos apresentados a seguir,

realizados com os professores participantes. Realizamos inicialmente a entrevista

semiestruturada (gravação em áudio) e posteriormente e a análise documental, que serão

previamente apresentadas em uma sucinta descrição destes procedimentos.

a) Entrevista semiestruturada

As entrevistas atuam como um instrumento imprescindível no que concerne à apreensão

do posicionamento presente no discurso dos sujeitos, assim como para evidenciar a percepção

que os participantes da pesquisa têm do cenário investigado. Dessa forma, acaba por se tornar

uma técnica essencial para a realização de pesquisas em ciências sociais e humanas (LÜDKE;

ANDRÉ, 1986; MANZINI, 1990). Estes autores destacam a importante contribuição da

entrevista para o entendimento dos fenômenos ocorrentes no campo.

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Visando obter a profundidade analítica presente no estudo de caso, utilizamos a técnica

de entrevista semiestruturada com diferentes sujeitos de um mesmo cenário, a saber:

professores de Língua Portuguesa, professores do Atendimento Educacional Especializado e

professores de classes bilíngues, os quais são responsáveis pelo atendimento de alunos do

primeiro ao nono ano do ensino fundamental. Esse modelo de captação de dados mostrou-se

indispensável para revelar as formas de organização, conceitos e valores presentes na

subjetividade, e por consequência, na prática pedagógica dos envolvidos.

Lüdke e André (1986) preconizam que o maior benefício pertinente à realização da

entrevista a despeito de outras técnicas, refere-se ao fato de que essa outorga a obtenção

instantânea e direta dos dados almejados. Dessa forma, a qualidade da entrevista pode contribuir

para o acesso a informações de ordem pessoal, ou mesmo abordar temáticas delicadas e difíceis

que acabam por expor além do que o entrevistado, de outra forma, não faria.

É comum a entrevista semiestruturada estar relacionada a um objetivo e a partir desse o

pesquisador prepara o roteiro que irá conduzir o trabalho. Normalmente este roteiro é

constituído por perguntas que no decorrer possibilitam a complementação de questões, caso

necessário, o que de acordo com Rocha (2014) evidencia a flexibilidade da mesma.

A partir destas questões, elaboramos um roteiro (apêndice II) que buscasse contemplar

o objetivo que tínhamos de analisar as concepções das professoras sobre: a relação prática

pedagógica e a formação profissional; o desejo e a viabilidade para a realização de outras

práticas pedagógicas visando o melhor desempenho dos alunos no que se refere à produção

textual e a importância do conhecimento na área de letramento, como instrumento que

possibilite uma melhor assimilação da Língua Portuguesa por parte dos seus alunos.

Realizamos as entrevistas com as professoras participantes da pesquisa de cada escola.

O modelo das mesmas constitui o Apêndice V. Em uma das unidades a pesquisadora já era

conhecida, o que facilitou a aceitação de participação. Na outra unidade houve uma

apresentação informal aos professores participantes, feita por uma colega do GEPeSS - Grupo

de Estudos e Pesquisas sobre Surdez. Visando aproveitar o final do período letivo, fase em que

os professores não fazem atendimento aos alunos, combinamos previamente as datas para que

as entrevistas fossem realizadas num local apropriado da escola e de forma que também

houvesse tempo suficiente para o desenvolvimento das questões propostas.

As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas na íntegra, de

acordo com o proposto por Manzini (1990). Fizemos as adequações ortográficas, sem que estas

alterassem o conteúdo da fala dos entrevistados.

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Visando agilizar o processo de transcrição das entrevistas, utilizamos uma ferramenta

(VoiceMeter) cujas transcrições podem ser feitas automaticamente, ou seja, convertemos a fala

para a escrita. As regras utilizadas nas transcrições foram as utilizadas por Almeida (2014) e

fazem parte de nossos anexos. Para maior fidelidade às informações contidas nos áudios,

utilizamos a metodologia interjuízes, na qual outra pessoa ouve o áudio, acompanhando a

transcrição para apontar possíveis erros ao pesquisador (MANZINI, 2008).

b) Análise documental

A utilização da análise documental é parte fundamental para a produção de pesquisas

qualitativas. De acordo com Stake (1995), o emprego desta estratégia proporciona a

incorporação de dados relevantes para que se possa complementar fatos ocorridos durante a

realização do estudo, além de auxiliar também, no que cerne ao desenvolvimento de questões e

esclarecimento de eventos, às vezes inobserváveis. Constituída como um importante

instrumento para complementação dos demais dados torna-se imprescindível, para a

compreensão dos fenômenos de estudo, o que se deve ao seu potencial de expor minúcias

presentes no objeto investigado.

No cerne da discussão aqui apresentada, adota-se uma abordagem qualitativa do

método, enfatizando não a quantificação ou descrição dos dados recolhidos, mas a importância

das informações que podem ser geradas a partir de um olhar cuidadoso e crítico das fontes

documentais. Compreende-se ainda que, dependendo da área de pesquisa do investigador e dos

interesses do estudo, documentos que podem ser desprezíveis para uns podem ocupar lugar

central para outros.

De acordo com Bravo (1991), são considerados documentos todas as produções do

homem que podem ser considerados indícios de sua ação e ao mesmo tempo apresentam suas

ideias, opiniões e os hábitos de vida em sociedade. De acordo com a concepção do autor

podemos considerar como documentos aqueles sob a forma de escrita, os numéricos ou

estatísticos, assim como os que reproduzem imagem e som.

A pesquisa documental possibilita a investigação de problemas específicos sem

interação imediata, porém a mesma pode ocorrer indiretamente, através da análise documental.

Através dos documentos podemos compreender o modo de ser e viver em sociedade. Realizar

uma análise documental predispõe empatia, de forma a compreender o ponto de vista de seus

autores.

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Embora a pesquisa documental utilize caminhos semelhantes ao da pesquisa

bibliográfica, esta última destina-se mais a utilização de fontes previamente elaboradas, ou seja,

livros e artigos científicos, teses e dissertações. No que tange à pesquisa documental essas

fontes possuem maior diversificação, a saber: tabelas estatísticas, jornais, relatórios,

documentos oficiais, fotografias etc. (FONSECA, 2002).

De acordo com Gil (1991), os estudos planejados e realizados através da análise

documental são fundamentais, pois favorecem uma visão mais completa do problema ou ainda,

a criação de hipóteses visando a verificação do estudo em foco, utilizando outros meios. Para

tanto, a pré-análise também ocupa papel importante na análise documental, pois possibilita ao

pesquisador averiguar a necessidade de retorno ao campo para realizar uma nova obtenção de

dados, de forma a alcançar melhores resultados no que se refere a análise dos dados produzidos

(CALADO; FERREIRA, 2004). Respaldando essa afirmação, Richardson (2009), frisa que os

documentos se constituem como a base para a construção de dados.

Para este fim, foram analisados documentos produzidos pelas escolas participantes, ou

seja: Lotaciograma, mapa estatístico, diários de classe, assim como documentos sobre a

educação de surdos no município.

4.6 A análise das entrevistas

Para a análise das entrevistas, utilizamos as contribuições oriundas da análise de

conteúdo nos registros das transcrições, pois ela apresenta pertinência aos pressupostos da

perspectiva histórico-cultural. Dessa forma, realizamos uma retomada aos objetivos e questões

iniciais do estudo, de maneia a confrontá-los com os dados obtidos, conforme o quadro a seguir:

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Quadro 06: Problemática, questões e objetivos da pesquisa

PROBLEMÁTICA DO ESTUDO

Como a perspectiva de letramento pode potencializar o processo de aquisição da Língua Portuguesa, na modalidade escrita, por sujeitos surdos?

OBJETIVO GERAL

Analisar a concepção de letramento por parte dos professores participantes da pesquisa, e se essa concepção causa impacto nos processos de escolarização de educandos surdos.

QUESTÕES OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Qual a concepção de letramento por parte dos professores?

Verificar a concepção de letramento de surdos por professores do Município pesquisado, na região da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro;

A concepção de letramento dos professores participantes causa impacto nos processos de escolarização de educandos surdos?

Observar a relação teoria/práticas pedagógicas de letramento e se de acordo com o relato dos participantes da pesquisa, essas contribuem para o desenvolvimento dos alunos surdos quanto ao letramento acadêmico em Língua Portuguesa.

A aquisição de língua Portuguesa por sujeitos surdos, está pautada no desenvolvimento de estratégias com foco no letramento acadêmico?

Discutir o processo de aquisição de segunda língua por sujeitos surdos e o seu impacto no desenvolvimento desses à luz da teoria sócia histórica, com foco no conceito de letramento.

Fonte: Quadro elaborado pela autora para fins desta tese.

Nesta fase, fizemos uma seleção de leituras destacando o que poderia ser relevante,

realizando marcações nos textos com diferentes cores e tamanhos de fontes, temas que

emergiam das transcrições das entrevistas. De igual modo, seguindo a proposta da análise de

conteúdo, buscamos indicadores que viessem a orientar a interpretação dos dados. Realizamos

então uma retomada aos textos pertinentes ao nosso referencial teórico e documentos, visando

obter elementos que problematizassem as questões sobre letramento de surdos, vivenciadas no

campo de pesquisa.

Em seguida, iniciamos a exploração do material, nos guiando pelos critérios que

tínhamos separado por cores. Criamos arquivos no computador e posteriormente os

organizamos em pastas, facilitando a localização dos mesmos. Conseguimos então delimita as

categorias temáticas que direcionaram nosso estudo, as quais apesentamos no quando a seguir:

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Quadro 07: Categorias de análise identificadas nas transcrições das entrevistas

CATEGORIAS

Concepções de letramento e alfabetização Apresenta a concepção dos profissionais aceca do conceito de letramento, se esse estaria relacionado à capacidade de produção textual e a autoria, assim como ao processo de alfabetização.

Estratégias para ensino de L2 Apresenta as práticas pedagógicas descritas e eleitas pelos profissionais, visando contempla o processo de ensino da LP para alunos surdos e se esses estariam de acordo com práticas de ensino de L2.

Produção textual Apresenta a visão dos professores aceca da capacidade e qualidade da produção textual dos alunos surdos, em LP.

Fonte: Quadro elaborado pela autora para fins desta tese.

Por fim, após a identificação, realizamos uma nova reagrupação a fim de definir as

categorias de análise e suas subcategorias visando nortear todo o trabalho de discussão dos

dados que será apesentada no último capítulo desta tese. O quadro a seguir mostra a identificação

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Quadro 08: Subcategorias identificadas nas transcrições das entrevistas

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS DESCRIÇÃO

Concepções de letramento e alfabetização

Letramento com foco acadêmico Ênfase a produção escrita de diferentes gêmeos textuais.

Letramento com foco social

Ênfase a capacidade de convívio social e a aquisição oral ou gestual de conceitos e informações variadas.

Alfabetização e letramento como processos complementares

Compreensão dos dois conceitos como sendo complementares. No entanto, o processo de letramento ocorreria durante toda a existência do indivíduo.

Alfabetização e letramento como processos distintos

Compreensão dos dois conceitos como sendo completamente distintos e sem relação direta com o outro.

Estratégias para ensino de LP como L2

Visualidade Utilização de recursos visuais

Produção textual Práticas de produção escrita de

diferentes gêmeos textuais.

Análise contrastiva Comparação e análise de estruturas

linguísticas presentes e ausentes na LP e na L2.

Ampliação do léxico Ênfase na ampliação de vocabulário

descontextualizado em LP e L2. Escrita como base na memorização Aquisição da L2 com base na prática de

memorização de vocabulário e estruturas frasais e textuais.

Produção textual e autoria

Interlíngua Possesso de transição no qual a L1 é

utilizada como base estrutural para a escrita da LP.

Dificuldades com a estrutura da l2 Não compreensão da estrutura da LP e dificuldades para se fazer entende através da escrita.

Resistência e insegurança Resistência para iniciar produções escritas por receio de não se compreendido.

Preocupação com a forma Preocupação com a forma, clareza e

objetividade dos textos, bem como de questões relacionadas a normas gramaticais e sintáticas da LP. Fonte: Quadro elaborado pela autora para fins desta tese.

Dessa forma, iniciamos a triangulação dos dados obtidos com base na realização das

entrevistas semiestruturadas. Dessa forma, apoiamo-nos nos estudos de Flick (2013), qu e

apont a pa ra a pos s i bi l i dades da ut i l i z aç ão do m ét od o d e t ri an gul a ç ão como uma

forma de estudar um tema e um problema de pesquisa, tendo como base perspectivas

privilegiadas. Ou seja, pautada em diferentes visões a respeito de uma questão de pesquisa que

se busca responder. O autor destaca a importância de combinar distintos tipos de dados sob uma

abordagem teórica objetivando estabelecer uma única perspectiva (FLICK, 2013). Enfi m , a s

conc ep çõe s anal i s ad as deram origem aos dados por nos sintetizados e apresentados na

figura a seguir:

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Figura 03: Dados obtidos através das entrevistas nas escolas

Fonte: figura elaborada pela autora para fins dessa tese

A figura anterior, mostra o resultado do estudo, ou seja, apresenta a concepção dos

professores participantes acerca dos diferentes aspectos do letramento e suas percepções do

processo de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa por seus alunos surdos. Destacamos

ainda que as siglas utilizadas (LP, AEE e CB) se referem a área de atuação dos participantes da

pesquisa, respectivamente Professores de Língua Portuguesa, professores do Atendimento

Educacional Especializado e professores das classes bilíngues para surdos.

Os braços que ligam as 03 (três) categorias de análise que emergiram, as suas respectivas

13 (treze) subcategorias também possuem as cores representativa das áreas de atuação dos

participantes. A ausência ou a presença desses braços ilustram também a presença ou a ausência

de menção às subcategorias. Todavia, tais questões serão amplamente abordadas no próximo

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capítulo, visando oferecer maior clareza e facilidade de acesso aos dados pelos prováveis

leitores.

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