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Teoria da causa madura no recurso especial

Tanto neste caso, de recurso ordinário constitucional para o STJ, como naqueles de recurso

4.2 Teoria da causa madura no recurso especial

O recurso especial tem previsão no artigo 105, III, da CF e artigos 1.029 e ss., do CPC de 2015. O objetivo primordial desse recurso é uniformizar a interpretação da lei federal e garantir sua uniformidade no território nacional.

20 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo interno no Recurso ordinário em Mandado de Segurança nº 57.280/PI. Relatora: Ministra Regina Helena Costa. DJe de 21/9/2018. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/>. Acesso em 12/4/2019.

Nesta senda, o recurso excepcional não representa acesso a uma terceira instância, uma vez que possui missão constitucional especificamente delineada, a saber, uniformizar a interpretação da norma federal.

Diante de tal função específica, bem como de requisitos especiais para o manejo de tal recurso (causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios), seria forçoso concluir que a Teoria da Causa Madura não teria abrigo em tal instrumento, por manifesta incompatibilidade.

Como visto, o recurso especial tem como pressuposto de admissibilidade peculiar a necessidade de prequestionamento, que consiste na prévia invocação pela parte da questão a ser decidida ou apreciada pelo Tribunal local.

Quanto ao tema, adverte o Professor Alexandre Freitas Câmara:

Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o RE e o REsp só são admissíveis depois de esgotados os recursos admissíveis nas instâncias ordinárias (o que resulta da exigência de que a causa já tenha sido decidida em única ou última instância). Assim, por exemplo, se é proferida por juízo de primeira instância uma sentença que contraria dispositivo da Constituição Federal, não se poderá admitir a interposição de recurso extraordinário, já que cabível apelação. Impõe-se, assim, o esgotamento das instâncias ordinárias para que se abram as portas das instâncias excepcionais.

(...)

Da exigência de que o recurso seja interposto contra causas decididas em única ou última instância algo mais se extrai, porém: o requisito do prequestionamento. Este é requisito específico de admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial e, pois, se não estiver presente ficará inviável a apreciação do mérito do recurso, o qual não poderá ser admitido.

Prequestionamento é a exigência de que o recurso especial ou extraordinário verse sobre matéria que tenha sido expressamente enfrentada na decisão recorrida. É que só se admite o recurso extraordinário (ou recurso especial) a respeito de causas decididas (para usar-se aqui a terminologia empregada no texto constitucional). Significa isto dizer que o RE e o REsp só podem versar sobre o que tenha sido decidido, não sendo possível, nestas duas espécies recursais, inovar

suscitando-se matéria (ou fundamento) que não tenha sido suscitado e apreciado na decisão recorrida.21

Ainda sobre a necessidade do prequestionamento nos recursos excepcionais, destaca-se trecho do voto do Min. Sepúlveda Pertence no julgamento do AI 140.623-AgR, Primeira Turma, DJ de 18/9/1992:

Ora, o fato de não estar explícito na Constituição, não afeta a exigibilidade do prequestionamento como pressuposto do recurso extraordinário. Antiga e firme jurisprudência desta Corte o reputa da própria natureza do recurso extraordinário. Ao julgá-lo, o Tribunal não se converte em terceiro grau de jurisdição, mas se detém no exame do acórdão recorrido e verifica se nele a regra de direito recebeu boa ou má aplicação. Daí a necessidade de que no julgamento impugnado se tenha discutido a questão constitucional posta no extraordinário

.

22

O apelo especial, portanto, possui como pressuposto que a causa tenha sido examinada e decidida em única ou última instância, o que impediria a aplicação da teoria da causa madura. Por conseguinte, a utilização desta técnica de julgamento, pela instância especial, vedaria às partes a possibilidade do exercício do princípio do duplo grau de jurisdição, e a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça não estaria, desde que não tenha sido violado preceito constitucional, sujeita à revisão.

Não obstante, exista no âmbito daquela Corte Superior posicionamento divergente (REsp 998.460, Rel. Min. Nancy Andrighi23), a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido da inaplicabilidade da teoria da causa madura no recurso especial. Confira-se, nesse sentido, recente julgado Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EMBARGOS DECLARATÓRIOS NOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS RECEBIDOS COMO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. TEORIA DA CAUSA MADURA. INAPLICABILIDADE NO ÂMBITO DO RECURSO ESPECIAL.

21 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 545-546.

22 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento nº 140.623-AgR/RS. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. DJ de 18/9/1992. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp>. Acesso em 12/4/2019.

23 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 998.460/SP. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. DJe de 23/3/2010. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/>. Acesso em 12/4/2019.

1. De acordo com a norma prevista no artigo 1.022 do CPC/2015, são cabíveis embargos de declaração nas hipóteses de obscuridade, contradição, omissão da decisão recorrida ou erro material, o que não ocorreu no caso concreto.

2. É firme o entendimento desta Corte no sentido ‘de ser inaplicável a teoria da causa madura na via especial, porquanto necessário o prequestionamento da matéria submetida à esta Corte. Tratando-se a omissão acerca de questões fático-probatórias, inviável a aplicação do direito à espécie nesta Corte Superior’ (AgInt no REsp 1.609.598/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 17/11/2017). Nesse mesmo sentido: REsp 1.333.166/RN, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 23/05/2017.

3. Embargos declaratórios rejeitados. (AREsp 339.223-ED-ED, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe de 2/8/2018)24

Segundo aquela Corte a teoria da causa madura está inserida em parágrafo de artigo do Código de Processo Civil que disciplina o efeito devolutivo da apelação, que é amplo e não está adstrito à fundamentação utilizada na sentença, características que não se verificam no recurso especial, cuja admissibilidade pressupõe o prequestionamento e, portanto, fundamentação vinculada às questões decididas pela Corte de origem.25