• Nenhum resultado encontrado

Propostas de Soluções

4 EXPERIÊNCIA DE APLICAÇÃO DO COMITÊ DE RESOLUÇÃO DE DISPUTAS NO BRASIL E SEUS DESAFIOS

4.2. Propostas de Soluções

De todo modo, os questionamentos gerais pincelados no presente capítulo podem ser inicialmente superados pela observação ao princípio da pacta sunt servanda, o qual dispõe que as cláusulas do contrato fazem lei entre seus contratantes, de forma que o pactuado deva prevalecer entre as partes, respeitando sempre os demais princípios contratuais, como o da boa-fé, e as demais cláusulas gerais dispostas no Código de Processo Civil e normas nesse sentido.52 Considerando esse princípio contratual, em conjunto com demais, a adoção do Comitê de Resolução de Disputas, como uma escolha das partes, deve ser zelado pelas partes e preservadas as decisões e sugestões emanadas pelo Conselho de Disputas, em virtude de não ter sido uma imposição mas sim uma escolha, ao contrário, por exemplo, dos julgados em sede judicial. O Dispute Board prioriza

51 RIBEIRO, Marcia C. Pereira; ALMEIDA, Caroline Sampaio. Análise Crítica das Cláusulas Dispute Board: Eficiência e Casos Práticos. Disponível em: <https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/4676>. Acesso em 29 abr. 2019.

52 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 3: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788530978198>. Acesso em 25 abr. 2019.

soluções cooperativas, envolvendo análises minuciosas e periódicas do contrato, além de ouvir os contratantes e possibilitar o diálogo entre eles.

Sendo assim, apesar de não ter efeito vinculante ou ter um possível efeito vinculante mitigado pela possibilidade de obter diversos provimento resolutivo por outros métodos de solução de controvérsias, as determinações do Conselho de Disputas é, em grande parte, acatado pelas partes em razão da posição relevante de seus membros, por isso a necessidade de profissionais com largo conhecimento na matéria pactuada, e a solidez do procedimento em sede de Dispute Board, uma vez que esses profissionais acompanham os contratantes, prioritariamente, desde o início do projeto até a execução e finalização da obra, entendendo as minucias do contrato e particularidades dos contratantes.

O estado de São Paulo/SP apresentou uma situação muito semelhante a Sheppard na obra da Linha Amarelo do metrô, contrato este que adotou e acionou o Comitê de Resolução de Disputas pelo conflito gerado com a divergência sobre a obrigação em custear gastos extras com a retirada de materiais da construção, emanando o Comitê relatórios no sentido de ser obrigação do estado tal ato. Inconformado, o estado de Sao Paulo recorreu à via judicial mas o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ratificou a decisão do comitê, reforçando o potencial vinculante dos relatórios em Dispute Board, além da sua eficiência e credibilidade.53 Um ponto que traria maior grau de legitimidade às decisões em Dispute Board seria a produção de normas nacionais sobre o Comitê de Resolução de Disputas e sua ampla divulgação, como feito pelo Conselho Nacional de Justiça em relação a conciliação, a mediação e a arbitragem, além da formação de câmaras próprias sobre estes métodos, já que a indicação do Dispute Board precisa estar abarcada pela segurança jurídica.

Mesmo com a quase ausência normativa, o Comitê não deve ser ignorado já que encontra respaldo no Código de Processo Civil de 2015 quando este disciplina que todos os membros que atuam perante o Poder Judiciário devem priorizar

53 CÂMARA, Flávia; GUIMARÃES, Leonardo. Dispute board: o método de solução de conflitos que vem ganhando espaço no Brasil. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI286212,21048Dispute+board+o+metodo+de+solucao+de +conflitos+que+vem+ganhando>. Acesso em 29 abr. 2019.

métodos extrajudiciais de solução de conflitos, bem como reforçar as vantagens de sua aplicação para os envolvidos, como já mencionado.

Ademais, o próprio preâmbulo da Constituição Federal/8854 preconiza ser escopo do Estado Democrático Brasileiro o comprometimento com as soluções pacíficas das controvérsias, reforçando a importância dos métodos alternativos ao Judiciário para solução de conflitos, como é o caso do Dispute Board.

Assim, um método célere, eficiente, econômico e de excelente aplicação como o Comitê de Resolução de Disputas, deve ter sua importância reconhecida em norma de âmbito nacional, não apenas com produção normativa esparsa, a exemplo da lei do estado de São Paulo. Vale pontuar que, na construção civil, o Dispute Board é mais indicado, inclusive, do que os demais métodos extrajudicial abordados, como a conciliação (de aplicação limitada a casos mais simples), a mediação (na qual o mediador não atua tão efetivamente na solução do conflito) e a arbitragem (muito semelhante ao sistema judiciário, o que gera desconforto e baixa titularidade das partes na solução apresentada).

Além de todos os argumentos aqui expostos, ainda cumpre pontuar a tendente priorização e o incentivo crescente à adoção desse método extrajudicial de solução de disputas, demonstrado, mesmo que de forma esparsa e ainda de baixa produção, pelo Projeto de Lei nº. 206 do Senado Federal, além da lei do estado de São Paulo, do regulamento do Centro de Arbitragem e Mediação e das disposições do Conselho Nacional de Justiça.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que foi exposto, verifica-se a necessidade de desafogar o Poder Judiciário, garantindo a apreciação de diversas questões na via extrajudicial. Mais do que isso, o Judiciário deve se ater a questões de direito, deixando situações técnicas para os mecanismos que melhor lhes resolvam, como é o caso do Comitê de Resolução de Disputas nos contratos da construção civil.

54 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em 29 abr. 2019.

Esse método de resolução de disputas extrajudicial está em conformidade com os preceitos constitucionais e legais do ordenamento jurídico brasileiro, encontrando apoio em lei estadual, Projeto de Lei Federal e regulamentos e resoluções esparsas, devendo ser cada vez mais difundido para que as disputas possam ser abarcadas por sua eficácia e celeridade.

É possível constatar que o Dispute Board, mesmo quando desprovido de força vinculante, funciona como um desestímulo à parte inconformada com o relatório ou decisão do Comitê a buscar uma tutela para sua demanda em outra via de solução de conflitos, vez que as declarações dos profissionais responsáveis pelo contrato são emitidas após análises periódicas do contrato, das partes e da disputa, possuindo, por conseguinte, alto grau de fundamentação e adequação ao caso. Assim, dificilmente um arbitro ou um juiz irão negligenciar os documentos formulados pelo Comitê de Resolução de Disputas, obtendo seus relatórios e decisões uma espécie de força vinculante tácita.

Assim, o presente artigo possibilitou o melhor entendimento das características desse método alternativo ao judiciário de solução de conflitos, confirmando sua eficiência no âmbito internacional e sua potencialidade de êxito no Brasil, trazendo questões primordiais para sua melhor aplicação nacional, a exemplo da produção normativa a nível federal.

Dessa forma, respondendo aos possíveis questionamentos quanto aos desafios enfrentados com a aplicação do Dispute Board no Brasil, bem como trazendo propostas de soluções para eventuais indagações, pode-se concluir que instrumentos como o Código de Processo Civil, a própria Constituição Federal/88 e as disposições de órgãos como o Conselho Nacional de Justiça, conjuntamente legitimam métodos como o Conselho de Resolução de Disputas, garantindo-lhe confiabilidade, eficácia das suas decisões e recomendações, além de confirmar a prolação de adequadas soluções para as disputas a ele submetidas.

REFERÊNCIAS

AGENCY, Japan Internacional Cooperation. Dispute Board Manual. 2012. Disponível em: <https://

DisputeBoardManual_201203_e.pdf>. Acesso em 22 abr. 2019.

ALMEIDA, Tania. Século XXI: a mediação de conflitos e outros métodos não-adversariais de resolução de controvérsias. 2016. Disponível em:

<http://www.mediare.com.br/seculo-xxi-amediacao-de-conflitos-e-outros-metodos-nao-adversariais-de-resolucao-de-controversias>. Acesso em 22 abr. 2019.

ALTMAN, Gustavo. Dispute board é saída eficaz para solução de conflito, apontam especialistas. Disponível em:

<https://www.jota.info/tributos-e-empresas/infraestrutura/dispute-board-conflitoespecialistas-15112018>. Acesso em 22 abr. 2019.

AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Manual de mediação judicial. Publicado pelo Conselho Nacional de Justiça. Brasília, 2016. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/

2016/07/f247f5ce60df2774c59d6e2dddbfec54.pdf>. Acesso em 26 abr. 2019. BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 12 abr. 2019.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em 29 abr. 2019.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Declaração em Recurso Especial nº 1.569.422RJ. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em 29 abr. 2019.

CÂMARA, Flávia; GUIMARÃES, Leonardo. Dispute board: o método de solução de conflitos que vem ganhando espaço no Brasil. Disponível em:

<https://www.migalhas.com.br/dePeso/

16,MI286212,21048-Dispute+board+o+metodo+de+solucao+de+conflitos+que+vem+ganhando>. Acesso em 29 abr. 2019.

CENTRO DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO. Regulamento para o Comitê de Prevenção e Solução de Disputas do CAM-CCBC. Disponível em:

<https://ccbc.org.br/cam-ccbc-centroarbitragem-mediacao/resolucao-de-disputas/dispute-boards/regulamento-2018/>. Acesso em 24 abr. 2019.

CHARRETT, Donald. Dispute Boards and Construction Contracts. 2009. Disponível em: <http:// fidic.org/sites/default/files/3%20charrett09_dispute_boards.pdf>. Acesso em 25 abr. 2019.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Existem outros métodos de solução de conflitos disponíveis? Quais?. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-

acoes/conciliacao-emediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/85620-existem-outros-metodos-de-solucaode-conflitos-disponiveis-quais>. Acesso em 12 abr. 2019.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Mediação e Conciliação: qual a

diferença? Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao>. Acesso em 26 abr. 2019.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório Justiça em Números. Disponível em: <http://

www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/44b7368ec6f888b383f6c3de40c321 67.pdf>. Acesso em 12 abr. 2019.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS PROJETOS. Dispute Resolution Boards no Brasil: Avanços e Desafios. Disponível em:

<https://fgvprojetos.fgv.br/eventos/dispute-resolution-boards-no-brasilavancos-e-desafios>. Acesso em 29 mar 2019.

GUIMARÃES, José de Freitas. Os Direitos Fundamentais e os Métodos Alternativos de Composição de Conflitos Individuais e Coletivos do Trabalho Diante da Cultura da Judicialização. D i s p o n í v e l e m: < h t t p s: / / w w w. u n i m e p. b r / p h p g / b i b d i g / p d f s / d o c s/07122016_100539_josedefreitasguimaraes_ok.pdf>. Acesso em 29 abr. 2019.

RIBEIRO, Marcia C. Pereira; ALMEIDA, Caroline Sampaio. Análise Crítica das Cláusulas Dispute Board: Eficiência e Casos Práticos. Disponível em:

<https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/nej/ article/view/4676>. Acesso em 29 abr. 2019.

SENADO FEDERAL. Projeto de Lei 206, de 2018. Disponível em:

<https://www25.senado.leg.br/ web/atividade/materias/-/materia/133057>. Acesso em 24 abr. 2019.

SILVA, Cristiano Alves da; BARBOSA, Oriana P. de Azevêdo. Os Métodos Consensuais de Solução de Conflitos no Âmbito do Novo Código de Processo Civil Brasileiro (Lei Nº 13.105/15. Disponível em:

<https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos-discursos-e-entrevistas/ artigos/2015/os-metodos-consensuais-de-solucao-de-conflitos-no-ambito-do-novo-codigo-deprocesso-civil-brasileiro-lei-no-13-105-15-juiza-oriana-piske>. Acesso em 29 abr. 2019.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 3: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/ 9788530978198>. Acesso em 25 abr. 2019.

VALÉRIO, Marco A. Gumieri. Os meios alternativos de resolução de conflitos e a busca pela pacificação social. Revista de Direito Privado, vol. 69, setembro/2016. Disponível em: <http://

www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/ bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RDPriv_n.69.01.PDF>. Acesso em 26 abr. 2019