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3 AS NOÇÕES DE PODER, SABER E DISCURSO

3.9 Procedimentos que atuam na ordem do discurso

Em A Ordem do Discurso, sua aula inaugural no Collège de France, em 02 de dezembro de 1970, Michel Foucault mostra os modos como os poderes se ligam ao discurso na produção dos efeitos de verdade, explicitando “as potencialidades da análise do discurso como ferramenta metodológica” (FERREIRA e TRAVERSINI, 2013, p. 208). Conforme Foucault (2010), os procedimentos de controle, restrição e coerção usados na produção dos discursos ordenam a grande proliferação dos discursos, impondo-lhes limites, interdições e supressões; são como parte de jogos de limitações e exclusões que foram se constituindo no decorrer da história e que agiram como instrumentos que suprimiram a realidade do discurso no pensamento filosófico ocidental.

Foucault (2010) explica que a realidade do discurso deixou de ser exposta ou ocupou menor importância quando se deixou de pensar o discurso como um campo de batalha onde agem as forças produzidas nas relações, onde se operam essas forças. Para Foucault (2010), essa supressão da realidade do discurso no pensamento filosófico ocidental vem ocorrendo a partir de Platão, quando houve um deslocamento de critérios definidores daquilo que se considerava ser “um discurso verdadeiro”. A partir daí,

o pensamento ocidental tomou cuidado para que o discurso ocupasse o menor lugar possível entre pensamento e palavra; parece que tomou cuidado para que o discurso aparecesse apenas como um certo aporte entre pensar e falar; seria um pensamento revestido de seus signos e tornado visível pelas palavras, ou, inversamente, seriam as estruturas mesmas da língua postas em jogo e produzindo um efeito de sentido (FOUCAULT, 2010, p. 46).

De acordo com Foucault (2010), essa supressão da realidade do discurso assume muitas formas no decorrer da história, dentre elas, os temas do sujeito fundante ou fundador, da experiência originária e da mediação universal, cada qual contribuindo de uma forma para que a realidade do discurso ficasse à sombra, anulando-se e “inscrevendo-se na ordem do significante” (FOUCAULT, 2010, p. 49).

A invenção do sujeito fundador de panoramas de significações torneou a função da história em explicitar esses panoramas e ofereceu à ciência o seu fundamento, pois é em busca do conhecimento desse sujeito que as disciplinas se organizaram. A fundação do sentido das coisas é atribuída a esse sujeito, ao qual a capacidade de usar a razão e a lógica lhe garante a função de preencher as formas vazias da língua com significações e de assimilar o sentido depositado nas coisas. A esses sujeitos também é atribuída a função de fundar o sentido das coisas sem, no entanto, “precisar passar pela instância singular do discurso” (FOUCAULT, 2010, p. 47), muito embora esse sujeito se aproprie dos recursos linguísticos (como as letras, traços, signos etc.) para elaborar-se continuamente ou elaborar os saberes relacionados a si mesmo.

Já o tema da experiência originária suprime a realidade do discurso do pensamento filosófico ocidental porque atribui um sentido às coisas antes mesmo da experiência, “as coisas murmuram, de antemão, um sentido que nossa linguagem precisa apenas fazer manifestar-se” (FOUCAULT, 2010, p. 48).

Por fim, o tema da mediação universal leva o pensamento ocidental a crer que há em toda parte um movimento de um logos que “permite desenvolver toda a racionalidade do mundo [...] mas [que] não é senão um discurso já pronunciado” (FOUCAULT, 2010, p.48).

Segundo Foucault (2010), no pensamento filosófico ocidental delineado por esses temas, quando se propõe à análise dos discursos, a realidade própria do discurso fica de fora, pois o primeiro desses temas restringe o discurso ao jogo da escritura, o segundo ao jogo da leitura e o terceiro ao jogo da troca. Para Foucault

(2010), o pensamento filosófico ocidental manifesta uma veneração pelo discurso, porque deseja universalizá-lo; mas essa veneração esconde

uma espécie de temor surdo desses acontecimentos, dessa massa de coisas ditas, do surgir de todos os enunciados, de tudo que possa haver aí de violento, de descontínuo, de combativo, de desordem, também, e de perigoso, desse grande zumbido incessante e desordenado do discurso (FOUCAULT, 2010, p. 50).

Enfrentar esse temor, para Foucault (2010), é analisá-lo em suas condições, em seu jogo e seus efeitos, considerando a realidade própria do discurso. Para tanto, é preciso, primeiro, ter a disposição de “questionar nossa vontade de verdade; restituir ao discurso seu caráter de acontecimento; suspender, enfim, a soberania do significante” 23 (FOUCAULT, 2010, p. 51); e, segundo, compreender os procedimentos que colocam os discursos na ordem do que pode ser dito e, dentre o dizível, o que é verdadeiro.

Esses procedimentos usados na produção dos discursos são apresentados por Foucault (2010) em três grupos, procedimentos externos ao discurso, que tratam dos poderes do discurso; procedimentos internos, que conjuram os acasos da aparição dos discursos; e um terceiro grupo: “rarefação dos sujeitos que falam”, que determina as condições de funcionamento dos discursos e de acesso aos discursos. Os procedimentos externos são apresentados por Foucault como três sistemas de exclusão que agem sobre o discurso, sendo eles a interdição, a separação e a vontade de verdade. Esses procedimentos têm a função de conjurar os poderes e perigos dos discursos, “dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade” (FOUCAULT, 2010, p. 9), controlando, selecionando, organizando e redistribuindo a produção dos discursos.

Foucault explica que esses procedimentos se exercem a partir do exterior dos discursos, porque estão “à parte do discurso que põe em jogo o poder e o desejo” (FOUCAULT, 2010, p. 21). A interdição revela a ligação da produção do discurso com o desejo e o poder, e também mostra que o discurso não é apenas a materialidade dos sistemas de dominação e da resistência a ele, mas evidencia que

23 Foucault adverte para as análises que se centram na estrutura da língua, aquelas

valorizam o significante do signo linguístico e não às conexões entre os conteúdos e o exercício dos poderes que tornam possíveis a emergência dos saberes e a legitimação dos conhecimentos.

o discurso é aquilo que se quer apoderar, é, portanto, também, pelo que se tem lutado.

Na interdição cruzam-se três tipos de interdições que formam um filtro complexo que se modifica sempre, de acordo com as contingências. Uma parte desse filtro é a interdição sobre o objeto do discurso, isto é, não se tem o direito de falar sobre tudo a respeito de algo, sempre há uma zona proibitiva de se pronunciar; a segunda é a interdição sobre a circunstância, quer dizer, não se pode falar sobre as coisas em qualquer circunstância; e a terceira parte que compõem esse sistema de filtragem é a interdição sobre o sujeito que fala, ou seja, um determinado discurso recebe restrições dependendo de quem o pronuncia. Foucault resume essas interdições como o “tabu do objeto, ritual da circunstância [e] direito privilegiado e exclusivo do sujeito que fala” (FOUCAULT, 2010, p. 9).

Já o procedimento de separação age sobre o discurso separando de um lado e rejeitando de outro, sem, no entanto, considerar as tramas dos poderes nas quais essa separação se dá. Por exemplo, como ocorre com a separação do discurso considerado verdadeiro daquele que é considerado como falso e do discurso dito racional daquele que não é aceitável como racional (o discurso do louco, por exemplo). Historicamente constituído, o procedimento da separação produz o efeito de desligamento entre o discurso e o exercício do poder.

Foucault explica como isso se deu, retomando o que era considerado, no século VI, na Grécia, um discurso verdadeiro, e o que, um século depois, a partir de Platão, passou a ser valorizado no discurso para que ele fosse verdadeiro. Resumidamente, Foucault acredita que o que era considerado um discurso verdadeiro, antes de Platão, não separava os poderes do efeito discursivo produzido com a enunciação do discurso, pois o poder profético do discurso se revelava na contribuição da sua realização, suscitando “a adesão dos homens” (FOUCAULT, 2010, p. 15) na trama do destino. A partir de Platão, a verdade passou a não mais residir no que o discurso “fazia, mas residia no que ele dizia: chegou um dia em que

a verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação a sua referência” (FOUCAULT, 2010, p. 15).

Essa separação histórica, ocorrida na antiguidade clássica, segundo Foucault (2010), delineou outro procedimento de exclusão que se localiza na exterioridade do discurso: a vontade de saber da sociedade ocidental moderna.

Muito embora a vontade de saber da Antiguidade Clássica e a vontade de saber da sociedade moderna ocidental não tenham a mesma forma, elas possuem a mesma nuance de distanciamento entre as malhas tecidas pelo exercício do poder e o que se considera como discursos verdadeiros. Assim, nos diz Foucault (2010, p. 17), apareceu uma vontade de saber, desde o século XVI, que impunha a constituição de um certo tipo de sujeito cognoscente que assumisse uma “certa posição, certo olhar e certa função (ver, em vez de ler, verificar, em vez de comentar)”; uma vontade de verdade que já rascunhava modos de tornar possível observar, mensurar e classificar objetos; uma vontade de verdade, enfim, prescritora de técnicas das quais os conhecimentos deveriam ser investidos ao serem produzidos para serem considerados verdadeiros (úteis e verificáveis). Por se apoiar nas instituições e se moldar a partir da forma “como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído” (FOUCAULT, 2010, p. 17), a vontade de verdade é reforçada e reconduzida continuamente por meio de um conjunto de práticas (dentre elas Foucault cita a pedagogia) e exerce sobre os discursos um poder de coerção.

Os outros dois sistemas de exclusão de discursos, a interdição e a separação, orientam-se sempre em direção da vontade de verdade, modificando-se quando atravessados por essa vontade. No entanto, a vontade de verdade é, dos três sistemas, o menos perceptível, pois ao separar o discurso do desejo e do poder, o discurso não pode mais reconhecer a vontade de verdade que o apodera. Foucault (2010) nos explica que a partir desses três sistemas de exclusão a verdade aparece aos nossos olhos como esclarecedora e universal, acobertando a vontade de verdade geradora desse efeito esclarecedor e universal; ignoramos a “prodigiosa maquinaria destinada a excluir todos aqueles que, ponto por ponto, em nossa história, procuraram contornar essa vontade de verdade, lá justamente onde a verdade assume a tarefa de justificar a interdição e definir a loucura [...]” (FOUCAULT, 2010, p. 20).

Quanto aos procedimentos que controlam os discursos a partir do seu interior, esses funcionam como princípios de rarefação, porque têm a função de espalhá-los por entre outros discursos. Foucault (2010) apresenta o comentário, o autor e as disciplinas como procedimentos de controle interno dos discursos.

O comentário é responsável pelo desnivelamento entre o discurso primeiro e aquele que o comenta, tornando possível a reaparição de alguns ditos e a

fugacidade de outros, proporcionando a conservação, permanência e a transformação de algumas coisas ditas e a efemeridade de outras. Esse desnível entre o texto primeiro e o comentário permite a construção de novos discursos a partir de um já dito e permite sempre dizer algo além do texto devido ou à ênfase que é dada ao que já foi dito ou àquilo que nunca se disse. Por meio do comentário, é possível dizer sempre pela primeira vez o que já foi dito ou repetir sempre o que jamais fora dito. Como afirma Foucault (2010, p. 26), “o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. O comentário, então, usa a forma da repetição para atribuir identidade ao que fora dito ao acaso, transferindo o acaso, a multiplicidade aberta e aquilo que se arriscou dizer em um discurso primeiro “para o número, a forma, a máscara, a circunstância da repetição” (FOUCAULT, 2010, p. 26) no discurso segundo.

Já o autor, por sua vez, é um princípio que usa a forma da individualidade para limitar o acaso de um discurso primeiro ao jogo da identidade. Foucault explica o procedimento do autor não “como o indivíduo falante que pronunciou ou escreveu um texto, mas o autor como princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência” (FOUCAULT, 2010, p. 26). O que importa nessa perspectiva de análise de discurso é a função-autor e não a autoria em si do discurso, mas a posição da função de autoria em relação ao campo discursivo.

O terceiro procedimento interno ao discurso responsável por limitar o dito dos discursos, ou seja, por controlar sua produção, são as disciplinas, que Foucault (2010, p.30) define como “um domínio de objetos, um conjunto de métodos, um corpus de proposições consideradas verdadeiras, um jogo de regras e de definições, de técnicas e de instrumentos” que está à disposição para o uso de todos, pois as disciplinas não estão associadas a alguém que as tenha inventado. Nas disciplinas requer-se sempre a construção de novos enunciados, pois “para que haja disciplina é preciso [...] que haja possibilidade de formular indefinidamente, proposições novas” (FOUCAULT, 2010, p.30).

O terceiro grupo de procedimentos usados na produção de discurso compreende a rarefação de sujeitos que falam e tem a função de impor condições aos sujeitos, a fim de assegurar que nem todos terão acesso a determinados discursos, ou seja, “ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo” (FOUCAULT, 2010, p.

37). A troca e a comunicação de conhecimentos, verdades e saberes não funcionam sem os sistemas de restrição que estão envolvidos na produção desses conhecimentos, verdades e saberes. A forma mais visível dos sistemas de restrição é constituída pelo o que Foucault (2010) chama de ritual que

define a qualificação que devem possuir os indivíduos que falam (e que, no jogo de um diálogo, da interrogação, da recitação, devem ocupar determinada posição e formular determinado tipo de enunciado); define os gestos, os comportamentos, as circunstâncias, e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso; fixa enfim, a eficácia suposta ou imposta das palavras, seu efeito sobre aqueles aos quais se dirigem, os limites de seu valor de coerção. (FOUCAULT, 2010, p.39).

Além de compreender os procedimentos em torno da ordenação dos discursos, Foucault (2010) discute alguns princípios que comporiam algumas exigências quanto ao método adotado por ele ao analisar os discursos: os princípios de inversão, de descontinuidade, da especificidade e da exterioridade. Esses princípios levam às quatro noções reguladoras para a análise de discurso proposta pelo filósofo: a noção de acontecimento, de série, de regularidade e a de condição de possibilidade.

Segundo Foucault (2010), essas noções afastam-se do modo como a história tradicional das ideias tem feito as suas análises, pois enquanto essa “procurava o ponto da criação, a unidade de uma obra, de uma época ou de um tema, a marca da originalidade individual e o tesouro indefinido das significações ocultas” (FOUCAULT, 2010, p. 54), a proposta foucaultiana de analisar o discurso opõe o “acontecimento à criação, a série à unidade, a regularidade à originalidade e a condição de possibilidade à significação” (FOUCAULT, 2010, p. 54).

O princípio de inversão traduz a necessidade de reconhecer o jogo do recorte pelo qual se constitui o discurso, não reconhecendo no discurso uma continuidade, mas uma rarefação que leva aos demais outros princípios. O princípio da descontinuidade permite encarar a rarefação dos discursos não como malhas que levam a um grande discurso universal, ilimitado e contínuo, camuflado pelos sistemas de rarefação, e no qual o analista tem obrigação de descobrir o não-dito ou o não-pensado escondido nas entrelinhas. De outra forma, o princípio da descontinuidade aborda os discursos como “práticas descontínuas, que se cruzam, por vezes, mas também se ignoram ou se excluem” (FOUCAULT, 2010, p. 53). O

princípio da especificidade, por sua vez, garante ao analista “não transformar o discurso em um jogo de significações prévias” (FOUCAULT, 2010, p. 53), pois esse princípio sugere abordar “o discurso como uma violência [...] às coisas, como uma prática que lhe impomos [...]; e é nesta prática que os acontecimentos do discurso encontram o princípio de sua regularidade” (FOUCAULT, 2010, p. 53). Já o princípio da exterioridade permite ao analista partir da emergência e da regularidade do discurso e “passar às suas condições externas de possibilidade, àquilo que dá lugar à série aleatória desses acontecimentos e fixa suas fronteiras” (FOUCAULT, 2010, p. 53), evitando que o analista passe do discurso para a significação manifestada pelo discurso.

Esses princípios propostos e seguidos por Foucault asseguram deslocar a análise da causalidade para a da casualidade, a do contínuo para a do descontínuo, a da representação para a da materialidade; esses princípios garantem à analise da história das ideias afastar-se da narração do “desenrolar contínuo de uma necessidade ideal” (Foucault, 2010, p. 59-60) e permite ao pensamento refletir sobre o acaso e o descontínuo. Ao seguir esses princípios, Foucault propõe-se a enfrentar aquele temor, construído historicamente, o temor em observar a realidade do discurso.

As análises discursivas realizadas por Foucault se dispõem em dois conjuntos: o crítico ou arqueológico e o genealógico. Foucault (2010) explica que o conjunto crítico trata-se da análise do que controla o discurso e coloca em prática o princípio da inversão, porque permite “perceber como se realizou, [...] como se repetiu, se reconduziu, se deslocou essa escolha da verdade no interior da qual nos encontramos, mas que renovamos continuamente” (FOUCAULT, 2010, p.62), bem como possibilita medir o efeito de um discurso com pretensão científica sobre um conjunto de práticas e de discursos prescritivos (Foucault cita o efeito do discurso psiquiátrico, médico e sociológico nos discursos do sistema penal). Esse conjunto versa sobre as funções de exclusão, ou seja, as formas da exclusão, da limitação e da apropriação; bem como aborda os procedimentos de limitação dos discursos, proporcionando detectar na construção do discurso como funcionam os princípios do autor, do comentário e da disciplina.

De outro modo, Foucault (2010) esclarece que o conjunto genealógico de estudos coloca em prática os princípios de descontinuidade, de especificidade e de exterioridade, porque procura perceber “como se formaram, através, apesar, ou com

o apoio desses sistemas de coerção, séries de discursos; qual foi a norma específica de cada uma e quais foram suas condições de aparição, de crescimento, de variação” (FOUCAULT, 2010, p. 61).

Conforme Foucault (2010), os procedimentos de análise utilizados por esses dois conjuntos nunca são exclusivos de um ou de outro conjunto, porque essas tarefas nunca se separam completamente; conforme o filósofo, o que diferencia a arqueologia da genealogia não é o objeto nem o domínio, de outra forma, é o ponto de ataque, a perspectiva e a delimitação. Para Foucault (2010, p. 65-66), enfim, “a crítica analisa os processos de rarefação, mas também de reagrupamento e de unificação dos discursos; a genealogia estuda sua formação ao mesmo tempo dispersa, descontínua e regular”, no entanto, esses dois tipos de análises se alternam e se apoiam uma na outra, complementando-se.

Nos textos que serão analisados mais a frente, no quinto capítulo deste trabalho, procurei utilizar a noção de discurso de Foucault e as seguintes ferramentas de análise apresentadas até aqui: ocupei-me do objeto necessidade formativa docente como um acontecimento; utilizei a norma, a função autor, o comentário, a noção de biopolítica para compreender a ordem discursiva na qual o objeto necessidade de formação docente emerge.

Antes, entretanto, no próximo capítulo, apresento algumas aproximações entre o referencial teórico-metodológico elaborado por Foucault e o campo educacional.