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2 A FORMAÇÃO DAS PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

2.4 A professora que queremos

O documento “Subsídios para credenciamento e funcionamento de instituições de educação infantil – Volume I” (1998) refere-se ao documento “Subsídios para a elaboração de orientações nacionais para a educação infantil” (MEC/SEF/DPE/COEDI, 1997), elaborado por renomadas pesquisadoras da área (Maria Malta Campos, Sônia Kramer, Selma Garrido Pimenta e Fúlvia Rosemberg). Nele, as seguintes orientações a respeito do perfil da docente da educação infantil são apontadas:

1. A professora deve cuidar e educar a criança de 0 a 6 anos conjuntamente;

plena), sendo aceita como formação mínima a oferecida em nível médio;

3. A formação inicial e continuada dessas profissionais terá como fundamentos: “(a) associação entre teorias e práticas; (b) conhecimento da realidade das creches e pré-escolas, visando à melhoria na qualidade do atendimento; (c) aproveitamento, de acordo com normas específicas, da formação e experiência anterior em instituições de educação” (s.p.);

4. O currículo da formação inicial dessa profissional deve: (a) conter conhecimentos científicos básicos para a sua formação como cidadã e para o trabalho com crianças pequenas; (b) organizar-se tendo como base o processo de desenvolvimento e construção dos conhecimentos da profissional em formação; (c) considerar os valores e saberes dessas profissionais produzidos em seus meios culturais e sociais; (d) ter conteúdos que o habilitem para incluir educandos portadores de necessidades especiais na rede regular de ensino; 5. A formação e a profissionalização devem se dar de forma indissociável tanto na

escolarização como na progressão da carreira;

6. A formação precisa ser pautada nas regulamentações oficiais elaboradas pelo MEC.

Além dessas orientações, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1999) instituiu que as propostas pedagógicas para esse nível da educação básica devem valorizar a especificidade da infância de 0 a 6 anos, isto é, as professoras precisam reconhecer essas crianças como seres completos que estão conhecendo o mundo e que, portanto, aprendem quando brincam, quando fazem atividades

programadas ou atividades de higiene e alimentação. A professora da educação infantil deve compreender que a forma de pensamento dessa criança é diferente qualitativamente das crianças do ensino fundamental, pois nesta fase os infantes conhecem o seu meio, principalmente, através das sensações e dos movimentos. Por essa razão, eles precisam ser cuidados e educados de uma maneira em que haja a integração entre os “aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais” (Diretrizes Curriculares Nacionais, 1999, art. 03, III).

Rossetti-Ferreira e Silva (2000) afirmam que, além dessas exigências promovidas pela legislação atual, as docentes também sofrem as exigências que permeiam as transformações do mundo do trabalho, as quais determinam as novas competências desejadas no trabalhador: autonomia, criatividade, produtividade e capacidade de adaptação às mais variadas situações.

As autoras apontam, ainda, que a responsabilidade pela qualidade do ensino oferecido quase sempre tem recaído sobre a professora e a sua formação. No entanto, essa qualidade não depende somente desses fatores. Daí o cuidado que devemos tomar para não responsabilizar unicamente a professora pela qualidade da educação no país.

Kramer (2003) destaca que existem várias alternativas para a formação da professora que precisamos na educação infantil, visto que esse é um campo do conhecimento que vem ganhando novos contornos. A autora defende que a educação infantil precisa de professoras que desejem repensar a sua identidade e a história coletiva da educação que vem sendo construída. Enfatiza que é essencial resgatar as trajetórias pessoais das profissionais e as histórias das propostas e dos projetos, repensando as suas inserções no processo da cultura. Kramer (op. cit.) afirma,

Na educação Infantil, o trabalho coletivo é requisito básico, é condição para construir e consolidar projetos, para atuar com as crianças, para lidar com as famílias e as pessoas da comunidade na qual se insere a creche, a pré-escola ou a escola. (p. 12).

A autora aponta que o desafio da professora é pensar a criança como sujeito histórico de cultura, inserida em uma sociedade. Dessa maneira, a professora tem a responsabilidade de mediar o seu processo de formação. Para isso, Kramer (2003) defende a urgência de se respeitar os direitos dessa professora à formação, modificando a situação atual do contexto brasileiro, no qual as profissionais ganham não por sua formação, mas sim pelo nível de escolaridade em que trabalham. Isso significa que o trabalho com educação infantil é o mais desvalorizado.

Oliveira (2003) afirma que se deve exigir da professora uma formação ética e uma competência no fazer de sua tarefa que levem em conta o atual momento sócio- histórico em que vivemos. Para isso, é exigido dessa professora investimento emocional, conhecimento técnico-pedagógico e compromisso com a formação de sujeitos cidadãos.

Nesse contexto, as pesquisadoras italianas Morsiani & Orsoni apud Campos (1999), defendem que o perfil específico das professoras de creche deve conter os seguintes saberes:

1. saber: referente à capacidade da professora de relacionar os conteúdos

culturais de sua formação com a situação real vivida pelas crianças. Esse saber pode ser conquistado somente por meio da formação permanente;

2. saber ser: a professora deve contar com o apoio da instituição, para que

ela tenha condições de lidar com o estresse, por meio de momentos de descanso e/ou rodízio de funções;

3. saber interagir: a professora deve interagir não apenas com o aluno, mas

também com as outras professoras e funcionários da escola, além das famílias de seus alunos, da comunidade e dos profissionais de outras instituições (Saúde e Assistência Social);

4. saber fazer: as professoras devem saber refletir sobre as suas práticas,

para que construam um projeto educativo próprio, fazendo uso de documentações, avaliações, pesquisas e observações.

Nunes (2001), em seu estudo acerca do panorama da pesquisa brasileira sobre a formação de professoras, constatou que há a necessidade de minimizar a distância entre as teorias e as práticas das professoras, e que o caminho que vem sendo traçado nos cursos de formação tem passado pela concepção do “professor reflexivo”.

Atualmente, vários autores (Nóvoa, 1995; Gómez, 1995; Schön, 2000; Pimenta, 2002) têm defendido que a formação pedagógica da professora deve ter um estatuto científico que alie investigação e formação, pois o novo perfil da professora deve ser o de pesquisadora, que reflita sobre a sua prática e sobre a sua realidade. Essa discussão exige que eu me detenha um pouco mais, pois os objetivos do projeto Pedagogia Cidadã se fundamentam nessa perspectiva de formação.