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2 PESQUISA EMPÍRICA

2.1 CRITÉRIOS GERAIS DA PESQUISA

2.1.2 Radiografia das condenações por Varas analisadas

A par da última constatação geral do quadro de sentenças coletadas, interessante é a apresentação individual do percentual de condenações em cada uma das 15 Varas analisadas.

Abaixo será apresentada uma sequência de gráficos estatísticos de cada uma das Varas separadamente, sendo indicados três gráficos para cada uma delas.

O primeiro gráfico representa o comparativo total das 50 sentenças coletadas aleatoriamente em cada uma das unidades jurisdicionais, dividindo-se em sentenças condenatórias (aquelas em que a pretensão deduzida em juízo pelo órgão acusador foi acolhida em sua íntegra), sentenças absolutórias (aquelas em que o réu foi

declarado absolvido, quer por ter sido reconhecido inocente, quer mesmo por estar presente alguma causa extintiva de punibilidade, por exemplo, prescrição ou morte do agente) e condenações parciais (aquelas em que, muito embora se tenha condenado o réu, a pretensão punitiva não fora acolhida integralmente, ou porque alguma das circunstâncias requeridas não foram reconhecidas ou mesmo porque o magistrado procedeu a uma nova qualificação jurídica dos fatos deduzidos em juízo, ainda assim houve condenação com aplicação consequente de sanção penal).

O segundo gráfico refere-se às sentenças absolutórias somente. Neste buscou-se identificar a razão da absolvição, ou seja, se foi em razão do decurso do tempo (prescrição), morte do agente ou se chegou a se analisar se realmente o fato ocorreu e se o réu tinha sido seu autor concluindo-se pela absolvição (inocente).

O terceiro gráfico diz respeito somente às sentenças que chegaram a analisar a questão de se o réu era realmente culpado ou não, ou seja, desta contagem foram subtraídas as decisões de reconhecimento da prescrição ou morte do agente (extinção da punibilidade).

No que se refere aos dois Tribunais do Júri, é apresentado apenas um único gráfico para cada, pois neste caso em todas as sentenças absolutórias o réu foi declarado inocente pelo Conselho de Sentença. Não que inexistam extinções da punibilidade pela morte do agente ou prescrição. A questão é que as sentenças que acolhem essas questões são proferidas pelo Juiz Presidente do Tribunal antes de se chegar ao julgamento pelos jurados, portanto, não fazem parte do objeto de estudo deste trabalho, cujo foco é verificar também a representatividade dos veredictos do Conselho de Sentença.

Vejamos.

 1.a Vara Criminal:

GRÁFICO 4 - SENTENÇAS - 1.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 2.a Vara Criminal:

GRÁFICO 5 - SENTENÇAS - 2.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 3.a Vara Criminal:

GRÁFICO 6 - SENTENÇAS - 3.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 4.a Vara Criminal:

GRÁFICO 7 - SENTENÇAS - 4.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 5.a Vara Criminal:

GRÁFICO 8 - SENTENÇAS - 5.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 6.a Vara Criminal:

GRÁFICO 9 - SENTENÇAS - 6.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 7.a Vara Criminal:

GRÁFICO 10 - SENTENÇAS - 7.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 8.a Vara Criminal:

GRÁFICO 11 - SENTENÇAS - 8.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 9.a Vara Criminal:

GRÁFICO 12 - SENTENÇAS - 9.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 10.a Vara Criminal:

GRÁFICO 13 - SENTENÇAS - 10.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 11.a Vara Criminal:

GRÁFICO 14 - SENTENÇAS - 11.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 13.a Vara Criminal – violência doméstica:

GRÁFICO 15 - SENTENÇAS - 13.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 14.a Vara Criminal:

GRÁFICO 16 - SENTENÇAS - 14.a VARA CRIMINAL FONTE: TJ/PR

 1.o Tribunal do Júri:

GRÁFICO 17 - SENTENÇAS - 1.o TRIBUNAL DO JÚRI FONTE: TJ/PR

 2.o Tribunal do Júri:

GRÁFICO 18 - SENTENÇAS - 2.o TRIBUNAL DO JÚRI FONTE: TJ/PR

Fazendo-se uma média comparativa entre as sentenças em que se declaram o réu culpado ou inocente (excluídas as de prescrição e morte) proferidas pelas 12 Varas Criminais de competência geral (1.a a 11.a e 14.a) com as da Vara de Violência Doméstica (13.a) e as dos dois Tribunais do Júri (1.o e 2.o), constata-se que as absolvições são mais frequentes neste último grupo em que os julgadores não são juízes togados.

 Varas Criminais de competência geral (1.a a 11.a e 14.a):

GRÁFICO 19 - SENTENÇAS - VARAS CRIMINAIS DE COMPETÊNCIA GERAL (1.a a 11.a e 14.a)

FONTE: TJ/PR

 Vara de Violência Doméstica (13.a):

GRÁFICO 20 - SENTENÇAS - VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (13.a) FONTE: TJ/PR

 Tribunais do Júri (1.o e 2.o):

GRÁFICO 21 - SENTENÇAS - TRIBUNAIS DO JÚRI (1.o e 2.o) FONTE: TJ/PR

Enquanto na Vara de Violência Doméstica as absolvições com declaração de inocência representam apenas 14,6% do total de sentenças, nas Varas Criminais de competência geral esse percentual é de 18,4%, ou seja, bem próximos os números;

nos Tribunais do Júri esta mesma decisão está presente em 45,2% das sentenças.

Conclui-se, portanto, que a punitividade é maior significativamente entre os magistrados de carreira se comparados com os jurados leigos que formam o Conselho de Sentença nos julgamentos do Tribunal do Júri.

Semelhante conclusão chegou Klaus Sessar, em pesquisa que realizou na Alemanha assim que houve alterações legislativas com a finalidade de mitigação da punição ou arquivamento das lides penais. O legislador alemão estabeleceu em alguns casos (excluídos os crimes violentos graves) uma reconciliação entre vítima e infrator prévia ao processo. Comparando os casos em que as partes puderam decidir o resultado com os que os órgãos públicos tiveram que sentenciar, concluiu o pesquisador que "os magistrados, e especialmente os do ministério público, eram mais punitivos do que o público"210.

210 SESSAR, Klaus. Os problemas que a criminologia enfrenta face ao direito penal e à política criminal: algumas considerações teóricas. In: AGRA, Cândido da. (Org.). A criminologia: um arquipélago interdisciplinar. Porto: U. Porto, 2012. p.586.

Pois bem, se os órgãos públicos não espelham o interesse da vítima, estariam eles legitimados para aplicar sanções tão severas? Quer parecer que não.

Veja-se que o percentual de condenações (excluídas as sentenças que reconheceram a prescrição ou a morte, ou seja, que não tiveram oportunidade de dizer se o réu era verdadeiramente culpado ou inocente) chega a surpreendentes 90,5% na 5.a Vara Criminal, 90,0% na 11.a Vara Criminal, 86,2% na 7.a Vara Criminal, 84,6% na 1.a Vara Criminal, 82,9% na 10.a Vara Criminal e 81,8% na 6.a Vara Criminal.

Por que se condena tanto? Por que se pune tanto?

Augusto Thompson, em possível explicação à indagação supra, comenta que, por não se conseguir extrair das provas a certeza real, o "juiz tende a deslocar o objeto da investigação para a sede menos dúbia e que, para ele, se afigura mais palpável, mais concretamente apreensível: a figura do acusado"211.

Não que a conclusão acima deva-se ao esmero maior dos órgãos acusadores em relação aos defensores, pois, como é por todos sabido, o ministério público deve, por obrigação jurídica e moral, manifestar-se pela absolvição sempre que constatá-la.

A justificativa talvez, ao invés, esteja na disparidade de armas entre as partes processuais.

Os promotores são servidores públicos, selecionados através de concurso, em geral bem remunerados, gozando de elevado status social, tudo concorrendo para que sejam recrutados entre profissionais de médio a bom nível. Os advogados contratados pelos advogados são profissionais autônomos, cuja sobrevivência depende, em grande parte, da obtenção de resultados favoráveis nas causas em que atuam, escalonando-se, informalmente, em razão de suas qualidades, desde aqueles pouco dotados (mas baratos) até alguns verdadeiros luminares (porém caros). Aos réus carentes de recursos para contratar advogado particular, o Estado oferece os defensores públicos – escolhidos de maneira semelhante aos promotores, mas com ganhos e posições inferiores a estes.212

Após comentar as dificuldades que toda defesa tem em conseguir a produção de qualquer elemento probatório, ficando corriqueiramente o defensor a exercer tão somente a fiscalização sobre o trabalho dos estagiários, atestando-se, com isso, o

211 THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos?: o crime e o criminoso: entes políticos. 2.ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p.90.

212 Ibid., p.93.

massacre dos defensores, Thompson conclui que "a grande maioria dos réus pobres é julgada sem defesa ou, o que dá no mesmo, com um mero simulacro de defesa"213.

Além da já comentada estigmatização dos réus, verifica-se claramente que os julgadores advêm de classe social, na maioria das vezes, distinta de seus "clientes".

Assim, difícil é exigir que o juiz coloque-se no lugar de quem ele sequer sabe onde está. São mundos distintos, com valores diferentes e perspectivas de vida irreconciliáveis.

Em pesquisa realizada na década de 1990 sobre toda a magistratura brasileira, chegou-se à seguinte tabela quanto à ocupação dos pais dos magistrados de acordo com o ramo da Justiça.214

TABELA 1 - OCUPAÇÃO DOS PAIS DOS MAGISTRADOS DE ACORDO COM O RAMO DA JUSTIÇA

OCUPAÇÃO DO PAI COMUM FEDERAL TRABALHO MILITAR

Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %

FONTE: Retirada de VIANNA, Luiz Werneck; CARVALHO, Maria Alice Rezende de; MELO, Manuel palácios Cunha;

BURGOS, Marcelo Baumann. Corpo e alma da magistratura brasileira. 3.ed. Rio de Janeiro: Revan, 1997. p.95

Logo, em média, 60% dos magistrados vêm de classe social alta e média, enquanto "as prisões estão ocupadas, de 95% a 99%, por gente das camadas marginalizadas da sociedade"215,216.

213 THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos?: o crime e o criminoso: entes políticos. 2.ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p.94.

214 VIANNA, Luiz Werneck; CARVALHO, Maria Alice Rezende de; MELO, Manuel Palácios Cunha;

BURGOS, Marcelo Baumann. Corpo e alma da magistratura brasileira. 3.ed. Rio de Janeiro:

Revan, 1997. p.95.

215 THOMPSON, op. cit., p.94.

216 Wacquant, em pesquisa realizada na Casa de Detenção de Los Angeles, constatou que dentre os prisioneiros "7 em cada 10 não tem nenhum diploma" (WACQUANT, Loïc. A ascensão do estado penal nos EUA. Discursos Sediciosos: Crime, Direito e Sociedade, Rio de Janeiro, v.7, n.11, p.20, 1.o sem. 2002/2003.